Houve um tempo que era até comum padres se apaixonarem por mulheres. O livro Xógum, de James Clavell, tem muito disso.
E no nosso Folclore também. Caso da Mula Sem Cabeça, que deixa a molecada de cabelo em pé.
Santos da crença africana se fazem presentes em livros do baiano Jorge Amado, como Dona Flor e Seus Dois Maridos.
Não é de conhecimento geral, mas é bom dizer que o famoso escritor baiano gostava de fazer poemas eróticos.
Em Capitães da Areia, livro de 1937, Amado cria personagens delinquentes que sobrevivem a duras penas na orla de Salvador, BA. São crianças, adolescentes; meninos e meninas. Grosso modo chamados de capitães da areia. Alguns personagens são marcantes como Volta Seca, João Grande, Sem Pernas, Gato e o líder Pedro Bala. Termina em tragédia.
Nessa e noutras tramas de Jorge Amado, facilmente são encontrados personagens traídos e apaixonados e padres zanzando aqui e acolá atrás de um rabo de saia.
Em outubro de 1941, Dorival Caymmi musicou palavras do escritor constantes no romance Mar Morto (1936). Título: É Doce Morrer no Mar.
Mas o autor de Tieta do Agreste também trilhou caminhos com personagens reais. Exemplos disso são os livros O Cavaleiro da Esperança (1942), sobre Luís Carlos Prestes; e ABC de Castro Alves (1941).
No ABC Amado conta a trajetória do seu conterrâneo Antônio Frederico de Castro Alves. É um livraço! Nele, o romancista conta sobre o envolvimento do poeta com mulheres em Recife e Rio.
Do fundo do baú, Jorge Amado conta detalhes da relação entre Eugénia e Castro Alves, inclusive o modo como ele enamorou-se dela, tirando-a dos braços do ator Furtado Coelho (1831-1900). Com Furtado, Eugénia teve uma filha. Para a amada, o poeta dedicou vários poemas. Num deles, compara-se a Romeu de Shakespeare e a Don Juan de Tirso de Molina (1579-1648):
Minh’alma é como a fronte sonhadora
Do louco bardo, que Ferrara chora...
Sou Tasso!... a primavera de teus risos
De minha vida as solidões enflora...
Longe de ti eu bebo os teus perfumes,
Sigo na terra de teu passo os lumes...
— Tu és Eleonora...
Meu coração desmaia pensativo,
Cismando em tua rosa predileta.
Sou teu pálido amante vaporoso,
Sou teu Romeu... teu lânguido poeta!...
Sonho-te às vezes virgem... seminua...
Roubo-te um casto beijo à luz da lua...
— E tu és Julieta...
Na volúpia das noites andaluzas
O sangue ardente em minhas veias rola...
Sou D. Juan!... Donzelas amorosas,
Vós conheceis-me os trenos na viola!
Sobre o leito do amor teu seio brilha
Eu morro, se desfaço-te a mantilha
Tu és — Júlia, a Espanhola!...
Castro Alves morreu quando tinha 24 anos de idade. No correr da sua vida fez muitos e muitos poemas. O primeiro deles foi publicado no jornal A Primavera, PE. Título: A Canção do Africano, de 1863, mesmo ano em que conheceu Eugênia.
Além de poemas, o autor de Navio Negreiro escreveu uma peça para teatro em quatro atos: Gonzaga ou a Revolução de Minas.
Nessa peça movimentam-se nominalmente pelo menos 12 personagens históricos, incluindo o Visconde de Barbacena, o bam-bam-bam de Minas à época. O cargo que exercia era o equivalente a governador, que apaixona-se pela amada de Tomás Antonio Gonzaga, Maria Doroteia. Curiosidade: o machismo já se fazia presente naquele tempo. O próprio protagonista Gonzaga chegou a duvidar da castidade de Maria. Um trecho:
Gonzaga : — Ella não traria no seio aquelle papel... Oh! quando uma pasta de lama como aquella apega-se á brancura de um seio de virgem, não ha lagrimas que a lavem... senhora, eu não a odeio... eu a esqueci... Não foi a senhora que amei... A mulher de minh'alma era uma virgem que não se perderia para salvar-me, porque sabia que minha cabeça cahiria mais alto quando me rolasse aos pés com a sua coroa de martyrio, do que se levanta agora sobre os meus hombros com o seu diadema de escarneo... senhora ! coroas destas não se fizeram para minha cabeça, mas já que amarraram ahi toda esta infâmia, eu entregal-a-hei ao carrasco.
Maria : — Meu Deus I meu Deus I tudo está perdido... Eu posso emfim fallar!... (a Gonzaga ) Senhor I... (lento) Aquella carta não tocou em meu seio. .. havia entre meu corpo e ella a largura de um punhal (mostra-lhe um punhal) a extensão de ura tumulo!...
Antes de ser apresentada ao público, essa peça foi lida pelo autor aos romancistas Machado de Assis e José de Alencar. Isso em fevereiro de 1867. Os dois escreveram a respeito desse encontro, cujos textos se acham nas primeiras páginas do livro que traz a peça.
Foto e reproduções de Flor Maria e Anna da Hora
Nenhum comentário:
Postar um comentário