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quinta-feira, 11 de novembro de 2021

VIVA MARIA FIRMINA DOS REIS

 
Às vezes tenho a impressão de que involuímos. Mais: que involuímos à galope, galopadamente.
Poetas romancistas, pintores sabiam de tudo e mais um pouco, ali no passado.
Paula Brito, tipógrafo, tradutor e jornalista; José de Alencar, jurista, poeta, romancista e dramaturgo; Machado de Assis, poeta, romancista e tradutor, doido pela obra de Shakespeare.
Em 1859, a maranhense Maria Firmina dos Reis publicava o primeiro romance. Mulher e negra, pobre. Ela escreveu além do romance, Úrsula, uma novela indianista e um conto abolicionista.
Firmina dos Reis era culta. Essa percepção é clara na sua produção literária e poética. 
O poema O Meu Desejo, que dedicou a um admirador, faz citação a Camões, Dante e Milton.
Camões o grande poeta português, é autor da obra prima Os Lusíadas que, modéstia às favas, transformei em uma ópera popular desenvolvida em sextilhas. Ainda inédita, mas essa é outra história.
Dante Alighieri, o grande poeta italiano da Idade Média, legou à posteridade o belíssimo Divina Comédia.
Por fim, Maria Firmina dos Reis cita no seu já referido poema o inquieto e talentosíssimo Milton.
Com relação a Dante e Camões, Milton era o caçula.
O poema clássico deixado por Milton tem conteúdo parecido com o conteúdo de Divina Comédia. É incrível. Trata de um pega-pra-capá entre anjos e o Paraíso. Adão e Eva entram no enredo. O Capeta, também.
Nos dias atuais, existem mais livros do que autores.
Cadê os clássicos de hoje?
Leiam Maria Firmina dos Reis, que morreu 11 de novembro de 1917 abandonada, pobre e cega.
Uma curiosidadezinha: Nos fins dos anos de 1930, o mineiro Ary Barroso compôs Aquarela do Brasil. Um clássico musical. Nesse clássico, o autor insere um verso lindo: "...A merencória luz da Lua".
Firmina dos Reis, no poema O Meu Desejo (abaixo) insere o verso "...A merencória Lua".

O MEU DESEJO

A um jovem poeta guimaraense

Na hora em que vibrou a mais sensível
Corda de tu'alma - a da saudade,
Deus mandou-te, poeta, um alaúde,
E disse:Canta amor na soledade.
Escuta a voz do céu, - eia, cantor,
Desfere um canto de infinito amor.

Canta os extremos duma mãe querida,
Que te idolatra, que te adora tanto!
Canta das meigas, das gentis irmãs,
O ledo riso de celeste encanto;
E ao velho pai, que tanto amor te deu,
Grato oferece-lhe o alaúde teu.

E a liberdade, - oh! poeta, - canta,
Que fora o mundo a continuar nas trevas?
Sem ela as letras não teriam vida,
menos seriam que no chão as relvas:
Toma por timbre liberdade, e glória,
Teu nome um dia viverá na história.

Canta, poeta, no alaúde teu,
Ternos suspiros da chorosa amante;
Canta teu berço de saudade infinda,
Funda lembrança de quem está distante:
Afina as cordas de gentis primores,
Dá-nos teus cantos trescalando odores.

Canta do exílio com melífluo acento,
Como Davi a recordar saudade;
Embora ao riso se misture o pranto;
Embora gemas em cruel soidade...
Canta, poeta, - teu cantar assim,
Há de ser belo enlevador enfim.

Nos teus harpejos juvenil poeta,
Canta as grandezas que se encerram em Deus,
Do sol o disco, - a merencória lua,
Mimosos astros a fulgir nos céus;
Canta o Cordeiro, que gemeu na Cruz,
Raio infinito de esplendente luz.

Canta, poeta, teu cantar singelo,
meigo, sereno com um riso d'anjos;
Canta a natura, a primavera, as flores,
Canta a mulher a semelhar arcanjos.
Que Deus envia à desolada terra,
Bálsamo santo, que em seu seio encerra.

Canta, poeta, a liberdade, - canta.
Que fora o mundo sem fanal tão grato...
Anjo baixado da celeste altura,
Que espanca as trevas deste mundo ingrato.
Oh! sim, poeta, liberdade, e glória
Toma por timbre, e viverás na história.
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Eu não te ordeno, te peço,
Não é querer, é desejo;
São estes meus votos - sim.
Nem outra cousa eu almejo.
E que mais posso eu querer?
Ver-te Camões, Dante ou Milton,
Ver-te poeta - e morrer.

ADEUS

A jornalista Cristiana Lôbo despediu-se hoje do planeta. Tinha 63 anos quando um câncer a levou. 
Cristiana falava de política com naturalidade e por vezes participou de debates do extinto programa Onze e Meia, do Jô Soares. Fica o registro.

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