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sábado, 8 de julho de 2023

LICENCIOSIDADES NA CULTURA POPULAR (30)

Pedi a Oliveira de Panelas que desenvolvesse um texto poético abordando a questão palavrão no mundo da Cantoria. Sem se fazer de rogado, lá foi ele serelepe dizendo tudo o que sabe dizer. Com lirismo, graça e tudo mais. O resultado foram 120 versos distribuídos em 20 estrofes.
Começa assim:

Na Cultura Popular
De nossa imensa Nação,
O palavrão tem espaço
Em toda nossa emoção
Não há quem não tenha dito
Algum dia um palavrão.

Ninguém procure deter
A fúria desse sujeito,
Que na hora que o bicho “incha”
Nas cavidades do peito
Se a gente tentar freá-lo
O desmantelo está feito.

Até Índio na aldeia
Diz palavrão com o tacape...
Se for necessário diga
Antes que você “derrape”
Porque o buraco é fundo
Talvez você não escape.

Ele ama a liberdade
Deixá-lo preso é tolice,
É ótimo pras coronárias
Ante tanta esquisitice.
É mentiroso quem fala
Que um palavrão nunca disse.

Você topa numa pedra
E fere o dedão do pé,
Você diz, gota serena
Moléstia de cabaré,
Nessas horas a gente sente
O bom que o palavrão é.

Acho eu que até o Papa
Se levar um machucão,
Se for forte ele não lembra
Da Virgem da Conceição
Diz inconscientemente
O nome de um palavrão.

O palavrão está na China,
Japão, Itália, Paris...
Até o nosso vigário
Quando reza na matriz
Não diz na hora da missa
Mas fora da missa diz.

Vladimir Putin na Rússia
Solta seu palavrão brabo,
Diz pensando na Ucrânia:
Dessa vez sei que me acabo,
Pensei de vencê-la fácil
Mas vou levando no rabo.

Rita Lee era famosa
Nos palavrões que dizia,
Não tinha papas na língua,
Em todos shows que fazia,
O pau rolava e cantava
Sem nenhuma hipocrisia.

Só que o palavrão não pode
Ser dito de qualquer jeito,
Com calúnia e com fobia
Com ofensa e desrespeito.
Senão perde toda graça
Se denegrir o sujeito.

Assim foi Dercy Gonçalves
A rainha absoluta,
Babaca na unha dela
Levava pau na disputa,
Em meia hora escutava
Quarenta filha da puta.

O palavrão no Brasil
Vem de nossos ancestrais!
Está dentro da política,
Nas camadas sociais,
Quanto mais o tempo passa
Mais o bicho aumenta mais.

Romário, Zico, Pelé
E outros da Seleção,
Todos os craques da bola
Ou noutra competição,
Ninguém sabe o quanto eles
Falaram de palavrão.

Dilma Rousseff enfrentou
Selvageria e tortura,
Fez o mundo inteiro ver
Os males da Ditadura,
Seus palavrões têm espaço
Dentro de nossa Cultura.

Chico Anísio, Jô Soares...
Nem precisaram de teste,
O jornalista Assis  Angelo,
Esse é um Cabra da Peste,
Difunde no mundo inteiro
Os palavrões do Nordeste.

Palavrão é uma arte
Depende como se diz,
O palhaço diz com graça,
O louco fala feliz.
Sem o palavrão vejo “furo”
Na Cultura do País.

Roberto Carlos, Ratinho...
Têm seus palavrões também,
O Rei do Baião dizia:
Eu falo e me sinto bem.
Tinhorão, gênio escritor
Falava pra mais de cem.

Lampião, Rei Virgulino
Com sua bela Maria,
Só suportava a dureza
Do Cangaço em que vivia,
Pela coragem que tinha
E os palavrões que dizia.

Os palavrões mais usados
Que o Brasileiro já viu:
“São filho de rapariga,
Vai pra puta que pariu,
Vai tomar naquele canto”
E muita gente aderiu.

Do jeito que o mundo está
Passando tanto aperreio,
Os dias densos chumbados
E o ódio ferindo em cheio,
Sei que pra gente escapar
É necessário jogar
Uns palavrões pelo meio.

No dia 23 de julho de 1981, o jornalista e historiador José Ramos Tinhorão publicou belo e analítico texto sobre o LP O Perguntador, que na ocasião estava sendo lançado à praça. Anos depois, precisamente em 2010, Tinhorão inseriu o referido texto no livro Crítica Cheia de Graça. Para acessar a leitura, clique: OLIVEIRA DE PANELAS VEM CHEIO DE RESPOSTAS EM SEU O "PERGUNTADOR"
Ainda sobre Oliveira de Panelas, clique na entrevista que fiz com ele em 2012: https://www.youtube.com/watch?v=__NTrRZ4ezE

Foto e reproduções por Flor Maria e Anna da Hora

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