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domingo, 25 de agosto de 2024

VIVA ZÉ LIMEIRA!

Neste glorioso ano de 2024 há nascimentos e mortes a serem lembrados.
O poeta repentista paraibano de Teixeira Zé Limeira, por exemplo, nasceu nos finais do século 19. Foi uma figura e tanto.
Pouca gente, certamente, ouviu falar desse Zé somente após pesquisa comprida feita pelo jornalista e improvisador de versos Orlando Tejo.
Zé Limeira foi um dos violeiros mais importantes do reino da cantoria. Não deixou nada gravado e no seu tempo era considerado pelos seus colegas como um doido. Sim, simplesmente, um doido.
Orlando conheceu pessoalmente Zé Limeira. Ele disse isso a mim e a meio mundo.
Tão difícil quanto fazer a exaustiva pesquisa foi a publicação dessa pesquisa em livro.
Nenhuma editora convencional topou lançar a obra feita por Orlando. 
Em 1971, a direção do extinto jornal O Norte, PB, topou levar avante a empreitada. 
E foi assim que o Brasil todo tomou conhecimento da existência fabulosa de Zé Limeira. O livro sobre sua história ganhou o título de O Poeta do Absurdo. 
Zé Limeira morreu no dia 24 de dezembro de 1954. Há 70 anos, pois.
No dia 24 de dezembro, só que no ano de 1524, morria vítima de malária o navegador português Vasco da Gama. Sim, aquele mesmo que heroicamente chegou à Índia.
Camões nasceu no mesmo ano em que morreu o grande navegador. 
Curiosidade: Gama chegou à Índia 70 anos depois de muitas tentativas feitas por outros navegadores.
Grosso modo, o poeta Luiz Vaz de Camões contou essa história no seu clássico Os Lusíadas que foi publicado em 1578.
Vasco da Gama morreu com 55 anos de idade.
Camões morreu com 55 anos de idade.
Quando o jornalista e poeta Orlando Tejo morreu  em 2018, o Brasil lembrava o centenário da morte de Olavo Bilac. 
Bilac nasceu em 1865, mesmo amo do nascimento do nosso primeiro grande cordelista: Leandro Gomes de Barros. 
Leandro e Bilac morreram vítimas da gripe espanhola, lá no distante ano de 18.
Amanhã 26, por volta das 21h, estarei conversando com a Tânia Morales sobre as proezas de Vasco da Gama e sobre a adaptação poética que fiz sobre Os Lusíadas em braille. O papo ao vivo será transmitido pela rádio CBN.

sábado, 24 de agosto de 2024

HÁ 70 ANOS MORRIA GETÚLIO VARGAS

O grande dia está chegando. É amanhã 25, no mesmo lugar em que foi apresentado aos paulistanos: rua Nestor Pestana, 196, em março de 1954, bem ali no centro onde outrora proliferaram todo tipo de boate, safadeza e tudo mais. 

O pintor carioca Emiliano Di Cavalcanti (1897-1976) teve influência efetiva na criação desse teatro. É dele um belíssimo mural posto já à entrada. 

Amanhã o concerto de reinauguração será transmitido ao vivo pela TV Cultura, ali por volta das 17h.

A reinauguração do Cultura Artística coincide com seus 70 anos de fundação. 

Foi também há 70 anos, mais precisamente no dia 24 de agosto de 1954, que o gaúcho presidente da República Getúlio Vargas enfiou um tiro certeiro na caixa do peito. Foi pá pufo! E fim de uma era.


sexta-feira, 23 de agosto de 2024

PAULISTANOS GANHAM DE VOLTA UM GRANDE TEATRO


Após 16 anos de expectativas e agruras, o Teatro Cultura Artística, localizado ali na Nestor Pestana, Centro SP, será reinaugurado depois de amanhã: domingo, 25.
O Cultura Artística eu o frequentei bastante. Várias vezes lá estive assistindo concertos ao lado de João Carlos Martins e Geraldo Vandré. 
Várias vezes assisti e bati palmas para o querido maestro Eleazar de Carvalho (1912-1996).
Eleazar foi uma figura incrível!
Muitas vezes andei pelas calçadas de São Paulo ao lado dele dizendo coisas, trocando ideias; ele lá da altura de um gigante e eu ali, pequeno que nem um anjo, sem asas, bebendo saber.
Bons tempos!
Lembro de momentos que andei andando em ônibus com Vandré. Foi Vandré quem me apresentou a Eleazar. 
Lembro também de momentos em que andei de táxi com Zé Ramalho cá em Sampa, dirigindo-nos a um encontro num boteco com Zuza Homem de Melo (1933-2020), no famoso bairro boêmio de Vila Madalena. 
Éramos eu e Eleazar...
Éramos eu e Vandré..
Éramos eu e Zé Ramalho...
A memória a mim tem substituído os meus olhos. Inda bem, né?
Bom, o Cultura Artística volta aos braços e corações dos paulistanos como presente sem comparação. 
O Cultura Artística foi inaugurado em março de 1950.
Em 1954, ano do 4° centenário de fundação da cidade de São Paulo, estreou no Cultura Artística a Orquestra Sinfônica de SP (Oesp), sob a regência do maestro Sousa Lima (1898-1982).
Eleazar de Carvalho foi um dos diretores da Orquestra Sinfônica do Estado de São Paulo. 
Eleazar foi também o criador do Festival de Inverno de Campos do Jordão, SP.
Há muita história pra ser contada sobre o Cultura Artística e seus maestros, incluindo, Diogo Pacheco.
Pacheco adorava whisky e na casa dele molhei meu bico às pampas. Eu ainda fumava... Mas essa é outra história. 
Ah! Sim: o fogo tomou conta do Cultura Artística na escuridão de 17 de agosto de 2008.



quinta-feira, 22 de agosto de 2024

ESSE 22 DE AGOSTO É HISTÓRICO!


