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sábado, 10 de dezembro de 2022

PERDEMOS A COPA, MAS GANHAMOS AS ELEIÇÕES. QUE TAL?

O meu relógio marcava 13:56hs, quando o juíz apitou o final da partida Portugal × Marrocos, no Catar. 

Exatamente nessa hora, hora de Brasília, a equipe de futebol marroquina garantia presença inquestionável na semifinal da Copa deste ano de 22. Um a zero no placar. Fato histórico, pois até aqui, nenhuma equipe de futebol daquelas bandas havia realizado tal façanha.

Confesso que vibrei. 

Os marroquinos foram gigantes em campo, suando a camisa e dando o resultado que deram.

Fizeram exatamente o que a equipe de Tite não fez.

Marrocos é uns dos 54 países do continente africano. Fica ao norte, região em que desapareceu para sempre, em 1578, o jovem rei Sebastião I de Portugal. 

Ao longo da história, os marroquinos comeram o pão que o diabo amassou. Superaram-se depois de dominados por espanhóis e franceses. Conquistaram a independência no começo dos anos de 1950.

O sistema de governo de Marrocos é monárquico constitucional. 

A equipe brasileira de futebol caiu diante da Croácia.  Foi ontem 9. Um chororo dos infernos. Enquanto choravam viam Tite sumir vestiário adentro. Patético. 

Nada não, mas chega a ser incompreensível o chororo dos craques brasileiros. Pergunto: um cara que ganha mais de 700 mil reais/dia, correndo atrás de uma bola, tem razão pra chorar?

Noticiário da revista norte-americana Forbes, espécie de bíblia do mundo financeiro, traz informações impressionantes sobre os ganhos de futebolistas como Neymar. 

Ao cair hoje 10 perante os marroquinos os portugueses também choraram em campo. Cristiano Ronaldo inclusive. Esse fatura em torno de 100 milhões de euros. Pois, pois!

Alguns ex-futebolistas, como Ronaldo Fenômeno, gastam seu dinheirinho comendo carne com ouro e tal e coisa. Tá Bom, cada qual faz o que quer com os seus ganhos. Mas cá pra nós, que isso é uma vergonha,  um assinte, é!

Bom, minha gente: perdemos a Copa, mas ganhamos as eleições. 

Com Lula, valorizando a educação, prevejo que o Brasil ainda tem jeito.



quinta-feira, 8 de dezembro de 2022

EU E MEUS BOTÕES (54)

"Estou ouvindo passos, quem será?", matutou Barrica. "Deve ser o seu Assis. Se for, deve estar atrasado. Mas deve ser...".
"Não, acho que não é o seu Assis. Estou ouvindo passos de duas pessoas. Sim, acho que são duas pessoas", disse em voz baixa, calmamente, quase soletrando as palavras, o poeta Zilidoro. 
Lampa aguçou o ouvido, resmungando: "Hmmm... Não estou gostando". Disse isso e levantou-se do tamborete em que estava. Passou a mão na barba ainda por fazer e adiantou-se à porta, deixando a mostra o seu inseparável punhalzinho. Na verdade, um punhalzão. "Que é isso, Lampa!?", indagou preocupado Mané. E Lampa: "Seguro morreu de velho...", respondeu num sussurro.
Ouviu-se um toc-toc. E mais um.
Zé, Biu e Jão levantaram-se em silêncio e ficaram como quê escondidos num pequeno compartimento da casa, junto à porta. Zoião engrossou a voz, dizendo: "Calma, calma. Já vou!".
Atrás de Zoião, Lampa deu um cutucão como sinal pra abrir a porta.
Porta aberta, Zoião perguntou: "Quem são vocês?".
Lampa adiantou-se, de voz e olhos firmes: "Sim! Quem são vocês?".
"Sou amigo do Assis e vim aqui a convite dele. E esse aqui ao meu lado é Marlowe", apresentou-se com naturalidade Marco Antônio Zanfra.
Nem acabara de dizer isso, de apresentar-se, Barrica olhando pela janela, disse: "Seu Assis está chegando. Estou vendo daqui!".
Zanfra e Marlowe foram-se acomodando.
Bom dia, pessoal. Tive um pequeno imprevisto, mas aqui estou. Olá Zanfra. O Marlowe é esse aí, que está ao seu lado?
Antes de Zanfra confirmar, o próprio Marlowe apresentou-se: "Sim, sou eu. E há muito eu queria conhecer o senhor. O Zanfra fala muito a seu respeito. Eu lhe admiro pelos livros e reportagens que escreve".
Gosto das suas incursões em busca da justiça, Marlowe. Sei que não é fácil ser detetive, principalmente quando se é competente e honesto como você. E sensível. Não é todo policial que gosta de Beethoven, Chopin, Debussy, Mozart, Rachmaninoff, Schubert e Prokofiev. "O Marlowe também gosta muito de Bach e de romances policiais, claro", emenda Zanfra já familiarizado com os meus botões. 
Metendo-se na conversa, Zilidoro foi dizendo que o seu mundo é o mundo da cultura popular. Que ama tudo que Patativa do Assaré escreveu, por exemplo. Diz também que Leandro Gomes de Barros é o seu mais admirado cordelista, ao lado de Silvino Pirauá e José Melo Rezende, esse último autor do folheto O Pavão Misterioso. Porém não deixou de citar cordelistas mais novos como Klévisson Viana, Rouxinol do Rinaré, Cacá Lopes, Luiz Wilson, Moreira de Acopiara e Marco Haurélio e que adora o mundo dos cantadores repentistas, mundo do qual se sobressaem o Cego Aderaldo, os irmãos Batista, Ivanildo Vila-Nova e Oliveira de Panelas. 
Lá no fundo, Lampa deu uma tossida.
"Ia-me esquecendo dos personagens do nosso querido Nordeste, como Padre Cícero, Luiz Gonzaga e Lampião", acrescentou orgulhoso Zilidoro.
Jão pediu a palavra querendo saber detalhes da vida de Marlowe: "Além de fazer investigação, eu quero saber que mais faz da vida".
Meio sem jeito, Marlowe disse que está aposentado. Zanfra emendou, na gozação: "Aposentado porque é um besta. Não fuma, não tem vícios maiores. Mas enxuga álcool que nem uma esponja. Se riscar um fósforo perto dele é capaz de explodir!".
A explicação de Zanfra provocou uma risada geral, no ambiente. 
Bom pessoal, é isso aí. Zanfra é jornalista e escritor e Marlowe amigo dele. Marlowe é fácil de se encontrar nas páginas dos livros As covas gêmeas, A rosa no aquário e O beijo de Perséfone. No mais convido a todos para acompanhar comigo o jogo Brasil x Croácia, amanhã 9.
"O meu palpite é que o Brasil vai dar de 3 a 0 na Escócia", arriscou Barrica.
 

quarta-feira, 7 de dezembro de 2022

PODCASTS DISCUTEM O BRASIL

 
A revista Piauí é uma revista ótima, de leitura necessária, que vai às bancas todo mês. Pode se dizer até que já é antiga, pois foi lançada em outubro de 2006. A sede da redação fica no Rio.
Em 2018 foi lançado o podcast Foro de Teresina, que é ligado umbelicalmente à Piauí. Apresentado pelos jornalistas Fernando de Barros e Silva, José Roberto de Toledo e Thais Bilenky. A produção é da rádio Novelo.
O Foro de Teresina discute os problemas gerados pela política, no Brasil. É cáustico. Necessariamente cáustico. É o exato contraponto do Medo e Delírio em Brasília.
Medo e Delírio em Brasília tem a produção e apresentação de Pedro Daltro e Cristiano Botafogo.
Como o Foro de Teresina, Medo e Delírio em Brasília trata a bizarrice gerada por políticos sem vergonhas do País. Com um detalhe: é cheio de graça, por inserir aqui e ali palavras de baixo calão quase sempre engasgadas no gogó do povo. Nota 10!
O Foro de Teresina vai ao ar toda sexta-feira, via Internet.
Medo e Delírio em Brasília vai ao ar todas terças e sextas, também via Internet.
O número de dezembro da revista Piauí já se acha nas boas bancas. Como sempre, boas reportagens tem chamada na capa. E até gracinhas tem como leitura: "Esposa Michelle: Jair, vamos levantar da cama, por favor? Já faz 15 dias e nem o lençol você trocou...".
Não sei se tem a ver, mas ontem o maridão da Michelle apareceu em público com os olhos inchados, marejando. O quê que há, hein?
O natal está chegando. O que Papai Noel trará de presente para Bolsonaro? Hmmm...
 

