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quarta-feira, 25 de setembro de 2024

VARELLA É O NOSSO DOSTOIEVSKI



Prisioneiras é o último livro da trilogia sobre o sistema carcerário de São Paulo escrito pelo médico paulistano Dráuzio Varella (foto ao lado). Os dois primeiros, Estação Carandiru e Carcereiros, foram lançados respectivamente em 1999 e 2012. Viraram filme e série com a marca Plim Plim. Isto é, grupo Globo. Mais: correram mundo. Na verdade, ainda estão correndo.
Estação Carandiru é um livro impressionante, recheado de histórias horripilantes, de degola, empalamento, quase inacreditáveis. Literariamente poderíamos classificá-lo como surrealista. Mas não nos enganemos. Esse é um livro absurdamente realista.
É difícil nomear qual a mais original e chocante história desse livro. São muitas que despertam vivamente a atenção do leitor. 
As fugas e tentativas por túneis escavados à mão eram no Carandiru cinematográficas. De uma só vez, pouco mais de uma cetena de detentos lograram êxito.
Cinematográfica também foi uma fuga frustrada de um pequeno grupo armado que invadiu o refeitório da diretoria fazendo reféns o poderoso Luizão, um capitão, um tenente e um casal de advogados em visita à instituição. 
Curiosamente, essa fuga não deu certo porque os celerados confundiram o barulho de um helicóptero de uma televisão como se fosse o barulho de helicóptero da Polícia como exigiam para a fuga. 
Ao ler Estação Carandiru e Carcereiros não deixei de lembrar de Recordação da Casa dos Mortos (1862), de Fiódor Dostoiévski (1821-1881).
Em 1849, Dostoiévski foi preso sob a acusação de participar de um complô que tinha por objetivo derrubar o Czar. Julgado, foi condenado à morte. Na última hora, porém,  teve a pena capital transformada em prisão na Sibéria. Lá ele sofreu como jamais imaginara. Passou fome, passou frio e levou muitas porradas.
A dura experiência de Dostoiévski na prisão rendeu o livro aí citado contando os terríveis anos que viveu na prisão. Aqui, o ponto: não dá pra deixar de comparar a bela e contundente escrita de Varella com a do grande escritor russo.
O terceiro livro da série tem por título Prisioneiras. É um tapa na cara da sociedade machista, sacana, hipócrita. 
Os depoimentos colhidos junto às presidiárias são uma prova de que as mulheres continuam sendo vitimadas pelos arroubos preconceituosos dos machos da vida e, de certo modo, abandonadas pela própria família. 
Entre as presidiárias ouvidas pelo médico há líderes do PCC. 
O PCC ganhou forma pública em agosto de 1993. O berço foi o "Piranhão" de Taubaté, a cerca de 130 km da Capital paulista. 
Piranhão era o nome dado à cadeia pública de Taubaté. 
Dráuzio Varella continua desenvolvendo trabalho voluntário agora na Penitenciária do Estado, onde foram realocadas as mulheres condenadas pela Justiça. 
Prisioneiras já ganhou versão em japonês. 

terça-feira, 24 de setembro de 2024

LIVRO CARCEREIROS, 12 ANOS

Lugar de preso é na cadeia, segundo pensamento comum.
Mas será que há no Brasil cadeias suficientes para nelas enfiar todos os marginais, do mais desqualificado "pé de chinelo", ao mais perigoso assassino, estuprador...?
Essa questão vem sido debatida desde sempre, o tempo todo. Desde que existe gente.
No capítulo Gênesis, da Bíblia, há o registro de que Caim matou o irmão Abel. Os motivos estariam ligados a problemas comuns, pessoais. De inveja, por exemplo.
No livro Carcereiros (2012), o autor Dráuzio Varella faz umas continhas onde se lê:
...No mês de janeiro de 2012, o sistema prisional paulista recebeu a média diária de 121 presos novos, enquanto foram libertados apenas cem. Ficaram encarcerados 21 a mais todos os dias, contingente que agrava o déficit de vagas conforme o tempo passa.
Como os presídios novos têm capacidade para albergar 768 detentos, seria necessário construir um a cada 36 dias, ou seja, dez por ano. Esse cálculo não leva em conta o aprimoramento técnico da polícia. Se a PM e a Polícia Civil conseguissem realizar o sonho da sociedade brasileira, prendendo marginais com a eficiência dos policiais americanos — 743 para cada 100 mil habitantes —, seria preciso erguer uma penitenciária a cada 21 dias.
Agora, analisemos as despesas que as construções demandam. No primeiro semestre de 2012, pôr uma cadeia em pé consumia 37 milhões de reais, o que dá perto de 48 mil reais por vaga. Para criar uma única vaga, gastamos mais da metade do valor de uma casa popular com sala, cozinha, banheiro e dois quartos, com a qual é possível retirar uma família da favela.
Esse custo, no entanto, é irrisório quando comparado aos de manutenção. Quantos funcionários públicos há que contratar para cumprir os três turnos diários? Quanto sai por mês fornecer três refeições por dia à massa carcerária? E as contas de luz, água, material de limpeza, transporte, assistência médica, jurídica?...
Os números crescem a cada dia, cada mês, cada ano.
Dados novos e oficiais divulgados em 2023 pelo Ministério da Justiça dão conta de que há 839,4 mil criminosos de todos os tipos distribuídos em 1.381 presídios Brasil afora.
Fora isso, há pelo menos 300 mil mandados de prisão em aberto. Mais: pelo menos 30 mil criminosos estão sendo procurados pela polícia. 
Como se vê, o problema é de dimensões gigantescas, irresolvível aqui e alhures.
A Casa de Detenção, vulgarmente chamada de Carandiru por sua localização no bairro de mesmo nome na Zona Norte da Capital paulista, foi uma espécie de escola do crime no correr do tempo que durou: quase 50 anos. Era o maior da América Latina.
Os grandes presídios já não existem praticamente, nem no Brasil nem na caixa-prego. Estou falando de prisão superior a sete mil presos, média da população carcerária da extinta Detenção. 
O presídio de Alcatraz, considerado o mais seguro de seu tempo (1934-1963), fechou as portas porque faltou grana para a manutenção. E estamos falando dos EUA.
Daquele presídio, localizado numa ilha da Califórnia, houve tentativas de fuga e no máximo um ou dois presidiários conseguiram fugir.
Em 1952, o presídio da Ilha Anchieta foi palco do primeiro grande massacre ocorrido no Brasil. O dia era 20 de junho. Esse dia amanheceu com o presídio em alvoroço. Os detentos, armados de paus, facas e tudo mais, não perdoaram os funcionários que iam encontrando pela frente. Mortos à machadadas e também a tiros. Poucos escaparam. Quanto aos amotinados, no primeiro momento 129 foram recapturados. Na ocasião havia nas selas, 453. Andei escrevendo sobre isso, sobre essa rebelião, na Folha. 
Na Revista Brasileira de História & Ciências Sociais, nº 31 de julho a dezembro de 2023, Dirceu Franco Ferreira e Érica Vieira dos Santos escreveram sobre o assunto longo texto que ocupou 36 páginas da referida revista. Um trecho:
Em 1978, Pereira Lima estava com 58 anos de idade e preso há 36 anos. Apesar de sua longa permanência na prisão, ainda era lembrado com desconfiança pela imprensa e pela Justiça como alguém perigoso que liderou a famosa rebelião e fuga em massa na Ilha Anchieta e assassinou o diretor do IPA de São José do Rio Preto. Antes de ser posto em liberdade condicional, ele concedeu uma última entrevista, em 08 de outubro de 1978, ao jornalista Assis Ângelo, do jornal Folha de São Paulo, em uma edição do Folhetim.