O dia 22 de agosto é um dia muito importante na minha vida. 
Esse dia é importante por muitas razões. A primeira delas diz respeito a minha chegada em Sampa.
Hoje faz exatamente 48 anos que pisei o solo paulistano, vindo diretamente da capital paraibana.
Vim a passeio, depois de receber alta de um hospital em João Pessoa. Na ocasião eu estava aparentemente livre dos bacilos de Koch.
Depois disso devo lembrar que o dia 22 de agosto foi o dia, em 1942, que o Brasil declarou guerra contra a Alemanha nazista e contra a Itália fascista, cuja pronúncia é "fachista".
O Brasil declarou guerra depois de ter cinco navios mercantes afundados por forças submarinas alemãs. Foi aí que o governo Vargas tomou providências mandando pracinha botar pra quebrar na terra de Caruso. 
O dia 22 de agosto foi também, pra mim, dia importante porque foi o dia que a história registrou a morte do ex-presidente JK.
JK morreu carbonizado após seu carro perder a direção e chocar-se frontalmente contra uma carreta carregada de gesso. Foi na Dutra, Km 165. Eu vi o estrago resultante desse choque, pois estava eu no ônibus que me trouxe à capital paulista.
Notícia leve: o dia 22 de agosto marca o Dia Internacional do Folclore. 
Eu já falei muito sobre folclore cá nesse Blog e em livros. 
No dia 22 de agosto de 1998, por iniciativa da Câmara Municipal de São Paulo, fui agraciado com o título de Cidadão Paulistano. O meu já encantado amigo José Ramos Tinhorão estava lá formando à mesa de ilustres convidados no nobre salão da Câmara.  Falou de improviso enaltecendo valores que duvido ter até hoje. Isso tudo dito após a apresentação da Banda da Polícia Militar, tocando o Hino Nacional. 
Nesses anos todos de vida (nasci em 52) poderia eu dizer que já posso morrer em paz, certo? Errado!
Se depender de mim jamais morrerei até porque julgo ter ainda muito o que dizer. E se não bastasse, ainda tenho uma bela flor para cuidar... No meu jardim, esse flor recebeu o nome de Maria.
Bom, à Sampa eu cheguei para ficar. 

quarta-feira, 21 de agosto de 2024

BOM PAPO COM BOULOS


É sempre bom fazer e reencontrar amigos.
Há pouco, ali pelas 9h, eu, minha filha Clarissa e a querida Anninha, com dois "N", fomos ao restaurante Baião pra tomar um cafezinho ao lado do nosso futuro prefeito Guilherme Boulos. Cabra bom, com moradia garantida cá no meu peito. 
Lá estavam pessoas maravilhosas, como são todas aquelas que andam ao lado de Boulos: a cantora Fatel, o cantor, compositor e radialista Luiz Wilson.
E mais muita gente boa no Baião eu reencontrei: o cordelista arretado Marco Haurélio, a xilografa Lucélia, o jornalista escritor sem papas na língua Xico Sá, o cordelista e rabequeiro Pedro Monteiro e o deputado federal Alfredinho. E mais e mais e mais... Muita gente!
Foi um reencontro marcante com todo esse pessoal bonito e sabido.
Várias pessoas pegaram o microfone pra falar sobre o Brasil e, especialmente, sobre o Nordeste. 
Boulos falou, falou e falou muito bem sobre a Paraíba. Ele tem parentes nascidos em Campina Grande, a segunda cidade mais importante paraibana. A primeira é João Pessoa, a Capital.
A Capital paulista acolhe nordestinos e nordestinas desde os anos 30 do século passado. Foram esses pioneiros a ajudarem a construir a São Paulo que é hoje.
Bom, aproveitei a ocasião para presentear Boulos com os livros A Presença dos Cordelistas e Cantadores Repentistas em São Paulo e A Fabulosa Viagem de Vasco da Gama, que acaba de ser lançado em braille e distribuído gratuitamente às entidades que acolhem pessoas com todo tipo de deficiência visual.
A Fabulosa Viagem... está sendo publicado em papel, por demanda. É só clicar e pedir!


domingo, 18 de agosto de 2024

O LADO "B" DE SILVIO SANTOS

Bom, vocês sabem muito bem o que eu acho do Sílvio Santos. 
O que eu acho dele, está estampado no título do texto publicado ontem 17 neste Blog.
O Silvio agora ao morrer conseguiu juntar unanimidades. Positivamente. Todo mundo, de canto a canto continua a bater palmas. Ele foi isso, foi aquilo...
Mas, sabemos nós, que nem todo mundo é santo, nasce santo ou morre santo. Embora Silvio carregue no próprio nome "Santos".
Cá no nosso acervo sobre cultura brasileira há alguns LPs e compactos nos quais se ouve o Silvio cantando marchinhas de  carnaval com letras em duplo sentido. Putaria pura. Nesses discos há também músicas que falam do Corinthians, time pelo qual torcia. Não ardorosamente, mas com fé em Deus pela grana.
Silvio Santos não era bobo não. De tudo fez um pouco na rua, no rádio e na TV. 
Dom & Ravel foi uma dupla que marcou presença na música nacionalista. 
Quem não se lembra daquela coisa Brasil Ame-o ou Deixe-o?
Uma vez o Ravel (1947-2011) me contou histórias loucas sobre como o Silvio fez para ganhar a concessão do Governo para o seu SBT. A propósito, amanhã 19 completam-se 43 anos de existência do SBT.
Silvio, segundo Ravel, pra se sair bem fazia parceria com todos os demônios. 
Uma vez o jornalista e publicitário Archimedes Messina (1932-2017) me disse que estava processando o dono do SBT por não pagar devidamente os direitos autorais do jingle Silvio Santos Vem Aí. Isso ele me disse no programa que eu apresentava nas noites de sábado na all TV, a primeira televisão feita e levada ao ar pela Internet. Nesse processo, Messina levou algo em torno de 1,5 milhão. 
Outro processo perdido por Silvio foi o da jornalista paraibana Rachel Sheherazade. Ela levou 500 paus, por injúria, calúnia e tal.
Bom, Silvio Santos partiu deixando mais de 600 processos nos quais é acusado disso e daquilo.
Além de marchinhas sacanas de Carnaval, Silvio gravou outros gêneros musicais do tipo junino. Fora isso, também gravou discos narrando histórias infantis.
Amanhã 19 marca os 110 anos de nascimento da cantora Aracy de Almeida, a principal intérprete de Noel Rosa. Aliás, Aracy começou a carreira ali com seus 20 anos gravando riso de criança, samba do Noel.
É isso, minha gente!

sábado, 17 de agosto de 2024

SILVIO SANTOS ERA DO CARALHO!