segunda-feira, 5 de dezembro de 2022

BOLA NA REDE E OURO NO BUCHO

O cartunista Fausto registra a seu modo a partida Brasil x Coreia do Sul
 
O povo do mundo todo, ou parte do povo do mundo todo, esquece suas raivas e pobreza quando o time da sua predileção marca um gol contra o time adversário. Isso também ocorre no Brasil, é claro.
Já passou o tempo em que os árbitros eram chamados de felasdaputa. Agora são ladrões, simplesmente ladrões. E pra tirar dúvida, foi implantado um mecanismo chamado VAR.
O VAR é o tira-teima supremo. 
Até agora, ninguém ousou discutir as decisões supremas do VAR.
O VAR é aplicado em quase todos os jogos de futebol, no Brasil e na casa do chapéu.
O Brasil para, praticamente, toda vez que a seleção nacional entra em campo. Não foi diferente hoje 5.
A seleção de Tite enfrentou o time da Coreia do Sul, no Catar. No primeiro tempo, 4 x 0. No segundo, os coreanos do sul diminuíram em 1 o placar.
Os gols do Brasil foram marcados, pela ordem: Vini, Neymar (de pênalti), Richarlison e Paquetá.
O primeiro gol do Brasil contra a Coreia do Sul foi dedicado a Edson Arantes do Nascimento, Pelé. Que agradeceu do quarto do hotel em que se encontra, na Capital paulista.
No Brasil e no mundo, os pobres continuam pobres e os ricos, mais ricos.
Futebol dá muito dinheiro, é sabido.
Daniel Alves, com seus 39 anos e já considerado "velho" para a bola, embolsa todo mês cerca de 160 mil reais. É pouco, não é? Coisa pra aposentado.
Enquanto dito essas benditas linhas, ouço notícia dando conta que alguns jogadores e ex-jogadores brasileiros pagaram mais de 3 mil reais para comer carne com ouro. Não entendi direito, mas é o que diz a notícia. Leiam: Jogadores da seleção comem carne folheada a ouro no Qatar
Se for verdade a notícia, arrisco a pergunta: esses carnívoros estão investindo em quê ao comer ouro?

domingo, 4 de dezembro de 2022

FUTEBOL, UMA HISTÓRIA CONTADA EM MUITOS LIVROS (2, FINAL)

A Copa de 1958 mereceu pelo menos dois grandes clássicos: Escola de Feola e A Taça do Mundo é Nossa, essa gravada pelos músicos que integravam o sexteto Titulares do Ritmo. Todos cegos. Esses músicos, segundo o papa da bossa nova João Gilberto, formavam uma orquestra de cordas vocais e cantavam à capela. Naquele ano os destaques em campo foram todos, incluindo Djalma Santos.
A Copa de 1962 rendeu o belíssimo Frevo do Bi, gravado pelo paraibano Jackson do Pandeiro. Pelé machucou-se e a grande estrela em campo foi o anjo de pernas tortas, Garrincha.
A Copa de 1970, a do tri, foi embalada pela marchinha Pra Frente Brasil, usada e abusada pelos ditadores de plantão, à frente Médici. Pelé e Rivelino foram elevados ao grau máximo da glória.
A Copa de 1994 foi a que rendeu menos músicas. Duas ou três marcaram presença nas lojas de disco e rádio. Entre essas, Coração Verde e Amarelo. O destaque em campo foi Romário.
Em 2002 o número de músicas feitas pra estimular os torcedores também foi muito pequeno. Inexplicavelmente, até porque foi o ano que a nossa seleção faturou o pentacampeonato. Aqui e acolá ouviu-se Brasil Pentacampeão. O grande craque em campo foi Ronaldo Fenômeno.Copa de 2022 em andamento. O Brasil estreou no Catar, contra Sérvia. Richarlison foi o herói do dia, marcando 2 belos gols.
Todo mundo tem uma história pra contar, inclusive no campo do futebol.
Eu comecei a gostar do Flamengo e do Corinthians, por razões bobas. Li em algum lugar, num tempo que já não lembro, que o escritor mineiro Guimarães Rosa era Mengo e dizia que ser Mengo era ser inteligente. Ora, ora.
Em São Paulo escolhi o Corinthians por ser considerado o time do povo.
Antes de torcer pelo Flamengo e pelo Corinthians, eu torcia pelo Botafogo de João Pessoa, PB. O cantor e compositor Geraldo Vandré torce por esse time até hoje.
O cartunista Fausto é fiel torcedor do Botafogo. Mas esclareça-se, Botafogo do Rio. Ele conta que seu gosto pelo Bota carioca deve-se a Garrincha. Ele: "Eu tinha uns dez anos de idade quando comecei a frequentar a barbearia de um tio meu, Antônio, em Reginópolis, SP. Eu ficava folheando O Cruzeiro. Nessa revista eu via fotos de Garrincha atuando na Copa de 62. Passei a admirá-lo. Ele era botafoguense".
O Brasil é o único país pentacampeão de futebol do mundo.
A história do futebol, no Brasil, é contada em centenas de livros.

Foto e reproduções de Flor Maria e Anna da Hora.
Ilustrações de Fausto Bergocce.

sábado, 3 de dezembro de 2022

FUTEBOL, UMA HISTÓRIA CONTADA EM MUITOS LIVROS (1)

Na manhã de 30 de junho de 2002, eu me achava em casa vendo na tevê Brasil e Alemanha disputando o Mundial de Futebol.
Naquela manhã, um domingo, o centroavante Ronaldo, dito Fenômeno, tinha 26 anos de idade e o joelho direito todo afunhenhado. Para muitos era seu fim, mas pra ele não.
O jogo chamava atenção de boa parte do mundo. Ronaldo se multiplicava em campo, fazendo jogadas espetaculares. E fez a rede do time adversário balançar uma vez e mais outra. O resultado foi o que ficou visto e registrado na história: 2 × 0.
Depois do jogo, sentei-me à mesa para tomar café e comer um pão quentinho com tranqueira dentro. Em seguida peguei caneta e papel e comecei a escrever uma letra que ganharia melodia do bom baiano Gereba. Esta:

Meu amor, meu amor
O Brasil ganhou
Trouxe do Japão
A taça de campeão
O mundo vibrou
O povo dançou
Pelo Pentacampeonato
Que o Brasil conquistou
No Brasil, na Coréia
Na China ou no Japão
A torcida só gritava
Brasil Pentacampeão
Todo mundo cantando
Viva a seleção
O Brasil é Penta
É PENTACAMPEÃO!


A história do futebol é uma história antiga. Eu já disse isso e muita gente também.
No ano de 2006 foi publicado O Grande Livro dos Mundiais, de Keir Radnedge e Mark Bushell. À pág. 4, lê-se:

Quando a Escócia enfrentou a Inglaterra naquela que talvez tenha sido a primeira partida internacional entre os dois países, no dia 30 de novembro de 1872, ninguém poderia imaginar que o futebol se tornaria uma paixão global de tamanha intensidade. Esse jogo, disputado na quadra de críquete no Oeste da Escócia, perto de Glasgow, seria o trampolim que impulsionaria o desenvolvimento e o êxito do futebol internacional, apesar do resultado bastante decepcionante: 0 a 0. O placar estéril desse primeiro jogo, felizmente quase não se repetiu em outros embates internacionais, e deixou um único legado como lembrança. Surpreendentemente, uma pesada camisa de lã, usada no jogo pelo capitão da Inglaterra naquele dia, Arnold Kirke-Smith, ainda existe. Resplandecente, com o distintivo dos três leões, a camisa foi apaixonadamente protegida pela família e passada para as gerações futuras.

