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quinta-feira, 23 de dezembro de 2021

O AMOR SEGUNDO GREGÓRIO DE MATOS

No dia 23 de dezembro de 1636 nasceu, na Bahia, um cara que entrou pra história com o apelido de Boca do Inferno. Nome de batismo: Gregório de Matos.
Gregório de Matos era de família abonada. No começo da década de 50 do século 17, ele foi a Portugal e em Portugal, mais precisamente em Coimbra, formou-se em Direito. E voltou ao Brasil.
De volta à Bahia, o bam-bam-bam da igreja católica Dom Gaspar, o fez vigário geral.
Mas Gregório de Matos tinha uma boca terrível. Falava mal de todo mundo, especialmente dos poderosos. Nem a igreja escapou da sua língua felina.
Em vida, Gregório não chegou a publicar livros. Porém deixou uma obra invejável, que virou livro no começo de 1920.
Gregório transitava, com facilidade, entre o sagrado e o profano. Morreu em Recife, um pouco arrependido das coisas que disse. Entre essas coisas, esta:

... Ardor em firme coração nascido;
Pranto por belos olhos derramado;
Incêndio em mares de água disfarçado;
Rio de neve em fogo convertido:

Tu, que em um peito abrasas escondido;
Tu, que em um rosto corres desatado;
Quando fogo, em cristais aprisionado;
Quando cristal, em chamas derretido.

O Amor é finalmente
um embaraço de pernas,
uma união de barrigas,
um breve tremor de artérias.

Uma confusão de bocas,
uma batalha de veias,
um rebuliço de ancas;
quem diz outra coisa, é besta.

Um comentário:

  1. Grande Assis, sem dúvida um belo poema, transbordando volúpia, de Gregório de Matos... sim, de Gregório e não necessariamente do "Boca do Inferno", apelido que ele fez por merecer, aos escancarar portas e janelas das sociedade e instituições, em especial da Bahia, revelando tudo o que havia de podre em seu tempo. Atitude irreverente e iconoclástica. Se bem que no tempo em que ele viveu ele mereceria o inferno também por poemas deliciosos como este, pois a esbórnia era natural e salutar para ser vivida, mas não para ser transformada em versos... rss

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