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sábado, 25 de maio de 2024

LICENCIOSIDADE NA CULTURA POPULAR (100)


A escritora Clarice Lispector, de origem ucraniana, era uma pessoa muito solitária. Discreta, ela dizia muito nos seus escritos. Escreveu sobre amor, amante, sexo.
No conto A Língua do P, ela conta a história de uma jovem que por pouco, muito pouco, não foi estuprada por dois canalhas que se achavam num vagão de trem noturno. Era uma professora mineira indo dar aulas para viver, no Rio de Janeiro. Ela percebe que os dois estão falando a língua do P, combinando a hora de atacá-la. Mas o conto não termina aí e mais não digo.
Noutro conto, Ruído de Passos, Clarice cria uma situação pra lá de bonita com uma personagem de 81 anos de idade. Começa assim:

Fora linda na juventude. E tinha vertigem quando cheirava profundamente uma rosa.

Pois foi com dona Cândida Raposo que o desejo de prazer não passava.

Teve enfim a grande coragem de ir a um ginecologista. E perguntou-lhe envergonhada, de cabeça baixa:

– Quando é que passa?

– Passa o quê, minha senhora?

– A coisa.

– Que coisa?

– A coisa, repetiu. O desejo de prazer, disse enfim.

– Minha senhora, lamento lhe dizer que não passa nunca. Olhou-o espantada.

– Mas eu tenho oitenta e um anos de idade!

– Não importa, minha senhora. É até morrer.

– Mas isso é o inferno!

– É a vida, senhora Raposo.

A vida era isso, então? essa falta de vergonha?

– E o que é que eu faço? ninguém me quer mais… O médico olhou-a com piedade.

– Não há remédio, minha senhora.

– E se eu pagasse?

– Não ia adiantar de nada. A senhora tem que se lembrar que tem oitenta e um anos de idade.

– E… e se eu me arranjasse sozinha? o senhor entende o que eu quero dizer?

– É, disse o médico. Pode ser um remédio…


Assim, a velha senhora acabou alcançando o Nirvana por meios próprios. Quer dizer: acariciando o próprio corpo como insinuou no palco a cantora estadunidense Madonna em show realizado em abril de 2024, no Rio de Janeiro. À propósito o maestro Júlio Medaglia publicou artigo na Folha de S.Paulo, edição de 9 de maio, em que classifica a apresentação da artista como “um show pornográfico”. Mais: “Pessoas do mesmo sexo se chupando, se esfregando; Madonna de joelhos tendo Pabllo Vittar atrás de si beijando seu traseiro; selvagerias gerais etc”.

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