Ao ser entrevistado, disse que após cumprir todos estes anos de detenção tinha a certeza de que longos anos de prisão não regeneravam ninguém, posto que toda a força repressiva e punitiva produzia ainda mais delinquência e revolta nos presos. Carregando marcas físicas e psicológicas destas ações, continuou afirmando que não atuou como o líder da rebelião da Ilha Anchieta e que não havia nenhum plano de fuga elaborado entre os presos, como os jornais noticiaram, mas que eles, há muito tempo estavam descontentes com o regime punitivo aplicado na ilha-prisão, com a rotina de espancamentos, práticas de tortura e com a má alimentação e, na ocasião, encontraram a oportunidade de fugir.
Ia-me esquecendo: Caim só não foi preso e condenado por assassinato porque à época não havia polícia, justiça e cadeia. 
Leia a reportagem que fiz em 1978, clicando:




segunda-feira, 23 de setembro de 2024

LIVRO ESTAÇÃO CARANDIRU, 25 ANOS

Há 25 anos, em 99, os leitores ávidos por boas histórias foram surpreendidos com o lançamento do livro Estação Carandiru, do médico paulistano do Brás Dráuzio Varella.
O livro é um chute nos colhões, como diriam os presos da Casa de Detenção de São Paulo, implodida há 22 anos.
O livro, muito bem escrito, reúne histórias hilariantes. Terríveis, contadas ao autor pelos próprios presidiários, ou personagens dessas fabulosas histórias. Na verdade, terríveis histórias.
O realismo em Estação Carandiru é gritante.
Nas histórias colhidas por Varella, há deduragens, adultérios, amores loucos entre homens ativos e passivos, sexualmente falando.
A Casa de Detenção, que era comandada pelo linha dura Luiz Camargo Wolfmann (1931-2012), foi descartada completamente pelo então governador Geraldo Alckimin depois do massacre ocorrido no dia 2 de outubro de 1992. Na ocasião muita gente foi fuzilada. Oficialmente 111, mas esse número pode no mínimo dobrar.
Pois é, cobri vários motins na velha casa do Carandiru.
O livro de Varella virou filme dirigido pelo cineasta argentino Héctor Babenco. Correu mundo, dublado em vários idiomas.
Além de filme, Estação Carandiru rendeu também peça de teatro e foi traduzido para o inglês.
É certo que até agora, cerca de um milhão de exemplares foram vendidos no Brasil.
Ah! Sim: no lugar onde havia a prisão, até então a maior da América Latina, foi construído um espaço social denominado Parque da Juventude.
Pra lembrar, clique:

domingo, 22 de setembro de 2024

LICENCIOSIDADE NA CULTURA POPULAR (132)

A morte de Alcestis,
de Jean-François-Pierre Peyron

 A Friné citada por Masoch, fez-me lembrar a personagem Alceste que dá título à peça do antigo autor grego Eurípides. É história encantadora. Enigmática. Um trecho:

…Alceste não é uma tragédia, como diziam ser — acho que é uma obra obscura porque é uma história doméstica mais íntima, e justamente por isso gostei tanto. A montagem se passava nos dias atuais, numa casinha no subúrbio de Atenas. E gostei do escopo que deram à peça. Uma tragédia íntima e realista. O protagonista está condenado à morte, e sua mulher, Alceste, quer salvá-lo. A atriz que interpretava Alceste parecia uma estátua grega, com um rosto magnífico; eu ficava pensando em pintá-la. Pensei em pegar informações sobre ela e fazer contato com o agente. Quase comentei isso com Jean-Felix, mas me contive. Não quero mais envolvê-lo na minha vida, seja lá para o que for. No fim, eu estava com lágrimas nos olhos. Alceste morre e renasce. Literalmente volta do além… 

(Parte do diário da personagem Alicia Berenson, constante no livro A Paciente Silenciosa, escrito pelo norte-americano Alex Michaelides)

Leopold Masoch publicou no total 34 livros, incluindo A Vênus das Peles.


