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terça-feira, 13 de junho de 2023

A MORTE TEM NOME: VIDA (3)

Mesmo em textos não explícitos, a morte costuma aparecer sorrateiramente em canções que falam de solidão. 
A cantora e compositora Dolores Duran marcou época cantando a dor que certamente vem bem antes da morte. Em Solidão, por exemplo, ela diz quase chorando que "Ai, a solidão vai acabar comigo...".
Na Canção da Tristeza, feita em parceria com Edson Borges, Dolores canta com o coração na mão: "... E mais além, se eu te lembrar/ Terá de ser assim/ Com mágoa e dor/ Que eu viva para sempre/ A morte deste amor...".
Os vozeirões do passado cantaram a morte de várias maneiras.
Na canção Céu Moreno, de Uriel Lourival e gravada em 1935 por Orlando Silva, ouve-se: "... Senhor, deixai quando eu morrer/ Minh'alma em penitência/ Aqui mesmo sofrer/ Não quero a vossa santa luz...".
Mas, é claro, que há na nossa música popular textos fortíssimos referentes à morte. 
O roqueiro Lobão, de batismo João Luiz Woerdenbag Filho, cresceu num ambiente cheio de dores. O pai e a mãe mataram-se. Ele próprio tentou o suicídio mais de uma vez. A última em 1999, quando ficou sem gravadora. 
Num congresso de psiquiatria em Florianópolis, realizado em 2015, ele disse: 
"As pessoas precisam ter mais coragem para falar sobre isso. Precisam ter opiniões mais contundentes. O maior problema que se pode ter é perceber que se tem um problema que não está resolvido [...] Para mim, a arte é um processo de cura. Ela organiza a cabeça, expande o conhecimento. Lido com criatividade e preciso de equilíbrio e ausência de ansiedade. Ou você adquire isso ou não faz bem o seu trabalho"
No LP O Inferno é Fogo, de 1991, Lobão canta: "... Parceiros de suicídio/ Um vício sentimental/ Um acidente fatal/ Eu uivo pra Lua cheia/ E a felicidade vacila/ E por mais que a lua ilumine/ Continuará vazia..." (Bem Mau).
O baiano Raul Seixas, envolvido em drogas até aqui não era definitivamente uma pessoa alegre. Irritava-se com facilidade e não media palavras quando queria xingar alguém. Era da pá virada como se diz. Perseguiu a morte como pôde, sempre de modo perigoso. Ele: "... Ao lado de Herodes/ Comandou o genocídio/ Mas quando acorda assustado/ Está pronto pro suicídio..." (O Suicídio Parte II).
No dia 10 de novembro de 1972, com 28 anos de idade e um dia, o compositor Torquato Neto despediu-se da vida aspirando gás. 
Torquato (foto ao lado) foi figura importante no movimento Tropicalista, que teve a frente Caetano, Tom Zé...
Em 2000, a mestranda Anay Oliveira dos Anjos apresentou dissertação à banca de professores do curso de Filosofia, Letras e Ciências Humanas da USP sob o título A Morte na Obra de Torquato Neto: uma análise semiótica. Ela:
No caso de um artista, podemos acompanhar esta constante presença da morte em sua obra, e Torquato não é exceção. A morte é uma constante em sua vida e obra. Ele já havia tentado se matar diversas vezes e cada uma era como um tributo à própria arte. Existe um ponto em que a criação artística torna-se de tal modo importante para a vida do artista que elas se confundem. Ela só existe por sua causa mas à medida em que sua criação se estrutura o artista se vê na posição contrária. Ele passa a depender da obra para existir tanto quanto ela depende dele para fluir. A morte aparece aqui como um tributo a ser pago à arte, uma experiência limite que permite ao sobrevivente o relato pleno de sua incursão pelos obscuros e perigosos caminhos do inconsciente.
Ainda na sua convincente dissertação acrescenta Anay: 
Sua atividade criativa estava aquecidíssima e ele tinha inúmeros planos de futuro. "Experimentar" a morte era como encarar de frente aquela que o colocava constantemente numa cilada. O artista é aqui uma vítima voluntária da própria arte. Caso ele sobreviva terá em seu desenvolvimento artístico um salto qualitativo talvez apenas possível por ter tomado a opção do sacrifício. Um ritual que ressuscita, como o próprio corpo do sobrevivente.

segunda-feira, 12 de junho de 2023

A MORTE TEM NOME: VIDA (2)

Existem pérolas no repertório da nossa música popular relacionadas à morte.
Num ano que não me lembro com firmeza, conversei e bebi bastante com o craque Nelson Cavaquinho.
Nelson tem obras-primas que fazem alusão à morte. Particularmente encontro enorme identificação com os sambas Quando Eu Me Chamar Saudade e Juízo Final. Quando Eu Me Chamar Saudade diz: 

Sei que amanhã, quando eu morrer
Os meus amigos vão dizer
Que eu tinha um bom coração

Todos os grandes compositores cantaram a morte. Chico, por exemplo, disse na canção Funeral de Um Lavrador baseada na peça Vida e Morte Severina, do pernambucano João Cabral de Melo Neto:

Esta cova em que estás com palmos medida
É a conta menor que tiraste em vida
É de bom tamanho nem largo nem fundo
É a parte que te cabe deste latifúndio...

Nessa mesma linha e batuque, em 1951, a paulistana Inezita Barroso estreou em disco com a canção Funeral de um Rei Nagô, de Murilo Araújo e Hekel Tavares. Ouça: https://youtu.be/jsd1OtCJKJo
Falei do Chico e também posso falar do Gil, Caetano e Vandré cantando a morte. Gil: 

Não tenho medo da morte
Mas sim medo de morrer
Qual seria a diferença
Você há de perguntar
É que a morte já é depois
Que eu deixar de respirar
Morrer ainda é aqui
Na vida, no Sol, no ar
Ainda pode haver dor
Ou vontade de mijar...

E o mano Caetano, disse: 

Morre-se assim
Como se faz um atchim
E de supetão
Lá vem o rabecão...

E Vandré, hein?
Nas músicas Réquiem para Matraga, Disparada e Terra Plana, Geraldo fala de morte com todas suas cinco letras e consequências gerais. Diz ele em Terra Plana:

... Se um dia eu lhe enfrentar
Não se assuste, capitão
Só atiro pra matar
E nunca maltrato não...

No dito rock brasileiro há letras bastantes interessantes do tema morte.
Renato Russo e Cazuza, por exemplo, falaram muito sobre o tema.
Renato:

Os mortos não podem voltar
Os mortos não vão mais falar mal de vocês
Nem da madeira, nem do ferro em brasa
Choques elétricos e ameaças
Crianças que desaparecem
Frases perfeitas, palavras cegas
Escritas em cartazes tropicais
Cadê meu pai?
Meu irmão?...

E por aí vai. A história é longa.
Tudo há o que se procurar na discografia brasileira, desde de o começo do século 20. Sim, não podia aqui deixar de falar da gauchinha Elis Regina. Ela cantou com a beleza da sua voz a cantiga Lapinha. É de Baden Powell e Paulo César Pinheiro. Foi na I Bienal do Samba. Aqui Elis cantando: https://youtu.be/v_fBw6EHebA 
A história da morte está na história.
Meu amigo, minha amiga, você sabia que Cleópatra se suicidou?
Em 1942, o austríaco Stefan Zweig e sua esposa, Zweig Lotte, firmaram um pacto de morte, suicidando-se. As razões, não sei...
Hoje é o Dia dos Namorados.

domingo, 11 de junho de 2023

A MORTE TEM NOME: VIDA (1)



Pra viver, a morte precisa da vida. E nós, da morte.
O tema é tabu e por ser tabu, polêmico. Desde sempre.
Esse tema se acha em todos os quadrantes do pensamento humano, desde sempre.
Falar da vida, falar da morte e de sexo não é fácil. É difícil, e por ser assim, polêmico, polêmico.
Não é fácil falar das coisas fáceis.
A morte, por exemplo, está na nossa cara como na nossa cara está a vida. E vida como tal, sexo.
O sexo reproduz a vida e a morte, não é mesmo?

