Seguir o blog

quarta-feira, 26 de fevereiro de 2025

UMA ENTREVISTA HISTÓRICA


Ontem combinei com Flor Maria que hoje iríamos escrever sobre a peça O Jesuíta, de José de Alencar; e sobre o ensaio O Povo Brasileiro, de Darcy Ribeiro, que acabei de ouvir. Mas isso caiu por terra. 

Caiu por terra porque acabei de ouvir uma clara, direta, competente e substanciosa entrevista de Alex Solnik a Juca Kfouri, na TVT.

Solnik está lançando o livro O Dia em que Conheci Brilhante Ustra, pela Geração Editorial. 

Solnik foi sequestrado por agentes da ditadura em 1973. Tinha 23 anos de idade. E não era perigoso coisa nenhuma. Foi levado ao DOI-Codi, ali na rua Tutóia para um futuro incerto. Escapou e tal.

Na entrevista, Alex Solnik conta que jamais esqueceu os horrores que viu e viveu enquanto esteve nas mãos dos "Brilhantes".

Brilhantes porque o tal Ustra torturador encarnava vivo na cabeça e comportamento de todos os seus subordinados. 

Embora pesado o tema, entrevistado e entrevistador demonstram certa leveza ao abordarem a terrível fase ditatorial que o Brasil viveu entre 1964 e 1985.

Conheci Solnik entre uma sala e outra da Editora Três, onde eu colaborava em várias revistas.

A última vez que o vi foi na casa do maestro João Carlos Martins. Estávamos lá com Chico Pinheiro e a então secretária da Cultura do Estado de São Paulo, Cláudia Costin (governo Alckmin).

No decorrer da entrevista, histórica, vem à tona o nome do repórter Octávio Ribeiro Malta (1902-1984). Esse foi um cara incrível na cena do jornalismo brasileiro. 

Solnik e o seu entrevistador lembram momentos importantes da vida de Ribeiro, mais conhecido como Pena Branca. Juca, quando era editor da revista Playboy, contratou Ribeiro para fazer uma entrevista impossível com o ex-jogador da Seleção Brasileira, Tostão. 

Tostão não dava entrevista desde que deixou a Seleção, assumindo desde então a profissão de médico. Ribeiro, o Pena, topou a empreitada e depois de montar acampamento de frente da casa de Tostão, em Minas, o alvo rendeu-se e acabou por dar a tão pretendida entrevista que o repórter queria. 

Dentre tantas e tantas reportagens do intrépido Pena Branca difícil é escolher a melhor. Mas como quase sempre acontece, temos o mal hábito de esquecer os bons brasileiros. 

Juca Kfouri continua fazendo bonito e, por isso mesmo, nos orgulhando pela profissão que tem: jornalismo.

Daqui mando o meu abraço para Alex Solnik, que deve estar sofrendo com o que hora ocorre no seu país de origem, a Ucrânia. 

Ah! Sim: o sequestro de que foi vítima Solnik me lembrou o sequestro de que também foi vítima o jornalista Antonio Carlos Fon. 

Fon foi surpreendido no quarto onde dormia por trogloditas da ditadura com metralhadoras em punho... A respeito, fiz entrevista com Fon para o Pasquim de tantas memórias. 

Nenhum comentário:

Postar um comentário

POSTAGENS MAIS VISTAS