Silvio Santos morreu. 
O nome de batismo de Silvio era Senor Abravanel. 
Silvio Santos e Senor Abravanel eram a mesma pessoa.
Eu conheci Silvio Santos.
Pra mim, Silvio Santos era uma pessoa excepcional. Profissional e tanto!
Lembro até onde a memória me leva que era eu em 89, ou um tempo pouquíssimo antes, chefe de reportagem da Editoria de Política do Estadão quando fui entrevistar o Silvio. 
À época, Silvio era candidato a presidente da República. Seu vice era o paraibano Marcondes Gadelha, meu conterrâneo. 
Lembro-me ainda que Gadelha me telefonou perguntando, profissionalmente, se eu poderia ajudar a chapa: Silvio/Gadelha. 
Tanta história...!
O que eu acho do Silvio Santos?
Sílvio transformava barro em ouro que nem Midas. 
Pois é e uma coisa, a minha filha Ana Maria, brincando brincalhona como sempre diz que "no céu  anjos, arcanjos e querubins cantam: Silvio Santos vem aí...".
O que eu acho do Silvio?
Naturalmente, do caralho!


LICENCIOSIDADE NA CULTURA POPULAR (123)

Castro Alves
Pelo caminho da devassidão e pornografia andou também o aparentemente bem comportado cronista e poeta Olavo Bilac.
O livro Contos Para Velhos é de babar.
Houve um tempo que era até comum padres se apaixonarem por mulheres. O livro Xógum, de James Clavell, tem muito disso.
E no nosso Folclore também. Caso da Mula Sem Cabeça, que deixa a molecada de cabelo em pé. 
Santos da crença africana se fazem presentes em livros do baiano Jorge Amado, como Dona Flor e Seus Dois Maridos. 
Não é de conhecimento geral, mas é bom dizer que o famoso escritor baiano gostava de fazer poemas eróticos. 
Em Capitães da Areia, livro de 1937, Amado cria personagens delinquentes que sobrevivem a duras penas na orla de Salvador, BA. São crianças, adolescentes; meninos e meninas. Grosso modo chamados de capitães da areia. Alguns personagens são marcantes como Volta Seca, João Grande, Sem Pernas, Gato e o líder Pedro Bala. Termina em tragédia. 
Nessa e noutras tramas de Jorge Amado, facilmente são encontrados personagens traídos e apaixonados e padres zanzando aqui e acolá atrás de um rabo de saia.
Em outubro de 1941, Dorival Caymmi musicou palavras do escritor constantes no romance Mar Morto (1936). Título: É Doce Morrer no Mar.
Mas o autor de Tieta do Agreste também trilhou caminhos com personagens reais. Exemplos disso são os livros O Cavaleiro da Esperança (1942), sobre Luís Carlos Prestes; e ABC de Castro Alves (1941).
No ABC Amado conta a trajetória do seu conterrâneo Antônio Frederico de Castro Alves. É um livraço! Nele, o romancista conta sobre o envolvimento do poeta com mulheres em Recife e Rio.
O grande amor de Castro Alves, a atriz portuguesa Eugénia Câmara (1837-1874), não é esquecido.
Do fundo do baú, Jorge Amado conta detalhes da relação entre Eugénia e Castro Alves, inclusive o modo como ele enamorou-se dela, tirando-a dos braços do ator Furtado Coelho (1831-1900). Com Furtado, Eugénia teve uma filha. Para a amada, o poeta dedicou vários poemas. Num deles, compara-se a Romeu de Shakespeare e a Don Juan de Tirso de Molina (1579-1648):

Minh’alma é como a fronte sonhadora

Do louco bardo, que Ferrara chora...

Sou Tasso!... a primavera de teus risos

De minha vida as solidões enflora...

Longe de ti eu bebo os teus perfumes,

Sigo na terra de teu passo os lumes...

— Tu és Eleonora...


Meu coração desmaia pensativo,

Cismando em tua rosa predileta.

Sou teu pálido amante vaporoso,

Sou teu Romeu... teu lânguido poeta!...

Sonho-te às vezes virgem... seminua...

Roubo-te um casto beijo à luz da lua...

— E tu és Julieta...


Na volúpia das noites andaluzas

O sangue ardente em minhas veias rola...

Sou D. Juan!... Donzelas amorosas,

Vós conheceis-me os trenos na viola!

Sobre o leito do amor teu seio brilha

Eu morro, se desfaço-te a mantilha

Tu és — Júlia, a Espanhola!...


Castro Alves morreu quando tinha 24 anos de idade. No correr da sua vida fez muitos e muitos poemas. O primeiro deles foi publicado no jornal A Primavera, PE. Título: A Canção do Africano, de 1863, mesmo ano em que conheceu Eugênia.

Além de poemas, o autor de Navio Negreiro escreveu uma peça para teatro em quatro atos: Gonzaga ou a Revolução de Minas.

Nessa peça movimentam-se nominalmente pelo menos 12 personagens históricos, incluindo o Visconde de Barbacena, o bam-bam-bam de Minas à época. O cargo que exercia era o equivalente a governador, que apaixona-se pela amada de Tomás Antonio Gonzaga, Maria Doroteia. Curiosidade: o machismo já se fazia presente naquele tempo. O próprio protagonista Gonzaga chegou a duvidar da castidade de Maria. Um trecho:


Gonzaga : — Ella não traria no seio aquelle papel... Oh! quando uma pasta de lama como aquella apega-se á brancura de um seio de virgem, não ha lagrimas que a lavem... senhora, eu não a odeio... eu a esqueci... Não foi a senhora que amei... A mulher de minh'alma era uma virgem que não se perderia para salvar-me, porque sabia que minha cabeça cahiria mais alto quando me rolasse aos pés com a sua coroa de martyrio, do que se levanta agora sobre os meus hombros com o seu diadema de escarneo... senhora ! coroas destas não se fizeram para minha cabeça, mas já que amarraram ahi toda esta infâmia, eu entregal-a-hei ao carrasco.