Isso, como se vê, há exatos 150 anos.
Em 1895, portanto 23 anos depois do jogo Escócia × Inglaterra, realizou-se na Capital paulista aquela que talvez tenha sido a primeira partida oficial de futebol no Brasil, reunindo trabalhadores ingleses e brasileiros.
Em 1914, foi realizada a Copa Roca. O Brasil participou e ganhou.
Em 1919, foi composta a primeira música em homenagem a um craque de futebol. O homenageado chamava-se Arthur Friedenreich. E o autor, Pixinguinha.
Em 1930, foi realizada a primeira Copa de futebol do mundo. Ganhou a seleção uruguaia.
O Brasil participou de todas as Copas, ganhando em 1958, 1962, 1970, 1994 e 2002.
Muitas músicas foram compostas e dedicadas a craques e à própria seleção brasileira de futebol.

sexta-feira, 2 de dezembro de 2022

HOJE TEM PANDEIRO NO CATAR

Tudo na vida é muito fácil, muito simples, não é mesmo?
Acabo de escutar no rádio que o meio-campista Daniel Alves, hoje com 39 anos de idade, tirou onda de quem anda dele debochando. Disse que se acha muito bem, obrigado, integrando o time reserva do professor Tite. Se precisar, disse, entra no campo e bate pandeiro. E se fizer isso, fará da melhor maneira possível.
Pois bem, é isso aí. Simplicidade pura.
A fala de Daniel fez-me lembrar que hoje 2 é o Dia do Samba.
O Dia do Samba foi chancelado pela Câmara Municipal da capital baiana, em homenagem ao mineiro Ary Barroso.
O pandeiro como instrumento musical entrou no samba pelas mãos mágicas do carioca João Machado Guedes, por todos chamado João da Baiana.
João da Baiana (1887-1974) começou a gravar música em disco em 1923. E como uma coisa puxa outra, lembro que Ary Barroso foi o cara que inventou o samba exaltação. Esse gênero foi inaugurado com Aquarela do Brasil,  gravado por Chico Alves. Tempos do Estado Novo.
Seguindo a linha "exaltação", o baiano Assis Valente compôs o belíssimo Brasil Pandeiro. Esse samba foi feito especialmente para a portuguesinha Carmem Miranda gravar, mas ela não gravou. Isso fez o valente Assis entrar em depressão e findar por matar-se ingerindo formicida com guaraná.
O futebolista Daniel Alves é baiano como Assis Valente e João Gilberto.
João é de Juazeiro, como Daniel.
Simples, não é mesmo?
Logo mais, às 16hs, o time reserva de Tite entrará em campo no Catar.


RUMO AO HEXA

Rumo ao Hexa é a trilha sonora que Jarbas Mariz e eu fizemos para este ano de 2022. Ouça e diga o que achou:

quinta-feira, 1 de dezembro de 2022

FINALÍSSIMA DE MAIS UM PRELÚDIO

No próximo domingo 4, a partir das 20h, os brasileiros de bom gosto poderão ouvir no rádio e ver na tevê (Cultura) um belíssimo espetáculo comandado pelo maestro Júlio Medaglia, diretamente do teatro B32. Tudo ao vivo, inclusive uma homenagem ao cantor e compositor Milton Nascimento. "É o fim de mais uma temporada do programa Prelúdio", diz o maestro.
O maestro Júlio Medaglia e o júri que forma o programa Prelúdio, já revelaram dezenas de talentos musicais.
A última temporada do programa, traz a público mais 4 novas descobertas: os paulistas de Itaquaquecetuba e de Arujá Gabriel Cordeiro (flauta doce) e Samuel Alves (saxofone); o paulistano Rafael Esparrell (clarinete) e o paraense Davi Costa (violino).
O júri escolherá domingo o grande vencedor, que será contemplado com uma bolsa de estudos na Academia Franz Liszt, em Budapeste, Hungria.
Consta na programação a apresentação do Ballet Paraisópolis, dirigido por Monica Tarragó. A homenagem a Milton Nascimento será prestada pelos integrantes do Ballet e ao som da música Maria, Maria, interpretada pela cantora Mericia Cassiano.
O teatro B32, que fica ali na av. Brigadeiro Faria Lima, tem capacidade de receber até 900 pessoas. 
Claro que estarei lá!

quarta-feira, 30 de novembro de 2022

BOLSONARO TÁ JABURU

O ex-candidato a reeleição presidencial Bolsonaro está triste, segundo o vice-presidente eleito senador Hamilton Mourão.
A afirmação de Mourão foi feita ontem 29 no palácio do Jaburu ao vice-presidente eleito Geraldo Alckimin.
O palácio do Jaburu serve de residência aos vice-presidentes.
Alckimin esteve com Mourão para tomar conhecimento da estrutura do gabinete de vice-presidente da República.
Bolsonaro deixou o palácio da Alvorada pra jantar com o seu futuro chefe Valdemar Costa Neto, dono do PL.
O jantar que levou Bolsonaro a um restaurante de Brasília foi classificado como "confraternização", entre os afiliados do PL.
Mais do que triste, Bolsonaro está jaburu.
À propósito hoje 30 faz exatamente um mês que Luís Inácio Lula da Silva foi eleito presidente da República pela terceira vez.
Enquanto isso, Bolsonaro e seus malucos insistem em não reconhecer o resultado das urnas. Ai, ai, ai...

terça-feira, 29 de novembro de 2022

SEXTA O PRATO É CAMARÃO!


Tem fundamento o que o José Nêumanne disse ontem 28: "O Tite é um embuste".
Embuste e amarrado dos pés à cabeça, acrescento eu.
Geremias Manoel da Silva, pernambucano de Paulista, compreende perfeitamente o que Nêumanne diz e acrescenta: "No mais, o Tite tem compromisso com os patrocinadores". Pois, pois!
O jogo entre Brasil e Suíça foi, no geral, um pif-paf. O primeiro tempo, nulo. O segundo, gol de Casemiro.
Brasil x Suíça não rendeu o que deveria render. Melhor: rendeu uma belíssima inspirada charge do genial Fausto. Por isso, valeu.
Na próxima sexta 2 às 16 horas vamos, tomara que sim, comer camarão com cavalo branco. É isso. Tim-tim!

segunda-feira, 28 de novembro de 2022

O FUTEBOL REÚNE GENTE. VIVA O BRASIL!



Parece que o mundo fica feliz a cada quatro anos. 
Nem sei por que digo isso. 
E o mundo continua correndo antes e além de quatro anos. Atoamente. 
A cada quatro anos ocorre, no nosso planetinha de berda, uma Copa. De futebol. 
Futebol é uma história real, claríssima: duas dezenas de machos alfa correndo atrás ou à frente de uma bolinha. Pra lá e pra cá.
O futebol é uma coisa interessante, desde que não o levemos tão a sério. 
O futebol é pretexto pra brincadeira. Pra pessoas se juntarem. Isso é o que acho. 
No comecinho da tarde hoje 28 a porta do meu coração e da casa onde moro abriram-se. E ao abrirem-se chegou o cantador de Alto Belo, Téo Azevedo. Em seguida, Luiz Wilson e a cantora Fatel. 
Tarde de hoje bonita.
E a tarde começando, a televisão dizendo que o Brasil e a Suíça estavam chegando. 
E nessa hora, 13:05hs, apertou a campainha do meu apertamento o conterrâneo José Nêumanne. 
Era ele, Nêumanne, com sua dona Isabel. 
Bestamente fiquei feliz, porque não é todo dia toda noite que pessoas que amo chegam.
E cantamos e declamamos e dissemos coisas sobre política fantasia e tudo o mais.
Sei, é preciso respirar.
Amo profundamente o meu país.

domingo, 27 de novembro de 2022

MÚSICA E FUTEBOL, BRASIL: RUMO AO HEXA (2, FINAL)

Em 1969, Luiz Gonzaga gravou o Hino do Batistão, de autoria do jornalista Hugo Costa (1929-2010).
Gonzaga era torcedor do Santa Cruz de Recife, do Botafogo do Rio e dos Santos, SP. Curiosidade: em 1987 foi criado em Exu o Gonzagão Futebol Clube.
Nem os poetas repentistas do Nordeste e até do Sul como Teixeirinha, deixaram ou deixam de registrar suas impressões sobre o futebol.
Perguntei ao cantor, compositor, cordelista, repentista piauiense Jorge Mello por qual time torcia. Depois de responder Corinthians, saiu-se com estas décimas que se encaixam perfeitamente na modalidade Martelo:

Eu só digo que agora lhe previno,
sobre o esporte da grande maioria.
Futebol é motivo de alegria
na pisada do ato cristalino.
Sendo atleta e um grande paladino
do esporte maior desse planeta,
Charles Muller nos trouxe essa faceta
revelando o segredo da magia.
Virei fã desse esporte. Todo dia
vendo o atleta fazer sua pirueta.