Foto e ilustrações por Flor Maria e Anna da Hora.

sábado, 21 de setembro de 2024

LICENCIOSIDADE NA CULTURA POPULAR (131)

Em 1787, o Marquês de Sade escreveu o romance Justine ou Os Infortúnios da Virtude.

Interessantíssimo. Bom de se ler. Fez sucesso e acabou entrando no rol dos clássicos. 

Pouco tempo depois de Sade publicar Justine, Restif de La Bretonne escreveu e publicou Anti-Justine.

Justine é um livro que trata de duas irmãs que são postas pra fora de um convento de freiras depois que a mãe morre.

Uma vira prostituta, Juliette, que passa a ter uma vida farta e movimentada na sociedade do seu tempo. A outra, Justine, nasceu pra sofrer. 

Sade foi Sade. Sádico. 

Sadismo vem do Marquês de Sade.

E Masoch?

O austríaco Leopold von Sacher-Masoch (1836-1895) gerou a palavra masoquismo, que tem a ver com a pessoa que tem prazer sexual com o próprio sofrimento ou humilhação a que se submete. Masoch, como pelo sobrenome ficou conhecido, é o autor de A Vênus das Peles.

Esse livro, publicado em 1870, conta a história de um casal que sente prazer em ser maltratado um pelo outro. Normal, dentro da temática do viver. Freud adorou o tema.

Um trecho:

— A dor possui para mim um encanto estranho, e que nada acende mais a minha paixão do que a tirania, a crueldade, e sobretudo, a infidelidade de uma mulher formosa. Esta mulher, este estranho ideal de terrível estética, imagino-a com a alma de Nero e o corpo de Friné.

Friné, como se chamava, foi uma cortesã de luxo da antiga Grécia. Era pouco vista em público e viveu no correr do século 4 a.C. Ainda no referido livro, lê-se:


… Eu sou ultra-sensualista, que em mim toda a concepção procede, antes de mais, da imaginação e que se nutre de quimeras. Desde que, pelos dez anos, puseram nas minhas mãos a vida dos mártires, desenvolvi-me e sobreexcitei-me nesse sentido. Recordo-me que lia com um horror que constituía para mim um verdadeiro prazer, a maneira como languesciam na prisão, os estendiam nas grelhas, os atravessavam de setas, os ferviam em pez, os deitavam às feras, os crucificavam, tudo sofrendo eles com uma espécie de alegria. Sofrer, suportar cruéis torturas, parecia-me então uma forma de prazer, sobretudo se estas torturas se infligiam por intermédio de uma mulher bonita…

sexta-feira, 20 de setembro de 2024

LICENCIOSIDADE NA CULTURA POPULAR (130)

Restif de La Bretonne, la Petite Laitière;
de Lubin de Beauvais

Todo mundo sabe que Henry Miller foi extremamente erótico nas suas narrativas. Era casado e tinha como amante a polêmica escritora Anaïs Nin (1903-1977), autora de Delta de Vênus (1977) e Incesto: Diários Não Expurgados (1992).

Nin tinha dois irmãos quando o pai se separou da mãe para se casar com uma mulher bem mais nova do que ele.

A vida pessoal de Anaïs Nin não foi nada fácil. Para passar o tempo escrevia cartas ao pai, que nunca as recebia. A mãe as bloqueava. Foi a partir daí que ela virou escritora. Seus originais se acham na Biblioteca de Los Angeles. 

E o Marquês de Sade? 

E Restif de La Bretonne?

Esses eram contemporâneos, nascidos em terras francesas, como os incomparáveis Rabelais e Voltaire.

Sade deixou um monte de livros. Uns 50 ou 60.

Bretonne foi também respeitado intelectual do seu tempo, chegando até a inspirar os revolucionários franceses do século 18 a pôr abaixo a Bastilha.

Numa lista pessoal, Bretonne, anotou ter possuído mais de 300 mulheres.

Sade foi preso várias vezes, inclusive na Bastilha. Morreu no manicômio, provocando pesar de Napoleão Bonaparte (1769-1821), que o mandou pra lá.

Foi um libertino libertário, como Bretonne.

Era um intelectual, escrevia e falava muito bem. Sabia o que dizer. Seus textos nos mais de 50 livros que publicou são e serão incríveis.

Sade foi muito além do que se possa imaginar: era rico, viveu, sofreu… Bonaparte o fodeu.

Todos dizem, na história, que Sade era sádico…

Bonaparte teve uma vida sexual bastante agitada, até porque não havia harmonia entre ele e a mulher.

A separação de Napoleão e Josefina ocorreu em 1809.

Sobre Napoleão há um extenso e curioso anedotário. Um deles foi dito por Ariano Suassuna. Mais ou menos assim:


Dois doidos se encontram num manicômio. Um deles pergunta: 

— Por que você não bate continência pra mim?

— Quem é você?

— Eu sou o imperador Napoleão Bonaparte!

Surpreso o outro doido pergunta: E quem lhe fez imperador?

