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quinta-feira, 20 de outubro de 2022

"VAMOS COM LULA PELO BRASIL!"

 
É falsa a ideia de que somos um povo alegre.
Em 1928, o paulistano Paulo Prado levou à praça o livro Retrato do Brasil, com o subtítulo Ensaio sobre a Tristeza Brasileira. Esse livro alcançou três edições no mesmo ano de 28.
O título do livro de Prado já diz tudo.
Em 1941, o austríaco Stefan Zweig (1881-1942) publicou o livro Brasil, Um País do Futuro.
Retrato do Brasil traça um doloroso perfil da gente brasileira. Dói, mas é verdade.
De 28 pra cá, a tristeza brasileira só aumentou, em consequência do altíssimo índice de desemprego, fome e miséria.
O livro de Zweig é, com todas as letras, um livro de conteúdo otimista.
O País do Futuro referido por Stefan Zweig ainda está pra nascer. 
Stefan Zweig matou-se, junto com a mulher, um ano depois de lançar Um País do Futuro, no dia 23 de fevereiro.
O livro de Paulo Prado continua sendo cópia da nossa cara. Infelizmente.
Mas uma coisa é certa: precisamos nos reinventar, acreditando ser possível a transformação do negativo com o positivo.
Ouvi há pouco Simone Tebet dizer que o Brasil não aguenta mais viver sob o negacionismo bolsonarista. Estamos quebrados, ela disse. E conclamou: "Vamos com Lula pelo Brasil!".
Por enquanto, alegria mesmo só no carnaval. Aliás Carnaval é o título do livro do baiano Jorge Amado (1912-2001).
Mas até no carnaval há tragédias, como nos conta o poeta Carlos Paraná (1932-1970): 
 
Nasceu Maria quando a folia
Perdia a noite, ganhava o dia
Foi fantasia seu enxoval
Nasceu Maria no Carnaval

E não lhe chamaram assim como tantas
Marias de santas, Marias de flor
Seria Maria, Maria somente
Maria semente de samba e de amor

Não era noite, não era dia
Só madrugada, só fantasia
Só morro e samba Viva Maria
Quem sabe a sorte lhe sorriria

E um dia viria
De porta-estandarte
Sambando com arte
Puxando cordões
E em plena folia
Decerto estaria
Nos olhos e sonhos
De mil foliões

Morreu Maria quando a folia
Na quarta-feira também morria
E foi de cinzas seu enxoval
Viveu apenas um Carnaval...
 
O carioca Zé Kéti (1921-1999) também pegou o carnaval como tema e cantou, tirando a máscara:
 
Tanto riso, oh quanta alegria
Mais de mil palhaços no salão
Arlequim está chorando pelo amor da Colombina
No meio da multidão

Foi bom te ver outra vez
Tá fazendo um ano
Foi no carnaval que passou
Eu sou aquele pierrô
Que te abraçou
Que te beijou, meu amor
Na mesma máscara negra
Que esconde o teu rosto
Eu quero matar a saudade
Vou beijar-te agora
Não me leve a mal
Hoje é carnaval

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