Maria : — Meu Deus I meu Deus I tudo está perdido... Eu posso emfim fallar!... (a Gonzaga ) Senhor I... (lento) Aquella carta não tocou em meu seio. .. havia entre meu corpo e ella a largura de um punhal (mostra-lhe um punhal) a extensão de ura tumulo!...


Antes de ser apresentada ao público, essa peça foi lida pelo autor aos romancistas Machado de Assis e José de Alencar. Isso em fevereiro de 1867. Os dois escreveram a respeito desse encontro, cujos textos se acham nas primeiras páginas do livro que traz a peça.


Foto e reproduções de Flor Maria e Anna da Hora



sexta-feira, 16 de agosto de 2024

VIVA O GRANDE HENRICÃO!

Rubens Campos e Carmen Costa
Meu amigo, minha amiga: você sabe quem foi Henricão, cantor, compositor...?
Minha amiga, meu amigo: você sabe quem foi Rubens Campos, cantor compositor...?
Bom, Henricão e Rubens Campos foram uma só pessoa, um só artista.
Eu conheci de perto Henricão. Eu conheci de perto Rubens Campos.
Essas duas pessoas numa só foram de grande importância para a música brasileira. Nasceram no dia 16 de agosto de 1912, no Rio. Mas Henricão, que ganhou mais notoriedade do que Rubens Campos, chegou a ser Rei Momo de São Paulo.
Henricão, pseudônimo profissional de Rubens Campos, compôs e gravou belas músicas. E fez também versão de Cielito Lindo, uma música de origem mexicana, que marcou a história do Carnaval brasileiro a partir do começo da década de 40, 1940. Título: Está Chegando a Hora.
Henricão foi casado com a cantora Carmen Costa (1920-2007). Pessoa que também conheci de perto e a quem entrevistei, ao vivo, no programa São Paulo Capital Nordeste, programa que eu apresentava na Rádio Capital 1.040 AM.
Uma vez, lembro, Henricão levou-me à casa onde morava. No Bom Retiro, cá em Sampa. Era uma quartinho estreito, modesto demais. Teve uma hora que ele mexeu num amontoado de coisas dizendo que ali havia originais de Noel Rosa. "Coisas que nunca ninguém gravou", disse. Perguntei: Por quê, "Faltou oportunidade...".
Pois é, quanta história!
Porque a nossa memória é tão curta, hein?
Nascemos, vivemos, morremos.
Certamente é bom morrer de bem com a vida.
Ah! Sim: Henricão/Rubens Campos morreu no dia 3 de novembro de 1985. Na extinta revista paulistana Visão, há uma entrevista que fiz com ele num ano qualquer. Ali pelos finais dos 70...

quarta-feira, 14 de agosto de 2024

E FREUD, HEIN?

Eu não tenho certeza, mas quando eu era moleque nas terras da minha Paraí-bê-a bá ouvia dizer aqui e acolá de casos de amores fantásticos, de alguém apaixonado por alguém. Geralmente, esse alguém era um rapaz ou homem feito. Pelos 15 ou 30 anos.

A essa história dizia-se: fulano roubou fulana.

Luiz Gonzaga, rei do baião, chegou a gravar música falando disso. Aliás, ele não foi o primeiro. 

Essa história de um homem raptar uma mulher com a finalidade de com ela se casar, vem do tempo antigo.

Dentro dessa história de amor há coisas absurdas. Coisas essas que perduram desde todos os tempos antigos. Além do homo sapiens e da mulher...

Mas tem uma coisa que não consigo entender: por que um homem casado e com uma amante, numa "oportunidade" se atira pra cima de outra  mulher...?

Tara, safadeza, loucura, doença...

De certo modo, contando isso a uma amiga querida, rindo ela disse: "O cara aí não tem nada de doença. É simplesmente um escroto e perigoso. É gente que não é gente e faz mal à gente".

Com um sorriso irônico e demolidor, a minha amiga pergunta: "Você já leu Freud, sabe quem foi Freud?".

Pois é amigos e amigas, se ainda insisto em viver é porque ainda acredito que viver e aprender  a viver é preciso. 

Não é mesmo, Flor Maria?


domingo, 11 de agosto de 2024

LICENCIOSIDADE NA CULTURA POPULAR (122)

Thérèse Raquin, de Émile Zola, é considerado o primeiro livro “naturalista”. Foi lançado em 1867.

Em 1890, Zola publicou o romance A Besta Humana. É um livro que faz doer página após página. O protagonista, o maquinista de trem Jacques Lantier, parece psicologicamente torturado por um passado inexplicável. Seus ímpetos são fora do comum. Ele está sempre pronto pra matar. Resiste. Desconfia da mulher e sobra pra ela.

Naturalista também foi o jornalista Figueiredo Pimentel (1859-1914), atuante no jornal Gazeta de Notícias, RJ. Nesse jornal assinava uma coluna intitulada Binóculo, que tratava da vida mundana da cidade. Certamente foi o primeiro colunista social do Brasil.

No jornal Província do Rio, sob o pseudônimo Albino Peixoto, Pimentel publicou na forma de folhetim o romance O Aborto com outro título: O Artigo 200 (referência à lei que já proibia o aborto, no Império). Provocou muita polêmica.

Corria o ano de 1889.

O Aborto no formato de livro foi publicado em 1893. Na história a personagem Maroca vive sem amarras, sem dar satisfação a macho nenhum. Tinha 17 anos de idade quando se apaixonou pelo primo Mário que a engravida. No fundo, no fundo, ela diz que gostaria de ser uma “prostituta de luxo”. E aqui, calo-me.

Pimentel é também autor dos romances Um Canalha e O Terror dos Maridos, publicados respectivamente em 1895 e 1896. O tempo passou e Pimentel caiu no esquecimento.


