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sábado, 25 de janeiro de 2025

LICENCIOSIDADE NA CULTURA POPULAR (162)

Além de Machado, José de Alencar e outros antes dele e depois fizeram circular nas páginas dos livros grandes mulheres que perderam o marido nas mais diversas circunstâncias. Entre esses autores não custa lembrar que também se acha o curitibano Dalton Trevisan (1925-2024).

Trevisan falou de todas as relações possíveis que há entre o homem e a mulher, seja novo, seja velha.

Falar de Dalton Trevisan é o mesmo que falar de feijão com arroz. No caso, amor e putaria.

A estreia de Loyola Brandão ocorreu em 1965 quando lançou à praça um livro de contos intitulado Depois do Sol. Entre os contos se acha O Homem do Furo na Mão. Muito bom, ótimo.

O personagem, um professor de história, volta às páginas do escritor em 1981. Nesse ano é publicado o romance Não Verás País Nenhum. Distópico. Há momentos hilariantes.

O buraco na mão do sujeito provoca grande preocupação da mulher, Adelaide. Mas ele mesmo não liga, passa a se preocupar mesmo quando é aposentado compulsoriamente. A mulher o abandona e ele, que perde tudo e até a vontade de viver, acaba preso depois de conhecer uma jovem e com ela transar. Curioso é o fim.


De Brandão é também bacana o romance Bebel que a Cidade Comeu. É de fundo político, como quase tudo que Brandão escreve. A história passa-se em São Paulo, como em São Paulo se passa também as histórias narradas no livro Cadeiras Proibidas (1976).

Tudo ou quase tudo que ele se dispõe a contar nos seus livros parecem banais, mas o fato é que o leitor quase sempre tem uma surpresinha no final.

Ao contrário de Machado, Loyola nunca até aqui pôs em suas páginas de ficção uma viúva.

Dá até pra comparar os escritos de Brandão com os escritos de Lima Barreto, que nos seus 41 anos de vida escreveu provocativos, críticos e engraçados contos. Nessa mesma linha, o jornalista João do Rio também escreveu bonitos e sangrentos textos em jornais da sua época. 

O curioso em João do Rio é que seus textos tinham origem na vida real. Até os personagens aparentemente fictícios eram reais. 

Num dia qualquer do começo do século 20, João esteve numa cadeia pública do Rio e lá ouviu alguns presidiários. Depois, contou. Um trecho:


- Pois vá ver esses criminosos. O assassino por amor é o único delinquente que confessa o crime. 

Alguns chegam mesmo a reviver detalhes insignificantes. Ao passo que os gatunos, os incendiários e os homicidas vulgares, mesmo tendo a cumprir sentenças longas, negam sempre o crime; essas vítimas da paixão não se cansam de contar a sua história, cada vez com maior número de minúcias e mais abundâncias de memória. 


"- Ora, nós brigamos. Eu gostava dele.  Nós brigamos. Um dia ele me disse uma porção de nomes. Eu fiquei calada, mas quando o vi deitado, com o pescoço à mostra, roncando, parece que o diabo me tentou. E fui então com a faca..." 

- Aproximei-me, bem perto, quase murmurando as palavras: 

- Diga: era capaz de fazer o mesmo outra vez, de abrir o pescoço do pobre rapaz, de ascender as velas, de cantar? diga: era? 

Ela riu como um fera boceja, e disse num arranco de todo o ser: 

" - Eu era, sim, Senhor..." 

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