Mas poeta eu não sou não.
Poeta é Zilidoro
Poeta é Riachão
Que do nada fazem versos
E se brincar até canção...

A morte, como a vida, se acha profundamente presente nas mais diversas formas da cultura popular. Na música, inclusive.
O roqueiro Raul Seixas e o escritor Paulo Coelho assinam um tango interessantíssimo, cantado por Raul. Este: https://youtu.be/FHZpAnagMkc
O tema morte na música popular brasileira é antigo, antiquíssimo.
Em 1933 o carioca Noel Rosa escreveu e cantou Fita Amarela. Diz: 

Quando eu morrer
Não quero choro, nem vela
Quero uma fita amarela
Gravada com o nome dela...

Isso, pois, há 90 anos!
Mas a temática morte na nossa música popular é anterior à Fita Amarela. 
Porém não custa lembrar que nesse ano, 33, os compositores J. G. Fernandes e L. Marques compuseram o fado A Morte da Ceguinha, que o português com raízes brasileiras Manoel Monteiro gravou com muita graça, digamos assim.
Antes dos 30, os cantores Paraguassu e os Irmãos Eymard gravaram Morrer de Amor e Morrer Por Ti. A primeira é uma modinha e a segunda, uma polca.
Polca, aliás, é um gênero musical muito bem assimilado pelo sanfoneiro e compositor, também cantor, Luiz Gonzaga.
Em 1953, há 70 anos, o Rei do Baião gravou do caruaruense Nelson Barbalho a toada A Morte do Vaqueiro. Obra-prima. Ouça: https://youtu.be/jSWwftxuSQQ
Antes dessa música, Luiz Gonzaga compôs um samba com Ari Monteiro. Essa samba foi gravado em disco de 78rpm pelo carioca Cyro Monteiro. Título: Meu Pandeiro. Ela começa assim:

Quando eu morrer, quero um braço de fora
Pra tocar o meu pandeiro, ô
O meu pandeiro cravejado de marfim
Quando eu morrer, quero um braço de fora
Pra tocar o meu pandeiro, ô
Em homenagem às morenas que gostam de mim


Num ano qualquer da década de 50, João Pacífico a mim contou que escreveu uma moda a que deu título de Cabocla Tereza. Clássico do gênero.
Cabocla Tereza foi gravada originalmente em 1959 pelo parceiro de João, Raul Torres. É gravação linda, lamentavelmente linda, feita pelo já referido Raul e seu parceiro de viola Florêncio.
À época Raul Torres formava dupla com Florêncio. Famosa.
O tempo passou e continua passando, que não é besta.
A morte está presentíssima na música popular brasileira.
É fácil falar da morte, difícil é viver a vida que ora o mundo vive com guerras e putaria de todos os tipos.

LICENCIOSIDADE NA CULTURA POPULAR (24)

Sandro Becker, que durante a carreira era chegado a paródias, emplacou sucessos sacanas como A Picada da Cobra.
E como quem não quer nada, do rádio saía a voz de Zé Duarte cantando Velho Sapeca. Olhe a gracinha: "Meu pai vivia triste, andava descontente/ Hoje vive sorridente e a tristeza não existe/ Queria que você visse como ele tá legal/ Tá nascendo cabelo na cabeça do meu pai/ Que beleza, que legal...".
O jornalista, teatrólogo e advogado carioca Geysa Bôscoli, sobrinho da maestrina Chiquinha Gonzaga, compunha músicas nas horas vagas. Uma dessas músicas, Maria Chiquinha, foi gravada pela primeira vez por Sonia Mamede e Evaldo Gouveia no ano de 1962. Outras gravações dessa música foram feitas, inclusive pelos irmãos Sandy e Junior. A letra é aparentemente ingênua, mas o personagem desconfia que está sendo traído pela mulher. Pior: ele a ameaça cortar-lhe a cabeça. Horror!
Há muitos casos de feminicídios na literatura e na música.
Em 1982 entrevistei Chico Buarque e dele ouvi opinião a respeito desse assunto, condenável sob todos os aspectos. Leia a entrevista completa: REVISTA HOMEM - EDIÇÃO DE ANIVERSÁRIO
Maria Chiquinha chegou a integrar o repertório da música infantil. Esse repertório incluiu títulos até da animação Shrek. Num desses títulos, a petizada canta: "Aqui em Duloc é tão bom viver/ Nossas regras já vamos lhe dizer/ No jardim não pisar/ Todos cumprimentar/ Duloc é especial/ Na cabeça shampoo, lave bem o seu pé/ Duloc é, duloc é/ Duloc é especial".
Até a chamada "rainha dos baixinhos" Xuxa, hoje sessentona, dançou e cantou ao som do duplo sentido. Exemplo é a música Turma da Xuxa, de Reinaldo Waisman e Robson Stipancovich, gravada no LP Xou da Xuxa em 1986. A letra diz: "E o Betão apaixonado/ Foi beijar a Marieta/ Errou a sua boca/ E beijou sua… bochecha…".
Xuxa, aliás, chegou a ser "homenageada", em 1988, pelo grupo Trem da Alegria. Os pixotes desse grupo, hoje extinto, começam cantando assim: "Cada dia mais eu me apaixono e te acho mais linda/ Eu fico imaginando, quero ser seu namorado/ Mas fico com vergonha do meu pai que está do lado/ Você é a culpada do meu banho demorado…".

Foto e reproduções por Flor Maria e Anna da Hora

sábado, 10 de junho de 2023

A BOSSA NOVA MORREU, NO BRASIL

Contando nos dedos: 31, 41, 51... Eu nasci em 1952... 61... Jânio Quadros na parada como representante da República... 71... Ditadura militar, sete anos antes... 81, 91, 2001, 2011, 2021...
Se vivo estivesse entre nós o baiano João Gilberto estaria completando 91 anos de idade. É isso mesmo?
Pois é, não tem como dizer o contrário: o baiano de Juazeiro João Gilberto, com a sua pancadinha leve ao violão e sua voz suave e afinada, foi quem criou um nome gênero musical brasileiro, mesmo com uma célula do jazz norte-americano.
Ouso aqui dizer que esse João foi tão importante quanto o pernambucano de Exu Luiz Gonzaga, que para o mundo ficaria conhecido como o Rei do Baião.
O novo ritmo criado por João Gilberto chamou-se Bossa Nova. O mundo inteiro conhece esse gênero, esse ritmo, essa pancada sonora inventada pelo baiano João.
A primeira gravação de Garota de Ipanema, carro chefe do movimento bossa-novista, foi gravada no Brasil no dia 26 de março de 1963, lançada em julho num disco de 78 rpm pela gravadora Odeon. O intérprete, de quem privei amizade, foi o carioca Pery Ribeiro. Pery era filho da deusa da nossa música Dalva de Oliveira e do cínico Herivelton Martins, porém sem dúvida um grande letrista e melodista da nossa música popular. É dele, por exemplo, a canção Ave Maria no Morro. Essa canção foi gravada em muitas línguas.
Em muitas línguas, quase todas, foi também gravada Garota de Ipanema.
A primeira versão em inglês de Garota de Ipanema coube à baiana de Salvador Astrud Gilberto. Essa gravação Astrud fez no dia 12 de março de 1963, num estúdio de Nova Iorque lançada no ano seguinte, num single, sem créditos à intérprete. Não houve contrato na ocasião. Da parte dela, de Astrud, por ingenuidade ou amadorismo.
Astrud foi mulher de papel passado de João Gilberto, mas João a traiu e a deixou com uma criança pra criar.
Não custa lembrar que João inspirou quase todo mundo no Brasil, como Luiz Gonzaga.
Seis meses depois da gravação de Garota de Ipanema por Pery Ribeiro, foi a vez do grupo Tamba Trio fazer a gravação dessa música. Pela gravadora Philips (ao lado).
No começo da carreira, João brigou com muita gente. Até com Geraldo Vandré. Mas o tempo passou e a amizade entre os dois voltou.
O primeiro LP de Vandré tem a marca bossa-novista. Não é mesmo, maestro Júlio Medaglia?
Dizem que a Bossa Nova morreu, eu também acho. No Brasil.
A cantora inglesa Amy Winehouse (1983-2011) gravou Bossa Nova, claro! Você não sabia, meu amigo?
Winehouse gravou Garota de Ipanema, pouco antes de partir não sei pra onde. Confira:


HOJE 10 DE JUNHO, É O DIA DE CAMÔES

O dia 10 de junho é o Dia de Camões, poeta português que legou ao mundo a obra-prima Os Lusíadas. A respeito dele e do livro andei proseando na Biblioteca Mário de Andrade, cá em Sampa. Foi sábado 3/6. Particularmente, gostei. Contei isso ao amigo Geraldo, que perguntou porque eu não lhe avisei dessa palestra. É isso.
Quem não compareceu à Biblioteca Mário de Andrade, pra me ver e ouvir falar sobre o legado português para o Brasil, e para o mundo, ainda é hora de ver e ouvir o que lá falei. Clique: 

LICENCIOSIDADE NA CULTURA POPULAR (23)

 O carioca Dicró, de batismo Carlos Roberto de Oliveira (1946-2012), também deitou e rolou cantando em duplo sentido. Olha a Rima e Cama de Pau Duro. Como muitos, também brincou com a sogra. Humor puro e cheio de graça.
Na batida do samba estilizado tem o grupo Só pra Contrariar, que interpreta A Barata, de Alexandre Pires, gravado no seu primeiro LP (1993), que vendeu cerca de meio milhão de cópias. Putaria só, só. Nessa linha é também o sertanojo A Garagem da Vizinha, da dupla Sandro e Gustavo, que diz: “Lá na rua onde eu moro/ Conheci uma vizinha/ Separada do marido/ E tá morando sozinha/ Além dela ser bonita/ É um poço de bondade/ Vendo meu carro na chuva/ Ofereceu sua garagem…”.
E, claro, não dá pra esquecer das baixarias do grupo É o Tchan!
Além das letras picantes, É o Tchan marcou pela coreografia extremamente sensual. Era o caso de até fazer crianças saírem da frente dos aparelhos de TV. Coisa de "boquinha na garrafa" e tal.
O cantor Alípio Martins, paraense, também marcou época interpretando coisas de duplo sentido, falando de cornos e gays.
Rolando Boldrin tem uma parceria muito bonita com o bom baiano Tom Zé, A Moda do Fim do Mundo. Nessa moda, os dois falam da necessidade de recomeçar o mundo como tudo começou: um macho transando com uma fêmea. Pois, pois.

O bem humorado cantor de forró Manhoso saiu da miséria depois de gravar várias músicas de fundo malicioso, entre as quais Umbu Azedo e O Tico-Tico.
Na primeira, ele canta: "Menina eu nunca vi umbu ser tão azedo/ Menina eu nunca vi umbu ser tão azedo/ Zezinho eu nunca vi umbu ser tão azedo/ porque eu nunca vi umbu ser tão azedo…" . E na segunda: "Tico mia na sala, Tico mia no chão/ Tico mia na cozinha, encostado no fogão/ Tico mia no tapete, Tico mia no sofá/ Tico mia na cama, toda hora, sem parar…".
O apelido Manhoso, nome verdadeiro de Edson Correia da Fonseca (1935-2023), foi dado pelo apresentador de programa de TV Flávio Cavalcanti (1923-1986).

sexta-feira, 9 de junho de 2023

OS MARES ESTÃO ENGOLINDO A TERRA

Os mares estão engolindo a terra.
No Brasil, inúmeras cidades litorâneas estão sumindo. O motivo é que as águas dos mares estão subindo de nível. E à medida que o nível das águas sobe, aumenta o calor que só no ano de 2022 matou pelo menos 15 mil pessoas na Europa. Não são números exatos, mas são assustadores.
Sabemos que este nosso planetinha tão zoado é dividido em seis continentes: América, África, Ásia, Europa, Oceania e Antártida.
O continente africano é formado por 54 países. O maior de todos em número de países. E o maior, territorialmente falando, é o asiático.
O continente africano tem 31 milhões de km².
O continente asiático é formado por 51 países.
Aprendi na escola que nesse nosso planetinha existem 7 mares. 
Depois, os mares se transformaram em oceanos.
Disseram-me, porém, que existe apenas um oceano e que o número total de mares não são sete, beira a casa dos 100.
Meio complicado tudo isso, não é mesmo?
Levando a memória ao passado, resgato a informação de que o Atlântico é o maior dentre todos os oceanos. Vejam só!
Dizem-me que o maior de todos os oceanos não é mais o Atlântico, é o Pacífico.
E o Índico, hein?
Aprendi que foi pelo oceano Índico que Vasco da Gama navegou rumo às Índias e lá chegou, precisamente em Calicute, no ano de 1498. Mas essa é outra história...
Chego a conclusão, diante disso, que continuo totalmente leigo na questão mares/oceanos.
Você sabe meu amigo, minha amiga, qual a diferença entre mares e oceanos?
A craque Anna da Hora olha-me nos olhos fixamente e diz professoralmente: "Assis, a diferença entre oceano e mar é que os mares são cercados por continentes e os oceanos cercam os continentes", acrescentando rindo que tirou essa conclusão de um site que agora não me recordo.
Quanto ao total de oceanos, ainda Anninha bradando informação na minha cara: "Há cinco bacias oceânicas no mundo: Ártico, Atlântico, Índico, Pacífico e Antártico. Entretanto, existe somente um Oceano Global, que cobre 71% da superfície do planeta Terra".
É muito pra minha cabeça!
Como se não bastasse, Anna da Hora exibe uma relação com os 10 mares localizados neste nosso planetinha prestes a explodir:
  1. Mar de Coral - 4.183.510 km² (localizado na Oceânia, águas do Oceano Pacífico).
  2. Mar do Sul da China  - 3.596.390 km² (localizado no sudeste asiático, águas do Oceano Pacífico).
  3. Mar do Caribe - 2.834.290 km² (localizado na América Central, águas do Oceano Atlântico).
  4. Mar de Bering - 2.519.580 km² (localizado entre o Alasca e a Sibéria, águas do Oceano Pacífico).
  5. Mar Mediterrâneo - 2.469.100 km² (localizado entre a Europa meridional, Ásia ocidental e África setentrional, águas do Oceano Atlântico).
  6. Mar de Okhotsk - 1.625.190 km² (localizado no nordeste da Ásia, nas águas do Oceano Pacífico).
  7. Golfo do México - 1.531.810 km² (localizado na América Central e América do Norte, águas do Oceano Atlântico).
  8. Mar da Noruega - 1.425.280 km² (localizado a noroeste da Noruega entre o Mar do Norte e o Mar da Groelândia, nas águas do Oceano Atlântico).
  9. Mar da Groelândia - 1.157.850 km² (localizado entre a Groelândia e Islândia, águas do Oceano Ártico).
  10. Mar do Japão - 1.008.260 km² (localizado entre o Japão, oeste da Península Coreana e o norte da Rússia, águas do Oceano Pacífico).
Por não ter cá o que fazer, andei compondo um poema a que intitulei O Menino e o Mar na Trilha do Etéreo.
O referido poema traz um personagem criança, sem nome. Mas garanto que é uma figurinha e tanto! Ouçam:

quinta-feira, 8 de junho de 2023

EU E MEUS BOTÕES (64)

