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quinta-feira, 4 de agosto de 2011

AUDÁLIO DANTAS E CAROLINA MARIA DE JESUS

Negra, pobre, Carolina Maria de Jesus, mineira, passou a vida catando papéis e histórias nas ruas da vida, até que um dia, por acaso, a sorte lhe veio na forma de um repórter: Audálio Dantas.
Ao conhecê-lo, a sua rotina mudou.
Para melhor, embora sucesso lhe fosse palavra desconhecida.
O repórter cumpriu pauta e publicou sua historia em matéria de página inteira no jornal Folha de S.Paulo; e logo, a partir dessa pauta, fez publicar o livro Quarto de Despejo, traduzido em 13 línguas para uns 30 países, incluindo Inglaterra, França e Estados Unidos.
Carolina virou estrela, personalidade, de um dia pra outro.
A simplicidade como registrou nos seus diários os flagrantes do cotidiano, mereceram manchetes e críticas excepcionais nos jornais e revistas de muitos lugares e em idiomas diferentes.
Carolina escreveu, levando à reflexão uma realidade latente:
"A tontura da fome é pior do que a do álcool. A tontura do álcool nos impele a cantar. Mas a da fome nos faz tremer. Percebi que é horrível ter só ar dentro do estômago”.
Radiografia perfeita ela fez da alma humana.
Ao ler seus escritos em estado bruto, o repórter Audálio não teve dúvidas de que ali, a sua frente, estava uma pessoa com uma história de vida excepcional, pronta para ser mostrada ao mundo.
Carolina observava, analisava e dizia de si e dos outros em textos cheios de dor.
E esperança.
Ela era, sem dúvidas, uma mulher deveras excepcional.
Uma pessoa incrível, que sem Audálio Dantas não teria existido.
Depois de o livro publicado, houve quem duvidasse da autenticidade do texto.
Mas aí veio a favor do repórter o poeta Manuel Bandeira, no jornal O Globo:
“Se Audálio Dantas tivesse tido a capacidade de escrever daquela forma, com aquele linguajar, ele poderia ser considerado um gênio e não um reles jornalista aventureiro que se aproveita de uma circunstância”.
Carolina morava numa favela.
Eram poucas, algumas dezenas.
Estudo da prefeitura paulistana, em parceria com a organização internacional Alianças de Cidades, financiada pelo Banco Mundial, dava conta de que em 2007 havia na capital 1.538 favelas ocupadas por cerca de 400 famílias ou 1,6 a 2 milhões de pessoas, numa área de aproximadamente 30 km².
Em miúdos: a pobreza continua grassando na periferia do Brasil.
E como Carolina, muita gente continua vivendo dos papéis catados nas ruas da vida.
Que país é este?
Faz agora 51 anos que o livro Quarto de Despejo foi publicado.
Que tal refletirmos sobre isso?
Audálio Dantas foi hoje, de novo, meu convidado especial no programa O BRASIL TÁ NA MODA, que apresento todos os dias, ao vivo, na Rádio Trianon AM 740.
Mais tarde, às 4h30, o programa será retransmitido.
Audálio é uma resistência da democracia do Brasil.
Merece carinho e respeito.

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