Como o pai Pedro I, Pedro II era doido por mulher.
São raras as primeiras fotos de mulher pelada publicadas na imprensa. Isso não quer dizer que já no século 19 não existissem publicações dirigidas aos onanistas de plantão.
Escritores que o tempo tornaria famosos enchiam páginas de jornais com histórias picantes assinadas com o próprio nome ou pseudônimos, caso de Coelho Neto e Olavo Bilac.
O jornalista português Joaquim Alfredo Gallis, o Rabelais, também fez muito sucesso na sua terrinha e cá no Brasil. Entre os inúmeros títulos que publicou acham-se O Marido Virgem; Devassidão de Pompeia e As Mártires da Virgindade, entre outros.
Esses autores eram classificados pelos conservadores como canalhas e pornográficos.
O tempo passou até que, na passagem dos 40 para os 50 do século 20, surgiram Zéfiro e suas revistinhas “para homens”.
O tempo passou e chegou também a ditadura militar quebrando o silêncio da madrugada perena de 1° de abril de 1964.
Em 1979, começou a abertura política. O governo era do Gal. Geisel.
Foi por ali, por aquele tempo, que a Editora Três bancou uma editoria própria para revistas de conteúdo erótico, com fotos classificadas pelos conservadores de plantão como “ginecológicas”. E entre os cartunistas convidados para ilustrar as tarefas e dar mais vida às revistas se achavam Mariza (Mariza Dias Costa; 1952-2019) e Fausto.
Mariza já está lá em cima.
O jornalista Leonel Prata foi chamado pela Três para editar as publicações dirigidas ao público masculino. Com prazer, fui ouvi-lo.
Aqui ele conta tudo e mais um pouco do esforço que fez para pôr nas bancas as revistas.
Não foi fácil a sua “convivência” com a Censura. Confira:
ASSIS ANGELO — Você foi um dos editores de revistas eróticas mais badalados do Brasil. Sob a sua batuta foram às bancas Homem, Privé, Chic e várias outras. Pergunto: ainda há espaço para esse tipo de revista?
LEONEL PRATA — Infelizmente não há mais espaço, nem para revistas de mulher pelada nem para assuntos gerais, a não ser publicações de grandes reportagens (Piauí, por exemplo) ou crônicas.
ASSIS — Você acha que a Internet acabou com as revistas de mulher pelada?
LEONEL — Sim, não tenho a menor dúvida. Hoje em dia as mulheres peladas estão a um toque de dedo no celular para qualquer tipo de público – rico, pobre, infantil, juvenil, adulto, velho. E a pessoa ainda escolhe qual mulher quer ver nua.
ASSIS — Alguma comparação entre sites pornô e revistas masculinas?
LEONEL — Não dá pra comparar. Os tempos eram outros, não havia sites.
Com a Homem, fomos os pioneiros em mostrar o sexo feminino em close – isto não existia e pouquíssima gente tinha acesso fácil a uma xereca na cara. A molecada punheteira era o nosso grande público, porque a maioria não via nem conhecia isso ao vivo, assim tão de perto.
Nas nossas revistas fazíamos jornalismo – entrevistas com artistas e personalidades, grandes reportagens, denúncias, seções, etc, sempre com o tema voltado para o sexo. Isso também ajudava a vender. Inventamos a fotonovela erótica, que se aproximaria um pouco do site pornô de hoje, só que sem sexo explícito nem órgão genital masculino à mostra – uma das exigências de Brasília quando liberaram o pelo pubiano. Os filmes pornôs eram de difícil acesso. Hoje os sites dão de mil a zero em qualquer setor.
ASSIS — As revistas de mulher pelada para homem ocorreram no período da abertura política no Brasil, a partir de 1979, governo Geisel. Como você vê aquele período, o período da abertura?
LEONEL — No começo, a censura ficava em cima, não podíamos mostrar pelo pubiano. Mandávamos as provas de fotolito para Brasília para aprovação da Dona Solange Hernandes (1938-2013). Quando escapava um pelinho qualquer, colocavam tarja preta. E nos devolviam todo o material. Foram abrindo as pernas aos poucos.
Os editores de revistas masculinas foram chamados à Brasília para conversar com a censura – finalmente iam liberar o pelo pubiano nas nossas publicações. Essa reunião de Brasília não durou meia hora. O Dr. Madeira, chefão da censura, entrou na sala todo perfumado e falou: a partir de agora está liberado o pelo pubiano nas revistas de vocês, só não pode órgão sexual masculino, cenas de sexo explícito, lesbianismo... E nos dispensou.
Fazíamos 28 títulos por mês, quase um por dia. Fizemos uma edição especial da Homem com uma bunda na capa e no miolo só mulheres com os pelos à mostra e a genitália escancarada. Vendeu 300 mil exemplares em um dia.
Apesar dessa “abertura”, sofremos vários processos por causa das nossas revistas. Minhas digitais estão em várias delegacias de polícia de São Paulo. Vivia “tocando piano”. Chegamos a prestar depoimentos na Polícia Federal por causa de uma edição da revista Privé. Nesse dia, a chamada imprensa escrita, falada e televisada, curiosa, nos esperava na porta da sede da PF. Saímos pelos fundos.
ASSIS — Tudo ou quase tudo é comércio. O sexo também. Você vê hipocrisia na comercialização do sexo, da prostituição?
LEONEL — A hipocrisia está em todos os lugares desde sempre na história da humanidade. Não seria diferente no sexo. Ainda mais que sexo vende muito.
ASSIS — O tema é abordado e discutido desde sempre. Tema sexo. Desde a antiguidade. Está na Bíblia e em todo canto. Você vê alguma normalidade na busca pelo sexo?
LEONEL — Todo mundo tá sempre buscando sexo na vida, ou porque ainda não sabe como é na prática, apesar de ver no celular e no cinema, ou porque quer sempre mais – ver ou fazer. Sexo é matéria que não se esgota nunca, nem sai de moda.
ASSIS — O que você estaria publicando hoje nas revistas de putaria?
LEONEL — Se ainda fosse vender nas bancas, evidentemente. Bancas de revistas agora vendem poucas revistas e jornais impressos (outro produto em desuso), brinquedos, cigarro, isqueiro, bonecas...
Mas se fosse pra fazer, publicaria o que sempre publicamos: fotos de mulheres lindíssimas, mais reportagens, entrevistas, curiosidades etc., de acordo com os dias de hoje. Sexo dá assunto e vende sempre.
ASSIS — O puritanismo invadiu todas as classes sociais, incluindo jovens. Que diabo é isso? Puritanismo tem cura?
LEONEL — Puritanismo não tem cura. É foda. Aliás, é tudo foda.
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Equipe da Editora 3 |
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