Futebol tem origem medieval
mas o tempo dirige a jornada.
Tantos anos trilhando sua estrada
e se tornando um sucesso universal.
Cada atleta faz ali seu carnaval.
E com a bola ele mostra a maestria.
Seu trabalho pra nós é fantasia.
Futebol nos chegou foi da Europa,
Uruguai nos deu a primeira copa.
E o Atleta nos enche de alegria.

E foi desde vencer a primeira copa
Que eu sou torcedor do Botafogo.
Nilton Santos, Garrincha naquele jogo
Comandavam com arte toda a tropa.
E foi vendo outros jogos na Europa
Que torci pra outro time bem brilhante.
Vendo Sócrates, eu virei naquele instante
também um torcedor corintiano.
E assim, eu espero a cada ano
um novo jogador, um diamante.


Martelo é uma modalidade comum entre os repentistas. É antiga, vem das dobras do tempo. “Existem muitos martelos, que são versos escritos em estrofes de dez versos, cada um dos versos, com dez sílabas. Martelo gabinete, martelo agalopado, martelo alagoano etc”, conta Jorge.
Martelo Gabinete é uma modalidade em extinção, como o Martelo Alagoano.
Essa história é boa e bonita.

sábado, 26 de novembro de 2022

MÚSICA E FUTEBOL, BRASIL: RUMO AO HEXA (1)


O Mundial de Futebol mais louco, desvairado e polêmico é o que se acha ora em andamento no Catar.
O Catar faz parte de um mundo inacreditável pela violência que reina no Oriente Médio: muito dinheiro no bolso de poucos e nada no bolso de muitos, sem falar da discriminação contra mulher e gay. Um horror! Mas não é exatamente disso que quero aqui falar.
Quero falar da bela e imorrível paixão entre o futebol e a música.
Em 2010, publiquei A Presença do Futebol na Música Popular Brasileira. Fui o primeiro a abordar essas duas questões, em livro. No mesmo ano publiquei longo artigo na revista Textos do Brasil, do Ministério das Relações Exteriores.
A primeira música que trata de futebol gravada no Brasil, foi intitulada Foot-Ball. Trata-se de uma marcha de autoria desconhecida. Foi lançada por volta de 1912.
Os clubes de futebol no País começam a se formar em 1895, no Rio. O primeiro foi o Flamengo.
Em São Paulo, os primeiros foram dois a se formarem: o Savóia, de Votorantim; e a Ponte Preta, de Campinas.
Depois do Flamengo surgiu, no Rio, o Fluminense em 1902.
Em São Paulo novos times iam sendo fundados. Em setembro de 1910 gente simples do trabalho davam forma ao Corinthians, inspirados num time inglês de mesmo nome. Quatro anos depois, em agosto de 14, era criado o Palestra Itália. O Palestra, nada mais nada menos, é o verdão Palmeiras.
A multiplicação dos times de futebol passou a inspirar compositores de todos os naipes.
Em 1930 é realizado o 1º mundial de futebol, no Uruguai.
Em 1930 é lançado o que se considerou o 1º hino ao Corinthians, de F. Loroza e Ed Dohman. Gravado por Guarany e Pirajá.
Em 1958 a seleção brasileira ganhou o 1º mundial. A vitória gerou o clássico A Taça do Mundo é Nossa, cuja a matriz se acha no acervo do IMB.
Compuseram belas obras relacionadas ao futebol Noel Rosa, Capitão Furtado, Raul Torres, Paulinho Nogueira, Adoniran Barbosa, Wilson Simonal, Gereba. Até Jarbas Mariz e eu acabamos de compor o rap Rumo ao Hexa.
Músicas levantando a bola do futebol têm sido compostas em todos os ritmos e gêneros: canção, forró, baião, samba, rock e tal.
Em 1972 a mineira Maria Alcina tinha 23 anos de idade quando trocou seu berço Cataguases (MG), pelo Rio de Janeiro, para abraçar a carreira de cantora. Apostou e ganhou: em 1972 virou sucesso ao defender Fio Maravilha, de Jorge Ben, no 7° Festival Internacional da Canção.
"Claro que sou torcedora do Flamengo, mas também sou torcedora do Corinthians", disse a mezzo soprano Alcina. Como Inezita Barroso, está sempre rindo e revelou, com toda a sua graça: "O Pelé chegou a fazer uma música pra mim. Você sabia?".
A música a que se refere Alcina é o batuque Acredite no Veio, que se acha no LP Bucaneira. (selo Origem, 1992). É assim, cantarola a cantora:

Acredita no véio
Pode falar mizifio
Que o véio tem força
Faz seu time ganhar…


Além dos compositores já citados encontraram no futebol inspiração os craques Pixinguinha, que em 1919 gerou o choro 1×0; Silvio Caldas, palmeirense de primeira hora; Jackson do Pandeiro, Gordurinha, Chico Buarque, fluminense convicto; Gilberto Gil, Moreira da Silva, Wilson Batista, Lamartine Babo, torcedor do América e autor de uma dúzia de hinos para times do Rio; Ari Barroso, flamenguista histórico; Capiba, Aroldo Lobo...
É claro que Luiz Gonzaga deixou sua marca nessa seara.


sexta-feira, 25 de novembro de 2022

VIVA FRED E A MÃE DO FRED GHEDINI

 Todo mundo aniversaria todo dia. E tem dia que a gente descobre pessoas que aniversariam em dias que a gente nem nem. 

Pra minha surpresa e  agradável surpresa fiquei sabendo hoje 25 que  um querido amigo e colega jornalista aniversariou. Inventou de aniversariar. O grave nessa história é que eu não sabia quem era.

O aniversariante é Fred Ghedini, ex-presidente do Sindicato dos Jornalistas no Estado de São Paulo. 

Fred teve pai e teve mãe. 

O pai, seu Ulisses, partiu. 

A mãe do Fred, dona Jupyra, aos 97, quer chegar aos 100 anos. É seu sonho. O Fred brinca: "A senhora, mãe, vai chegar aos 150".

Fred quando diz isso a mãe ri.


AGORA É HEXA!

É como eu disse ontem 24: o 1º tempo da partida Brasil x Sérvia foi morno, sem futuro. Sem futuro, aspas, pois o 2º tempo foi ótimo. A participação do atacante Richarlison foi, digamos, impecável. 
O Brasil está de alma lavada, com o resultado do jogo de ontem no Catar.
Richarlison nasceu no Espírito Santo. Só podia ser ele. Quem nasce lá é capixaba, ao contrário de quem nasce no interior de Pernambuco e São Paulo.
O Brasil não participou do mundial do futebol do ano de 1942, mas um ano antes, o pernambucano de Cabo Manezinho Araújo lançou pela Odeon um disco de 78RPM com a embolada Futebol na Roça. Uma beleza! Fez gol, quer dizer: sucesso.
Em 1942 não houve Copa do mundo porque o mundo estava em guerra, deflagrada pelo criador do nazismo, Adolf Hitler.
Em 1962 o Brasil foi a campo e faturou o 2º título mundial de futebol, ao derrubar a forte seleção da Tchecoslováquia pelo placar de 3 a 1. A bela vitória ocorreu no Estádio Nacional de Chile.
Naquele ano de 62, o paulista de Botucatu Raul Torres emplacava um belo cateretê cantando junto com o parceiro Florêncio. Título: Futebol da Bicharada.
Torres e Florêncio, de batismo João Batista Pinto, formaram dupla que durou anos, com sucesso.
Florêncio nasceu em Barretos, SP, cidade famosa em todo o País pelos rodeios que promove.
O que é que tem a ver Manezinho Araújo com Torres e Florêncio e a atual Copa do mundo?
Os personagens até aqui citados nasceram no interior do Brasil.
O atacante Richarlison de Andrade nasceu no município de Nova Venécia, há 253km de Vitória, ES.
É o Brasil do interior fazendo bonito em todo canto. E para embalar esta história Jarbas Mariz e eu compusemos o rap Rumo ao Hexa. Ouça, vibre e dance, clicando:

quinta-feira, 24 de novembro de 2022

BRASIL RUMO AO HEXA. VAMOS NESSA!

