Sérgio Ricardo foi um puta artista.
Em outras palavras: o paulista de Marília, Sérgio Ricardo,
desaparecido há sete dias, foi uma pessoa incrível. Era acessível, ouvia a
todos com calma. Quer dizer, aprendia e ensinava.
Sérgio expressava pensamentos com a maior naturalidade do
mundo.
Quem conheceu Sérgio Ricardo, sabe que foi um puta cara.
Uma vez o convidei para participar de um projeto sobre os
nervosos anos 1960, com exposição e tudo.
Eu o levei a Fortaleza, junto com o compositor e violonista
Théo de Barros e o jornalista Zé Hamilton
Ribeiro. Esses três caras produziram
uma história fantástica, cada qual a seu modo.
Sérgio compôs a música-tema da trilha do filme Deus e o
Diabo na Terra do Sol, de Glauber Rocha, em 20 minutos. Talvez 30. Foi o que me
disse. E acreditei.
Théo é coautor de Disparada, com Vandré. Sua obra é pequena,
porém intensa.
Zé, autor de quase duas dezenas de livros, foi o único
jornalista brasileiro a cobrir a guerra do Vietnã, em 1968.
Um dia Sérgio perguntou o que eu pensava sobre sua atitude
de quebrar o violão no palco e atirar os restos à plateia delirante que o
vaiava.
Eu disse que no lugar dele faria o mesmo. Disse também que
homem que é homem, não é barata, não é rato, não é inseto. E que falaria sobre
o assunto quantas vezes fosse preciso. Olhou-me nos olhos e disse:
− Você tem razão, Assis. Irritei-me muitas vezes quando me
perguntavam sobre aquele ato. Isso que você diz é correto, me deixa mais
aliviado.
Na hora da nossa apresentação num espaço do BNB, em
Fortaleza, comecei nossa conversa perguntando exatamente sobre a fatídica noite
do festival em que ele quebrou o violão. Olhou pra mim e riu, assim de modo
meio cúmplice.
Sérgio escreveu um ótimo livro sobre essa história. Nesse
livro, Quem Quebrou Meu Violão (Editora Record, 1991, 288 páginas), além de
lembrar em detalhes o episódio, ele conta os encontros que teve com o poeta
mineiro Carlos Drummond de Andrade (1902-1987).
O motivo da vaia foi o samba Beto Bom de Bola, que a plateia
sequer deixava que ele cantasse. Ouça: https://www.youtube.com/watch?v=I81WNRdYsoM&feature=youtu.be
Anos depois, audaciosamente gravou em disco a música que a
plateia sem cabeça criticava. Ouça: https://www.youtube.com/watch?v=bodRpC6rxdE&feature=youtu.be
Bom apreciador de emboladas nordestinas e poemas de cordel,
neles Sérgio se inspirou para musicar Estória de João-Joana, de Drummond, em
1985, com orquestração de Radamés e regência de Alexandre Gnattali.
Quer conhecer melhor essa figura incrível que foi Sérgio
Ricardo? Clique: https://assisangelo.blogspot.com/2020/07/brasil-mais-pobre-sem-sergio-ricardo.html
No acervo de onde se está a sede eternamente provisória do
Instituto Memória Brasil (IMB) é possível encontrar quase tudo que o artista
Sérgio Ricardo produziu.
Quer conhecer mais? Acompanhe a entrevista que fiz com ele,
em São Paulo.
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