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sexta-feira, 5 de fevereiro de 2021

PROCURA-SE TINHORÃO


O jornalista e historiador José Ramos Tinhorão faria, ou fará, 93 anos de idade no dia 7 de fevereiro de 2021. 
Digo “faria” porque não sei por onde ele anda. 
Um dia antes do aniversário de fundação do município de São Paulo, em janeiro de 2019, Tinhorão sofreu um AVC no banheiro do apartamento onde morava, ou mora. 
O dia ainda raiava. 
Depois de ser socorrido às pressas por Maria Rosa, a esposa, Tinhorão perdeu a fala e, provavelmente, noções do mundo que o trouxe até nós. 
Muita gente guarda a imagem de um Tinhorão raivoso, ranzinza, rabugento etc. Nada disso. 
Tinhorão sempre foi um gozador. Mais de uma vez me disse que já cumprira a missão de fazer o que fez. Portanto, já passava da hora de ir-se embora. “Estou aqui só ocupando o lugar de outros”. 
Por onde andará Tinhorão? 
Tinhorão nasceu em Santos, SP. Aos nove anos foi morar no Rio de Janeiro, junto com pai, mãe e irmãos. 
Começou a carreira fazendo freelas para jornais e revistas, nos fins dos anos 1940. 
Deslanchou no jornalismo como redator do Diário Carioca e seguiu em frente no Jornal do Brasil, entre outros. 
Tinhorão é marca muito forte do jornalismo e da História do Brasil. 
Foi um dos primeiros jornalistas de quem me aproximei ao trocar João Pessoa por São Paulo, em fins de 1976 ou 1977. Viramos amigos. Nos víamos sempre. 
Depois que perdi a visão dos olhos, Tinhorão passou a frequentar a minha casa duas vezes por semana. Quartas e sextas. Conversávamos muito. Foi a maneira que ele encontrou, acho, pra me distrair dos momentos tão difíceis que enfrentava. 
Tinhorão “ganhou” muitos inimigos, principalmente no meio musical. 
Sempre foi pública e notória a birra dele com a Bossa Nova, que assim definia: “A Bossa Nova é uma variante americana do samba, tão brasileira como um carro montado no Brasil”. Uma vez disse que o melhor de João Bosco era Aldir Blanc. Ganhou uma música e muitas críticas. A música, Querelas do Brasil (Bosco/ Blanc), foi sucesso na voz de Elis Regina. Ouça! 
Já pedi a muitos colegas e amigos que tentassem localizar o paradeiro de Tinhorão. Mas, até agora, nada. Pra ele compus estes versos: 

Nessa nossa terra tem 
Xote, xamego e canção 
Frevo e maracatu 
Samba, batuque e baião 
E poeta popular 
Tirando verso do chão. 

É uma terra bonita 
Que dá vida, dá lição 
Ensinando a sua gente 
A ter mais educação 
A ler para entender 
O Brasil de Tinhorão 

Esse mestre logo pôs 
A cultura em discussão 
Pra depressa entender 
Sua origem e formação 
Ora juntos aplaudamos 
J.R.Tinhorão.

Escrevi muito a respeito de Tinhorão e o entrevistei para jornais como o Diário Popular, já extinto. Matérias enormes, de uma ou duas páginas. Mas ele preferia matérias opinativas sobre suas obras do que entrevistas pessoais. 
Ele também escreveu bastante a meu respeito. Até prefácio de livro meu ele assinou. E em jornais chegou a dizer que foi no meu acervo que encontrou a prova em disco que tanto procurava pra registrar a existência de um tipo de música e dança de Portugal, o Rasga. Quando lhe pus nas mãos o disco de 78 rpm com uma gravação do Rasga, feita pelo cantor Franco d’Almeida Lisboa, os olhos dele brilharam. Se fosse grego, teria dito: Eureka! 
No livro O Rasga, foi inserido um CD com a música contida no disco que lhe presenteei. 

Um comentário:

  1. Participei várias vezes desses encontros de 2018 e 2019. Discutíamos MPB e outras bossas. Estivemos também na comemoração do aniversário de Tinhorão num barzinho da rua Dr. Vila Nova, juntamente com Assis Ângelo.

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