— Deus!

— Eeeeu!?


Napoleão foi o cara que botou D. João VI pra correr de Portugal e com ele o filhote Pedro.

Quando D. João VI veio ao Brasil, corrido, trouxe um montão de gente.

A vinda do rei português para o Brasil foi escoltada por uma esquadra inglesa. 

E não custa lembrar que ele casou-se com uma certa Joaquina e com ela teve nove filhos. Teve também uma amante, pelo menos: Eugênia, que engravidou e acabou pagando pecado num convento espanhol.

O diretor Doug Wright fez um filme baseado nos últimos dias de Sade: Contos Proibidos do Marquês de Sade.


Foto e ilustrações por Flor Maria e Anna da Hora.

quinta-feira, 19 de setembro de 2024

LICENCIOSIDADE NA CULTURA POPULAR (129)

Dante e Beatriz, pintura de Henry Holiday

As pegadas de Kafka foram antecedidas por autores como Dante Alighieri. Sim, aquele de A Divina Comédia.

O italiano Dante era um apaixonado por uma certa Beatriz. Século 13, por aí. Ele a conheceu quando tinha nove anos de idade e depois de nove anos voltou a vê-la e pôs na cabeça que com ela teria de se casar. Dançou. Ela foi para um lado e ele para outro. Amor platônico. Ele próprio casou-se com outra mulher e com ela foi pai três vezes, uma das filhas, a quem deu o nome de Beatriz, findou seus dias num convento.

Na época de Dante, na verdade antes e depois de Dante, era comum casamentos feitos de modo arranjado. Negócio na parada e a mulher como moeda de troca. Toma lá da cá. “Objeto” com dote e tudo.

Era através de casamentos assim arranjados, negociados, que famílias ricas ficavam mais ricas. Como se vê, por interesse.

Nesse ponto fica claro que o sexo era o caminho para fortalecer elos que levassem ao poder. E como expressão artística, o sexo é um poço sem fundo.

Já andei falando de Pietro Aretino, mas não custa lembrar que ele era assim e assim com religiosos do seu tempo. Chegou a ser amigo até de papas, como Clemente VII. Era temido por fracos e fortes. É dele a frase: “Escondemos o nosso sexo e pomos à vista as mãos que roubam e matam, e a boca que jura em falso”.

Tinha por hábito “emprestar” suas mulheres aos amigos. Às vezes, uma ou outra voltava ao seu teto. Por saudade, tesão ou sabe-se lá o quê!

Giacomo Casanova, o galã galante de Veneza, era intelectual e músico. Deixou muitos livros publicados e uma rica autobiografia, cujos originais estão na Biblioteca Nacional da França, que seria transformada em livro muito tempo depois da sua morte, em Duchcov, República Checa.

Como tradutor, Casanova deixou sua marca em Ilíada, de Homero, para italianos.

Conheceu muita gente importante, entre homens e mulheres. Aliás, dizem que não fazia muita diferença entre levar para cama um homem ou uma mulher.

Entre os famosos, desfrutou dos abraços da Imperatriz russa Catarina, A Grande (1729-1796).

Catarina assumiu o poder na Rússia depois de mandar matar o imperador Pedro III, com quem se enrolava na cama. Esse Pedro era broxa, diziam.

Era doida por machos. Teve muitos amantes, o mais frequente foi Grigori Potiomkin (1739-1791), que talvez tenha amado.

quarta-feira, 18 de setembro de 2024

TV GAÚCHA TRANSMITIU O PRIMEIRO DEBATE NA TV

Boulos e Assis
Foi na noite de 9 de setembro de 1974 que a TV Gaúcha, hoje RBS TV, transmitiu o primeiro debate político no Brasil. Há 50 anos, portanto.
O debate daquela noite levou aos telespectadores as ideias dos então postulantes ao cargo de senador Nestor Jost (Arena) e Paulo Brossard (MDB).
Nestor Jost morreu aos 93 anos de idade, em 2010.
Paulo Brossard, que aposentou-se como Ministro do STF em 1993, nasceu no dia 23 outubro de 1924, há 100 anos portanto.
Brossard foi o escolhido como senador pelos gaúchos após o debate daquele distante 74. Foi um dos mais eficientes e ruidosos inimigos do regime militar (1964-1985).
Essa lembrança vem pelo baixo nível dos debates políticos que hoje são promovidos e transmitidos pelas TVs afora.
O pau cantou violentamente no debate de domingo promovido pela TV Cultura em São Paulo, canal 2.
O debate de ontem 16 na Rede TV!, foi também lamentável, embora não tenha resultado em agressão física. Verbais, sim.
Muitos assuntos importantes estão sendo deixados à margem do cotidiano paulistano. O tema cultura, por exemplo, está de nós mais distante do que a Conchichina. Apesar disso, aposto na vitória do Boulos.
E por falar em cultura, o livro A Fabulosa Viagem de Vasco da Gama está correndo de boca em boca. Pra cegos, em braille; para videntes e gente com pouca visão, volume com fonte ampliada.
Sábado desse o historiador baiano Darlan Zurc levou sua visão a respeito do meu novo livro à rádio Conectados. Foi no programa Paiaiá na Conexão, apresentado por Carlos Silvio. Confira:

