O dia 9 de novembro de 2022 foi um dia brabo, barra pesada. Nesse dia, de frio e calor em São Paulo, partiram para a Eternidade a baiana Gal Costa e o paulista Rolando Boldrin.
Conheci Gal no tempo em que eu ainda morava em João Pessoa, PB. Tudo muito rapidamente, no centenário teatro Santa Rosa, que ficou lotado por meio mundo que queria vê-la cantando. O trânsito parou e foi tudo muito bonito.
Gal Costa deixou um repertório constituído de 1.080 músicas, incluindo sambas, forrós, baiões e tal. Ela gravou Trem das Onze (Adoniran Barbosa) e Assum Preto (Luiz Gonzaga/Humberto Teixeira), entre outros gêneros e ritmos.
Boldrin eu o conheci de perto.
Em 1993 ele e eu fomos chamados pela direção da extinta Continental para produzirmos uma série de discos sob o título geral de Som da Terra. Ele passou lá em casa e dirigindo me levou no seu carro até a sede da gravadora, que era ali na avenida do Estado. Durante uma reunião, Boldrin pediu uma grana alta. Não toparam pagar e ele não topou fazer a série, que ficou comigo. O resultado, que saiu em 1994, foi um pacotão com 26 CDs, 26 LPs e 26 fitas K-7.
Iniciei a série Som da Terra reunindo os principais violeiros de São Paulo. O primeiro deles, o pioneiro Cornélio Pires. A série encerrei com um disco contendo um belíssimo repertório de Boldrin. Ele gostou. Disse que adquiriu o CD em Nova Iorque, pois estava de férias.
Em 2006, Boldrin levou-me ao palco de onde gravava o seu Sr. Brasil. Plateia lotada, foi ele dizendo: "Esse cabloco aqui é muito bom. É Assis Ângelo, que vocês já conhecem".
Confesso que não sou muito tímido, mas ali ouvindo Boldrin dizer o que disse, acabrunhei-me.
Antes, poucos anos antes, convidei Boldrin a participar do programa São Paulo Capital Nordeste. Esse programa, líder de audiência na rádio Capital (AM 1040), era por mim apresentado nas noites de sábado. Ele foi e levou a tira colo uma garrafa de vinho que bebeu todinha enquanto eu transmitia o programa, ao vivo.
A partida de Boldrin para a Eternidade foi uma partida não combinada.
Rolandro Boldrin e Júlio Medaglia nos estúdios da TV Cultura |
Conversando ontem 9 à noite com o maestro Júlio Medaglia, ouvi: "Pois é, compadre. O dia foi pesado, mesmo. De manhã nos deixou a Gal e à tarde, Boldrin".
Medaglia teve importância fundamental na construção do movimento Tropicalista. Caetano frequentava sua casa, cá em Sampa. Gal, também. Ele lembra que Gal, muito novinha, costumava sentar-se muito à vontade no chão da sua casa. Cruzava as pernas e o vestidão enfeitava tudo.
Quanto a Boldrin, o maestro conta que o ouvia frequentemente nos corredores da Cultura: "A última vez, faz uns três meses. Se tanto. Tiramos uma selfie (ao lado)".
Fica o registro.
Ah, sim! Ia-me esquecendo: há uns 3 meses eu compus Sr. Boldrin, em homenagem ao amigo. Veja:
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