Entrei na casa do botão Zilidoro, um poeta nato, dei bom dia e ele, também.
O meu bom dia e o bom dia do Zilidoro, provocaram em uníssono, um bom dia de todos e para todos presentes: Zé, Mané, Biu, Barrica, Lampa, Jão e Zoião, além de Zilidoro.
Zoião foi o primeiro a falar, coisa rara. Ele a mim: "Seu Assis, disseram que o Zilidoro tem um parente de nome Riachão, é verdade?".
Eu disse que a melhor resposta a essa pergunta seria do próprio Zilidoro. E Zili: "É verdade. Riachão é um primo a quem respeito muito. Grande poeta!".
Barrica, atento, fez uma revelação ao grupo: "Seu Assis é um cara que parece viver o tempo todo na moita, na dele...".
Mané, um tanto enigmático: "Se bem entendo o que você fala, não estou entendendo o conteúdo".
Achei graça, vendo e ouvindo Mané tão quieto dizer o que disse. Antes que eu dissesse alguma coisa mais a respeito, o irmão de Barrica, Biu levantou a mão pedindo pra falar. E falou: "Vocês estão fazendo um arrodeio danado. E acho que já sei onde vocês querem chegar. Outro dia eu li um poema do seu Assis no qual faz referência à existência de Riachão. E confesso que gostei do Riachão! E olha que não sou poeta nem nada".
Jão, mexendo na internet, por acaso, falou eufórico, quase gritando: "O blog do seu Assis já passa de um milhão e meio de acessos. Poxa! É muita gente!". E, ainda eufórico, achou isso aqui: "Dizem que sou poeta/ Mas poeta eu não sou, não/ Poeta é Zilidoro/ Poeta é Riachão/ Que do nada fazem versos/ E se brincar até canção...".
Zilidoro deu uma risada e revelou: "Eu já vi isso e gostei. A próxima estrofe começa assim: Zilidoro e Riachão/ São da lira popular/ Fazem versos de cordel/ Pra o povo apreciar/ São versos bem bolados/ Que dão pra rir, dão pra chorar...". 
Poxa vida! Vocês me surpreendem o tempo todo, eu disse.
Lampa, lá do seu canto, levantou uma sobrancelha e atrevido murmurou algo ininteligível. Baixou a cabeça e, como sempre, continuou cutucando as unhas com seu inseparável punhalzinho.
"Seu Assis, mudando de pau pra cacete: o bicho tá pegando em Brasília. Na Câmara, no Senado, no STF, no STJ, no palácio do governo... Uma loucura! Os povos originários do nosso país estão correndo risco de perder suas terras. O que o Sr. acha disso?", perguntou de sopetão o alagoano Zé.
Sem me fazer de rogado, fui dizendo que é um absurdo tudo isso. A Câmara e o Senado estão com maioria de direita. A situação é minoria. Não acho impossível os indígenas perderem mais essa parada. O bolsonaro afunhenhou tudo e todos. Vai ser duro o Brasil voltar à normalidade. Alimentemos a esperança, que não deve morrer nunca!
Jão, botão pouco afeito às coisas da Internet, disse que ouviu uma música minha falando sobre coisas absurdas no sentido lato termo. Disse que tinha por título algo como não-sei-que-lá Erudito. Eu ri. E a título de explicação, acrescentei: Xote Erudito é o título dessa música feita por Jorge Ribbas e eu. Essa aqui, ó:

quarta-feira, 7 de junho de 2023

GAUGUIN POLÊMICO, NO MASP


 
Gauguin, autorretrato
O artista plástico francês Gauguin foi elogiado no seu tempo e nos tempos atuais, deselogiado.
Velhos tempos, novos tempos: é assim mesmo, fazer o quê?
Em abril, dia 24, foi inaugurada no Museu de Arte de São Paulo, MASP, a exposição Paul Gauguin: O Outro e Eu, que pode ser visitada de quarta a domingo no período das 10h às 18h. É de graça às terças.
Gauguin deixou uma obra muito bonita aos olhos dos amantes das artes. Retratou o cotidiano que viveu fora da França, em países como o Taiti. Dos seus pincéis saíram figuras femininas nuas e seminuas. E masculinas, também. Isso vem chocando o público que o visita ou revisita. É um comportamento próprio de quem acha erro em tudo. A propósito, na exposição do MASP, há pelo menos um quadro proibido de ser fotografado. 
Censura na parada!
O artista francês corre risco de ter a sua obra "cancelada", pelo público aqui referido.
Diante disso, de olhares enviesados que descobrem pelo em casca de ovo, sugiro que se ilustrem melhor para entender a arte pictórica de autores em qualquer tempo e lugar.
Não foi fácil a vida de Gauguin. 
 "Na câmara de eco da internet, com seu gosto por rótulos genéricos, Gauguin agora é denunciado como um mulherengo predador, um agente do colonialismo e até um agressor sexual cuja arte deveria ser ‘cancelada’. Essa imagem está se estabelecendo no pensamento popular crítico, apesar dos recentes esforços de acadêmicos que desafiam esse alinhamento de Gauguin a um conjunto de valores patriarcais que, agora sabemos, ele denunciou abertamente", disse Norma Broude, autora do livro Gauguin’s Challenge, em email a Folha de S.Paulo. E acrescentou: 
"As ideias radicais de sua avó Flora Tristan, defendendo o empoderamento das mulheres, eram ideias que Gauguin conhecia, compartilhava e em que se baseava, tanto em seus escritos quanto em sua arte".
A propósito até o final deste mês de junho, deverá chegar as nossas mãos o livro Histórias de Esquina, gerado pelo cartunista paulista Fausto Bergocce e este paraibano, que sou eu. No livro escrevi:
Paul Gauguin (1848-1903) e Vincent Van Gogh (1853-1890)
A vida do pintor francês Paul Gauguin foi muito atribulada, cheia de altos e baixos. No começo teve a pintura como passatempo, enquanto ganhava a vida no mercado financeiro. Ao perder o emprego, passou a dedicar-se às artes plásticas. Viajou bastante. Era filho de um jornalista e de uma escritora feminista. Corriam os anos de 1880. Conheceu o holandês Van Gogh em Paris no ano de 1888. Chegaram a dividir ateliê em Arles. Desavenças entre os dois terminou em briga e em afastamento. Numa de suas viagens, Gauguin foi acusado e preso por desacato a militares. Morreu doente e preso numa cadeia de Atuona, Oceania. Van Gogh, antes de dar um tiro no próprio peito, pode-se dizer que morreu de depressão. Tinha mania de perseguição e isso fez com que cortasse um pedaço da orelha e o mandasse de presente num envelope para Gauguin. Deixou centenas de pinturas e desenhos, mas apenas um quadro conseguiu vender em vida. Assim mesmo através do irmão mais novo Theo,que morreria também poucos meses depois.Um quadro de Van Gogh, Cena de Rua em Montmartre, leiloado em 2021 pela Sotheby’s alcançou a cifra de 14 milhões de euros. Morreu pobre, aos 37 anos de idade.

