O coronelismo nordestino, como qualquer outro tipo de coronelismo da terra ou do inferno, é safado, desumano, impiedoso com qualquer um que não siga à risca a sua mesquinha e individualista – e por que não dizer? – assassina cartilha.
O que aconteceu com Patativa do Assaré também aconteceu com o pernambucano Luiz Gonzaga, o rei do baião, e milhares de cidadãos do Nordeste, e não só do Nordeste, que num momento qualquer de fraqueza foram traídos por si próprios, isto é: pelo excesso de vaidade. E assim, ingenuamente, acabaram rendidos ao canto sereioso dos tubarões dos mares de lama que a nossa República parece, infelizmente, ter já se acostumado.
Patativa, coitado, caiu na besteira de aceitar uma cadeira de balanço como presente de aniversário ofertada pelo esperto ex-governador cearense Tarso Jereissati. E quase se lasca.
O poeta não era de aceitar favores de poderosos e nem de não-poderosos, como eu.
Certa vez em Assaré, por exemplo, fui surpreendido por sua curiosidade despertada por um gravadorzinho mixuruca, portátil, que, aliás, usei para entrevistá-lo (foto acima).
Ele adorava gravador, tanto que compôs um poema intitulado Dor Gravada, uma beleza.
Pois bem, o autor de A Triste Partida pegou o aparelhinho de gravar conversa e mexeu pra cá e mexeu pra lá, dando a entender que gostaria de possuí-lo. Perguntei se o aceitava de presente. Ele soltou um “hein?” e um “o que?”, para depois, sisudo, soltar um não sonoroso.
Quanto a Luiz Gonzaga, posso dizer que embora costumasse fazer “plantão” nas portas dos gabinetes de Brasília, em especial no gabinete da eminência parda e atual senador pelo PFL, hoje DEM – que fundou – Marco Maciel, não tirou o Rei do Baião vantagem nenhuma disso. Ele apenas interferia em favor da gente pobre da sua terra. Morreu se gabando disso, que levara luz, água, telefone e “até” uma agência do Banco do Brasil para Exu e que fora o responsável pelo fim das brigas sangrentas entre as famílias Sampaio, Alencar e Saraiva.
Patativa do Assaré era de direita e oportunista?
Não, nem uma coisa nem outra. Era apenas um analfabeto político, até poucos anos antes de morrer.
E Luiz Gonzaga?
O mesmo que Patativa.
No comportamento pessoal, de cidadão, ambos também se identificavam num ponto: eram autoritários com amigos e familiares. Falavam grosso...
A razão disso?
A ignorância, a falta de estudos. Mais do que nunca, acho que o meio forma a mente e faz o cidadão.
Diante disso tudo, mais uma coisa precisa ser dita: Patativa e Luiz Gonzaga foram gênios e o tempo e o povo nunca os esquecerão.
E chega!
Hoje não vou falar dos trolhas capitaneados por Renan etc.
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Vejo que o senhor aceitou minhas "recomendações técnicas"... Creia-me: a postagem de comentários fica muito mais fácil assim.
ResponderExcluirMudando de assunto: nos veremos na próxima quinta, dia 27?
He, he! Assis, dessa nova forma que o seu blog ficou, o seu texto passa a ser levemente de direita, quando antes ele era levemente de esquerda. Será que isso é uma tendência?? (bincadeirinha ...)
ResponderExcluirAbraços.
Uma frase me intrigou: "(Patativa) Era apenas um analfabeto político, até poucos anos antes de morrer"
ResponderExcluirEle chegou a acordar, se alfabetizar politicamente nos ultimos anos de vida?
Cintia
sim, kim/cintia. ele acordou. e isso foi bonito, porque inconsciente ou não ele chegou a relegar versos que fez contra o comunismo em tempos distantes e até participou da campanha pelas diretas-já, se oferecendo a recitar em qualquer lugar, desde que o levassem e o trouxessem de volta a sua casa. fazia isso sem a preocupação de ganhar dinheiro.
ResponderExcluirsim, ele foi grande; um dos maiores da nossa poesia, principalmente a poesia matuta.