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sábado, 7 de setembro de 2024

LICENCIOSIDADE NA CULTURA POPULAR (127)

Baixinho, gordinho, feinho… Tinha uma inteligência invulgar.
Esse era João Paulo Emílio Cristóvão dos Santos Coelho Barreto (1881-1921), que assinava com pseudônimo de João do Rio.

Suas reportagens chamavam atenção do grande público. Eram feitas nos morros, puteiros, casas de umbanda. Por aí. O submundo era, de certo modo, o seu mundo. Simples e muito inteligente, era admirado e respeitado pela plebe e pela elite. Tinha sempre o que dizer. E ainda encontrava tempo para bebericar com amigos, brincar o Carnaval e outras festas do povo. Também para escrever e enviar cartas às pessoas de que gostava, como o português João de Barros.

Para Barros, João do Rio escreveu uma carta em que fala de orgia. Curiosa e cheia de fofoca. Deve ter sido enviada a seu amigo, um ex-ministro português, em fevereiro de 1912.


Meu caro João,
Chegou a Ema. Criaturinha insignificante. O José Moraes (o empresário) literalmente sem dinheiro, porque ela em dois anos comeu-lhe duzentos contos e estragou-lhe vários negócios, não quer ser amante e ama-a. A Ema dá ataques e fornica com toda a gente. É do sangue. A terrível senhora que me domina pela ameaça do suicídio, a senhora Aurea, apesar de ser divorcée do Porto Carrero e de sociedade, deu de fazer o Carnaval em pijama, comigo e com a Ema. Passamos quatro dias nessa orgia de que se não fala…

A Ema aí referida na carta era uma atriz bastante conhecida à época.

Ainda naquele ano de 1912, sempre no tom de fofoca, João escreveu ao seu velho xará português:

João, queridíssimo,
Tenho uma coisa impagável. Lembras-te do Amaral França, o elegante senhor do Paiz? Era o amante da madame Camacho! O marido, aquele cretino com ares de boneco de alfaiate barato – soube! Soube e teve ciúme. Então mandou cinco, nota bem, cinco amigos seguirem a feia Camacho e quando a bela Camacho (digo bela agora porque não se compreende uma adúltera feia) palpitava nos braços do Amaral, na sua garçonnière do Russell, deu-se o flagrante delito mais escandaloso do Rio de Janeiro. O divórcio é amigável. Camacho chora (isto é, Camacho fêmea) enquanto Camacho de barba olha o céu pensando ver o chifre. Isso causou na bande a impressão do raio. O nosso incorrigível ingênuo Sampaio ficou prostrado, e assegurou-me que felizmente a Marguett era angélica…

João não morreu pobre nem rico. Viveu e deixou dúzia e meia de livros pra quem quiser saber de histórias reais e inventadas que trazem a assinatura do famoso repórter.

No seu último livro A Mulher e os Espelhos (1919), João do Rio conta histórias curtas do cotidiano carioca. Nessas histórias, os personagens mais frequentes são mulheres com seus dramas pessoais; amor, sexo, adultério e violência. São textos limpos, claros, atualíssimos.

Síntese era a marca desse João.

sexta-feira, 6 de setembro de 2024

QUEM MATOU O PAI DE PEDRO I?


O dia 6 de setembro de 1822 foi, para o então imperador Pedro I, um dia inesquecível.
Naquele distante dia 6, ali já pela boca da noite, o imperador acabara de deixar a casa do seu ministro José Bonifácio onde comera um moooonte de coisas. Tomou vinho e tal. Estava em Santos, SP. Em seguida pôs o pé na estrada, melhor: a mula, picou a mula em direção à Capital paulista. Montado nela.
Conta a história que foi um tormento essa viagem de Pedro I.
Ainda segundo a história, o Pedro não deu grito nenhum em prol da independência do Brasil. O grito que provavelmente tenha dado saiu do seu gogó na surdina, num gemido. Ou nuns gemidos, pois o moço estava com o intestino em desarranjo total, provocado pelas tranqueiras que comeu na casa do seu Bonifácio.
E essa é a história. Uma história.
The Guardian: The beautiful anthem
Outra história dá conta do nosso hino nacional. Na sua origem era todo instrumental e trazia o título Hino 7 de Abril. Depois, outro título: Marcha Triunfal. E finalmente, já no fim do século 19, com o Império transformado em cinzas, ganhou a obra o título definitivo de Hino Nacional Brasileiro. Porém ainda sem letra. A letra viria logo depois, assinada pelo poeta Osório Duque Estrada.
Pedro I era pai de Pedro II e filho de Dom João VI, que era filho do rei Pedro III de Portugal.
Pedro I, que morreu de tuberculose aos 35 anos de idade, entrou para a história como o herói que deu o grito da independência às margens do riacho Ipiranga. A história diz o contrário, mas o pintor paraibano Pedro Américo incumbiu-se de espalhar a história que quase todo mundo sabe, através do quadro Grito do Ipiranga. Esse quadro foi feito em Paris no ano de 1888. Encomendado.
O pai de Pedro I foi vítima de assassinato provocado por um veneno identificado como arsênio. Isso ocorreu quando ele tinha 58 anos de idade. Há quem diga que tenha sido vítima do filho Miguel, que acabaria perdendo batalha ferrenha travada contra o irmão Pedro. Foi coisa séria. Guerra Civil no Porto, com mortos, feridos e tal. Culminou com o exílio de Miguel determinado pelo mano Pedro.
Como o filho Pedro I, Dom João VI viveu boa parte da vida pulando cerca. A sua mulher, Carlota Joaquina, deu troco e gerou filhos que não eram dele. Bastardos. Pois, pois.
O Hino Nacional foi tocado pela primeira vez dia 13 de abril de 1831, no Teatro São Pedro de Alcântara, RJ.
Ah! Sim: o autor da música do nosso Hino Nacional foi Francisco Manuel da Silva (1795-1865). Esse hino foi considerado o mais bonito dentre todas as nações pelo prestigiado jornal britânico The Guardian, em 2002.

