Freyre saúda com entusiasmo o Dicionário do Palavrão. Aqui e ali diz, porém, que faltou algo. Normal. Lamenta que:
"Mário Souto Maior não tenha se valido de maior número de clássicos. Clássicos literários e clássicos da crônica histórica. Matéria que poderia ter colhido não só em Bocage e Guerra Junqueiro, como em Gil Vicente, em Gregório de Matos e em documento valioso do século XVI: as catolicíssimas Denunciações do Santo Ofício. Nestas, o autor deste prefácio, ao elaborar, no começo da década de 30, seu Casa-Grande & Senzala, deparou-se com expressões grosseiras e surpreendentemente obscenas da parte de colonos com aparências de virtuosos. Expressões que registrou no mesmo livro, como 'jurar pelos pentelhos da Virgem' e 'ardor de rabo' ".Freyre encerra o prefácio que fez para o Dicionário do Palavrão, dizendo:
“O autor do Dicionário evita a pornografria pela pornografia, embora não pretenda entrangular o que é erótico na língua portuguesa do Brasil: o comunicativamente erótico ou o apenas descritivamente erótico. Seria um moralista caturra se se apresentasse, no seu Dicionário, como um antierótico, a exibir repugnância pelo que é vivo e corrente na linguagem mais secreta que aberta, porém de modo algum inexpressiva da sua e nossa gente. Fixa predominâncias regionais. Acentua usos generalizados no país inteiro ou quase inteiro. Revela-se conhecedor tanto de escritores literários — embora algumas deficiências possam ser apontadas nesse setor — como do próprio linguajar plebeu do Brasil. É, assim, um trabalho, este, que faltava aos estudos sociais, folclóricos, semânticos, desde a década de 20 tão em desenvolvimento no Brasil; e tão característicos do afã do brasileiro do conhecer-se cada dia mais a si mesmo e de, cada vez mais, interpretar-se por seus próprios intérpretes.”
Foto e reproduções por Flor Maria e Anna da Hora
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