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sábado, 29 de abril de 2023

LICENCIOSIDADE NA CULTURA POPULAR (11)

Todos os principais compositores brasileiros cantaram e decantaram situações em que o homem e a mulher partem destemidos e prontos para gozar a vida, se me entendem. De todas as formas e maneiras. Singelas, muitas vezes, como se ouve na belezoca Festa do Casamento, que tem o Coroné Ludugero e o secretário Otrope como personagens.
A licenciosidade na cultura popular é ampla. Abrange a chamada Sete Artes, até mais.
O cantor Dicró foi um gozador. Tirou sarro de tudo, enquanto pôde. O mesmo fez o grupo paulistano Mamonas Assassinas. Tirei sarro deles em texto publicado no extinto paulistano Jornal da Tarde. Deu uma polêmica danada por eu ter dito que musicalmente o grupo não faria falta ao mercado.
Escrachado, o Mamonas brincava com tudo. A molecada esperta adorava. Gosto de Sabão Crá crá. Gosto também de Vira-Vira. Começa assim: "Fui convidado pra uma tal de suruba/Não pude ir, Maria foi no meu lugar/Depois de uma semana ela voltou pra casa/Toda arregaçada, não podia nem sentar...".
Todos os grandões e pequeninos de nossa música fizeram e continuam a fazer o que os conservadores de plantão costumam chamar de obscenidade ou pornografia explícitas. Entre esses Chico Alves, Orlando
Silva, Aracy de Almeida, Nuno Roland, Nelson Gonçalves, Paulo Vanzolini, autor do escracho Amor de Trapo e Farrapo; Zé Rodrix, Antonio Barros, Ney Matogrosso, Chico Buarque, Caetano, Milton Nascimento, Djavan, Tom Zé, Rolando Boldrin, Rita Lee, Roberto e Erasmo Carlos, Cazuza, Wando, Zé Ramalho, Ângela Ro Ro, Gabriel, o Pensador, Marisa Monte, Genival Lacerda. Todos.
Genival Lacerda, também chamado de O Senador do Rojão, foi provavelmente o artista que mais gravou músicas de duplo sentido. Do seu repertório fazem parte, por exemplo: Severina Xique-Xique, Radinho de Pilha, Mate o Véio Mate, Caldinho de Mocotó e A Brusqueta da Zezé, que começa assim: “Menino eu já comi calango assado/Comi carne de viado/ Eu já comi jacaré/ Comi rabada, feijoada, acarajé/ Mais nada se compara/ A brusqueta da Zezé…”.
Luiz Gonzaga, o rei do baião, não ficou de fora dessa parada. Gravou coisas como Ovo de Codorna, Karolina com K e Não Vendo, Nem Troco, por exemplo. No primeiro caso, ele come ovo de codorna pra ter tesão. No segundo caso, dançando num forró de pé de serra, ele funga safadamente no cangote da Karolina, que se derrete toda. E no terceiro, o causo tem a ver com uma égua de estimação "disputada" com o filho, Gonzaguinha.
A putaria implícita ou explícita na música brasileira não é de hoje. O detalhe é que a mulherada está tomando as rédeas da história.
Isso é arte?

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