quinta-feira, 5 de setembro de 2024

CEGOS EM CAMPO

Driblando com segurança 
Graça e categoria 
Nossos cegos na França 
Fazem o que Deus faria
Com guizos e bola nos pés
Da noite criam o dia

No campo esportivo, atletas não têm, nem deveriam ter, inimigos. Adversários, sim. Salutar, até porque uma coisa é diferente da outra.
Pessoalmente, acho bonito quando adversários se abraçam amigavelmente após perder uma disputa. Seja qual for.
A Paralimpíada ora em andamento na França tem sido aos meus olhos algo incrível. 
O Brasil lá na França, ora ocupa o 3° ou 4° lugar. Isso não é pouco. 
Com os meus olhos cegos vejo o mundo. 
Ser cego, nascido assim ou não, acho que não é o fim do mundo.
Fim do mundo é ficar de braços cruzados esperando o. bem bom que do céu não vem.
E aí?
A tudo nos adaptamos. Mas não é de mim que aqui quero falar.
Neste momento está começando o jogo entre a seleção de futebol de cegos do Brasil e a seleção de futebol de cegos da Argentina. É lá em Paris, pelas semifinais. 
Bom, vamos ganhar. E se não ganharmos a culpa é minha, simplesmente porque recusei-me a entrar em campo para participar da disputa. Porém, estou torcendo por nossa vitória. 
Vamos lá: fé em Deus e pé na bola!

quarta-feira, 4 de setembro de 2024

POR QUE ESQUECEMOS NOSSOS ARTISTAS?

Foi não foi, ouço dizer que o Brasil é um país sem memória, desmemoriado.
Sim, acho mesmo que somos um povo sem memória. Quer dizer, o povo faz e o que faz o vento leva.
Vários personagens da nossa música popular completaram em brancas nuvens o centenário de nascimento. Entre esses o compositor e violonista Billy Blanco, o instrumentista Manezinho da Flauta e a violeira Helena Meirelles.
Pois é, esses artistas não poderiam sumir de vez da nossa memória. Se assim for, afunhenhadas estarão as próximas gerações de brasileiros e brasileiras. 
Eu conheci de perto Billy Blanco, um cara bom de papo e violão. Mais: excepcional compositor, autor de uma obra extensa e rica. Foi parceiro de artistas como Tom Jobim. Com Tom, Billy compôs Sinfonia do Rio de Janeiro. Beleza! Foi em 1960.
No início da década de 70, Billy compôs sozinho títulos que couberam certinho no LP Paulistana, homenagem sensibilíssima à Capital paulista. O disco foi à praça pela Odeon, em 1974. Dele participaram os cantores Pery Ribeiro, Claudya, Elza Soares, Miltinho...
Muitas músicas de Billy Blanco foram gravadas por muita gente boa como a paulistana Inezita Barroso.
E Manezinho da Flauta, hein?
A rigor, Manezinho, sobrinho de Pixinguinha, não era compositor. Era músico. Adotou, muito cedo, a flauta como instrumento para nos encantar. Gravou dois LPs. O primeiro O Melhor dos Chorinhos, lançado em 1967; e Gente da Antiga (1968).
Helena Meirelles foi uma figura e tanto. Uma pessoa incrível. Uma pessoa desabrida, que durante a juventude comeu e pagou o pão que o Diabo amassou. Sua casa foi um cabaré onde tudo fez para sobreviver. A sua história ela me contou com graça, sem raiva, sem amargura. Mulher fortíssima, de personalidade contagiante. Seus discos, poucos, saíram pela extinta gravadora Eldorado.
Além de saudade, esses artistas nos legaram uma obra marcante.
Foi neste ano de 2024 que Paulo Vanzolini, misto de compositor e cientista, completou 100 anos de nascimento. Era paulistano, como Inezita Barroso.
Bom, no próximo dia 21 de dezembro completam-se 100 anos de nascimento do flautista Altamiro Carrilho. Vamos homenageá-lo?
Foi em São Paulo que nos encontramos pela última vez. Em 2012, acho. Confira aí, clicando:



terça-feira, 3 de setembro de 2024

BOULOS NELES!

Boulos e Assis
Uma latomia dos infernos, foi o que foi o incompreensível debate com postulantes ao cargo de prefeito da maior cidade do Brasil: São Paulo.
O que presenciei na TV Gazeta anteontem domingo foi isso e muito mais: os "cãesdidatos" Paulo não-sei-o-quê e não sei mais quem dizendo absurdos uns aos outros. Dessa latomia inominável saíram de ladinho Boulos e Tabata, curiosamente descendentes de nordestinos. Isso é só um detalhe.
Vivo em São Paulo há quase meio século. Aqui tenho aprendido muito e mais ainda ei de aprender para passar pra frente, às novas gerações, o que aprendi e aprenderei no correr do tempo.
Foi aqui, em Sampa, que fiz grandes amizades e tal.
Foi aqui que construí um dos maiores e mais importantes acervos culturais do Brasil. Nesse acervo tem discos de tudo quanto é rotação: 76, 78, 33, 45 e tal e tal. Tem milhares de partituras musicais, jornais e revistas antigas, livros aos milhares etc.
Tomara que São Paulo não caia nas mãos de um desses cãesdidatos cujas fuças foram apresentadas no último dia 1°.
Boulos neles!