terça-feira, 17 de setembro de 2024

HÁ 500 ANOS MORRIA VASCO DA GAMA

Assis, Gudryan, Clarissa, Nito, Anna e Patrícia

Gama imortalizado
em bronze, na cidade
onde nasceu
É controversa a data de nascimento do navegador português Vasco da Gama. Pode ter ocorrido entre 1460 ou 1469. Por aí. Seu berço foi Sines, pequena cidadela do distrito de Setúbal, em Portugal. Morreu na Índia no dia 24 de dezembro de 1524. De Malária.
Quando Vasco da Gama deixou Portugal, em julho de 1497, tinha ele provavelmente 28 ou 30 anos de idade. Era destemido como se vê. Passou pelo Atlântico e Índico até chegar à Índia, ou às Índias, em maio de 1498. Chegou lá com cerca de 200 homens distribuídos em quatro grandes embarcações. A volta foi mais difícil e a história segue por aí.
A viagem de Vasco da Gama até as Índias foi a mais longa daqueles tempos.
O heroísmo do navegador está registrado no clássico Os Lusíadas, de Camões. Essa obra eu adaptei no livro, em braille, A Fabulosa Viagem de Vasco da Gama. Quando o fiz, pensei primeiramente em uma ópera popular.
Sábado 14, à noite, o jornal do SBT soltou a matéria do repórter Gudryan Neufert, produzida por Cristina Cristiano, sobre essa história toda. Confira:



segunda-feira, 16 de setembro de 2024

DEU PAU NA TV

Assis, Klévisson, Evaristo e Dantas

O Brasil tá pegando fogo de todo jeito: nas florestas e até na TV. Eu não ia falar disso, não.
Na verdade eu pretendia falar aqui, hoje, sobre amigos e parceiros de Luiz Gonzaga recém mortos.
Este ano morreram Téo Azevedo, Tânia Barbosa e agora há pouco Janduí Finizola.
Chegaram agora há pouco cá em casa os amigos queridos Klévisson Viana, Evaristo Geraldo da Silva e Dantas do Forró. Dois cearenses e o último pernambucano. 
Dantas, depois de me abraçar, trouxe a má notícia da morte do compadre Andrade, criador do tradicional restaurante que leva seu nome. Fica ali na rua Arthur Azevedo, em Pinheiros, SP.
Bom, já que aí em cima toquei no assunto fogo,  continuo.
Estou afastado dos jornais, revistas, rádios há muito tempo. Ninguém me quer, fazer o quê?
Como ninguém mais me quer pra dizer nada aí nas mídias citadas, fico a acompanhar notícia pelo rádio e também pelo áudio da TV. Assim foi que ouvi provocações e quebra paus, literalmente falando, no bate e rebate levado ao vivo na Cultura.
Era noite e praticamente no começo do bate e rebate, quando Pablo não-sei-o-quê provocou e provocou à exaustão o apresentador de TV Datena, chamado pelo provocador de "Dápena".
Não suportando o ataque lamentável, Datena deu de garra de uma cadeira e a tascou na cabeça do fulano. Foi pouco. 
Pois é, enquanto isso o Brasil anda pegando fogo.
Em Brasília, deputados e senadores estão mais preocupados é com as "emendinhas" de milhões e tal.
Chega, né?
Bom, Klévisson cheio de graça pergunta se eu conheci um tal cearense chamado Quintino Cunha. Não, eu disse. E ele... Ouça:

sexta-feira, 13 de setembro de 2024

SEXTA 13 DE SORTE OU AZAR?

É bom viver.
Viver é magia, até porque a vida não pedimos. Ela vem, assim simplesmente: um homem e uma mulher juntam-se, amam-se juntando os corpos... E aí nascemos.
A vida é mágica. Coisa boa.
Complicamos a vida por que?
A vida é cercada de mistérios...
Há quem acredite em sorte e má sorte. Pois, pois.
Má sorte é azar.
Meu amigo, minha amiga, você acredita em sorte e azar?


DIA DA CACHAÇA

Pois é, meu amigo e amiga: hoje é o Dia Nacional da Cachaça.
Esse dia é recente, mas nos leva ao século 16.
Não tenho dúvida: a cachaça surgiu no interior de São Paulo, Litoral, mais precisamente em São Vicente.
São Vicente foi a primeira cidade brasileira, criada por Tomé de Sousa em 1532.
Foi lá em São Vicente que os portugueses criaram engenhos pra fazer da cana açúcar e cachaça,

quinta-feira, 12 de setembro de 2024

O FOGO TÁ COMENDO TUDO!


A Fauna e a Flora brasileiras são ou eram as mais diversificadas e ricas do planeta. No total há ou havia, até há pouco, 1.622 tipos de aves e 46.097 tipos de plantas. Mas o fogo tá comendo tudo. 
A maior das nossas aves é o Gavião Real que chega à casa dos 2 metros de envergadura. A menor é um passarinho titica chamado popularmente de caçula, que mede algo em torno de 6 centímetros e pesa 5 gramas.
O prejuízo é incalculável. Morre onça pintada e não pintada, morre macaco-prego e macacão, cobra, peixe e tudo. O resultado disso é um desastre que se agiganta a cada minuto, a cada segundo.
Informações colhidas pelo Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais, Inpe, dão conta de que passa de  5.300 o número de incêndios Brasil afora.
A polícia continua prendendo incendiários, piromaníacos a serviço de sacanas graduados.
O que não pode morrer é a nossa esperança, não é mesmo?
Quando penso em esperança, beleza, simplicidade, penso logo em beija-flor.
O beija-flor, essa avezinha que canta se balançando no ar, é originária do continente Americano. Só há neste Continente.
Ornitologistas chegaram à conclusão de que há, ou havia, pelo menos 87 tipos de beija-flores no Brasil.
Há um poeminha em que digo:

...Bonito é escutar
Cantiga de cantador
E trinado de passarim
De passarim peneirador
Peneirando no espaço
Cantando pra beija-flor

Mas eu não sou passarim
Nem tampouco cantador
Sou apenas um jardim
Carregador de fulôr
Feito pra encantar
Os olhos do meu amor

E fiz também isso aqui, escutem:


quarta-feira, 11 de setembro de 2024

TÁ TUDO PEGANDO FOGO!