Sofri, sofri hoje 24 diante da televisão. Claro, não vi imagens. Imaginei imagens.
Brasil x Sérvia foi um jogo, no 1º tempo, bobo e besta. Redundante? Pois pois.
"Assis, você não entendeu nada. O 1º tempo do jogo Brasil x Sérvia foi tático", disse-me de modo professoral o mineiro Sinval de Itacarambi Leão.
Sinval é um craque do jornalismo e de outras artes, ex-bam bam bam da TV Globo e fundador da revista Imprensa. Eu o convidei e ele aceitou tomarmos um vinhozinho de bom gosto no decorrer de Brasil x Sérvia, cá em casa.
Concordei com Sinval. Eu sempre concordo com o bom senso. Foi tático o 1º tempo do jogo Brasil x Sérvia.
Ao concordar com Sinval lembrei de tempos passados em que eu ia pra cima dos meus adversários de campos de vársea. Eu era bruto. Não quebrei perna de ninguém, mas faltou pouco. Chato fui. E perigoso àquela época.
Os primeiros 45 minutos de Brasil x Sérvia transcorreram numa tranquilidade franciscana. Se não fosse o vinho, vinhozinho trazido pelo querido Sinval é certo que eu teria dormido.
O 2º tempo do jogo Brasil x Sérvia foi diferente do 1º tempo. Na verdade, na verdade, o Brasil começou a jogar no 2º tempo. E pra minha alegria, digamos assim, o Sinval abriu um sorriso e não é que acabou concordando comigo?
Os dois primeiros minutos do 2º tempo do jogo em retrato foram animadores. Quatro minutos depois, eu disse: "Dentro de mais 11 minutos o Brasil vai fazer um gol. O primeiro".
Sinval torceu nariz.
Dezessete minutos depois do que eu disse, aconteceu: Richarlison fez o 1º gol. Uns dez minutos depois, o segundo. E aí foi festa! E o céu do Brasil clareou com foguetões pipocando, estourando. Beleza!
Tenho gostado de algumas partidas da Copa. Adorei Alemanha e Japão.
Viva o Brasil!
Meu amigo minha amiga, você já ouviu o rap Rumo ao Hexa? Ouça:


Conheça mais sobre cultura popular no Instituto Memória Brasil.

quarta-feira, 23 de novembro de 2022

FLIP, MULHER E COPA. HISTÓRIA

Meu amigo minha amiga, você já ouviu falar de uma coisa chamada Flip?

Pois bem, Flip é uma feira de livros muito importante que ocorre há 20 anos em Paraty, RJ.

Todo ano a feira escolhe uma personagem de importância da nossa literatura.

A maranhense Maria Firmina dos Reis foi a escolhida neste ano de 2022 para conversas e discussões dessa Flip.

Essa Maria foi a primeira a publicar um romance (abolicionista) no Brasil: Úrsula.

As mulheres estão sendo presença em todas as situações no Brasil e no mundo.

A Copa que ora rola no Catar está mostrando as vísceras do mundo.

O que a seleção inglesa fez, até agora, para o mundo foi incrível.

O que a seleção do Irã fez para o mundo, também foi incrível.

O esporte, principalmente o futebol, é de importância fundamental para o mundo em todos os cantos.

Diverti-me com o Japão dando a volta por cima na Alemanha.  E diverti-me também com a Espanha empurrando sete a zero na barrica da Costa Rica.

Cego que sou, divirto-me vendo os gols da Copa.

Ouvi encantado uma mulher, Renata, transmitido a partida Alemanha × Japão. 

A Alemanha no primeiro tempo, estava ganhando do Japão. Depois da pausa necessária, o Japão enfiou um e dois gols no bucho da Alemanha. De virada. 

Emocionei-me com a narrativa da Renata. 

Eita, Globo!

Eu e Flor Maria estaremos em Paraty, no fim de semana que se aproxima. 

HÁ 36 MORRIA SADI CABRAL

O radialista, compositor e ator alagoano Sadi Cabral fez história na vida brasileira. Começou no rádio. Fez parte do primeiro cast da rádio Nacional. Apresentou programas e pintou e bordou, nos diversos campos das artes.
Em 1938 Sadi Cabral estreou parceria musical com o carioca Custódio Mesquita (1910-1945). A primeira produção dos dois foi a opereta A Bandeirante.
Em 1956, Sadi gravou um LP interpretando poemas de Luís Peixoto. Confira o repertório clicando aqui.
Sadi Cabral nasceu no dia 10 de setembro de 1906 em Maceió e morreu no dia 23 de novembro de 1986, na Capital paulista. A causa da morte foi uma parada cardíaca.
Em 1986 o cantor Ney Matogrosso gravou o fox Mulher, de Sadi e Custódio Mesquita. Clique:

RUMO AO HEXA

"A seleção brasileira tem a obrigação de ganhar da Sérvia, como tinham os argentinos de ganhar dos árabes", diz com firmeza a craque das artes Anna da Hora Sena.
O jogo do Brasil-Sérvia começa, no horário de Brasília, amanhã quinta 24 às 16h.
Então tá, né?
Pra embalar, entre uma cervejinha e outra, ouça o rap que Jarbas Mariz e eu fizemos: RUMO AO HEXA

terça-feira, 22 de novembro de 2022

A MORTE NOS REJUVENESCE

O dia 22, este de novembro de 2022, continua formatando imagens para o passado. De modo inesperado e triste. 
No dia dito este, final de tarde, meu coração e memória balançaram quando ouvi no rádio a nota dando conta de que Erasmo Carlos morreu.
Conheci Erasmo. Figura linda, cidadão por completo. 
No dia que conheci Erasmo, conheci também Wanderléa e outras figurinhas da antiga Jovem Guarda.
Foi um encontro muito bonito que eu tive com Erasmo, Wanderléa e outros jovenguardistas. Isso no Brasilton, hotel que havia ou há no começo da rua Augusta, SP. Darlan deve ter registrado isso em áudio e vídeo. E a vida continua.
Pois é meus amigos e amigas, eu não sou o que dizem. Mas que Pixinguinha é do caralho, é!
A minha namorada disse a mim outro dia que viver é uma graça e que a morte nos rejuvenesce. Palavras dela. Concordo. Digo mais: é preciso pensar, respirando. 


segunda-feira, 21 de novembro de 2022

ABAIXO O ÓDIO, VIVA A ESPERANÇA!

Dois mil e vinte e dois finda com o Brasil de cabeça pra baixo, mas com a esperança de cabeça pra cima.
Há muita esperança no seio do povo brasileiro.
O presidente Bolsonaro, com o seu ódio sem limite, intoxicou nosso País. Por pouco não nos atirou a todos no buraco mais profundo que é o buraco do Inferno. 
O Brasil está gemendo, penando, mas com a esperança se recompondo no coração de todos nós.
Não há vitória sem luta.