Foto e reproduções de Flor Maria e Anna da Hora

sábado, 10 de agosto de 2024

LICENCIOSIDADE NA CULTURA POPULAR (121)

José do Patrocínio teve presença marcante na formação do escritor Coelho Neto, que começou a sua carreira num jornal dirigido pelo abolicionista.
Coelho Neto (1846-1934) deixou mais uns 100 livros publicados e pelo menos 600 contos abordando os mais diversos temas. Foi considerado um dos maiores autores de histórias “pornográficas” e o primeiro e mais profícuo autor naturalista do Brasil.
A história d’A Rainha Ginga me faz lembrar a história da mineira Francisca da Silva de Oliveira, Xica da Silva (1732-1796), que no correr da vida fez de uma mulher branca a sua escrava. Além disso, teve 14 ou 15 filhos.
Casada com um homem muito rico, o português João Fernandes, Xica findou seus dias com muito poder e grana.
Conta a história que uma das filhas de Chica da Silva amasiou-se com um padre.
A presença de padres na vida real e na ficção é antiga.
No correr da Revolução Francesa, que explodiu em 1789, padres foram mortos e outros postos pra correr. Freiras também foram mortas e perseguidas pelos revolucionários de então.
O romance A Relíquia, de Eça de Queiróz, mostra boa movimentação de religiosos.
O menino Teodorico Raposo, quando já adulto chamado de Raposão, fica órfão de pai e mãe e é adotado por uma tia, Patrocínio das Neves.
Das Neves é uma mulher que dedica todo seu tempo, sua vida, a Deus e aos santos católicos. É uma carola. Riquíssima e sem herdeiros.
O Raposão faz tudo e mais um pouco para ganhar a estima da tia e, de tabela, a sua herança.
Raposão é um mentiroso, um vigarista, um aloprado “durango” que está o tempo todo envolvido com todo o tipo de mulher. Um dia apaixona-se completamente por uma certa Adélia. Ela o trai. O final desse romance? Não digo!
Portugal e França deram grandes escritores ao mundo.
A França, durante muito tempo chamada de A Cidade Luz, espalhou para o mundo obras de Voltaire, Sade, Victor Hugo, Flaubert, Rousseau, Sartre, Proust, Dumas (pai e filho), Balzac, Rimbaud, Baudelaire, Gide, Beauvoir e Zola.
Émile Zola fez muita coisa bonita.
Zola deixou duas dezenas de livros, um melhor do que o outro. O conteúdo da sua obra é extraordinário. Tem amor, adultério e tudo o mais que há no cotidiano humano. Foi ele o primeiro escritor a chamar a atenção para a realidade nua e crua do povo desamparado.
Foi Zola o criador  do Naturalismo como escola literária. 
O que difere o Naturalismo do Romantismo é a valorização da Ciência.

sexta-feira, 9 de agosto de 2024

FICÇÃO REAL

Ditaduras não prestam, sejam de direita ou de esquerda.
Ditaduras perseguem, prendem, torturam e matam pessoas...
Atualmente há muitas guerras mundo afora.
Atualmente grassam ditaduras aparentemente civis e militares.
Os ditadores, do alto da sua arrogância e perversidade, incentivam de todos os modos as pessoas a denunciarem outras.
O ditador Maduro, da Venezuela, tem feito isso. Ou seja, incentivado os venezuelanos a dedurarem venezuelanos. Vizinhos inclusive.
Isso é real, lamentavelmente real e criminoso.
No livro 1984 o autor George Orwell (1903-1950) "cria" vizinhos denunciando vizinhos, filhos denunciando pais. À página 54, lê-se:

Quase todas as crianças de hoje em dia eram horríveis. O pior de tudo era que por meio de organizações como os Espiões eles eram sistematicamente transformados em pequenos selvagens ingovernáveis, e nem mesmo isso produzia neles alguma tendência a se rebelar contra a disciplina do Partido. Pelo contrário, eles adoravam o Partido e tudo o que estava ligado a ele. As canções, as procissões, as bandeiras, as caminhadas, os exercícios com armas de mentirinha, a repetição dos slogans em gritos, o culto ao Grande Irmão – tudo isso era uma espécie de jogo glorioso para eles. Toda a ferocidade deles era voltada para fora, contra os inimigos do Estado, contra os estrangeiros, traidores, sabotadores, criminosos do pensamento. Era quase normal que as pessoas com mais de trinta anos tivessem medo de seus próprios filhos. E com razão, já que não passava uma semana sem que o jornal The Times publicasse um parágrafo descrevendo como um bisbilhoteiro – a frase que normalmente se usava era “herói mirim” – tinha ouvido alguma observação comprometedora e denunciado seus pais à Polícia do Pensamento...

À página 100, segue o autor escrevendo:

Aos três anos de idade, o camarada Ogilvy havia recusado todos os brinquedos, exceto um tambor, uma submetralhadora e um modelo de helicóptero. Aos seis anos – um ano antes, por conta de relaxamento especial das regras – ele havia se juntado aos espiões, aos nove anos ele havia sido líder de uma tropa. Aos onze anos, ele havia denunciado seu tio à Polícia do Pensamento após ter ouvido uma conversa que lhe pareceu ter tendências criminosas...

O ditador Maduro, de ação e pensamentos podres, deseja como seus iguais perpetuar-se no poder. Seja de que modo for, para tanto não mede esforços.
Praticamente todos os países dessa região cá do Equador, e de além mar, não tem reconhecido a eleição que o ditador diz ter sufragado há poucos dias.
Está ou não está na hora do nosso Lula mandar o Maduro se catar?



PODCAST DIRETO AO ASSUNTO

Bom papo esse aí com Nêumanne, Miguel de Almeida e Renato Teixeira. Confira:

quinta-feira, 8 de agosto de 2024

EU VEJO COM TEUS OLHOS...


