Homem: Boa tarde, patrício!
Caipira: Bas tarde!
Homem: E o senhor, como vai?
Caipira: Aqui como veio, perrengue, viveno de lembrança e de sodade...
Homem: Os homens envelhecem, mas a pátria se remoça. Agora vai por todo o Brasil um sopro de vida nova de reação...
Caipira: Qua! Como tempo de dantes nunca mai há de fica.
Homem: Que mal lhe pergunte...
Caipira: Pregunta bem...
Homem: O senhor e eleitor?
Caipira: Pra que que ocê que sabe?
Homem: Queria que o senhor fosse votar na próxima eleição para presidente da Republica.
Caipira: Oi, moço. Num seja tonto. Largue mão disso. Deixe dessas patacoada. Oi, eu já fui monacrista, virei repurbicano, desvirei e revirei. Eu hoje em dia nem num sei o que e que eu sô. Esse negocio de monacria e de repurbica pra mim e a mesma coisa que criação de porco.
Homem: O, o senhor e pessimista.
Caipira: Isso que ocê falo num sei o que e. Mas isso eu num sô. Ocê arrepare que eu tenho razão. Ocê recoie um porco magro no chiqueiro. De minha cedo, ocê pinche um jaca de mio, ele: "hum". No meio do dia, outro jaca de mio, ele: "hum". Na boca da noite, outro jaca. De minha cedo tá puido. O porco vai cumeno, vai ingordano, vai ingordano, ingordano... Quando ele tá bem gordãao, só que dormir, roncar dia e noite. Vance pincha uma espiguinha de mio cateto, ele exprementa, larga, sobeja pras galinha pinica... Tá gordo, tá infarado, tá cheio, num tem mais fome, num precisa mais cume, paro de cume... Esse e o imperado. Agora com a Repurbica, não tem jeito. Vance recoie um porco magro, antes de ingorda; vance sorta, arrecoie outro, num há mio que chegue, pois.
Homem: O senhor não tem razão. A República e muito boa.
Caipira: Pode se, mas... Pra encurta o causo. Vance que tem viajado muito, tem andado muito aqui pra roça?
Homem: Tenho.
Caipira: Então ce deve cunhece muitas qualidade de arve.
Homem: Conheço.
Caipira: Vance cunhece aquel'uma que tá ali perto da ponte?
Homem: Conheço muito. E um ingaieiro.
Caipira: Ingazeiro nada. Aquela arve aqui nóis chama de arve do guverno.
Homem: Por quê?
Caipira: Vance arrepare, oi. Tem parasita inté no úrtimo gaio!
(Cavando Votos, Cornélio Pires, 1929)
Em 1929, o paulista de Tietê Cornélio Pires (1884-1958) iniciava a sua famosa série de discos (52) na
Cornélio Pires |
O humor caipira, escrachado ou não, está presentíssimo no teatro, televisão e cinema. E nas páginas dos jornais e revistas também, desde o Império.
Mais do que fotografias, raríssimas, as charges e desenhos que tais ilustravam as publicações do tempo dos Pedros I e II.
Com o Império destroçado, findo, as fotografias passaram a disputar espaço quase pau a pau com as charges e chargistas.
Com a chegada do rádio em setembro de 1922, o Brasil começou a ser tocado e cantado por artistas populares da época. E até eruditos, como Carlos Gomes (1836-1896).
Em 1929, foi composta a primeira música comercial e de enaltecimento político a um candidato à presidência da República: Júlio Prestes.
Mas antes disso, dessa peça comercial (jingle), caía na boca do povo uma sátira musical feita pra tirar sarro do presidente marechal Hermes da Fonseca (1855-1923). Hermes, que governou o Brasil entre 1910 e 1914, ganhou a eleição com pouco mais de 400 mil votos. Disputou com o baiano Ruy Barbosa, que não teve nem 300 mil votos.
Getúlio Vargas |
A sátira, cantada por Bahiano (Manuel Pedro dos Santos; 1870-1944), tinha por título Ai Philomena.
Getúlio Vargas tomou a eleição de Júlio Prestes e pôs fim à República Velha.
Com a tomada do poder por Getúlio, choveram sambas enaltecendo o governo do gaúcho Getúlio.
Em setembro de 1950, o paraibano Francisco de Assis Chateaubriand Bandeira de Mello (1894-1968) trouxe para o Brasil a grande novidade da época: a televisão.
Com a chegada da televisão, dizia-se que o rádio morreria.
O rádio e a televisão, na verdade, deram-se às mãos e o caso foi que o Brasil passou a ser mais ouvido e visto nos seus quadrantes.
A indústria fonográfica no Brasil, iniciada em 1902, vivia bons tempos desde 1929.
Em 1924, São Paulo entrou em guerra.
Em 1924, São Paulo entrou em guerra.
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