terça-feira, 6 de junho de 2023

ASTRUD GILBERTO MORRE NOS EUA

A soteropolitana Astrud Gilberto, de batismo Astrud Evangelina Weinert despediu-se do mundo ontem 5 na Filadélfia, EUA, onde morava desde 1959. Sofria do coração. Deixou dois filhos, um deles, Marcelo, fruto da união com o cantor e compositor João Gilberto. Astrud e João ficaram casados durante cinco anos, de 59 a 64.
A carreira artística de Astrud começou nos Estados Unidos em 1963. Mais precisamente no dia 18 de março, dias antes de ser desencadeado o golpe que levou ao poder no Brasil os generais. Astrud foi a primeira cantora a gravar o samba balanceado chamado de bossa nova, Garota de Ipanema. Essa música, gravada em inglês, levou às paradas o LP Getz/Gilberto. Quer dizer, a soteropolitana Astrud morreu no ano que completou seis décadas de sua estreia em disco. Muitos compositores brasileiros tiveram obras gravadas por ela. Entre essas Aruanda de Geraldo Vandré e Carlos Lyra; e Beach Samba, de Pery Ribeiro e Geraldo Cunha. Curiosidade: Pery foi o primeiro cantor a gravar Garota de Ipanema, num disco de 78rpm.
Detalhe lamentável: o nome de Astrud foi omitido do LP Getz/Gilberto e pela gravação ela recebeu míseros 120 dólares e menos de um ano depois o maridão cantor, papa da Bossa, a trocaria por uma das irmãs do Chico, Miúcha, com as mãos abanando e uma criança para criar.
Astrud Gilberto morreu no fim da noite de segunda-feira.
Ouça Astrud cantando Aruanda:



VANDRÉ

Geraldo Vandré compôs duas músicas com Carlos Lyra, Aruanda e Quem Quiser Encontrar o Amor. Aruanda é a primeira faixa do lado B do LP The Best of Astrud Gilberto (nas minhas mãos, foto acima). Ontem 5 estivemos numa prosa, cá em casa. Papo bom, solto, amigo. Minha filha Clarissa registrou o momento (ao lado).

AUDÁLIO DANTAS: DE FATO UM GRANDE TROFÉU!

Audálio e Assis, no Metrô-SP
Indignação, Coragem, Esperança.
Esse é o triplé mágico e necessário de identificação do cidadão nacional. Faz parte do troféu Audálio Dantas, de reconhecimento dos profissionais do jornalismo.
Pela 4ª vez o troféu Audálio Dantas é entregue a jornalistas que têm marcado a vida brasileira. Os agraciados deste ano são Rene Silva, Juliana Dal Piva, Bruno Paes Manso, Leonardo Sakamoto, Gregório Duvivier e Valmir Salaro.
Desses nomes aqui citados, lembro que trabalhei na folha com Valmir Salaro.
Grande Valmir!
Eu e Valmir Salaro fazíamos parte de uma equipe de profissionais que cobriam, principalmente, o setor policial da já referida Folha.
Muitas histórias.
O alagoano Audálio Dantas foi um querido amigo. Foi não, é. Os grandes não morrem, desaparecem derrepentemente.
Jornalismo é fundamental para a manutenção da democracia de qualquer país.
O troféu Audálio Dantas nasceu por iniciativa do querido Serjão, da OBORÉ, que baseou-se em ideia como sempre original da também querida Laerte.
Com Laerte tive também o privilégio de trabalhar, na Folha.
Viva a Liberdade!
Todos nós estamos convidados a comparecer logo mais, às 19h, na Câmara Municipal de São Paulo onde o troféu será entregue aos colegas acima citados. Aí está o convite:

segunda-feira, 5 de junho de 2023

A SAÚDE ESTÁ DOENTE

Não é de hoje, infelizmente, que nós brasileiros estamos perdidos, afunhenhados, abandonados pelo poder público. 
Pois é, que estamos lascados, ao Deus dará. 
O desemprego come solto na buraqueira.
A educação foi arrasada, em todos os sentidos. Professor, e tenho uma filha professora, come o pão que o diabo faz nos fornos do Inferno. Trabalha e trabalha por uma merrequinha ao fim do mês. Como se não bastasse, vivemos um tempo em que aluno xinga, bate e até mata professor e professora. 
A área da saúde, por sua vez, está inteiramente devastada. As filas de doentes portadores de câncer e de outros males dobram esquinas e quarteirões. Uma lástima!
Sábado 3 o diário Folha de São Paulo estampou chamada na 1a. página sobre o abandono da saúde no Brasil. Título: SP descumpre lei para iniciar tratamento de câncer em até 60 dias.
A matéria, de página inteira, tem a assinatura do repórter Fábio Pescarini.
Ao mesmo tempo que nos dói ler a reportagem fica claro o abandono das pessoas que precisam de atendimento do SUS, Sistema Único de Saúde.
Coitado de quem precisa do SUS.
Com vocês compartilho a reportagem da Folha:
 

CAMÕES NA MÁRIO DE ANDRADE. FOI SÁBADO

Foi legal a recepção que tive sábado 3 no auditório da Biblioteca Mário de Andrade. Fazia tempo que eu não palestrava. Abordei, na Mário de Andrade, o tema Camões e a herança cultural que Portugal nos legou. Falei, falei e falei. O radialista Carlos Silvio, sempre prestativo, registrou o evento. Acompanhem:


CAMÕES

No decorrer do papo, contei que fiz a adaptação da obra-prima Os Lusíadas. Esse livro foi publicado em março de 1572. No próximo ano boa parte do mundo sensível e ilustrado deverá comemorar os 500 anos de nascimento de Luís Vaz de Camões. Leia:

domingo, 4 de junho de 2023

LICENCIOSIDADE NA CULTURA POPULAR (22)

Assis Ângelo numa conversa com Jorge Mello

Ney Matogrosso canta com elegância músicas como Freguês da Meia-Noite, de Criolo (Kleber Cavalcante Gomes) e Folia no Matagal, de Eduardo Dusek. A primeira fala de um caso num restaurante francês localizado no bairro paulistano do Arouche. É simples, bonita. A segunda trata de, digamos, um enorme e curioso bacanal em que os personagens são pés de coqueiro e outras plantas e árvores. Começa assim: "O mar passa saborosamente a língua na areia/ Que bem debochada, cínica que é/ Permite deleitada esses abusos do mar/ Por trás de uma folha de palmeira/ A lua poderosa, mulher muito fogosa/ Vem nua, vem nua/ Sacudindo e brilhando inteira…".
O primeiro grande sucesso de Ney foi Homem com H, do já lembrado Antônio Barros.
Chico Buarque sempre foi de elegância irretocável como Milton, Djavan, Belchior e seu parceiro mais frequente, o piauiense Jorge Mello. É de Jorge, por exemplo, Eu Falei pra Você, de 1977. Um trecho: "Tô no ôco do mundo, moro em Copacabana/ acredite que é como estar noutro planeta/ Se meta, se mate na pressa, no túnel/ No túnel, na pressa, se mate, e se meta./ No mar mais azul, a coisa ficou preta/ Tem carro, tem gente querendo passar:/ na rua, na praia, em todo lugar/ É cachorro-quente ao invés do almoço/ Lhe falta a vida, o banho no poço/ e a viola gemendo pra gente cantar…”.
Noutra música, Observando o Lual, Jorge faz um engraçado trocadilho. Veja: “... Você já vai? Pergunto:/ E vai, por quê?/ Ela responde:/ — Vou-me já. Antes de você!”.
Nordestino como Jorge Mello, o pernambucano Luís Wilson é cheio de nove-horas no tocante a duplo sentido. Exemplos se acham nos forrós Dê Lembranças à Dona França e O Grilo da Prima. No primeiro, como o segundo em parceria com Duval Brito, ele canta: “Se Você for me faça me faça um favor dê lembrança a Dona França, não vá se esquecer…/ Eu não queria que você fosse embora, mas você quer ir agora, se for dê/ Dê lembrança a Dona França não vá esquecer!!!”. No segundo forró, diz: “A minha prima parece que ficou louca/ qualquer dia levo ela pro asilo/ Com tanto bicho bonito pra se criar e ela foi inventar de criar agora um grilo/ Ela da banho no grilo, da massagem no grilo. Bota perfume no grilo e puxa na barba do grilo…”.