É tudo muito estranho, como diria o meu querido amigo maranhense Fortuna (1931-1994).
Tudo é Muito Estranho é título de um livro que Fortuna fez dedicado a mim. Meu Deus!
Vivíamos um tempo que as pessoas estavam mais próximas, uma perto da outra, torcendo pelo bem. Um tempo de solidariedade, um com o outro. Ou outra. E todos e todas.
O mundo está uma desgraça!
Não é esse mundo que nós pacifistas cidadãos queremos, desejamos.
É tudo muito estranho...
O meu país, Brasil, ganhou dos portugueses a língua. Língua essa praticamente definida por um cara chamado Luís Vaz de Camões (1524-1580).
Camões, imagino, foi um cara natural na sua especialidade da vida. Viveu. 
Fazia poesia de improviso, cantava, bebia. Um jovem como outro qualquer. Não durou, de vida, nem 60 anos.
Meus amigos, minhas amigas, acabei de lançar "oficialmente" no Memorial da América Latina o livro A Fabulosa Viagem de Vasco da Gama. Um épico. Esse livro, desenvolvido em sextilhas, é resultante da leitura que fiz de Os Lusíadas, o mais bonito livro de poesia de Portugal. Foi publicado em maio de 1572. Conta a história da grandeza heroica dos portugueses navegantes em busca de um mundo novo, de coisas novas.
Foi ontem ou anteontem que o querido maestro paulistano Julio Medaglia disse a mim, comentando, que já não há apreciações críticas da arte da vida nos jornais e revistas.
Já não se criticam, não se observam com clareza, as artes da música, do teatro, da literatura, da dança, do cinema, das artes plásticas... Das artes. Todas!
Concordo, concordei, de A a B. Ou de A a Z...
Estamos ficando pobres, no Brasil e no mundo todo. É só briga, é só guerra... Ninguém mais se entende. Estamos na Torre de Babel?
Meus amigos, minhas amigas, eu não consigo parar de viver. Pensar e exercitar o pensamento é fundamental.
É uma alegria ter Julio Medaglia como amigo meu, como foi amigo meu Eleazar de Carvalho. Gente essa que sabe tudo de arte, de vida.
Eu perdi os olhos, mas eu não perdi a vida nem as cores da alma.


quarta-feira, 7 de agosto de 2024

AINDA VASCO DA GAMA...

Há 500 anos nascia em Portugal o poeta Luís Vaz de Camões. Isso todo mundo sabe, o que todo mundo não sabe é que o maestro e violinista paulistano Júlio Medaglia pôs seu belo nome no texto de apresentação do livro resultante da releitura que fiz de Os Lusíadas ao qual dei o título de A Fabulosa Viagem de Vasco da Gama. Essa viagem foi iniciada pelo grande navegador em 1597 em direção à Índia e finda dez meses e dez dias depois. Uma aventura e tanto.
Eis o texto do nosso querido erudito Medaglia:




CAMÕES NA PONTA DOS DEDOS

No período imediatamente posterior à Idade Média, às vezes chamado de “Noite de dez séculos”, ocorreu uma grande revolução na cultura ocidental com o nascimento dos três maiores gênios da literatura latina de todos os tempos: Dante, Cervantes e Camões. 
Curiosamente, nesse mesmo período, chamado de “Renascentista” e já entrando no estilo “Barroco”, ocorreu também a maior revolução histórica na área música. Se até então fazia-se primordialmente música vocal, a partir desse momento o ser humano resolveu fazer música fora do corpo. Começou a inventar instrumentos de cordas, sopros e teclados que inauguraram gigantescos recursos sonoros, presentes na música universal até os dias de hoje. Mas como era possível fazer essas novas “máquinas” artificiais produzirem a beleza artística? Tangendo-se as cordas do violino com a ponta dos dedos, as teclas dos cravos e logo em seguida do piano, com a ponta dos dedos e abrindo e fechando os furinhos dos tubos dos instrumentos de sopro, com a ponta dos dedos. 
Levaria, porém, 500 anos para que os seres humanos desprovidos da faculdade da visão, pudessem ler a mais importante obra de Camões, Os Lusíadas. E foi neste século XXI que um dos maiores jornalistas, pesquisadores, escritores e compositores deste país, o paraibano Assis Ângelo, encontrou a solução para esse drama. Depois de desenvolver uma das mais brilhantes e multifacetadas carreiras de intelectual, por um grave problema de saúde, ele ficou cego. Como profundo conhecedor da obra de Camões, e mais inquieto que nunca, Assis Ângelo resolveu permitir que outros seres humanos que sofreram do mesmo infortúnio, o da perda da visão, pudessem ler a obra do grande escritor português. E como? Com a ponta dos dedos. 
Foi assim que, para celebrar neste ano de 2024 os 500 anos do nascimento do grande escritor português, Assis Ângelo “traduziu” para o idioma Braile sua obra imortal numa criativa adaptação livre para canto e cordel. Se os olhos dos cegos se situam na ponta dos dedos, Os Lusíadas, em sua nova transcodificação realizada pelo brilhante paraibano, ganha novo impulso de vida – a obra em si e o prazer do cultivo da literatura daqueles que perderam a visão.

 

LEIA MAIS: IL GUARANY POR JÚLIO MEDAGLIA • JÚLIO MEDAGLIA, DO POPULAR AO ERUDITO

terça-feira, 6 de agosto de 2024

A MORTE CONTINUA MATANDO...

A cada dia perco amigos.
Foram-se ontem brincar na Eternidade os amigos Sinval de Itacarambi Leão, aos 81; e o músico Caçulinha, de batismo Rubens Antônio da Silva, aos 84.
Sinval, jornalista fundador e editor da revista Imprensa, passou como profissional por vários órgãos da imprensa como TV Globo, Folha e tal. Foi briguento em todos os sentidos. Gostava do que era bom: Whisky, por exemplo. Chegou a ser preso duas vezes pelos brutamontes da ditadura militar (1964-1985). Na terceira vez, alertado por companheiros, deu no pé pra lugar desconhecido não sabido.
Caçulinha começou a carreira abraçando a sanfona, instrumento que nunca largou. Seu primeiro disco gravado era de 78 rpm. Trazia de um lado a polca Corochere (Francisco dos Santos e Caçulinha) e do outro lado a guarânia Triste Juriti (Mário Vieira e Armando Castro).
O segundo disco de Caçulinha trazia o choro Pelé (Amasílio Pasquin e Caçulinha) e a valsa Noiva do Sargento.
Durante alguns anos Caçulinha trabalhou como músico arranjador no extinto programa Domingão do Faustão, na TV Globo.
A última vez que Sinval e eu molhamos o bico foi cá em casa, há pouco mais de um ano.
A última vez que me encontrei com Caçulinha foi no estúdio da Rádio Capital. No tempo que apresentei o programa São Paulo Capital Nordeste.
Sinval e Caçulinha eram paulistas. O primeiro dos arrabaldes de Araçatuba e o segundo, Caçulinha, de Piracicaba. 
O 6 de agosto de 1910 marca a data de nascimento de outro paulista: Adoniran Barbosa, de Valinhos. Deixou-nos muitas músicas bonitas, engraçadas, irônicas e de amor como Iracema de que tanto gostava o também amigo Paulo Vanzolini, autor dos clássicos Ronda e Volta por Cima.
Pois é, o mundo está ficando menor e mais irracional.

segunda-feira, 5 de agosto de 2024

MINAS FICA MAIS POBRE SEM O JORNALISTA SINVAL

Eu tenho uma amiga muito querida que diz amar banana passa.

