O
inverno chegou ontem 21, no começo da tarde. Era fato esperado, marcado,
previsto como as demais estações e todos os trens programados em todas as
linhas, daqui e dacolá.
O
que não chega com data marcada é chamado de imprevisto, o que chega
derrepentemente. Exemplo? O sumiço da luz dos meus olhos: fui dormir outro dia,
acordei e tudo continua noite.
Isso
é um imprevisto.
Informam-me
que cerca de 80% da população do mundo sofre de algum tipo de deficiência visual.
Você, por exemplo, que usa óculos de grau é deficiente.
Mas
nada é demais nesta vida, nem o fim do mundo.
Perder
a luz dos próprios olhos não é o fim do mundo, não é mesmo?
Então,
aí vai um texto poético, construído no modo sextilha. Esse modo é construído em
estrofes de seis versos de sete a onze sílabas. Pois bem, é assim:
Eu vejo além
da vista
Pelo sinal do
não ou do sim
É tudo muito
fácil!
Não tem o bom
e o ruim?
Basta apenas
escolher
Eu mesmo digo
assim:
Vejo com os
teus olhos
E caminho com os
meus pés
É teu o meu pensamento
Eu sou quase
quem tu és
Neste mundo
meio torto
De Marias, Joões
e Josés
Os teus olhos
me trazem
Imagens da
natureza
O movimento
das águas
No fluir da
correnteza
O voar dos
passarinhos
E de Deus toda
a grandeza
Os teus olhos
são para mim
Uma estrada
iluminada
Num horizonte
sem fim
Toda de
pérolas cravejada
Mas sem teus
olhos, meu Deus!
O tudo seria
nada
Sem teus olhos
eu não veria
Rumos na
escuridão
Esperança no
porvir
Ao cantar uma
canção
Sem os teus
olhos eu não veria
A vida à luz
da emoção
Eu não veria
também
Um Pererê por
aí pulando
Um boto
caçando moça
E em noite muito
escura
Vagalumes te
alumiando
Não veria um
arco-íris
No céu
estrelas brilhando
A terra
botando flores
No parque
crianças brincando
E cenas
engraçadas como
Um gago bêbado
cantando
Em resumo: eu
não veria
Rumos na
escuridão
Esperança no
porvir
Ao cantar uma
canção
Teus olhos são
como o quê
O bater do meu
coração
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