Foto e reproduções por Flor Maria e Anna da Hora

sábado, 3 de junho de 2023

LICENCIOSIDADE NA CULTURA POPULAR (21)

Pois é, quem é normal, ou aparentemente normal, fala palavrão. E que mal há nisso?
Dá pra contar nos dedos o número de autores que não geraram poemas e músicas maliciosas, eróticas e até pornográficas, por que não?
Já falei de Genival Lacerda e de seus vários sucessos "apimentados", embalados pela dança sacana do autor.
Nessa linha o rei do baião, Luiz Gonzaga, tem coisas ótimas. Uma delas, Não Vendo nem Troco, que o remete aos seus tempos de moleque na sua terra Exu querida. Referia-se a uma éguinha de "estimação".
No tempo de Gonzaga era comum os moleques iniciarem a vida sexual com animais do meio doméstico.
Não Vendo nem Troco foi gravada por Gonzaga e seu filhote Gonzaguinha no LP A Festa, de 1981. A propósito, em agosto de 1981 publiquei entrevista que fiz com Gonzaga na revista Privé. Em resumo ele diz que "Muié é um bicho danado de perigoso", que destaquei como manchete. Leia a entrevista completa:


O rei do ritmo, Jackson do Pandeiro, também não ficou fora dessa onda.
Como Gonzaga, aqui e ali Jackson externa no seu canto um quê de promiscuidade e até de preconceito. Num dos textos que cantou, A Mulher que Virou Homem, diz: "Minha mulher apesar de ter saúde/ Foi pra Hollywood, fez uma operação/ Agora veio com uma nova bossa/ Uma voz grossa que nem um trovão/ Quando eu pergunto: o que é isso, Joana?
Ela responde: você se engana/ Eu era a Joana antes da operação".
A curiosidade aqui é que Jackson gravou no seu disco de estreia em 1953 o rojão Sebastiana, de Rosil Cavalcante. É canto e dança, no caso, umbigada.

sexta-feira, 2 de junho de 2023

VIVA SÃO JOÃO!

 O mês de junho chegou e com ele as festas juninas.
Oficialmente, digamos assim, o período é inaugurado no dia 13. Nesse dia nasceu em Portugal Antônio. Esse, portanto, é o dia de Santo Antônio Casamenteiro.
O dia 24 é de São João, que foi profeta e batizou Cristo nas águas do Jordão.
O dia 29 é dedicado ao pescador Pedro.
No Nordeste brasileiro o mês de junho é todo de festa com fogueira e tudo o mais.
Brinquei muito nesse período, nos meus tempos de menino e até a adolescência. Boas lembranças de milho, canjica, pamonha, pipoca e tal e coisa. E fogueiras também. Pulei muita fogueira e abracei muita gente. 
Desse período lembro também das brincadeiras de adivinhação e de firmação de compadre e comadre.
A música também é muito bonita. Tem muita marchinha. Aliás, esse gênero musical foi inventado pelo bom baiano Assis Valente. Essa história eu conto no programa abaixo. Escute e passe pra frente:




ATENÇÃO, ATENÇÃO:
Amanhã 3 estarei proferindo palestra sobre essa temática. Na biblioteca Mário de Andrade. Não perca!


TÉO, CHEGANDO AOS 80

No próximo dia 2 de julho o cantor e compositor Téo Azevedo estará completando 80 anos de idade. Téo é o artista brasileiro com o maior número de composições próprias, muitas feitas em parcerias com amigos. Até aqui tem gravadas umas 2 mil músicas. Algumas feitas comigo como Modinha à Moda Mineira, cantado por Carlos Felipe e Ruth Eli, Caminhando com Vandré, Capitão e Clarice.
Sobre as festas juninas, eu escrevi e Téo melodiou Sem Balão no Céu. Essa música foi originalmente gravada por Emídio Santana.



LEIA MAIS: TÉO AZEVEDO É DESCOBERTO NA ALEMANHATÉO AZEVEDO, UM CRAQUE DA NOSSA MÚSICAVIVA TÉO AZEVEDO!TÉO AZEVEDO GANHA MÚSICA DE PRESENTE

quinta-feira, 1 de junho de 2023

AMIZADE É VIDA

 
A minha vontade de viver é reforçada, sempre, quando chega a minha casa amigos queridos como Téo Azevedo, Luiz Wilson e Fatel. 
Todos esses artífices da nossa cultura popular. São três compositores, três cantores, três artistas. 
E o Peter Alouche, por onde anda?
Téo e Fatel são de Minas e Luiz, de Pernambuco.
Téo, sempre que vem a São Paulo, trás no seu rico embornal rapadura, farinha e uma caninha pra molhar o bico, que ninguém é de ferro. Ah! Sim: e também uma pimentinha daquela de arrombar o peito do guarda corno. Tudo do bom e do melhor.
Também do bom e do melhor, está claro, são Téo, Fatel e Luiz.
Ontem 31 ali pelo meio da tarde e até à boca da noite estiveram comigo papeando e molhando conversa os três referidos amigos. Foi cá em casa. Falamos de muita coisa. Da vida, inclusive.
Adoro Beethoven, adoro Bach, Chopin e o cearense de Iguatú Eleazar de Carvalho.
Eleazar foi um gigante da vida artística brasileira. Mesclou o popular com o erudito e nos fizemos amigos.
Júlio Medaglia é um artista incrível, tão grande quanto Eleazar e Deus. Mas esta é outra história...
Quem me conhece de perto sabe que ando meio tonto.
Além de perder os olhos da cara perdi um pouco da graça que de graça Deus me dá, deu.
Uma coisinha aqui, outra ali, tem me incomodado. Mas se jornalista existe para apurar e dar notícia de verdade, sem mentira; médico também existe pra desempenhar a profissão com afinco e galhardia.
O querido amigo e compositor e tudo mais Paulo Vanzolini dizia, a mim, que não basta apanhar e ser vitorioso. Dizia ele que fundamental era ganhar tudo com beleza, com galhardia.
Aproveitemos essa história, história do Paulo, pra sabermos o que de fato significa a locução "galhardia".
Estou-me cuidando e fazendo uma enormidão de versos que acoplo em estrofes diversas. Estrofes em quadras, em sextilhas, em septilhas...
A propósito, sobre versos falarei na biblioteca Mário de Andrade sábado que vem 3. 
Falarei especificamente sobre o livro Os Lusíadas, de Luís de Camões.
Há pouco fiz dessa obra uma ópera popular sob o título A Fabulosa Viagem de Vasco da Gama no Mar. Falarei também sobre o ciclo junino e sua origem.
O meu falatório começará às 15h. Aí ao lado está o convite.