domingo, 1 de setembro de 2024

BOULOS GANHA DEBATE NA TV GAZETA

O Brasil corre risco. Seriíssimo. 
Pois é, o crime organizado continua mais organizado do que nunca. As pessoas do bem que se cuidem!
Há minutos findou o debate na TV Gazeta com os cinco dos dez candidatos a prefeito da maior cidade do Brasil e da América Latina: São Paulo. 
O debate começou pontualmente às 18h.
O debate mediado pela jornalista Denise Campos Toledo, começou com um cara chamado Pau, Paulo, Plabo ou Plablito sei lá!
Pois, pois, não entendi. Nomezinho esquisito. Escroto, pois grosseiríssimo. Parece que é cabeçona, porém oca. E dizendo essa cabeça oca coisas ininteligíveis. 
O papo na Gazeta durou, mais ou menos, umas duas horas. Na real, pouquíssimas propostas foram apresentadas aos telespectadores/eleitores.
Meus amigos, minhas amigas vou lhes dizer uma coisa: o nosso cidadão de categoria invulgar, Guilherme Boulos, entrou no debate inteiríssimo e dele inteiríssimo saiu. Apresentou poucas propostas, mas apresentou algumas como o que pretende fazer, se eleito, no campo da saúde em Sampa.
O Boulos vai para o segundo turno e indo para o segundo turno terá, é certo, o apoio dessa mulher incrível chamada Tábata.
Se Tábata for para o segundo turno, tenho certeza de que o Boulos a apoiará.
O bem comum tem de andar de mãos dadas. Sempre.
Quando eu digo que o Brasil corre risco é porque o Brasil corre risco.
Vocês sabem o que é isso?
Estou em São Paulo há 48 anos, uma semana e três dias. Cheguei em 1976, no dia 22 de agosto de 1976. Pois, pois.
Quando eu digo que o Brasil corre risco é porque entendo perfeitamente que o nazifascismo está tentando pôr de volta suas garras assassinas.
Hitler...
Imaginemos a direita se articulando no mundo todo... E aí tem o nosso binóculo identificando perigos como Pau, Paulo, Plabo ou Plablito... Se assim for, cuidemo-nos! Cuidemo-nos!

LICENCIOSIDADE NA CULTURA POPULAR (126)

Franz Kafka

Num tempo não muito distante era comum escritores morrerem vitimados pela tuberculose.

Fora o mal que atacou seus pulmões, Kafka era de pouca conversa, de pouco namoro e tal. Seus relacionamentos amorosos eram raros. Preferia frequentar bordéis a manter relações duradouras com mulheres. “Tenho tanta necessidade de alguém para ter um contato unicamente amigável, que ontem voltei para o hotel com uma prostituta. Ela é velha demais para ser melancólica, ela somente se lamenta; tanto que não fica espantada que não sejamos tão gentis com uma prostituta como com uma amante. Eu não a consolei, pois ela também não me consolou”, isso ele disse em carta para seu amigo e editor Max Brod. Diante disso tudo, da fala que ele dá nessa carta, houve uma jovem que lhe despertou atenção. Com essa jovem, uma burguesa de Praga chamada Milena Jesenská (1896-1944), ele manteve uma longa correspondência que acabaria por virar um livro: Cartas a Milena (1952).

Porém, porém de novo, com ela ele nunca manteve relações sexuais, físicas. Tipo amor platônico. Ele foi, partiu para a Eternidade, antes dela.

No Brasil teve um escritor que foi o tempo todo comparado a Kafka. Seu nome Murilo Rubião (1916-1991). Era bom, mas não era tudo isso. Pelo menos no que se refere à Kafka.

Murilo Rubião estudou e fez um monte de coisas, como um ser inteligente que era. Foi jornalista, antes disso advogado, contista e tal.

A obra literária do mineiro Rubião é pequena, mas densa. Deixou 30 e poucos contos espalhados em um, dois, três… quatro… Talvez cinco ou seis livros. Coisa pouca, como se vê!

Foi bom?

Murilo foi ótimo.

Antes de Murilo Rubião, houve outros autores que tentaram navegar nas ondas de Kafka, mas não conseguiram. E talvez até nem quisessem, como o bom João do Rio.

O João foi o primeiro grande repórter da imprensa brasileira. Mais: como repórter ele retratava a realidade que via na sua cidade do Rio. Ou seja, fazia o que todo bom repórter deve fazer.

Esse João deixou histórias escritas no mundo real e irreal. 

João foi grandão.


Foto e ilustrações por Flor Maria e Anna da Hora.

sábado, 31 de agosto de 2024

LICENCIOSIDADE NA CULTURA POPULAR (125)

Otto Maria Carpeaux

Safado, gozador, brincalhão e um tanto puto Limeira raramente titubeava pra pôr sua viola no peito e dela tirar som com versos assim:


O véio Thomé de Souza, 

Governador da Bahia, 

Casou-se e no mesmo dia 

Passou a pica na esposa... 

Ele fez que nem raposa: 

Cumeu na frente e atrás, 

Chegou na beira do cais, 

Onde o navio trefega, 

Cumeu o Padre Nobréga,

Os tempos não voltam mais.


Absurdo é o irreal, o que não se vê, coisa ou algo que não se vê.

Na literatura é comum classificar tal gênero como “realismo fantástico” ou “mágico”.

Nessa classificação entra claramente o tcheco Franz Kafka (1883-1924).

Kafka, segundo o austríaco Otto Maria Carpeaux (1900-1978), era “um rapaz franzino, magro, pálido, taciturno. Eu não podia saber que a tuberculose da laringe, que o mataria três anos mais tarde, já lhe tinha embargado a voz”.

Assim trouxe Carpeaux suas reminiscências com Kafka.

E o mesmo Otto Carpeaux lembra como conheceu o autor de Metamorfose (1915):


“Kauka.”

“Como é o nome?”

“KAUKA!”

“Muito prazer.”

Esse diálogo, que certamente não é dos mais espirituosos, foi meu primeiro encontro com Franz Kafka. Ao ser apresentado a ele, não entendi o nome. Entendi Kauka em vez de Kafka. Foi um equívoco.

Hoje, o “Kauka” daquele distante ano de 1921 é um dos escritores mais lidos, mais estudados e – infelizmente – mais imitados do mundo.