Eu planto esperança
Pra depois colher amor
Quem planta o que planto
Tem em Deus seu protetor

Planto tudo quanto posso
Na minha terra querida
Esperança bem plantada
Não faz mal, faz bem à vida

Esperança é preciso
Pra quem gosta de viver
Sem isso ninguém vive
Nem na dor, nem no prazer

Deus do céu é protetor 
De quem planta esperança 
E de quem gosta de brincar 
Brincadeira de criança 
 
Coisa boa é brincar
Brincadeira de criança
Brincadeira que consiste
Por de pé a esperança

Ontem 20 o terceiro jornal mais antigo do Brasil, A União (1893), publicou à pág. 9 uma ótima conversa que tive dois ou três dias antes com o repórter Joel Cavalcanti. Falamos de um monte de coisas, desde política à literatura, poesia, música e da adaptação que fiz de Os Lusíadas. Divido com vocês nossa conversa. Antes, devo lembrar que o jornal mais antigo do Brasil é o Diário de Pernambuco (1825) e o Estado de S.Paulo (1875). Leia:

 

SOBRE OS LUSÍADAS E SOBRE CAMÕES, LEIA: CAMÕES, SEMPRE CAMÕES (1) CAMÕES, SEMPRE CAMÕES (2, FINAL)

domingo, 20 de novembro de 2022

A PRESENÇA DO NEGRO NA IMPRENSA BRASILEIRA (3, FINAL)

Oswaldo Faustino e Assis Angelo
Pessoalmente e pardo que sou no corpo e documentos, considero necessária a iniciativa de proclamar o direito de cotas pra negros, negras e indígenas neste país tão imenso e tão desigual. Perguntei ao jornalista, ator e autor musical Oswaldo Faustino o que acha disso. E ele:
“As cotas/reparações raciais que incomodam tantas as pessoas são mais que necessárias por conta dos 350 anos de escravidão em que a população descendente de africanos, através de leis, foi proibida de se  beneficiar de vários setores da sociedade, dentre eles a educação, a posse de terras, entre outros. No caso das universidades, eu vejo as cotas mais do que beneficiando os cotistas, beneficiando a própria instituição, uma vez que abre estudos de temas que jamais seriam abordados e que com a presença negra dão à universidade a possibilidade de se tornar universal.”
Embalado pela resposta que ouvi, fiz com ele a seguinte entrevista, na base do pingue-pongue:

O Brasil é negro. Que importância tem o Brasil para o Negro?
A importância do Brasil para o negro é a mesma do negro para o Brasil. Nossos antepassados foram trazidos à força para cá. Sequestrado em sua terra, sem saber o que estava acontecendo, sob violência, sem conhecer a língua, nem entender as ordens que lhe eram dadas. Os mais de 350 anos de escravidão ensinaram meus ancestrais a enfrentar todas as intempéries da vida, pelos séculos que se seguiram. Assim como ajudamos a forjar o Brasil, construindo-o e nos construindo, o Brasil nos fez um povo essencial para transformá-lo na grande Nação que ele é.

Muitas profissões aconteceram e acontecerão durante todo o tempo. O jornalismo é uma profissão. Por que você escolheu essa profissão?
Não escolhi o jornalismo. O jornalismo me escolheu. Eu, desde menino sonhei em ser ator. Passei minha infância nos porões da Pinacoteca do Estado, onde funcionava a Escola de Arte Dramática de São Paulo, criada por Alfredo Mesquita, onde minha mãe trabalhava, na cozinha, preparando e servindo a tradicional sopa para os alunos. Na hora do vestibular, porém, tentei me lembrar de quantos negros e negras eu vi se formarem na EAD, ao longo dos anos todos, em que lá estivemos. O número não passava de três. Então me entreguei ao meu segundo amor, já que o primeiro me parecia inalcançável. O segundo era a palavra. A palavra para mim é sinônimo de ar, eu a respiro. Hoje vivo dela e me fiz amante da arte da informação.

O negro, com toda importância que tem para o Brasil, continua discriminado. O jornalismo mexe nesta questão, no sentido positivo?
Sem dúvida. “Conhecimento é poder”. Informar é transmitir conhecimento. E, sempre que possível, e algumas vezes até enfrentando o impossível, eu aproveito da minha profissão para transmitir algum conhecimento que ajude as pessoas a se empoderar.

João do Rio
Você é um jornalista de grande importância para o Brasil. Que importância você dá para o jornalismo dito “negro”?

Meu jornalismo é negro, porque eu sou negro. Mesmo que eu não esteja atuando na chamada “imprensa negra”, meu olhar sempre será negro. E as informações que transmito são fruto desse olhar. Historicamente há uma imprensa, desde os tempos da escravidão, que teve esse olhar, então chamado “Abolicionista”, mas que ia para muito além do abolicionismo. Houve uma importante rede de trocas de informação, no século XIX. Mesmo que hoje sejamos tão poucos nas redações, continuamos essa tradição de compartilhar o que sabemos e nos mantemos abertos no que os demais compartilham. 

Existe jornalismo branco e negro?
O jornalismo hegemônico é branco. Basta ver as prioridades na escolha do que será noticiado. Um desentendimento na família real britânica, ou uma cadelinha perdida em qualquer país europeu, derruba a pauta dos resultados das eleições presidenciais em qualquer país africano. Um Prêmio Nobel a um africano ou africana só será notícia, se houver um buraco na página da editoria internacional. E já houve 22 ganhadores do Prêmio Nobel naquele continente: quatro de Literatura, três de Medicina, 13 da Paz e dois de Química. Quem já leu sobre isso? Sempre que possível, a imprensa branca alimenta o imaginário das massas com conceitos mentirosos que nos inferiorizam e até nós mesmos acabamos acreditando nessa inferioridade. O normal é ser branco, e os demais são no máximo “toleráveis”.
 
Gilberto Freyre, sabemos, disse muita idiotice a respeito do negro no Brasil. Ele também foi jornalista. Que importância você vê no que ele escreveu sobre a história do negro?
O melhor da produção de Gilberto Freyre é estimular nossos estudiosos a pesquisarem, com afinco,
Abdias do Nascimento
para contradizê-lo. Por outro lado, Casa Grande de Senzala, nos ajuda muito bem a entender a branquitude. Confesso que não conheço a produção jornalística dele.

Enumere-me 10 jornalistas negros, no Brasil, de todos os tempos:
O primeiro é Luiz Gonzaga Pinto da Gama, o Luiz Gama. Da mesma época, José Ferreira de Menezes e José Carlos do Patrocínio. Depois destacaria Afonso Henriques de Lima Barreto. Gosto também de ler as crônicas jornalísticas de João do Rio, João Paulo Emílio Cristóvão dos Santos Coelho Barreto. Mais para cá, o campineiro Lino Guedes, que criou os jornais O Getulino e O Progresso, Jaime Aguiar e Abdias do Nascimento. Nos anos 1960, Odacir de Mattos, em especial por sua famosa reportagem com Narciso Kalili, para a revista Realidade: “Existe Preconceito de Cor no Brasil”, de 1967. Ele foi o editor do Jornegro, um importante jornal do Movimento Negro. Dos nossos contemporâneos, amo Oswaldo de Camargo, apesar de ele ter atuado muito mais na revisão, mas seus escritos e estudos jornalísticos são impecáveis. E todos os meus parceiros e minhas parceiras da Comissão de Jornalistas pela Igualdade Racial, com destaque para meu irmãozinho Flávio Carrança. Porém, tem muita gente boa fazendo jornalismo negro, no rádio, na TV – Veja Maju Coutinho, o Heraldo, a Joyce Ribeiro –, como também na revista Raça Brasil e os jornais Alma Negra e O Empoderado.

Oswaldo de Camargo
Eu sabia, Oswaldo, que você ia me dizer, que Luiz Gama foi o mais forte jornalista negro no Brasil. Por quê?

A começar pela história de ele não ter podido estar em escola formal, por ter sido escravizado por 8 anos. Foi alfabetizado aos 17, por um jovem estudante da escola de Direito do Largo São Francisco. Pouco tempo depois escreveu nos mais importantes jornais da província de São Paulo, e criou três jornais com o Angelo Agostini: O Diabo Coxo, o Cabrião e o Polichinelo. Árduo defensor da abolição, da República e da liberdade. Só se fala de sua carreira de advogado, mas foi também um grande jornalista. A cada dia se descobrem novos escritos dele. Um pesquisador levantou mais de 800. Não por acaso eu escrevi um romance juvenil intitulado: “A Luz de Luiz – Por uma terra sem reis e sem escravos”.