Achei meio esquisito o que ela me disse. Tem explicação: eu sou um cara que desconhece origens de muitas coisas. 

Ao dizer o que ora acabo de dizer, ela disse numa gargalhada retumbante que eu não sou de nada e de nada conheço. 

Confesso: essa amiga é provocadora... E, diante de tal provocação retruquei perguntando: "Você sabe o que é uva passa?".

Bom, ela me mandou pra ponte que caiu e não fui...

Quanta besteira...

Hoje 5, há pouco, fez a última viagem o amigo e coleguinha de jornalismo Sinval de Itacarambi Leão, 81 anos. Raízes mineiras.

Esse Sinval vem a ser o fundador da revista Imprensa junto com Paulo Markun, Dante Maiussi e Manuel Canabarro.

Quando dava eu lá estava a publicar uma ou outra coisinha.

Quando eu à toa assobiando às aves e ao vento, lá na revista saía algum texto falando dos movimentos meus nesta cidade paulistana, incluindo personagens como Paulo Vanzolini. 

A última vez que Sinval e eu nos vimos foi em abril ou maio de 2023, quando ele batendo à porta da minha casa com Whisky debaixo do braço disse que já estava na hora de a gente voltar a falar de poesia.

Falamos.

E falando como falamos,  falamos do Geraldo Vandré... A ver com o presídio Tiradentes... 

Tantas conversas, tantas coisas, tantas brincadeiras e um profissional invulgar...


AINDA CAMÕES NO MEMORIAL



Não sou túmido, tampouco narcisista ou pernóstico. 
Também não sou presunçoso nem prepotente. Longe disso! Talvez um besta...
Porém, uma coisa: falar de si próprio é bom, mas não é bom.
Melhor: falar de si próprio e bem, naturalmente, é coisinha danada de perigosa. Né, não?
Pois, pois...
O fim da tarde e início da noite de sexta 2, no Memorial da América Latina, foi supimpa. Isso porque reunimos pessoas incríveis para lembrarmos da fantástica viagem do navegador português de Sines Vasco da Gama. O lugar onde nasceu Vasco, fundado em 1362, dista da Capital portuguesa cerca de 160km. É logo ali.
Vasco da Gama, filho bastardo de um certo Estevão, não era de muitas posses. A família também não. No entanto, muito cedo, o jovem Vasco interessou-se pelos mistérios do mar tornando-se assim um craque das ondas salgadas. Quando encetou a viagem marítima rumo às Índias, em busca de fama e riqueza, tinha apenas 28 anos de idade. Conseguiu tudo que quis e acabou morrendo no mesmo ano que nasceu o poeta Luís Vaz de Camões (1524-1580).
Foi Vasco da Gama quem pegou a trilha deixada por Bartholomeu Dias e chegou ao destino programado dez meses e dez dias depois da sua partida de Portugal.
O evento ocorrido no Memorial da América Latina deveu-se ao lançamento formal do livro que fiz recontando a façanha de Vasco da Gama. Título do livro: A Fabulosa Viagem de Vasco da Gama, em braille.
Este ano completam-se cinco séculos do nascimento do poeta português Camões e dois séculos da criação do sistema braille de leitura para cegos, inventado pelo francês Louis Braille (1809-1852).
Neste ano de 24 completam-se também 500 anos da morte de Vasco da Gama.E quero dizer mais o seguinte: fiquei feliz que nem um passarim diante de um saco de alpiste ao reencontrar amigos como o jornalista e dramaturgo Osvaldo Mendes, Marcelo Cunha, Maurício Pereira, o maestroJúlio Medaglia, Fausto Bergocce, Paulo Garfunkel (Magrão), Cacá Lopes, Luiz Wilson, a cantora Fatel, Helena e seu companheiro argentino Julio, Nireuda, Cris Alves, Cilene Soares, o cantor Raimundo José... Meu abraço especial para Luciano Martins e sua companheira Taís, Jarbas Mariz, Luís Voutolini, Carlos Silva, Darlan Zurc  e Fernando Coelho pelos belos textos escritos a mim dirigidos. Sabe? Teve hora que me senti um cabra importante...
No sábado 3 estive presente no programa Paiaiá na Conectados, apresentado pelo bom baiano Carlos Silvio. Clique:



domingo, 4 de agosto de 2024

LICENCIOSIDADE NA CULTURA POPULAR (120)

A África é um celeiro de crenças incríveis.
Paulina Chiziane é a primeira escritora moçambicana a ganhar o prêmio Camões, como o seu conterrâneo Mia Couto. É autora de um movimentadíssimo romance intitulado Niketche (2001). Nesse livro, o personagem central é um cara pra lá de machista, grosso, que mora com quatro mulheres e tem caso aqui e acolá. Na trama nasce um movimento de fortalecimento do viver feminino.

Dentro dessa mesma temática e também enaltecendo a mulher é o romance histórico A Rainha Ginga, do angolano José Eduardo Agualusa. Esse livro foi lançado em 2014  e conta a história de uma mulher e do seu povo que lutam contra os invasores. A ver com portugueses e holandeses. Há personagens brasileiros. A líder guerreira Ginga mostra que não nasceu pra brincadeira. Pra se divertir, chegou a formar um harém com homens vestidos de mulher. 

Harém por harém é bom que se diga que suas origens datam da Antiguidade. Está na Bíblia.

No Livro Sagrado aparece Salomão reinando absoluto com 700 mulheres com quem se casou e outras 300 com quem não se casou. Uma festa!