Era do caralho!

sexta-feira, 30 de agosto de 2024

LICENCIOSIDADE NA CULTURA POPULAR (124)

Em agosto de 1983 a Escola de Comunicação e Artes da USP promoveu um seminário intitulado Jornadas Impertinentes. Desse seminário participaram intelectuais de destaque na vida acadêmica de São Paulo. Os professores Jerusa Pires Ferreira e Luís Milanesi estiveram à frente de tudo. O tema gerou polêmica e acabou no livro Jornadas Impertinentes: O Obsceno.
Na apresentação do livro a professora Jerusa diz que por muito tempo passou a acompanhar o que se produzia sobre o assunto na área da Cultura Popular, incluindo folhetos de cordel. Pra ela foi tudo surpresa, lembra: “Pensando na Cultura Popular tradicional nordestina e na literatura de folhetos populares, hoje conhecida como de Cordel passei a observar que os pesquisadores, no caso de ‘indecências’ ou ‘indecentes’ costumavam assumir duas posturas. Ou um silêncio comprometedor e um véu idealizante ou a revelação sensacionalista do tipo: Nordeste ataca de Pornô Cordel”.

Leu muitos folhetos e inteirou-se da vida e da obra do poeta repentista Zé Limeira (1896-1954).

Zé Limeira é uma lenda da cantoria nordestina desenvolvida ao som de viola. Sobre ele o jornalista e também poeta Orlando Tejo (1935-2018) escreveu O Poeta do Absurdo. Esse livro virou clássico do gênero por razões óbvias: Limeira era um destabocado cantador e cantava misérias da vida e do sexo. Exemplo:


Frei Henrique de Coimbra

Sacerdote sem preguiça

Rezou a primeira missa

Perto de uma cacimba

Um índio passou-lhe a pimba

Ele não quis aceitar

E hoje vive a chorar

Embaixo de um pé de jurema

O bom pescador não teme

As profundezas do mar


Pimba, pra quem não sabe, no Nordeste é pênis.

Zé Limeira era absurdamente troncho no verso de metrificação certa e rima torta. Ele:


Pedro Álvares Cabral

inventor do telefone

começou tocar trombone

na Volta de Zé Leal

Mas como tocava mal

arranjou dois instrumento

daí chegou um sargento

querendo enrabar os três

Quem tem razão é o freguês

diz o Novo Testamento


O Zé Leal aqui citado é referência ao famoso jornalista paraibano que assinava coluna no extinto jornal O Norte, PB.

Zé Limeira tinha admiradores em todo canto.

Em São Paulo, um de seus grandes admiradores foi o cientista Paulo Vanzolini (1924-2013), PhD em Harvard e compositor musical, nas horas vagas. É dele o belo samba Ronda, gravado pela cantora Inezita Barroso, em 1953.

Vanzolini também gostava de putaria. É dele:


Eu sou Paulo Vanzolini, 

animal de muita fama. 

Eu tanto corro no seco. 

Como na vargem da lama. 

Mas quando o marido chega, 

me escondo embaixo da cama.


No correr do tempo foi inventado um mote pra lembrar o destabocado cantador:

 

Eu querendo também faço

Igualzinho a Zé Limeira


Muitos cantadores já cantaram e ainda cantarão versos com base nesse mote. Ivanildo Vila Nova e Severino Feitosa, por exemplo:


Vila Nova:

Rei Davi foi deputado

Na Assembléia do Acre

Kruschev fez um massacre

Nas traíras de Condado

Jesus Cristo era cunhado

De Romano de Teixeira

Escreveu A bagaceira

Mas se esqueceu do bagaço

Eu querendo também faço

Igualzinho a Zé Limeira


Feitosa:

Confusão foi na Bahia

Pai-de-santo e curandeiro

Anchieta era pedreiro

No farol de Alexandria

Hitler nasceu na Turquia

Vendia manga na feira

A Revolução Praieira

Degolou Torquato Tasso

Eu querendo também faço

Igualzinho a Zé Limeira…


O estudante Pedro Araujo de Oliveira escreveu um estudo científico, para a Universidade Federal do Rio de Janeiro, intitulado O Poeta Zé Limeira No Imaginário do Cancioneiro Brasileiro – Relações Entre Cultura Letrada e Oral (2022). Lá pras tantas, ele diz: “Zé Limeira, conhecido como o Poeta do Absurdo, a cujas incertas autorias foram atribuídos versos de fantástica imaginação e delírio, sendo por vezes comparados à literatura surrealista”.

A expressão “poeta do absurdo” faz parte do título de um livro sobre Limeira, publicado em 1971 pela gráfica do jornal O Norte, de João Pessoa, PB.

Nas primeiras páginas desse livro escrito por Orlando Tejo, o ex-governador da Paraíba José Américo de Almeida, define Limeira como:


…Alto, forte, sorridente, impressionava pelo físico e maneiras destabocadas.

Andarilho de sete fôlegos, trazia o matulão a tiracolo e não largava a bengala de aroeira, feita um bordão.

Meio carnavalesco, usava roupa de mescla com um lenço encarnado no pescoço. Seus dedos eram grossos de anéis.

Cantando, com uma bonita voz, erguia, desdenhoso o rosto guarnecido de grandes óculos escuros…


Sobre  Zé Américo, o cantador Zé Limeira teceu loas. Exemplo:


Eu me chamo Zé Limeira,

Cabra macho do Sertão,

Serrote que serra cedra

No tupete do baião…

Se Zé Américo quisé,

Os home vira muié,

Jurema vira aigodão…


Foto e reproduções de Flor Maria e Anna da Hora


quinta-feira, 29 de agosto de 2024

O FOLCLORE NA OBRA DE TARSILA


O mês de agosto, muitos dizem, é o mês do cachorro louco. Mas nesse agosto, não custa lembrar, é comemorado internacionalmente como o mês do Folclore. E isso, sim, é coisa boa.
São muitos os personagens que habitam o enorme e imaginário campo do folclore. Tem Curupira, Saci-Pererê, Caipora, Boitatá, Mãe d'Água, Boto, Negrinho do Pastoreio, Lobisomem, Mula Sem Cabeça, Homem do Saco, Corpo-Seco, Cuca...
As origens da Cuca remonta há muito tempo. Vem das bandas europeias. Ali dos lados da Espanha, Portugal. Quando chegou ao Brasil? Não sei.
Ainda menino eu ouvia muito sobre a Cuca.
A Cuca é bruxa, uma velha bruxa. Horrorosa. Com cabeça de jacaré, pés de pato e unhas de vampiro. Não houve, no meu tempo, criança que não se assustasse ao falar da Cuca.
O folclore é riquíssimo de causos, cousas, lendas e tal.
Isso tudo me faz lembrar das artes. Plásticas, inclusive.
Em 1924 a pintora paulista Tarsila do Amaral criou um quadro bem bonito a que intitulou A Cuca. Vejam só!
Faz 100 anos que Tarsila legou ao Brasil o quadro que retrata a imaginária Cuca.
Faz 100 anos também que a mesma artista legou ao Brasil a obra Morro da Favela.
Tarsila do Amaral é a autora da obra-prima Abaporu, criada em 1928.
Dessa mesma Tarsila é o quadro mais caro de um artista plástico brasileiro: A Caipirinha, pintado em 1923 e vendido num leilão, em 2020, pela bagatela de 57,5 milhões de reais. 
Tarsila do Amaral morou alguns anos na França. Voltou ao Brasil em 1922, mesmo ano da Semana de Arte Moderna. Dessa Semana ela participou. Em 26 casou-se com Oswald de Andrade (1890-1954) e, três anos depois, separou-se.
Tarsila do Amaral nasceu no dia 1º de setembro de 1886 e morreu no dia 17 de janeiro de 1976.
Pois é, em 1924 Tarsila do Amaral pintou dois belos quadros. A Cuca e Morro da Favela.
A propósito de Morro e de Favela lembro de um cara conhecido como MC Daleste. Seu nome verdadeiro era Daniel Pedreira Sena Pellegrini, que foi morto a tiros no interior de São Paulo quando apresentava um show. Isso foi em 2013. A polícia não achou o autor dos disparos que acabou com a vida do artista. No ano seguinte, em 2014, o processo praticamente parou. E é assim que a coisa está. Ouça Daleste cantando o tema pintado por Tarsila:



quarta-feira, 28 de agosto de 2024

ANISTIA TEM DATA: AGOSTO, 1979



Hoje 28 de agosto marca o dia da sanção da lei n° 6.683. Essa lei, que ficou conhecida como Lei da Anistia, foi sancionada pelo general-presidente de plantão, à época, João Figueiredo (1918-1999). Sim, aquele mesmo que não gostava do cheiro do povo. "O cheirinho do cavalo é melhor", dizia.
O tal general foi o último ditador do ciclo militar, no Brasil.
O golpe militar, que teve o apoio de poderosos civis, foi deflagrado em 1964. Durou 21 anos.
Muita gente boa teve de deixar o País. Milhares, incluindo artistas da nossa música, escritores e tal.
O último presidente que antecedeu o atual, Lula, tentou fazer o que fizeram os militares de 64. Não conseguiu e está solto, por incrível que pareça.
Precisamos nos cuidar, pois o Capeta e filhotes continuam a rondar esta nossa terra brasileira.
Foi o mesmo Figueiredo quem deu ao finado Silvio Santos o SBT. Isso no dia 19 de agosto de 1981. Há 43 anos, pois.
Foram dois cearenses os principais intermediários de S.S. com o general. Estou falando da dupla Dom e Ravel. Dom morreu em 2000 e Ravel, em 2011.
Uma vez entrevistei o Ravel. Foi numa biblioteca pública da zona Leste de Sampa. Não me recordo qual exatamente. Lembro que levei o amigo Paulo Vanzolini para este papo. Ravel não permitiu que a nossa conversa fosse gravada, mas deve ter foto por aí. Ele contou da sua amizade ruidosa com Silvio e defendeu-se dizendo que a marchinha Brasil Ame-o ou Deixe-o foi feita em homenagem aos campeões do tricampeonato de futebol. "Não fizemos essa música para agradar o regime militar".
Além de Brasil Ame-o ou Deixe-o, gravado originalmente pelo grupo Os Incríveis, Dom e Ravel geraram outras "pérolas" ufanistas como Você Também é Responsável, Obrigado ao Homem do Campo e Só o Amor Constrói.
É bom que se diga que a Lei da Anistia não veio de graça. Foi resultado de enorme mobilização do povo brasileiro. E isso há exatos 45 anos.
Entre os artistas obrigados a deixar o Brasil naquela época, estavam Chico, Caetano, Gil, Vandré.
Ditadura nunca mais, não é mesmo?
João Bosco e Aldir Blanc compuseram para Elis Regina gravar a música O Bêbado e a Equilibrista. Ouça:



terça-feira, 27 de agosto de 2024

NAVEGANDO COM CAMÕES E JÚLIO MEDAGLIA

O livro que acabo de pôr nas ruas, nas prateleiras, A Fabulosa Viagem de Vasco da Gama, continua chamando a atenção por aí afora.
Ontem 26 abri a boca pra dizer um monte de coisas maravilhosas a respeito da língua portuguesa e de um de seus artífices: Luís Vaz de Camões.
Pra escrever A Fabulosa Viagem de Vasco eu me inspirei no clássico Os Lusíadas, originalmente publicado no ano de 1572.
Usei os principais personagens criados e usados por Camões na sua fabulosa obra.
Eu disse isso e disse mais à jornalista Tania Morales, titular do programa Noite Total, transmito ao vivo pela Rádio CBN.
Esse meu novo livro tem versão em braile e fonte ampliada para quem tem baixa visão. Foi apresentado pelo maestro Júlio Medaglia e pelo poeta repentista Oliveira de Panelas.
A respeito desse livro, escreveu Medaglia: 