No jornalismo eu cresci sem jornalistas negros ao meu redor. Isto continua. Por quê?
Esta resposta já foi dada. Esse número continua ínfimo porque a imprensa hegemônica é branca. Mas não seja injusto, no final dos anos 70 e início dos 80, você trabalhou na reportagem policial da Agência Folhas, ao lado de um grande jornalista negro, chamado Oswaldo Faustino, que mais tarde seria editor de Cultura, no Diário Popular… Grande e modesto (risos)

Seu melhor momento como repórter:
Vou destacar uma matéria para a revista Raça Brasil. O editor me pediu para entrevistar por telefone para uma matéria de capa o Ed Motta. Mandou um fotógrafo, do Rio, fotografá-lo. A assessora disse que ele só tinha uma hora para a revista, somando o tempo com o fotógrafo e com o entrevistador e que as fotografias demoraram 45 minutos. Eu só teria 15. O editor até passou mal e eu ri. Começou a entrevista e, em determinado momento eu disse: “Ed, sua assessora disse que só tenho 15 minutos para te entrevistar. Já conversamos uma hora e meia. Você quer parar?”. E ele respondeu: “De jeito nenhum, esta entrevista está ótima. Vamos continuar!”. Me senti realizado.

Sofreu alguma discriminação na sua vida profissional?
Quanto tempo você tem para ouvir todas? (risos)



O dia 20 de novembro foi escolhido como o Dia da Consciência Negra em 2011, quando Dilma Rousseff era presidente da República. O texto, aprovado pelo Congresso foi:

LEI Nº 12.519, DE 10 DE NOVEMBRO DE 2011
Institui o Dia Nacional de Zumbi e da Consciência Negra.

A PRESIDENTA DA REPÚBLICA

Faço saber que o Congresso Nacional decreta e eu sanciono a seguinte Lei:
Art. 1º É instituído o Dia Nacional de Zumbi e da Consciência Negra, a ser comemorado, anualmente, no dia 20 de novembro, data do falecimento do líder negro Zumbi dos Palmares.
Art. 2º Esta Lei entra em vigor na data de sua publicação.
Brasília, 10 de novembro de 2011; 190º da Independência e 123º da República.
DILMA ROUSSEFF
Mário Lisbôa Theodoro

A dívida que o Brasil tem com os negros e negras é impagável.

LEIA MAIS: IMPRENSA NEGRA, RESISTENTE E HEROICA: PARTE IIMPRENSA NEGRA, RESISTENTE E HEROICA: PARTE IIIMPRENSA NEGRA, RESISTENTE E HEROICA: PARTE IIIIMPRENSA NEGRA, RESISTENTE E HEROICA: PARTE IVIMPRENSA NEGRA, RESISTENTE E HEROICA: PARTE VIMPRENSA NEGRA, RESISTENTE E HEROICA: PARTE VIIMPRENSA NEGRA, RESISTENTE E HEROICA: PARTE VIIIMPRENSA NEGRA, RESISTENTE E HEROICA: PARTE VIII (FINAL)

Foto e reproduções de Flor Maria e Anna da Hora.

sábado, 19 de novembro de 2022

A PRESENÇA DO NEGRO NA IMPRENSA BRASILEIRA (2)

Mariana Aldano
No próximo domingo (20/11), Dia da Consciência Negra, Mariana Aldano e duas colegas suas, Denise Thomaz Bastos e Gabriela Dias, vão apresentar um programa especial na TV Globo, logo depois do Fantástico: Sons de São Paulo. Esse programa tratará do que se refere o título, ou seja, da presença dos negros nos mais diversos cantos da Capital paulista.
Sobre a música de São Paulo, leia: SÃO PAULO EM VERSO, PROSA E MÚSICA, que publiquei no dia 24 de janeiro de 2022 como especial do Jornalistas&Cia.
Ao ator Davi de Almeida, outrora repórter cinematográfico da TV Globo e de outras tevês em São  Paulo, perguntei se em algum momento de sua vida fora de algum modo discriminado, na Redação ou fora da Redação. Depois de dizer que nunca foi discriminado, que nunca o viram com preconceito, disse: “Na vida há espaço para todos. O universo está aí à disposição pra realizar tudo o queremos ser. Feliz com o reconhecimento e as conquistas dos negros, que cada vez mais estamos ocupando espaços em todos os setores, inclusive no audiovisual. Somos todos iguais nessa vida de meu Deus e perante a Constituição”.
Trabalhei com Davi na Globo e dele guardo belíssimas imagens. Como ator, Davi de Almeida brilha nas séries PSI (2014), Beleza S/A (2013), Pico da Neblina (2019), Hebe (2019) e nos filmes VIPs (2010) e Carcereiros (2019).
Jorge Araújo é baiano como Davi de Almeida. Disse que nunca sofreu discriminação nenhuma entre colegas. Como baiano, aqui e acolá, foi visto por olhares preconceituosos e discriminadores. “Mas isso faz parte da vida”, diz ele.
Trabalhei com Jorge, na Folha. Século passado. Jorge Araújo é repórter fotográfico dos melhores do
Davi de Almeida com a atriz Brenda Lígia Miguel
Brasil e do mundo. Tem quase 50 prêmios, nacionais e estrangeiros, ganhados no decorrer da vida profissional. É dele a famosa foto da Pomba da Anistia. E diz, a mim: “Trabalhei durante 40 anos na redação da Folha de S.Paulo. Eu contei nos dedos de uma mão quantos profissionais de cor negra trabalharam ao meu lado e em cargos de chefia. Dados do Perfil Racial da Imprensa Brasileira mostram que a maioria da categoria (77,1%) é branca, segundo dados do IBGE. Em 40 anos na editoria de  Fotografia da Folha, somente dois negros trabalharam ao meu lado. Eu, como pardo declarado em minha carteira de identidade, nunca sofri nenhum preconceito pela minha cor. Num país com 56% de negros (IBGE), o Nordeste é o que mais emprega jornalistas negros, com 39%. Norte, 25%, Oeste, 21%, e Sul, apenas 5%. Na Semana da Consciência Negra é muito triste ver as pesquisas do IBGE. Precisamos caminhar mais 100 anos para equipararmos esta tragédia profissional”.
Na Folha trabalhei também com o craque Ubirajara Júnior, repórter policial. E nas horas vagas, contista. Na Folha trabalhei também com o fotógrafo pernambucano Manuel Isidoro, que se vangloriava de ser impoluto perante as mulheres. Era um cara cheio de graça, que já está no céu.
Jornalistas negros fizeram história, inclusive na Paraíba.
O primeiro presidente negro do Sindicato dos Jornalistas da Paraíba, Sindjorp, foi João Bosco Gaspar (1947-2018). Trabalhei com ele, no tempo em que ele era editor geral do jornal Correio da Paraíba, hoje portal na internet, e eu editor de Local.
Local era o nome que se dava, na Paraíba, à editoria que reunia notícias da cidade. No caso, 
Jorge Araújo
especificamente, João Pessoa.
João Bosco foi uma figura muito conhecida e polêmica.
Figura conhecida e também polêmica foi o paraibano de Santa Rita Severino Ramos Pedro da Silva, por todos chamado de Biu Ramos. Também trabalhei com ele. Biu Ramos (1938-2018) iniciou a carreira de jornalista como datilógrafo do promotor público Ivaldo Falconi, editorialista do jornal Correio da Paraíba. E foi então que ele, a partir daí, foi contratado como redator do jornal. E aí tudo ficou mais fácil. Biu Ramos escrevia muito bem, mas era um chefe ranheta. Detestava burrice. Uma de suas frases mais conhecidas é esta: “[...] A vida roda, até a consumação dos séculos, para sempre, sem fim, amém [...]”. O jornalista Biu Ramos não conheceu o poeta Augusto dos Anjos, mas conheceu e entrevistou o romancista paraibano, autor de Menino de Engenho e Fogo Morto, Zé Lins do Rego. O texto memorial que Biu faz sobre Zé Lins é memorável. Começa assim:

“Lembro-me como se fosse hoje. Foi aí por volta de 1952 (eu tinha exatamente 14 anos). Era o governo de José Américo, eu havia lido em A União que o grande romancista de Pilar encontrava-se na Paraíba em visita ao seu amigo governador, de quem participara da campanha que o elegeu em 1950. Passava pouco das nove horas da manhã, eu sentado num banco em frente à igreja, quando vi parar um jipe na porta da casa-grande e dele saltar aquele corpanzil imenso, sólido e ágil, os óculos inseparáveis, a roupa de linho branco, o paletó aberto, sem gravata, tão à vontade como se estivesse entrando na casa-grande do seu avô. Nunca o tinha visto de corpo inteiro, conhecia apenas a sua cara redonda com aquele começo de sorriso, no célebre bico de pena de Luiz Jardim. Mas não tive dúvida: ‘Zé Lins’, disse comigo. ‘Meu Deus, é Zé Lins do Rego que está chegando ali, trazido por Dr. Odilon’. Senti uma emoção forte e sincera. Tanto falava dele em minhas conversas com Seu Rodolfo que toda a minha mente já estava tomada de sua narrativa sem floreios, de seus personagens familiares e de sua linguagem peculiar, que eu o considerava um desses seres distantes, inalcançáveis, que só existiam em nossa imaginação. Dois dias antes eu tinha lido um de seus artigos em A União, reproduzido de outono, no qual ele falava de coisas da Paraíba, citava José Américo. Como podia um escritor daquela dimensão, que escrevia em O Globo, que já publicara tantos livros, estar ali, à meia distância de mim? Eu me refiz do susto − e foi um susto − e decidi que iria abordá-lo, iria conversar com ele, aquele seria o meu dia de glória e da minha definitiva consagração, que haveria de ficar eternamente gravado na minha memória. E ficou. [...]”
(Do livro Memórias de Um Repórter, A União; 1994)
 
O santarritense Biu deixou sete ou oito livros publicados.
A maior parte da população brasileira é formada por pretos e pardos. Em 1872, o Brasil tinha uma população estimada em algo em torno de 10 milhões de pessoas. Mais ou menos 15% dessa população era constituída de negros escravizados.
Tem sido comum, mas não dá para nos habituarmos com frases do tipo “negro, quando não faz na
Flávio Tiné
entrada, faz na saída”. Pedi ao jornalista pernambucano Flávio Tiné, pardo, um pequeno depoimento a respeito de frases desse tipo, questões desse tipo. E ele: “Como todo pretenso escritor, me surpreendia às vezes construindo frases de caráter racista. A revisora imediatamente chamava a minha atenção para o deslize, sabedora de que não se tratava de convicção, mas de um texto mal articulado, que não levou em conta a natural convivência de pessoas de cor diferente. Tinha em minha própria casa algumas pessoas de cor preta, encarregadas das tarefas domésticas. Eram tratadas como pessoas da família, que comiam a mesma comida e participavam de festas ou comemorações com a maior intimidade. Apesar dessa comprovada experiência, algumas vezes me surpreendi chamando de coisa de preto algum procedimento pouco civilizado, como jogar papel na rua ou buzinar na frente de um hospital. Mais recentemente, tem sido comum certas pessoas se recusarem a entrar num elevador onde se encontra uma pessoa de cor preta ou má vestida. Casos do gênero aparecem diariamente nos noticiários de televisão, fartamente ilustrados com imagens. Já passou da hora de superarmos tais desencontros. Tenho certeza, ou pelo menos esperança, de que alcançaremos em breve a igualdade de tratamento entre pessoas diferentes de gênero, cor ou qualquer outra forma de identificação.”
No jornal, revista, Rádio e TV é visível a atuação de redatores e repórteres. Carlos Silvio é um
Carlos Silvio
profissional do rádio e a ele pedi um pequeno depoimento:

“’Racismo, preconceito e discriminação em geral/É uma burrice coletiva sem explicação’, diz um trecho da letra da música Racismo É Burrice, de Gabriel, O Pensador. Pois bem, o racismo existe. O racismo sempre existiu. O racismo sempre, infelizmente, existirá. O debate racial nunca esteve tão em alta na sociedade brasileira. As políticas de ações afirmativas, idem. Eu, como radialista e apresentador do programa Paiaiá na Conectados, há mais de seis anos, na Rádio Conectados, nunca sofri racismo. Mas já entrevistei gente que sofreu, como o locutor esportivo baiano Sílvio Mendes. ‘O início foi muito difícil no rádio, por eu ser negro’, afirma Mendes. Os movimentos negros, que poderiam contribuir mais para o debate, parecem adotar uma narrativa político/partidária, em que se um negro não é da  mesma linha ideológica, é excluído, deixado de lado. Eu, como índio/negro, o fato de não ter sofrido racismo, não significa que não luto para o fim deste mal. No entanto, acredito que a melhor forma é o direito à igualdade, sem qualquer tipo de porcentagem em qualquer espaço. O rádio me deu esta  possibilidade de me comunicar, sem me sentir inferior ou superior. Nossa consciência é única e deve ser sempre mais humana.”

sexta-feira, 18 de novembro de 2022

FAUSTO SETENTÃO!


Ao criar o mundo, Deus encheu o Brasil de chargistas, cartunistas, quadrinistas e tudo o mais que recriam o tempo e a vida através de lápis, canetas, pincéis.
No Brasil, real e fictício, germinaram talentos chamados J. Carlos, Mendez, Jaguar, Henfil, Alcy, Nani, Santiago, Fortuna, Ziraldo, Laerte, Angeli, Novaes, Luiz Gê, JAL, Maurício de Sousa e os irmãos Paulo e Chico Caruso.
E Fausto Bergocce?
Fausto é um craque do traço nascido em Reginópolis, SP. Sabe tudo de criação e recriação. Inventa e reinventa a vida como mestre que é.
Fausto, através da sua obra, faz o tempo mais bonito.
Eu conheci Fausto Bergocce ali pelos começos da década de 80 na redação do suplemento Folhetim, que circulava aos domingos no jornal Folha de S.Paulo. Ilustrou muitos textos meus, inclusive textos que eu fazia para o extinto Pasquim.
O acervo de charges, cartuns, colagens, xilos, aquarelas, é riquíssimo.
A obra de Fausto calculada em números é absurda e linda. A ele pedi que escolhesse uma dezena de charges e cartuns para ilustrar essa coluna. E não se fez de rogado. O resultado é o que se vê.
Fausto é daqueles caras que encantam à primeira vista. É muito observador e tem curiosidade por tudo.

Conhece uma dúzia e meia de países, entre os quais Estados Unidos e França. Dentre todos em que botou os pés, destaca o Marrocos.
O Marrocos fica ao norte da África e foi lá, no final do século 16, que o jovem rei D. Sebastião de Portugal sumiu. A lenda diz que ele, D. Sebastião, seguia à frente de sua tropa combatendo inimigos na batalha de Alcácer-Quibir. Mas essa é outra história. O que importa é que Fausto tornou-se o orgulho do pai Antônio e da mãe, Maria. E dos irmãos Luiz, Francisco, Flávio, Maria Albina e Sebastiana.
A jornalista Carla Maio está mergulhada em pesquisas para contar como se deve, passo a passo, a história de Fausto Bergocce. O livro, que ainda não tem título, será lançado em 2023 e nele estará com a primeira ilustração de Fausto, publicada em 1972, no tablóide Diário de Guarulhos. Há 50 anos, pois.
Fausto, que está completando 70 anos de idade, já publicou 16 livros. O mais recente é Pré-Histórias, com prefácio assinado por mim.
Em 2023 Fausto e eu lançaremos o livro Histórias de Esquina.
Ah! Sim: Fausto, o cara que traça tudo, é um orgulho do Brasil.

LEIA MAIS: JOGANDO CONVERSA FORAHOJE É DIA DE FAUSTO!FAUSTO: O TURISTA APRENDIZREMÉDIO PRÁ TRISTEZA É CARTOONNO PAIAIÁ O MELHOR DE SEMPRE

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