Que não nos esqueçamos: o pai de Salomão era o rei Davi.

Outra história dá conta de que foram sultões do Império Otomano que criaram esse pagode todo chamado harém. O auge foi no século 13 e o declínio começou ali pelo século 17. O fim ocorreu na primeira parte do século 20.

Isto também se deu com as gueixas, no Japão, que deram sinal de vida na segunda metade do século 17.

Os padres sempre estiveram em terras virgens.

José de Alencar, não custa lembrar, era filho de um padre: José Martiniano Pereira de Alencar. Filho de padre também foi o abolicionista José do Patrocínio (1853-1905), seu pai era João Carlos Monteiro, vigário da paróquia de São Salvador. Era político e muito influente na região. Tinha 54 anos de idade quando levou para seu convívio uma garotinha de 13 anos, Justina Maria do Espírito Santo, que daria a luz ao famoso Patrocínio.


Foto e reproduções de Flor Maria e Anna da Hora

sábado, 3 de agosto de 2024

LICENCIOSIDADE NA CULTURA POPULAR (119)

Amor, sangue e sexo também se acham no romance Maria Bonita, de Afrânio Peixoto, publicado em 1914. Em resumo: A Maria Bonita de Peixoto é uma personagem simplesmente fantástica. Ela é filha de Isabel e André. Tem um irmão, Lucas. Com seis anos de idade já despertava a atenção dos marmanjos. Com uns 13 anos apegou-se a Luís, um moleque da sua idade. Esse moleque era filho de uma fazendeira muito rigorosa. Seu nome: Mariana.

Luís tinha um irmão que tentou estuprar Maria. E a partir daí o romance cresce, ganha contornos inimagináveis. Encurtando: Lucas defende a irmã com unhas e dentes e tiros. O que também faz o pai, que é preso e a mãe morre de desgosto. A essa altura, Maria é posta pra fora da terra onde morava com a família.

Maria casa-se com o canoeiro João, que mata Luís por assédio à Maria. Maria fica só com o filho de 4 anos.

Essa é a história. 

O incrível nisso tudo é o preconceito exalado pelo autor Peixoto. Ele foi um dos primeiros escritores a criticar ferozmente o livro de estreia de Gilka Machado, Cristais Partidos (1915), chamando-a de “matrona imoral”, e “mulatinha escura”.

Gilka subiu paredes com essas críticas, reconhecendo porém: “Aquela primeira crítica (por que negar?) surpreendeu-me, machucou-me e manchou o meu destino. Em compensação, imunizou-me contra a malícia dos adjetivos”.

Ao contrário de Gilka, a mineira Ana Maria Gonçalves tem colhido muitos elogios da crítica sobre a sua obra.

Ana Maria embrenhou-se no campo da pesquisa para inteirar-se sobre a história da escravidão no Brasil. O pretexto era conhecer suas origens. O resultado foi o livro Um Defeito de Cor, com cerca de 1.000 páginas. Sensacional. 

A autora dá de mão de uma personagem real, histórica, de nome Luiza Mahin e com ela vai até o fim procurando o filho que o pai vendera quando tinha dez anos de idade. O filho era o poeta abolicionista Luiz Gama. Daí pra frente é tudo basicamente ficção. Luiza morre surda e cega, vangloriando-se modestamente por ter convencido o romancista Joaquim Manuel de Macedo a dar nome de Carolina a uma das suas personagens do livro A Moreninha, lançado em 1844.

Carolina é amiga branca de Luiza.

No livro de Maria Gonçalves tem violência de todo tipo, inclusive estupros. Tem também padre transando com seminarista, mulher morando com padres e muito mais sob os olhares de Xangô, Oxum e outros santos da crença africana.

sexta-feira, 2 de agosto de 2024

É HOJE! É HOJE! VAMOS LÁ?


Bom, pessoal, é o seguinte: tomara que ninguém se esqueça de dar um pulinho, dois ou três pulinhos ao Memorial da América Latina logo mais às 17 horas. Já estou treinando a língua pra falar em bom português.
A partir da hora aí já dita, no Memorial permanecerei até às 21 horas.
Além de bom português, estarei lançando em braille a adaptação que fiz de Os Lusíadas. A versão que fiz ganhou o título de A Fabulosa Viagem de Vasco da Gama. 
Nas imagens aí é possível ver que não estou a dizer besteira. Além de treinar a língua, também treino o corpo todo. E a alma. E será assim, livre e lépido, que estarei dando as boas vindas com apertos de mãos e abraços aos amigos e aos amigos dos amigos.


quinta-feira, 1 de agosto de 2024

PROCISSÃO PARA O REI DO BAIÃO



Atenção! Atenção!
Amanhã 2 completam-se 35 anos da partida do Rei do Baião para a Eternidade.
Foi no dia 2 de agosto de 1989 que o pernambucano Luiz Gonzaga entrou no hospital Santa Joana, de Recife, e de lá não mais saiu com vida. Seu falecimento deveu-se a um maldito câncer de próstata e outros problemas como osteoporose. Está sepultado na sua cidade berço, Exu.
Pouco antes de ser internado no Santa Joana, Gonzaga não se fez de rogado e atendeu a um telefonema meu. Ele estava saindo de casa para fazer promessa no Canindé, CE. À época, eu trabalhava na Rádio Jovem Pan. A entrevista foi ao ar no mesmo dia. Não lembro o dia.
Há alguns anos, o professor Wilson Seraine criou o que ele chama de "Procissão das Sanfonas". Uma beleza! Reúne dezenas e dezenas de sanfoneiros e sanfoneiras rua a fora.
O evento, que já se acha na 16ª edição, tem lugar amanhã 2 na Capital piauiense, mais precisamente da Igreja Catedral de Nossa Senhora das Dores até o Museu do Piauí. Na foto acima, registros de bate-papos de Seraine com amigos, incluindo o neto de Gonzagão Daniel Gonzaga e sua produtora musical, também produtora da rainha do forró Anastácia, Carol.
Confira abaixo bate-papos de Wilson Seraine sobre o Rei do Baião e o acervo que criou.


Confira aí como foi a última Procissão:

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