Ontem combinei com Flor Maria que hoje iríamos escrever sobre a peça O Jesuíta, de José de Alencar; e sobre o ensaio O Povo Brasileiro, de Darcy Ribeiro, que acabei de ouvir. Mas isso caiu por terra.
Caiu por terra porque acabei de ouvir uma clara, direta, competente e substanciosa entrevista de Alex Solnik a Juca Kfouri, na TVT.
Solnik está lançando o livro O Dia em que Conheci Brilhante Ustra, pela Geração Editorial.
Solnik foi sequestrado por agentes da ditadura em 1973. Tinha 23 anos de idade. E não era perigoso coisa nenhuma. Foi levado ao DOI-Codi, ali na rua Tutóia para um futuro incerto. Escapou e tal.
Na entrevista, Alex Solnik conta que jamais esqueceu os horrores que viu e viveu enquanto esteve nas mãos dos "Brilhantes".
Brilhantes porque o tal Ustra torturador encarnava vivo na cabeça e comportamento de todos os seus subordinados.
Embora pesado o tema, entrevistado e entrevistador demonstram certa leveza ao abordarem a terrível fase ditatorial que o Brasil viveu entre 1964 e 1985.
Conheci Solnik entre uma sala e outra da Editora Três, onde eu colaborava em várias revistas.
A última vez que o vi foi na casa do maestro João Carlos Martins. Estávamos lá com Chico Pinheiro e a então secretária da Cultura do Estado de São Paulo, Cláudia Costin (governo Alckmin).
No decorrer da entrevista, histórica, vem à tona o nome do repórter Octávio Ribeiro Malta (1902-1984). Esse foi um cara incrível na cena do jornalismo brasileiro.
Solnik e o seu entrevistador lembram momentos importantes da vida de Ribeiro, mais conhecido como Pena Branca. Juca, quando era editor da revista Playboy, contratou Ribeiro para fazer uma entrevista impossível com o ex-jogador da Seleção Brasileira, Tostão.
Tostão não dava entrevista desde que deixou a Seleção, assumindo desde então a profissão de médico. Ribeiro, o Pena, topou a empreitada e depois de montar acampamento de frente da casa de Tostão, em Minas, o alvo rendeu-se e acabou por dar a tão pretendida entrevista que o repórter queria.
Dentre tantas e tantas reportagens do intrépido Pena Branca difícil é escolher a melhor. Mas como quase sempre acontece, temos o mal hábito de esquecer os bons brasileiros.
Juca Kfouri continua fazendo bonito e, por isso mesmo, nos orgulhando pela profissão que tem: jornalismo.
Daqui mando o meu abraço para Alex Solnik, que deve estar sofrendo com o que hora ocorre no seu país de origem, a Ucrânia.
Ah! Sim: o sequestro de que foi vítima Solnik me lembrou o sequestro de que também foi vítima o jornalista Antonio Carlos Fon.
Fon foi surpreendido no quarto onde dormia por trogloditas da ditadura com metralhadoras em punho... A respeito, fiz entrevista com Fon para o Pasquim de tantas memórias.
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