Céu de São Paulo nesses dias poluídos

Piromaníacos a mando de canalhas continuam 
tacando fogo nas florestas brasileiras. Isso é grave, muito grave.
Até agora a polícia efetuou a prisão em flagrante de pelo menos 17 incendiários em Mato Grosso e 15, no interior paulista.
Só nesse último fim de semana foram constatados pelo menos 400 focos de incêndio em Goiás. Lá ninguém foi preso.
Goiás, no Centro-Oeste, é Estado que faz parte do Cerrado.
O Cerrado é o segundo maior dos cinco biomas brasileiros, ocupando cerca de 23% do nosso território. Quinze por cento desse total acham-se sob o "controle" de fazendeiros e outros poderosos. O restante, 8%, está sob os cuidados do Governo. Na região existem pelo menos 320 mil tipos diferentes de animais. Só de borboletas há pelo menos 900 espécies. Muitos já morreram e outros estão em extinção como o Guará.
O fogo que está engolindo Goiás, Mato Grosso e São Paulo está engolindo também cerca de 80% do verde dos nossos parques e florestas Brasil afora.
A desgraceira está sem controle, enquanto quem pode incentiva criminosos a atear fogo por aí.
A PF está em campo, no rastro dos piromaníacos.
Hoje 11 é o Dia do Cerrado, criado em 2003 quando Lula já era presidente do Brasil. A propósito, ele esteve ontem 10 na Amazônia. Foi ver em loco a desgraceira. E disse: "Nosso foco precisa ser a adaptação e preparação para o enfrentamento desses fenômenos [climáticos extremos]. Para isso, vamos estabelecer uma autoridade climática e um comitê técnico-científico que dê suporte e articule a implementação das ações do governo federal".
Ah! Sim: hoje 11 é o terceiro dia consecutivo que a Capital paulista ocupa o 1º lugar no ranking das 10 cidades com pior ar do mundo.
O cantor e compositor pernambucano Alceu Valença tem no seu repertório uma música muito bonita intitulada Flores do Cerrado. Ouça:

terça-feira, 10 de setembro de 2024

HÁ 51 ANOS MORRIA O PALHAÇO PIOLIN

Ribeirão Preto é um dos 645 municípios paulistas, distante cerca de 300 km da Capital. 
Foi lá em Ribeirão que nasceu um dos mais importantes palhaços do Brasil: Piolin. 
Piolin, de batizado Abelardo Pinto, caiu nesse nosso mindinho besta no dia 27 de março do distante ano de 1897.
São Paulo ainda tinha lá seus ricos barões do café quando, já nos anos 20, Piolin destacava-se entre os palhaços conhecidos.
Seu sucesso espalhou-se Brasil afora, mas foi entre Rio e São Paulo que ele virou o xodó de intelectuais como Mário de Andrade, Oswald de Andrade, Menotti Del Picchia e Tarsila do Amaral. 
Entre os fãs desse grande palhaço se achava o último presidente da chamada República Velha: Washington Luiz (1926-1930).
Os tão falados modernistas fizeram uma barulhenta festa no dia de aniversário de Piolin, em 1929. 
O ano de 29 foi o ano da quebradeira da Bolsa de Valores de Nova Iorque. 
No correr da quebradeira  da Bolsa, o presidente golpista Getúlio Vargas mandou queimar milhares e milhares de sacas de café. Isso para o preço subir, mas não subiu. O que subiu, e muito, foi o desespero da baronada. 
Abelardo Pinto morreu em casa engasgado com uma bala de caramelo, no dia 4 de setembro de 1973, levando consigo a sua grande criação: Piolin. 
Criador e criatura foram sepultados no Cemitério da Quarta Parada, antigo Brás, na zona leste paulistana.

segunda-feira, 9 de setembro de 2024

LUIZ WILSON PINTA O SETE HÁ 17 ANOS

Foi num setembro como este que ora vivemos que, em 1922, o Brasil e nós brasileiros fomos surpreendentemente apresentados ao rádio. Desse mês, o dia era 7. Pois, pois, há exatamente 202 anos.
O rádio encurtou lonjuras, trazendo notícias e músicas de todo o canto.
O presidente do Brasil à época era o paraibano Epitácio Pessoa. Esse Pessoa foi a Paris e de lá voltou presidente. Ora, ora... Que coisa! Mas essa é outra história.
A gente está falando de setembro de 22, não é mesmo?
O primeiro dono de rádio no Brasil foi o cientista Roquete Pinto. Chamou-se Rádio Sociedade do Rio de Janeiro. Bancou, fez bonito. Depois, no comecinho dos anos 30, Pinto doou a sua rádio ao governo. Vargas. Que deu voz ao Brasil.
Estamos falando de rádio AM, frequência AM e Curtas.
A rádio de frequência FM surgiu entre 52 e 55. Frequência Modulada.
A primeira dessas rádios na tal sintonia foi a Imprensa.
E esse é o ponto.
A rádio Imprensa acolhe rítmos variados do Nordeste. Algumas coisas até boas, outras...
O pernambucano Luiz Wilson estreou nessa rádio em setembro de 2007. Há 17 anos, portanto.
Esse Luiz é um cara que procura sempre estar antenado com o que ocorre no nosso país.
O apresentador do programa Pintando o Sete pinta e borda. Ou seja: canta, compõe, toca violão e improvisa poesia. É bom o cara.
Está na praça um livro contando a história do pernambucano Luiz Wilson. Título: Minha Terra, Minha Gente, Minha Vida, cuja leitura recomendo.
É isso aí, Luiz!