CAMÕES NA PONTA DOS DEDOS
Júlio Medaglia

No período imediatamente posterior à Idade Média, às vezes chamado de “Noite de dez séculos”, ocorreu uma grande revolução na cultura ocidental com o nascimento dos três maiores gênios da literatura latina de todos os tempos: Dante, Cervantes e Camões. 
Curiosamente, nesse mesmo período, chamado de “Renascentista” e já entrando no estilo “Barroco”, ocorreu também a maior revolução histórica na área música. Se até então fazia-se primordialmente música vocal, a partir desse momento o ser humano resolveu fazer música fora do corpo. Começou a inventar instrumentos de cordas, sopros e teclados que inauguraram gigantescos recursos sonoros, presentes na música universal até os dias de hoje. Mas como era possível fazer essas novas “máquinas” artificiais produzirem a beleza artística? Tangendo-se as cordas do violino com a ponta dos dedos, as teclas dos cravos e logo em seguida do piano, com a ponta dos dedos e abrindo e fechando os furinhos dos tubos dos instrumentos de sopro, com a ponta dos dedos. 
Levaria, porém, 500 anos para que os seres humanos desprovidos da faculdade da visão, pudessem ler a mais importante obra de Camões, Os Lusíadas. E foi neste século XXI que um dos maiores jornalistas, pesquisadores, escritores e compositores deste país, o paraibano Assis Ângelo, encontrou a solução para esse drama. Depois de desenvolver uma das mais brilhantes e multifacetadas carreiras de intelectual, por um grave problema de saúde, ele ficou cego. Como profundo conhecedor da obra de Camões, e mais inquieto que nunca, Assis Ângelo resolveu permitir que outros seres humanos que sofreram do mesmo infortúnio, o da perda da visão, pudessem ler a obra do grande escritor português. E como? Com a ponta dos dedos. 
Foi assim que, para celebrar neste ano de 2024 os 500 anos do nascimento do grande escritor português, Assis Ângelo “traduziu” para o idioma Braile sua obra imortal numa criativa adaptação livre para canto e cordel. Se os olhos dos cegos se situam na ponta dos dedos, Os Lusíadas, em sua nova transcodificação realizada pelo brilhante paraibano, ganha novo impulso de vida – a obra em si e o prazer do cultivo da literatura daqueles que perderam a visão.



JÚLIO MEDAGLIA

O maestro Júlio Medaglia não é brinquedo não, é nome importante para a vida cultural do nosso país.
Não é de hoje que Júlio faz história e nos encanta com sua batuta e com seu falar bem claro.
O mais novo livro do ex-todo poderoso da TV Globo, José Bonifácio Oliveira Sobrinho, O Lado B de Boni, lê-se:


FORÇA BOULOS!

Política bem feita é boa política e fazer isso é salutar para uma população, para o povo.
A política é o meio de ligação e diálogo entre as pessoas.
A má política leva a caminhos perigosos em prol de quem não presta.
Perdi meus olhos, mas continuo ouvindo com clareza tudo que ocorre a minha volta.
O que ouvi ontem 26 no Roda Viva me deixou pasmado, estupefato.
Nordestino que sou, desde cedo puseram-me na cabeça a máxima segundo a qual "Homem não chora".
Eu era menino ainda quando ouvi isso.
O tempo passou, ou eu pelo tempo continuo passando, chorei.
A primeira vez que chorei eu tinha ali uns 20 e poucos anos.
A primeira vez que chorei senti um alívio danado. Alívio idêntico voltei a sentir quando um dia eu disse no programa que a querida jornalista Maju tinha na Rádio Globo que depois dos olhos meus perdidos, só pensava em acabar comigo jogando-me do alto e tal... Eu estava muito aperreado, depressivo, lá embaixo, que nem um cão sem dono.
Ouvi no programa da TV Cultura Guilherme Boulos chorar. Choro profundo. Tocante. E esse choro foi provocado pela pura maldade de um cara chamado Pablo não-sei-o-quê, candidato a prefeito de São Paulo por um partido da direita escrota, irresponsável, maligna, canalha, destruidora, que não prima em instante algum pela honestidade e pelo bem comum. Esse cara, o cara que disse o que disse e fez Boulos chorar, merece cana. Não de beber, mas cana de cadeia, sem cobertor pra se esquentar.
Guilherme Boulos é um cara que merece respeito.
O vício de Boulos é o vício de quem ama verdadeiramente a vida e quer o bem de todos.
Boulos faz a boa política e tem plenas condições de ser o próximo prefeito da cidade de São Paulo.
Um trecho aí do programa Roda Viva. Clique:

segunda-feira, 26 de agosto de 2024

O BRASIL PEGANDO FOGO

Mais uma vez o fogo está se estendendo Brasil afora. Terrível. Milhares de animais mortos e a flora se acabando.
No momento, do jeito que o fogo corre, todos os recordes podem ser batidos no que diz respeito à destruição do meio ambiente. É fogo em todo canto.
Em 1963, o Brasil registrou a maior fogueira florestal. Foi no Paraná, que agora está de novo sendo consumido.
Aquele ano de 63 rendeu uma música de Luiz Gonzaga. Título: Fogo no Paraná. Ouça:




domingo, 25 de agosto de 2024

VIVA ZÉ LIMEIRA!

