É bom ter amigos, e vejam se não.
O querido piauiense Moura Reis, que anos atrás me substituiu na chefia de reportagem da editoria Política do diário centenário O Estado de S.Paulo, manda mensagem provocadora sob pretexto do que publiquei ontem, neste espaço. Ele escreve:
Caro guru - vejam só -, poeta, nordestinólogo, mestre e o escambal. Seu admirador incondicional, assumo, pela primeira vez, a democrática postura de discordante: discordo com toda a ênfase sua ideia de voltar a misturar o Ministério da Cultura com o da Educação. Era assim no passado, você deve lembrar, e não deu certo. Não vejo razão para o que considero retrocesso. Acredito que devemos apoiar o fortalecimento do Ministério da Cultura neste momento especial sob o comando da Ana Buarque (de Hollanda). Creio que devemos participar do debate sobre direito autoral e da bolsa ingresso, entre outros fatos da atual agenda do Minc. E proponho que você inicie imediatamente campanha para tirar o burocrata João Sayad da TV Cultura. Sugiro o argumento: burocrata no comando de instituição cultural é, no mínimo, sacrilégio à cultura brasileira, portanto insulto à inteligência dos cidadãos e cidadãs brasileiros que vivem e amam São Paulo.
Pois bem, a idéia de fundir o Minc com o MEC (a sigla permanece) se justifica pelo simples fato de cultura ter de andar lado a lado com educação.
Quanto à questão sobre autorais acho de extrema necessidade o prosseguimento da discussão. Pra começar, acho que uma obra deveria cair em domínio público no máximo 50 anos, e não 70, após a morte do autor.
E pronto!
Campanha?
Não sou do ramo, mas acho que o presidente da Fundação Padre Anchieta deve entender que o novo é filho do velho; portanto o argumento de que Ensaio é velho, cai por terra. Ora, o programa Ensaio - não custa repetir - é um dos mais belos e importantes da nossa TV. E tomara que não passe pela cabeça do Sr. Sayad a idéia de jogar fora os discos de 78 rpm da Fundação, como fizeram muitos diretores de emissoras de rádio do País, justificando ser “tudo coisa velha”.
Muitos artistas, e também escritores, não guardam seus discos, é sabido. Eu mesmo já dei 78 rpm a Paulo Vanzolini com música de sua autoria, no caso Volta Por Cima. E também a Inezita Barroso, com a gravação de Ronda. E até eu já recebi de presente livro de minha autoria, como Eu Vou Contar Pra Vocês. Isso, porém, não é razão para que se jogue no lixo livros e discos de 78 rpm.
Neles se acha a história do Brasil.
Toco nesse assunto por uma razão: já me disseram que a Fundação Padre Anchieta há muito não aceita doação de discos nesse formato e nos formatos de compactos e LPs.
Eu, hein!
Para encerrar, uma décima do poeta repentista Allan Sales:
Zé Limeira viu Sayad
Certo dia vendo Ensaio
Disse sim é do caraio
Quando viu sua cumade
Pois Sayad virou pade
Mas sem ganhar bom salaro
Mas andava de camaro
Do timão usando um gorro
Não precisa ser cachorro
Para dar valor ao Faro.
Zé Limeira foi o poeta dos disparates, uma espécie de Salvador Dalí das letras e idéias em estado bruto. Sobre ele, o jornalista e advogado paraibano Orlando Tejo escreveu o livro Zé Limeira, o Poeta do Absurdo. Curiosidade: depois de Shakespeare, é Zé Limeira o mestre da preferência de Paulo Vanzolini, de quem, aliás, declama estes versos feitos de improviso e na forma de décima:
O velho Tomé de Souza
Governador da Bahia
Casou-se e no mesmo dia
Passou a pica na esposa
Ele fez que nem a raposa
Comeu na frente e atrás
Chegou na beira do cais
Onde o navio trefega
Comeu o padre Nobrega
Os tempos não voltam mais.
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