ANASTÁCIA

Téo Azevedo, Fatel, Luiz Wilson, Paulinho Rosa e Zé Geraldo lá no Canto da Ema
num momento de festa à brasileira Anastácia

A cantora e compositora pernambucana Anastácia acaba de fazer 83 anos de idade. Téo, Fatel e Luiz me contaram que foi uma noite muito bonita a noite comemorativa aos 83 anos de Anastácia. Foi no Canto da Ema, uma casa de espetáculo cujo nome quem deu, com alegria, fui eu. Não fui convidado pelo dono, mas fui convidado pela homenageada. Não fui, por uma razão: estou cego, com a cabeça doida e o corpo meio desmantelado.

Anastácia, meu carinho.

quarta-feira, 31 de maio de 2023

NO CAMINHO DO AFUNHENHAMENTO

Jornalista parece que nasceu pra levar pancada, soco e tal.
Na origem somos sacos de pancada, alvo sempre fáceis de os trogloditas atingirem.
Ontem 30 foi a vez de coleguinhas de TV sofrerem agressão física daqueles que andam a garantir a integridade bandida do ditador da Venezuela, Nicolás Maduro.
Entre os espancados de ontem no Itamaraty foi a jornalista Delis Ortiz, da TV Globo. Ela levou um sopapo no peito e, tonta, foi rapidamente socorrida. Passa bem, quer dizer, mais ou menos.
Confesso que tenho me assustado com a fala do presidente Lula.
Há pouco Lula defendeu Putin. Depois, confuso, tentou a aproximação com Zelensky. Não deu certo. Depois, de volta ao Brasil, pôs os pés pelas mãos e perdeu algumas paradas importantes na Câmara e no Senado. Articulação política, zero. Vai sobrar pra nós, pobres mortais.
O presidente da Câmara, Arthur Lira, está falando grosso e mandando "recados" para Lula e seu governo.
Estamos no caminho do afunhenhamento.
Ouço no rádio notícia refogada dando conta de que Lira não deveria nem ter concorrido à Câmara, em 2018. Motivo: corrupção... Hmmmmm.
Indígenas de várias partes do País andaram se manifestando ontem contra a lei do marco temporal, que limita a demarcação das terras que ocupam desde sempre.
Como se essa desgraceira toda não bastasse, Lula tece loas a Maduro dizendo que o tal é vítima de uma narrativa para "queimá-lo".
Errado, Lula. O povo Venezuelano é vítima da violência estúpida do substituto de Chavez.
Não dá pra confundir liberdade com prisão e democracia com ditadura.
Até aqui calcula-se que pelo menos 7 milhões de venezuelanos viram-se obrigados a deixar o seu país.
Sou contra qualquer tipo de radicalismo, seja de direita ou de esquerda.
O marco temporal agora se acha no Senado.
Os povos originários, há muito se acham perdidos. Téo Azevedo e eu compusemos:


MEDO E DELÍRIO

Meu amigo, minha amiga, se você não conhece deveria conhecer o podcast Medo e Delírio em Brasília. É supimpa! O papo do apresentador e sua trupe gira com graça e harmonia. É muita verdade dita, entre um palavrão e outro. Linguagem simples, popular, mas correta em todos os sentidos. É um tapa na cara dos escrotos de plantão, que quase sempre agem na surdina. Lá vai, clique:

terça-feira, 30 de maio de 2023

ANASTÁCIA, UM ORGULHO DO BRASIL

 
Num tempo corrido como o que vivemos não é fácil chegar à casa dos 80 incólume.
A cantora e compositora pernambucana Anastácia, chamada de Rainha do Forró, não só chegou aos 80 como faz hoje 83 anos de idade. Não é pra todo mundo, não.
Anastácia chega aos 83 rindo, cantando, enaltecendo a vida. Tem centenas de músicas compostas e gravadas por ela mesma e meio mundo. Coisas lindas, pela simplicidade. Coisas lindas, pela grandeza.
Em 2011, foi publicado o livro Eu sou Anastácia. O título já diz tudo. E se eu fosse você, meu amigo, minha amiga, sairia por aí correndo à procura desse livro. Nele tem até um texto que assino.
A brasileira Anastácia, é um orgulho do Brasil. Em sua homenagem, o craque Jorge Ribbas e eu compusemos o brejeiro Forró Pra Anastácia:
 



LEIA MAIS: HOJE É DIA DA BRASILEIRA ANASTÁCIAANASTÁCIA CHEIA DE GRAÇAFORRÓ PARA ANASTÁCIAANASTÁCIA, PRINCESA OU RAINHA?ANASTÁCIA E O CHINÊS

segunda-feira, 29 de maio de 2023

JORGE RIBBAS LANÇA NOVO DISCO

Grande parte das músicas que se ouve hoje no rádio e na TV é de uma  pobreza franciscana, pra dizer o mínimo. Lamentável.
As músicas gringas também são de baixo nível. Pop, pop, sem conteúdo que preste.
Ouço rádio e TV, principalmente rádio. Todo o dia. E também à noite.
Afirmo sem medo de errar que as programações musicais das rádios Cultura e USP são as melhores.
As programações dessas duas emissoras são ricas em temas populares e eruditos, porém dá pra notar que nomes como Manezinho Araújo, Luiz Gonzaga e Jackson do Pandeiro são simplesmente limados. Se propositalmente não sei.
Os discos físicos já não existem, pelo menos não são mais fabricados.
Sei que sou suspeito ao dizer que os bons ouvidos estão atentos a tudo. Razão de alegria, aliás, é o CD digital que o craque da nossa música Jorge Ribbas está lançando nas principais plataformas: YouTube, Spotify, Deezer e Amazon Music.
A nova produção musical de Ribbas tem por título Meu Forró. No total são 16 faixas, sete das quais resultantes da nossa parceria. Na verdade são seis músicas, sete pelo fato de uma delas, Xote Erudito, ter recebido duas versões: uma com cordas. 
Dentre as faixas de Meu Forró, destaco a "parceria" de Jorge com Manezinho Araújo, o eterno rei da embolada. Título: São Paulo é Paulo.
A capa do disco é um detalhe à parte.
Assinada pela designer Camila Peneireiro, o visual de Meu Forró ficou legal.
O cantor, compositor, instrumentista e professor de música da Universidade Federal da Paraíba, UFPB, Jorge Ribbas, tem até aqui, uma dezena de discos na praça.
Ouça:





Ouça o álbum completo: MEU FORRÓ
LEIA MAIS: JORGE RIBBAS, UMA HISTÓRIA CIDADÃ

domingo, 28 de maio de 2023

LICENCIOSIDADE NA CULTURA POPULAR (20)

O sexo e o palavrão têm uma relação íntima, desde que o mundo é mundo. O resultado disso se acha em todo canto, incluindo na literatura popular e erudita, no teatro, cinema, dança, música, nas artes em geral. Perguntei a Oliveira: Como você vê essa relação na poética de improviso ao som de viola?
ELE: Existe no reino cantoria cantadores de que gostam de versos mais picantes, na hora que estão fazendo um desafio, mas não chega a ser "boca suja", na cantoria, a plateia, de uma maneira geral não absorve essa temática. Mas tem muitos deles que mesmo sendo proibido chegam raras vezes a ultrapassar os limites. A não ser um trabalho de encomenda, aí o sujeito se solta todo!

EU: Qual a sua opinião a respeito das músicas de duplo sentido?
ELE: Eu acho a música de duplo sentido uma responsabilidade muito grande. Ou é bem feita ou descartável. Eu gostava de Genival Lacerda, tem muitos outros mas não lembro agora.

