Meu endereço eletrônico acaba de acolher uma mensagem do meu amigo brasileiro Paulo Panayotis, grego de mente e coração, dando conta de texto escrito pelo poeta e ensaísta Affonso Romano de Sant´Anna, que compartilho com vocês:
“Cheguei em Atenas há poucos dias, ou melhor, no dia exato em que ocorreu a eleição que deveria decidir se a Grécia iria ou na permanecer na Zona do Euro. Diziam que se o novo governo rejeitasse o Mercado Comum Europeu, a Grécia estaria definitivamente perdida. Por isto, embora tenha vindo para um encontro de literatura, trouxe no bolso um plano para salvar a Grécia. Se a vida inteira tentei salvar o Brasil, porque não salvar também a Grécia? E o plano, vocês vão ver, tem a sua lógica. Trata-se de salvar um país através da cultura, e é o seguinte: em matéria de dívidas, nós é que somos todos devedores da Grécia. Se tirarmos Sócrates, Platão, Aristóteles (sem falar em uma dezena de outros pensadores gregos) a filosofia simplesmente acaba. Se tirarmos Sófocles e suas tragédias e o teatro grego as suas comédias, o teatro ocidental fica desorientado. Nem Nietszche nem Heidegger existiriam sem a Grécia. O que seria da psicanálise sem “complexo de Édipo” em Freud. O que seria de nosso vocabulário. E a riqueza dos mitos gregos? E eu nem falei ainda da ciência, da matemática, da arquitetura. E o conceito de democracia, de onde vem? Em síntese: se nos tirássemos Homero da história da literatura ela perdia seu fundamento principal. Ha algum tempo a atriz Melina Mercuri, quando Ministra da Cultura sugeriu que todos os países que roubaram monumentos gregos, os devolvessem. Eu vou mais longe e começo por dizer que nós é que temos que pagar a divida para com a Grécia. Quantos milhões de pessoas no mundo vivem da cultura grega. Ninguém paga aos gregos pelos direitos autorais. Quantos editores, professores, atores, tradutores vivendo `as custas da cultura grega? O mundo acadêmico desabaria na América e na Europa sem a Grécia. Querem saber?: nem o Renascimento italiano a que devemos tanto, existiria se não fosse a Grécia. Meu plano é simples: com o apoio da UNESCO criar o imposto sobre tudo o que importamos e usamos da cultura grega. Que os gregos modernos continuem simplesmente com suas oliveiras, dançando e quebrando pratos, abrindo suas ilhas luminosas aos turistas e oferecendo seus museus e ruínas. Nós pagaremos, olímpica e dionisiacamente. para que eles simplesmente existam. Nossa divida para com a Grécia não tem preço".
RONIWALTER JATOBÁ
Anotem: o escritor Roniwalter Jatobá vai lançar novo livro no próximo dia 10, a partir das 18h30, na livraria Martins Fontes, à Avenida Paulista, 509. O livro já está sendo impresso e tem como título Cheiro de Chocolate e Outras Histórias. E aviso logo: quem não for é filho do padre.
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