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quinta-feira, 9 de março de 2023

EU E MEUS BOTÕES (60)

Um chute do Lampa por pouco não derrubou a porta. Ele estava eufórico. Estranhamente eufórico, quase babando: "Agora eu pego ele!".
Os olhos de todos se voltaram a Lampa. Barrica foi o primeiro a falar: "O que é isso, endoidou?".
Fazendo de conta que nada ouvira, Lampa abriu o jornal e aos trancos e barrancos leu a manchete: Coronel afirma que Bolsonaro ficou com joias dadas por regime saudita...
De modo brusco Barrica puxou o jornal das mãos de Lampa, que não gostou e quase rosnando entre dentes disse algo ininteligível: "Bvjrtzqblxk!".
"Calma, mano. Deixa o Lampa ler a notícia!", interrompeu Biu. "Mas ele me deixa nervoso, nem sabe ler direito esse peste!", retrucou Barrica. 
Nesse ponto foi a vez de entrar na conversa o botão letrado Zilidoro, que educadamente pediu pra ele próprio ler a notícia do jornal. Barrica olhou pro Lampa, que nada disse. Zilidoro começou: "Documento obtido pelo Estadão atesta que o ex-presidente Jair Bolsonaro recebeu no Alvorada um segundo pacote de joias da Arábia Saudita, também trazido irregularmente ao Brasil pela comitiva do então ministro de Minas e Energia, Bento Albuquerque...".
"Tá vendo? Tá vendo? Tá vendo? O cabra é um ladrão, um desmilinguido. Vou pegar e vou capar. Lugar de quem não presta são dois: cadeia ou um buraco de cemitério", falou esbravejando o destabocado Lampa. "Agora eu pego ele! Ora se pego!", acrescentou aos berros enquanto alisava seu punhalzinho de estimação. 
Do fundo da casa escutei uma voz malemolente, perguntando o que é que eu estou achando dessa história toda de joias e tal. Era Zoião. Respondi que acho um horror, uma vergonha. É um escândalo atrás do outro manchando o nome do nosso país.
Mané tomou a palavra pra perguntar se eu já lera o livro O Negócio do Jair: A história proibida do clã Bolsonaro, da jornalista Juliana Dal Piva. Respondi dizendo que esse livro foi lançado em 2022, mas que ainda não tive tempo de lê-lo. Até porque leio muita coisa. As prioridades em primeiro lugar. Acabo de ler, por exemplo, o mais novo livro do colega José Nêumanne, Antes de Atravessar. É um baita livro de poesia. Eu o recomendo, aliás.
Até então em silêncio, Zé deu um beliscão em Jão, que o encarou rindo: "Que isso, Zé?".
Tudo que Zé queria era simples: perguntar se eu sei quanto é que nós, brasileiros, estamos pagando pela permanência do ex-presidente nos EUA. Respondi dizendo que a questão é complexa, mas seguramente pelo menos 2 milhões já sairam do erário público para manter Bolsonaro no Exterior. Como ex-presidente ele tem direito a dois automóveis com motoristas, tradutor ou tradutora pessoal, meia dúzia de seguranças, hospedagem em hotel bom, alimentação ótima e tal. Uma beleza!
"Tá vendo? Tá vendo? Isso é uma vergonha!", alterou-se novamente Lampa, jurando por Deus e Nossa Senhora que "Tudo vai mudar um dia. E pra melhor".
Eu já me preparava pra dar por encerrada a nossa roda de conversa, quando Zoião perguntou se eu não escrevera algum poema para as mulheres no seu dia, 8 de março que foi ontem. Respondi que sim e mais do que depressa, Zilidoro sacou o celular e botou pra todo mundo ver e ouvir:
 

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