O tempo nos faz lembrar
Que a distância machuca
Traz saudade e faz pensar
Por isso fui a missa
Pagar pecado e rezar...
(Poema sobre Velho Tema; A.A.)
O primeiro dicionário da língua portuguesa, de Francisco Caldas Aulete, publicado na segunda parte do século XIX, em Lisboa, diz que saudade é “sentimento evocatório, provocado pela lembrança de algo bom vivido ou pela ausência de pessoas queridas ou de coisas estimadas”.
Dito o que ele disse, digo também que saudade é alegria e sofrimento. Neste ponto há até êxtase, mas essa é outra história.
Saudade não é, como dizem os franceses, souvenir.
Saudade é uma coisa de lascar, de arromba, de dilacerar corações. Que mexe com toda a gente.
Saudade é uma coisa tão violenta que, de tão boa, nos mata.
No dia 4 de junho de 1948, João de Barro, Alberto Ribeiro e Antonio Almeida levaram à gravação o samba A Saudade Mata a Gente, que começa assim:
Fiz meu rancho na beira do rio
Meu amor foi comigo morar
E nas redes nas noites de frio
Meu bem me abraçava pra me agasalhar
Mas agora, meu Deus, vou-me embora
Vou-me embora e não sei se vou voltar
A saudade nas noites de frio
Em meu peito vazio virá se aninhar
Saudade é uma palavra muito forte, todo mundo sabe.
Saudade é uma palavra que está em todo canto, lugar e mente.
Saudade é uma palavra que está na poesia, na literatura, na música.
A Casa Edison foi a primeira gravadora do Brasil. Começou a lançar discos em 1902. Mas a gente está falando de saudade...
O barítono carioca Vicente Celestino (1894-1968) foi o primeiro cantor brasileiro a debruçar-se sobre esse tema na canção intitulada Saudade, de Eduardo Souto.
Depois de Vicente, ídolo do rei da voz Chico Alves, muitos compositores e intérpretes falaram e continuam falando sobre esse sentimento ou sensação que mexe com a memória de qualquer pessoa seja homem, seja mulher. Alguns desses grandes: Antenógenes Silva (Saudade de Ouro Preto), Orlando Silva (Saudade), Luiz Gonzaga (Saudade de São João Del Rey), Dick Farney (A Saudade Mata a Gente), João Gilberto (Chega de Saudade)...
No dia 20 de maio de 1948, o cantor Paraguassú (Roque Ricciardi – 1890-1976), paulistano do Brás, gravou o rasqueado Saudade de Alguém, de Zé Pagão e Nhô Rosa. É gravação bonita, é letra bonita.
Em suma, saudade é dor que faz bem e mata. É tema levado a todas as artes, em todos os tempos, em todo mundo, por gente jovem, de ontem e de hoje.
A gaúcha Elis Regina (1945-1982) cantou muito bem o tema saudade.
A também gaúcha Mirianês Zabot canta muito bem o tema saudade, como autora e intérprete. Exemplo é o samba que assina com Oswaldo Bosbah: Vidas Idas. Mirianês, que faz do violão uma brincadeira, compôs uma pequena pérola na qual fala de saudade. Querem saber quem é ela? É só procurar nessa tal de internet.
No acervo do Instituto Memória Brasil (IMB) há centenas, milhares de músicas que tocam profundamente o nosso viver.
Ia-me esquecendo: datas são importantes para lembrar; por exemplo, que 30 de janeiro é o Dia da Saudade.
Saudade de Alguém: https://www.youtube.com/watch?v=k6-srdA_W3Q
A Saudade Mata a Gente: https://www.youtube.com/watch?v=pYzOSvVL1X8
Saudade: https://www.youtube.com/watch?v=fJFexFsRwVg
Chega de Saudade: https://www.youtube.com/watch?v=rZ13bQvvHEY
Vidas Idas: https://www.youtube.com/watch?v=_ddhmTSZMiI
REGINA DUARTE
Sinto saudade da grande atriz Regina Duarte.
Foi em 1965, na Globo, que ela passou a ser chamada por todos os brasileiros e brasileiras de A Namoradinha do Brasil.Sinceramente, no fundo, não tive certeza em nenhum momento que Regina virasse secretária da Cultura do Brasil. Mas que bom que virou. E daqui estou/estamos torcendo para que ela desenvolva o trabalho que nenhum dos últimos secretários desenvolveu à frente da pasta Cultura. O Brasil é rico em tudo.