João Carlos Pecci |
JOÃO CARLOS PECCI: Como disse antes, foi num acidente na Via Dutra. Eram 5 horas da tarde de um domingo chuvoso, eu viajava sozinho. Na época não havia cinto de segurança nos carros. Quando me socorreram, eu estava desacordado no piso de trás do Fusca. Imagina o impacto. Você perdeu a visão e continua enxergando através dos sentidos e com a profundeza da alma. Eu perdi a mobilidade e continuo me locomovendo sem deixar pegadas no chão mas exercendo minha vida no Ser, no Existir e no Evoluir. Assim, ambos enxergamos e caminhamos.
ASSIS: Pra mim é muito difícil viver sem a luz dos olhos meus. E você, adaptou-se completamente à nova vida?
JOÃO: Para quem perde alguma capacidade física ou sensorial, a adaptação dificilmente será completa. Mas a paraplegia, ao invés de me trancar, me soltou para a vida. Tornei-me mais sensível e evolui meu espírito na compreensão das diferenças. Sei que não posso tudo, mas posso muita coisa. Enveredei pelas artes, que me possibilitam expor sentimentos e angústias. Através delas eu me doo um pouco, essencial para o ser humano. O casamento fez de mim um homem maior ao lado de uma mulher ainda maior que eu. Deu-me uma filha, renovação de nossas vidas. E prossigo, velejando a vida, perseguindo a realização de novos sonhos, como um novo livro, que vem ai em breve. Há que continuar sempre em busca do novo, embora o novo seja a transformação de algo que já conhecemos…
ASSIS: Do alto dos meus 70 anos, ainda sonho. E você, já realizou todos os sonhos?
JOÃO: Sonhar é renovar caminhos e esperanças. Ai daquele que deixa de sentir o aroma desse perfume...
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