domingo, 8 de setembro de 2024

CEGOS FAZEM BONITOS EM PARIS

Depois de uma semana e quatro dias  terminou hoje em Paris a Paralimpíada que mais resultado rendeu desde seu início em 1960, em Roma.
O total de medalhas conquistadas por nossos representantes brasileiros soma 462 de ouro, prata e bronze. Dessas 134 de ouro, 158 de prata e 170 de bronze.
Os brasileiros estão voltando da França com 89 medalhas conquistadas por lá.
A seleção brasileira de cegos ficou em 3º lugar. O 1º coube aos franceses e o 2º aos argentinos.
A sensação brasileira da Paralimpíada em Paris foi a pernambucana Carol Santiago, de 39 anos de idade, que faturou três medalhas de ouro.
Juntando essas de ouro que acaba de ganhar com as outras faturadas em torneios anteriores, Carol já tem seis medalhas do mais cobiçado metal.
Medalhas de ouro valem 350 mil reais.
Nada mal, né?
Curiosidade: é incerto o número total de pessoas cegas no Brasil. A última pesquisa do IBGE foi feita em 2010.

ANALFABETISMO

Hoje 8 é o Dia Mundial da Alfabetização. Ser analfabeto é como ser cego. Deve ser pior, até pois ter olhos que veem mas não leem deve ser de lascar.
No Brasil há pelo menos cerca de 7% da população não sabe ler ou distinguir o O de uma roda. Pena. É muita gente.
A educação é a mola que alavanca um país.

LICENCIOSIDADE NA CULTURA POPULAR (128)

No Brasil de Guimarães Rosa, Paulo Dantas (1922-2007), Limeira e Manoel Camilo dos Santos (1905-1987) houve e continua havendo espaços para o fantástico. 

Camilo, como Limeira, deixou além de saudade uma obra muito bonita.

A Viagem a São Saruê por exemplo, país inventado por Camilo, começa assim:


…Eu que desde pequenino

sempre ouvia falar

nesse tal São Saruê

destinei-me a viajar

com ordem do pensamento

fui conhecer o lugar.


Iniciei a viagem

as quatro da madrugada

tomei o carro da brisa

passei pela alvorada

junto do quebrar da barra

eu vi a aurora abismada…


E lá pras tantas, segue dizendo o poeta:


…Lá os tijolos das casas

são de cristal e marfim

as portas barras de prata

fechaduras de “rubim”

as telhas folhas de ouro

e o piso de sitim.


Lá eu vi rios de leite

barreiras de carne assada

lagoas de mel de abelha

atoleiros de coalhada

açudes de vinho do porto

montes de carne guisada…


Na terra de São Saruê há de um tudo. Lá ninguém passa fome, porque lá tudo tem e tudo dá sem sequer precisar plantar. É tudo frouxo e legal. 

Quase no fim dessa história, diz o cordelista sobre amor e felicidade:


Tudo lá é festa e harmonia 

amor, paz, benquerer, felicidade 

descanso, sossego e amizade 

prazer, tranquilidade e alegria;... 


Pois é, amigos e amigas, esse cara, Camilo, deixou um monte de coisas bonitas.

Eu o entrevistei e publiquei nossa conversa no extinto diário paulistano Jornal da Tarde.


Foto e ilustrações por Flor Maria e Anna da Hora.

sábado, 7 de setembro de 2024

LICENCIOSIDADE NA CULTURA POPULAR (127)

Baixinho, gordinho, feinho… Tinha uma inteligência invulgar.
Esse era João Paulo Emílio Cristóvão dos Santos Coelho Barreto (1881-1921), que assinava com pseudônimo de João do Rio.

Suas reportagens chamavam atenção do grande público. Eram feitas nos morros, puteiros, casas de umbanda. Por aí. O submundo era, de certo modo, o seu mundo. Simples e muito inteligente, era admirado e respeitado pela plebe e pela elite. Tinha sempre o que dizer. E ainda encontrava tempo para bebericar com amigos, brincar o Carnaval e outras festas do povo. Também para escrever e enviar cartas às pessoas de que gostava, como o português João de Barros.

Para Barros, João do Rio escreveu uma carta em que fala de orgia. Curiosa e cheia de fofoca. Deve ter sido enviada a seu amigo, um ex-ministro português, em fevereiro de 1912.


Meu caro João,
Chegou a Ema. Criaturinha insignificante. O José Moraes (o empresário) literalmente sem dinheiro, porque ela em dois anos comeu-lhe duzentos contos e estragou-lhe vários negócios, não quer ser amante e ama-a. A Ema dá ataques e fornica com toda a gente. É do sangue. A terrível senhora que me domina pela ameaça do suicídio, a senhora Aurea, apesar de ser divorcée do Porto Carrero e de sociedade, deu de fazer o Carnaval em pijama, comigo e com a Ema. Passamos quatro dias nessa orgia de que se não fala…

A Ema aí referida na carta era uma atriz bastante conhecida à época.