EU: Você foi de Ariano Suassuna o poeta repentista mais estimado. Suassuna dizia muitos palavrões? E você quando leva uma topada, diz o quê? Aleluia?
ELE: Sim, Ariano tinha uma grande amizade por mim, e a recíproca era verdadeira. Os três anos que eu fui seu convidado nas suas Aulas Espetáculo, nunca ouvi nenhum. Mas em algum momento tudo pode acontecer.
Eu sempre chamo o famoso: EITA PORRA! Mas por paradoxal que venha parecer eu logo me arrependo e chamo o nome de um santo (risos).
Oliveira de Panelas com Roberto Carlos e Otacílio Batista


EU: Você e Otacílio Batista estiveram várias vezes cantando para Roberto Carlos, na casa dele. Roberto tem muitas músicas que falam de sexo e coisa e tal. Aliás, não só Roberto, mas muitos outros artistas como Tom Zé, Rolando Boldrin, Rita Lee, Isaurinha Garcia, Wando, Chico, Caetano... Roberto diz muito palavrão?
ELE: Acho muito bonito quem sabe colocar o sexo nas músicas que canta. Um erotismo apaixonante e sensual. Pois partindo para o chulo perde o sentido.
Roberto, não deu tempo ouvir nenhum palavrão dele não. Mas sendo na hora certa todo mundo diz.

EU: Conte um caso inusitado envolvendo um palavrão:
ELE: Olhe, um caso inusitado, eu não lembro agora, mas que o palavrão já me tirou muitíssimas vezes do prego isso não tenha a menor dúvida. Não adianta ser hipócrita, todo mundo tem seu palavrãozinho de estimação. Eu tenho e gosto deles pra lascar! (risos).

Na noite de 13 de julho de 2022, no Qualistage, RJ, Roberto Carlos nervoso com uma fã disse: “Cala a boca, caralho! Porra!”. Dias depois ele voltou ao tema, se desculpando: “Foi sem querer”.

Foto e reproduções por Flor Maria e Anna da Hora
Ilustração de Fausto Bergocce

sábado, 27 de maio de 2023

LICENCIOSIDADE NA CULTURA POPULAR (19)

Do poeta repentista Oliveira de Panelas:

Toca-me com teus seios de suavíssima pluma!
Deixa-os destilar os meus lábios sequiosos
Pingos de essências; o mel dos desejosos
Amantes que não sei se há em parte alguma!

Roça-me com teu ventre em maciez de bruma
E logo após retoma em ritmos calorosos
Mergulha nos instantes de anseios ardorosos
Repete uma vez mais... mais outra vez... mais uma!!!

Tu sufocas-me, e eu te canso, e te alivio.
Desnuda, e nessa pausa de transe e tresvario,
Arpejos sussurrantes, corpo esclarecido.

Após o néctar-êxtase, sã, A consciência volta,
Restaura nossos Eros e cada um se solta
Na paixão do mais belo amor que foi vivido!

O soneto como tal conhecemos, formado por dois quartetos e dois tercetos, foi uma criação do italiano Francesco Petrarca (1304-1374). Houve um tempo que virou moda mundo afora e no Brasil, inclusive. Oliveira de Panelas, nas horas vagas poeta de bancada, deita e rola, como nesse campo rolaram muitos outros grandes poetas. Incomum, no caso, é a temática aqui abordada por Panelas: o lirismo erótico como no soneto inédito Néctar-Êxtase, que publicamos aqui.
Esse tema também foi original e genialmente abordado por um dos poetas mais completos da nossa língua portuguesa: Olavo Bilac.
É de Bilac o livro Contos para Velhos, publicado em 1897.
Os cordelistas também chamados de poetas de bancada e os repentistas ao som de viola, também costumam desenvolver poemas de duplo sentido.

quinta-feira, 25 de maio de 2023

PRA REFLETIR: HOJE É O DIA DA ÁFRICA

  Esta tirinha faz parte do livro Histórias de Esquina, do cartunista Fausto e Assis Ângelo
 
Não é só o Brasil que tem andado de cabeça pra baixo. O mundo está de cabeça pra baixo, tonto, cambaleante. Isso, claro, não é bom.
Este nosso planetinha de josta está implodindo. Nós, seus habitantes, estamos próximos de, juntos, somarmos oito bilhões. É muita gente, é muita alma penando por aí afora sem rumo, sem nada.
Somos pretos e brancos, ricos e pobres, uma mistura danada e tonta. Ocupamos quase 200 países.
Os conflitos de todos os tipos se complicam.
O problemas reais pululam. 
Ontem 24 o jogador de futebol brasileiro Vini foi homenageado por seu time, o Real Madrid.
Ontem 24 o presidente de La Liga, Javier Tebas, pediu desculpas pelo comportamento racista dos torcedores do Valência e tal. Foram desculpas assim, assim, sem convicção. Desculpas com aspas. Assim, do tipo "pero no mucho".
O que os torcedores espanhóis estão fazendo contra o jogador Vini é lamentável. Merecem punição braba, cana com multa e tudo mais.
O futebol é receita importante na economia espanhola. Significa algo em torno de 1,7% do PIB.
O mundo civilizado está de olho na Espanha, especialmente no futebol espanhol.
O caso Vini faz-me lembrar o caso Luiz Gonzaga.
Em 1951 o rei do baião, Luiz Gonzaga, foi convidado pra uma entrevista na rádio Gazeta, cujo slogan era "A Rádio da Elite". Ao chegar à portaria foi barrado por um porteiro branco e metido a besta que o proibiu de passar na porta. Gonzaga perguntou por que estava sendo impedido de entrar. E a resposta foi que só entraria com um convite. Gonzaga perguntou onde arrumaria um convite para comprar. E aí começou um bate-boca. Rápido Gonzaga conseguiu acessar o elevador, mas foi agarrado. E antes do pau cantar de verdade, a confusão chamou a atenção do apresentador do programa e de seus assistentes. Desse modo Gonzaga, reconhecido, adentrou ao ambiente da entrevista. Depois, insatisfeito, o Rei do Baião procurou jornais pra falar do ocorrido. A ninguém interessou a questão e tudo ficou por isso mesmo.
Eu soube ontem 24 que a cantora negra norte-americana Tina Turner morreu. Pena. Grande cantora, sem dúvida. Veio do nada, sofreu, pastou, como se diz, antes de alcançar o estrelato mundial. No rádio ouço loas a seu respeito. Dizem que não podemos nos esquecer nunca de Tina. Concordo.
A olhos nus vejo grandes artistas negros da nossa música completamente esquecidos como Pattápio Silva, Pixinguinha e João da Baiana; Clementina de Jesus, Dona Ivone Lara e Carmen Costa.
Carmen Costa foi a primeira cantora brasileira a gravar um chorinho de Luiz Gonzaga, em 1943. Os casos de esquecimento são muitos. E a nossa música é negra, porque não dizer?
O choro é negro, o samba é negro, o baião é negro e isso é muito bom, certo?
Em 1942 um cidadão piauiense muito afoito Berilo Neves escreveu num artigo da Revista da Semana que "O samba é uma reminiscência afro-melódica dos tempos coloniais. Não é a expressão musical de um povo: é o prurido eczematoso do morro. É o irmão gêmeo destas entidades abstrusas que se chamam Suor, Jogo do Bicho e Malandragem".
Pois é, né?
Esse Berilo nasceu em 1900 morreu 74 anos depois, sem deixar saudade.
A carioca Elza Soares partiu faz pouquíssimo tempo e já está esquecida.
Tem muita coisa errada neste mundão de meu Deus do céu!
Ah! Sim, para refletir: hoje é o Dia Mundial da África.


LEIA MAIS: O CHORO É NEGRO 

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