"Seu Assis!", começou a chamar a atenção de todos o sempre curioso Barrica.
Calma, pedi. O que te aflige tanto, Barrica?
"Ouço todo mundo falar a respeito da questão indígena...", recomeçou Barrica logo interrompido por seu irmão Biu: "E tem também um negócio chamado Marco Temporal, o que é isso?"
"Seu Assis, eu quero saber a sua opinião a respeito disso tudo", completou Barrica.
Bom, pessoal. Os povos indígenas se acham no Brasil muito antes de o Brasil ser chamado Brasil. Pela lógica natural, as terras brasileiras são de quem primeiro aqui habitou.
"Então quer dizer que o Brasil ainda é dos índios?", perguntou por sua vez Zoião.
Pela lógica, sim. Quinhentos anos já se passaram desde que os portugueses puseram seus pés no Brasil e escravizaram indígenas e negros. Os negros foram trazidos forçadamente pelos invasores.
"Portugueses! Os portugueses!", falou gritando o destrambelhado Lampa com o seu punhalzinho na mão. Seus olhos faiscavam.
"Os portugueses pintaram e bordaram por aqui. Fizeram dos povos originários gato e sapato. O mesmo fizeram com os negros trazidos à força da África", contou de modo professoral o poeta de plantão Zilidoro.
Muito bem, estou orgulhoso de todos vocês...
"Mas eu quero saber, seu Assis, a sua opinião a respeito do Marco Temporal", retomou a questão Barrica.
Eu acho o seguinte: as terras indígenas são de quem está lá há pelo menos 50, 60, 70 anos. Quer dizer, indígenas e posseiros com registro de posse legal. Agora vamos ver o que o STF decide, pois os debates acabam de recomeçar.
"Seu Assis, gostei muito do texto sobre teatro que o Sr. escreveu ontem", disse Jão chamando pra si as atenções.
"Eu também gostei!", foi a vez de Zé falar.
O teatro é coisa muito importante. O teatro como arte, claro. É coisa antiga. Vem da China, de séculos antes de Cristo. O Japão aperfeiçoou ali pelo meio do século 14...
"E o teatro do Oprimido, hein?", perguntou Zilidoro acrescentando: "Tem a ver com o educador Paulo Freire?"
Tem, sim. Mas o pai desse gênero teatral foi Augusto Boal. Paulo Freire apenas o inspirou em 64, 65. Mas antes, por volta de 1950, surgiu na França o teatro do Absurdo...
"Seu Assis, aprendi na escola que o maior representante do teatro do Absurdo foi o romeno Ionesco", disse lá do seu canto o quase sempre quieto Mané.
Muito bem, muito bem, gostei. E alguém sabe aqui quem foram os primeiros grandes teatrólogos brasileiros?
"Muita coisa mudou por aqui com a chegada da família Real portuguesa. Até então só tínhamos as músicas criadas, cantadas e dançadas pelos indígenas. Mas a trupe de D. João VI trouxe piano, violino e outros instrumentos musicais. O teatro veio no embalo, como no embalo veio a Imprensa. Nossos primeiros teatrólogos foram Martins Pena e Arthur Azevedo", exibiu-se todo pimpão o atento Zilidoro.
"E Lula, e Lula!?", quis saber de mim Lampa.
Agora chega, né?
E todos, ao mesmo tempo: aaaaah!
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