Neste glorioso ano de 2024 há nascimentos e mortes a serem lembrados.
O poeta repentista paraibano de Teixeira Zé Limeira, por exemplo, nasceu nos finais do século 19. Foi uma figura e tanto.
Pouca gente, certamente, ouviu falar desse Zé somente após pesquisa comprida feita pelo jornalista e improvisador de versos Orlando Tejo.
Zé Limeira foi um dos violeiros mais importantes do reino da cantoria. Não deixou nada gravado e no seu tempo era considerado pelos seus colegas como um doido. Sim, simplesmente, um doido.
Orlando conheceu pessoalmente Zé Limeira. Ele disse isso a mim e a meio mundo.
Tão difícil quanto fazer a exaustiva pesquisa foi a publicação dessa pesquisa em livro.
Nenhuma editora convencional topou lançar a obra feita por Orlando. 
Em 1971, a direção do extinto jornal O Norte, PB, topou levar avante a empreitada. 
E foi assim que o Brasil todo tomou conhecimento da existência fabulosa de Zé Limeira. O livro sobre sua história ganhou o título de O Poeta do Absurdo. 
Zé Limeira morreu no dia 24 de dezembro de 1954. Há 70 anos, pois.
No dia 24 de dezembro, só que no ano de 1524, morria vítima de malária o navegador português Vasco da Gama. Sim, aquele mesmo que heroicamente chegou à Índia.
Camões nasceu no mesmo ano em que morreu o grande navegador. 
Curiosidade: Gama chegou à Índia 70 anos depois de muitas tentativas feitas por outros navegadores.
Grosso modo, o poeta Luiz Vaz de Camões contou essa história no seu clássico Os Lusíadas que foi publicado em 1578.
Vasco da Gama morreu com 55 anos de idade.
Camões morreu com 55 anos de idade.
Quando o jornalista e poeta Orlando Tejo morreu  em 2018, o Brasil lembrava o centenário da morte de Olavo Bilac. 
Bilac nasceu em 1865, mesmo amo do nascimento do nosso primeiro grande cordelista: Leandro Gomes de Barros. 
Leandro e Bilac morreram vítimas da gripe espanhola, lá no distante ano de 18.
Amanhã 26, por volta das 21h, estarei conversando com a Tânia Morales sobre as proezas de Vasco da Gama e sobre a adaptação poética que fiz sobre Os Lusíadas em braille. O papo ao vivo será transmitido pela rádio CBN.

sábado, 24 de agosto de 2024

HÁ 70 ANOS MORRIA GETÚLIO VARGAS

O grande dia está chegando. É amanhã 25, no mesmo lugar em que foi apresentado aos paulistanos: rua Nestor Pestana, 196, em março de 1954, bem ali no centro onde outrora proliferaram todo tipo de boate, safadeza e tudo mais. 

O pintor carioca Emiliano Di Cavalcanti (1897-1976) teve influência efetiva na criação desse teatro. É dele um belíssimo mural posto já à entrada. 

Amanhã o concerto de reinauguração será transmitido ao vivo pela TV Cultura, ali por volta das 17h.

A reinauguração do Cultura Artística coincide com seus 70 anos de fundação. 

Foi também há 70 anos, mais precisamente no dia 24 de agosto de 1954, que o gaúcho presidente da República Getúlio Vargas enfiou um tiro certeiro na caixa do peito. Foi pá pufo! E fim de uma era.


sexta-feira, 23 de agosto de 2024

PAULISTANOS GANHAM DE VOLTA UM GRANDE TEATRO


Após 16 anos de expectativas e agruras, o Teatro Cultura Artística, localizado ali na Nestor Pestana, Centro SP, será reinaugurado depois de amanhã: domingo, 25.
O Cultura Artística eu o frequentei bastante. Várias vezes lá estive assistindo concertos ao lado de João Carlos Martins e Geraldo Vandré. 
Várias vezes assisti e bati palmas para o querido maestro Eleazar de Carvalho (1912-1996).
Eleazar foi uma figura incrível!
Muitas vezes andei pelas calçadas de São Paulo ao lado dele dizendo coisas, trocando ideias; ele lá da altura de um gigante e eu ali, pequeno que nem um anjo, sem asas, bebendo saber.
Bons tempos!
Lembro de momentos que andei andando em ônibus com Vandré. Foi Vandré quem me apresentou a Eleazar. 
Lembro também de momentos em que andei de táxi com Zé Ramalho cá em Sampa, dirigindo-nos a um encontro num boteco com Zuza Homem de Melo (1933-2020), no famoso bairro boêmio de Vila Madalena. 
Éramos eu e Eleazar...
Éramos eu e Vandré..
Éramos eu e Zé Ramalho...
A memória a mim tem substituído os meus olhos. Inda bem, né?
Bom, o Cultura Artística volta aos braços e corações dos paulistanos como presente sem comparação. 
O Cultura Artística foi inaugurado em março de 1950.
Em 1954, ano do 4° centenário de fundação da cidade de São Paulo, estreou no Cultura Artística a Orquestra Sinfônica de SP (Oesp), sob a regência do maestro Sousa Lima (1898-1982).
Eleazar de Carvalho foi um dos diretores da Orquestra Sinfônica do Estado de São Paulo. 
Eleazar foi também o criador do Festival de Inverno de Campos do Jordão, SP.
Há muita história pra ser contada sobre o Cultura Artística e seus maestros, incluindo, Diogo Pacheco.
Pacheco adorava whisky e na casa dele molhei meu bico às pampas. Eu ainda fumava... Mas essa é outra história. 
Ah! Sim: o fogo tomou conta do Cultura Artística na escuridão de 17 de agosto de 2008.



quinta-feira, 22 de agosto de 2024

ESSE 22 DE AGOSTO É HISTÓRICO!