Ainda naquele ano de 1912, sempre no tom de fofoca, João escreveu ao seu velho xará português:

João, queridíssimo,
Tenho uma coisa impagável. Lembras-te do Amaral França, o elegante senhor do Paiz? Era o amante da madame Camacho! O marido, aquele cretino com ares de boneco de alfaiate barato – soube! Soube e teve ciúme. Então mandou cinco, nota bem, cinco amigos seguirem a feia Camacho e quando a bela Camacho (digo bela agora porque não se compreende uma adúltera feia) palpitava nos braços do Amaral, na sua garçonnière do Russell, deu-se o flagrante delito mais escandaloso do Rio de Janeiro. O divórcio é amigável. Camacho chora (isto é, Camacho fêmea) enquanto Camacho de barba olha o céu pensando ver o chifre. Isso causou na bande a impressão do raio. O nosso incorrigível ingênuo Sampaio ficou prostrado, e assegurou-me que felizmente a Marguett era angélica…

João não morreu pobre nem rico. Viveu e deixou dúzia e meia de livros pra quem quiser saber de histórias reais e inventadas que trazem a assinatura do famoso repórter.

No seu último livro A Mulher e os Espelhos (1919), João do Rio conta histórias curtas do cotidiano carioca. Nessas histórias, os personagens mais frequentes são mulheres com seus dramas pessoais; amor, sexo, adultério e violência. São textos limpos, claros, atualíssimos.

Síntese era a marca desse João.

sexta-feira, 6 de setembro de 2024

QUEM MATOU O PAI DE PEDRO I?


O dia 6 de setembro de 1822 foi, para o então imperador Pedro I, um dia inesquecível.
Naquele distante dia 6, ali já pela boca da noite, o imperador acabara de deixar a casa do seu ministro José Bonifácio onde comera um moooonte de coisas. Tomou vinho e tal. Estava em Santos, SP. Em seguida pôs o pé na estrada, melhor: a mula, picou a mula em direção à Capital paulista. Montado nela.
Conta a história que foi um tormento essa viagem de Pedro I.
Ainda segundo a história, o Pedro não deu grito nenhum em prol da independência do Brasil. O grito que provavelmente tenha dado saiu do seu gogó na surdina, num gemido. Ou nuns gemidos, pois o moço estava com o intestino em desarranjo total, provocado pelas tranqueiras que comeu na casa do seu Bonifácio.
E essa é a história. Uma história.
The Guardian: The beautiful anthem
Outra história dá conta do nosso hino nacional. Na sua origem era todo instrumental e trazia o título Hino 7 de Abril. Depois, outro título: Marcha Triunfal. E finalmente, já no fim do século 19, com o Império transformado em cinzas, ganhou a obra o título definitivo de Hino Nacional Brasileiro. Porém ainda sem letra. A letra viria logo depois, assinada pelo poeta Osório Duque Estrada.
Pedro I era pai de Pedro II e filho de Dom João VI, que era filho do rei Pedro III de Portugal.
Pedro I, que morreu de tuberculose aos 35 anos de idade, entrou para a história como o herói que deu o grito da independência às margens do riacho Ipiranga. A história diz o contrário, mas o pintor paraibano Pedro Américo incumbiu-se de espalhar a história que quase todo mundo sabe, através do quadro Grito do Ipiranga. Esse quadro foi feito em Paris no ano de 1888. Encomendado.
O pai de Pedro I foi vítima de assassinato provocado por um veneno identificado como arsênio. Isso ocorreu quando ele tinha 58 anos de idade. Há quem diga que tenha sido vítima do filho Miguel, que acabaria perdendo batalha ferrenha travada contra o irmão Pedro. Foi coisa séria. Guerra Civil no Porto, com mortos, feridos e tal. Culminou com o exílio de Miguel determinado pelo mano Pedro.
Como o filho Pedro I, Dom João VI viveu boa parte da vida pulando cerca. A sua mulher, Carlota Joaquina, deu troco e gerou filhos que não eram dele. Bastardos. Pois, pois.
O Hino Nacional foi tocado pela primeira vez dia 13 de abril de 1831, no Teatro São Pedro de Alcântara, RJ.
Ah! Sim: o autor da música do nosso Hino Nacional foi Francisco Manuel da Silva (1795-1865). Esse hino foi considerado o mais bonito dentre todas as nações pelo prestigiado jornal britânico The Guardian, em 2002.

quinta-feira, 5 de setembro de 2024

CEGOS EM CAMPO

Driblando com segurança 
Graça e categoria 
Nossos cegos na França 
Fazem o que Deus faria
Com guizos e bola nos pés
Da noite criam o dia

No campo esportivo, atletas não têm, nem deveriam ter, inimigos. Adversários, sim. Salutar, até porque uma coisa é diferente da outra.
Pessoalmente, acho bonito quando adversários se abraçam amigavelmente após perder uma disputa. Seja qual for.
A Paralimpíada ora em andamento na França tem sido aos meus olhos algo incrível. 
O Brasil lá na França, ora ocupa o 3° ou 4° lugar. Isso não é pouco. 
Com os meus olhos cegos vejo o mundo. 
Ser cego, nascido assim ou não, acho que não é o fim do mundo.
Fim do mundo é ficar de braços cruzados esperando o. bem bom que do céu não vem.
E aí?
A tudo nos adaptamos. Mas não é de mim que aqui quero falar.
Neste momento está começando o jogo entre a seleção de futebol de cegos do Brasil e a seleção de futebol de cegos da Argentina. É lá em Paris, pelas semifinais. 
Bom, vamos ganhar. E se não ganharmos a culpa é minha, simplesmente porque recusei-me a entrar em campo para participar da disputa. Porém, estou torcendo por nossa vitória. 
Vamos lá: fé em Deus e pé na bola!

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