O dia 22 de agosto é um dia muito importante na minha vida. 
Esse dia é importante por muitas razões. A primeira delas diz respeito a minha chegada em Sampa.
Hoje faz exatamente 48 anos que pisei o solo paulistano, vindo diretamente da capital paraibana.
Vim a passeio, depois de receber alta de um hospital em João Pessoa. Na ocasião eu estava aparentemente livre dos bacilos de Koch.
Depois disso devo lembrar que o dia 22 de agosto foi o dia, em 1942, que o Brasil declarou guerra contra a Alemanha nazista e contra a Itália fascista, cuja pronúncia é "fachista".
O Brasil declarou guerra depois de ter cinco navios mercantes afundados por forças submarinas alemãs. Foi aí que o governo Vargas tomou providências mandando pracinha botar pra quebrar na terra de Caruso. 
O dia 22 de agosto foi também, pra mim, dia importante porque foi o dia que a história registrou a morte do ex-presidente JK.
JK morreu carbonizado após seu carro perder a direção e chocar-se frontalmente contra uma carreta carregada de gesso. Foi na Dutra, Km 165. Eu vi o estrago resultante desse choque, pois estava eu no ônibus que me trouxe à capital paulista.
Notícia leve: o dia 22 de agosto marca o Dia Internacional do Folclore. 
Eu já falei muito sobre folclore cá nesse Blog e em livros. 
No dia 22 de agosto de 1998, por iniciativa da Câmara Municipal de São Paulo, fui agraciado com o título de Cidadão Paulistano. O meu já encantado amigo José Ramos Tinhorão estava lá formando à mesa de ilustres convidados no nobre salão da Câmara.  Falou de improviso enaltecendo valores que duvido ter até hoje. Isso tudo dito após a apresentação da Banda da Polícia Militar, tocando o Hino Nacional. 
Nesses anos todos de vida (nasci em 52) poderia eu dizer que já posso morrer em paz, certo? Errado!
Se depender de mim jamais morrerei até porque julgo ter ainda muito o que dizer. E se não bastasse, ainda tenho uma bela flor para cuidar... No meu jardim, esse flor recebeu o nome de Maria.
Bom, à Sampa eu cheguei para ficar. 

quarta-feira, 21 de agosto de 2024

BOM PAPO COM BOULOS


É sempre bom fazer e reencontrar amigos.
Há pouco, ali pelas 9h, eu, minha filha Clarissa e a querida Anninha, com dois "N", fomos ao restaurante Baião pra tomar um cafezinho ao lado do nosso futuro prefeito Guilherme Boulos. Cabra bom, com moradia garantida cá no meu peito. 
Lá estavam pessoas maravilhosas, como são todas aquelas que andam ao lado de Boulos: a cantora Fatel, o cantor, compositor e radialista Luiz Wilson.
E mais muita gente boa no Baião eu reencontrei: o cordelista arretado Marco Haurélio, a xilografa Lucélia, o jornalista escritor sem papas na língua Xico Sá, o cordelista e rabequeiro Pedro Monteiro e o deputado federal Alfredinho. E mais e mais e mais... Muita gente!
Foi um reencontro marcante com todo esse pessoal bonito e sabido.
Várias pessoas pegaram o microfone pra falar sobre o Brasil e, especialmente, sobre o Nordeste. 
Boulos falou, falou e falou muito bem sobre a Paraíba. Ele tem parentes nascidos em Campina Grande, a segunda cidade mais importante paraibana. A primeira é João Pessoa, a Capital.
A Capital paulista acolhe nordestinos e nordestinas desde os anos 30 do século passado. Foram esses pioneiros a ajudarem a construir a São Paulo que é hoje.
Bom, aproveitei a ocasião para presentear Boulos com os livros A Presença dos Cordelistas e Cantadores Repentistas em São Paulo e A Fabulosa Viagem de Vasco da Gama, que acaba de ser lançado em braille e distribuído gratuitamente às entidades que acolhem pessoas com todo tipo de deficiência visual.
A Fabulosa Viagem... está sendo publicado em papel, por demanda. É só clicar e pedir!


domingo, 18 de agosto de 2024

O LADO "B" DE SILVIO SANTOS

Bom, vocês sabem muito bem o que eu acho do Sílvio Santos. 
O que eu acho dele, está estampado no título do texto publicado ontem 17 neste Blog.
O Silvio agora ao morrer conseguiu juntar unanimidades. Positivamente. Todo mundo, de canto a canto continua a bater palmas. Ele foi isso, foi aquilo...
Mas, sabemos nós, que nem todo mundo é santo, nasce santo ou morre santo. Embora Silvio carregue no próprio nome "Santos".
Cá no nosso acervo sobre cultura brasileira há alguns LPs e compactos nos quais se ouve o Silvio cantando marchinhas de  carnaval com letras em duplo sentido. Putaria pura. Nesses discos há também músicas que falam do Corinthians, time pelo qual torcia. Não ardorosamente, mas com fé em Deus pela grana.
Silvio Santos não era bobo não. De tudo fez um pouco na rua, no rádio e na TV. 
Dom & Ravel foi uma dupla que marcou presença na música nacionalista. 
Quem não se lembra daquela coisa Brasil Ame-o ou Deixe-o?
Uma vez o Ravel (1947-2011) me contou histórias loucas sobre como o Silvio fez para ganhar a concessão do Governo para o seu SBT. A propósito, amanhã 19 completam-se 43 anos de existência do SBT.
Silvio, segundo Ravel, pra se sair bem fazia parceria com todos os demônios. 
Uma vez o jornalista e publicitário Archimedes Messina (1932-2017) me disse que estava processando o dono do SBT por não pagar devidamente os direitos autorais do jingle Silvio Santos Vem Aí. Isso ele me disse no programa que eu apresentava nas noites de sábado na all TV, a primeira televisão feita e levada ao ar pela Internet. Nesse processo, Messina levou algo em torno de 1,5 milhão. 
Outro processo perdido por Silvio foi o da jornalista paraibana Rachel Sheherazade. Ela levou 500 paus, por injúria, calúnia e tal.
Bom, Silvio Santos partiu deixando mais de 600 processos nos quais é acusado disso e daquilo.
Além de marchinhas sacanas de Carnaval, Silvio gravou outros gêneros musicais do tipo junino. Fora isso, também gravou discos narrando histórias infantis.
Amanhã 19 marca os 110 anos de nascimento da cantora Aracy de Almeida, a principal intérprete de Noel Rosa. Aliás, Aracy começou a carreira ali com seus 20 anos gravando riso de criança, samba do Noel.
É isso, minha gente!

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