Seguir o blog

quinta-feira, 7 de julho de 2022

A BIENAL DAS MULTIDÕES

“Eu nunca vi tanta gente reunida num evento só”, disse o cordelista Klévisson Viana.
O radialista baiano Carlos Silvio, vai na mesma linha: “É muita gente, de fato. É um evento de encher os olhos e esvaziar o bolso, pois por cá está tudo muito caro”.
Klévisson e Silvio referem-se à 26ª Bienal Internacional do Livro de São Paulo, aberta ao público às 10 horas de sábado 2 no Expo Center Norte.
A Bienal reúne 500 editoras distribuídas em 182 estandes e espaços culturais como Cordel e Repente, que tem à frente Klévisson Viana e o apoio de várias editoras. “A Câmara Brasileira do Livro, CBL, está nos dando muito apoio”, diz Klévisson.
O presidente da CBL, Vitor Tavares, diz esperar um público de 600 mil pessoas. Mas é quase certo que esse número já passou. Pode chegar à casa do milhão.
A 26ª Bienal Internacional do Livro de São Paulo tem nesta edição nomes famosos como o criador da Turma da Mônica, Mauricio de Sousa; o filósofo Sérgio Cortella; o historiador Darlan Zurc; o cantor e compositor Tom Zé e os jornalistas Míriam Leitão e Laurentino Gomes.
Maurício e sua turma provocaram grandes filas na Bienal, deixando o famoso desenhista todo pimpão. “Os meus personagens são baseados em histórias reais, histórias que me contam ou que eu mesmo vivi”, conta.
A Cortez Editora, além de Cortella, está lançando 4 novos títulos: As Aventuras do Monge Tantan; Mãe, pode levar?; O estranho dia de Zacarias; Diferentes Sim. Desiguais, jamais! e Didática Sensível, contribuição para a Didática na Educação Superior.
Darlan Zurc, que está lançando o livro A Fúria de Papéis Espalhados, diz que está entusiasmadíssimo: “Essa é a primeira vez que participo de um lançamento de livro meu num evento tão importante como esse”.

À esquerda: João Gomes de Sá, Klévisson Viana e Carlos Silvio. Ao centro: Darlan Zurc

O bom baiano Tom Zé, por sua vez, está tendo um livro lançado sobre a sua
trajetória na música popular: Tom Zé, O Último Tropicalista, de Pietro Scaramuzzo (Sesc).
Miriam Leitão, jornalista de grande prestígio, também estará na Bienal no próximo sábado 9 lançando mais um livro: A democracia na armadilha — crônicas do desgoverno (Intrínseca). Além dela, outras duas jornalistas,vão estar na Arena Cultural da Bienal discutindo problemas atuais que vivem o Brasil e o mundo: Daniela Arbex e Ilze Scamparini.
Laurentino, que já vendeu em 10 anos cerca de 3,5 milhões de títulos, está lançando o último volume da trilogia Escravidão.
Entre os autores internacionais se acham: o português Valter Hugo Mãe, a moçambicana Paulina Chiziane, o norte-americano Nathan Harris e a espanhola Elena Armas.
Além dos nomes até aqui citados, há muitos outros nacionais como Rouxinol do Rinaré, Itamar Vieira Jr, Ailton Krenak, João Gomes de Sá e Moreira de Acopiara, que lançou um novo livro: Lampião na Trilha do Cangaço.
Na enormidão do Expo Center Norte há espaço para crianças e deficientes se
Moreira de Acopiara, na Bienal
divertirem.
Num desses espaços havia contadores de histórias para cegos e surdos. Entre esses contadores, Andréia Aparecida da Silva Queiroz e Larissa Purvinni.
Uma das publicações que mais despertaram a curiosidade da petizada foi Dorinha e a Turma da Mônica — Brincando pelo Brasil, em braille e com belíssimas ilustrações.
Braille é uma linguagem para cegos, criada no século 18 pelo francês Louis Braille.
Fora brincadeiras e contação de histórias, artistas populares do Nordeste deram a sua graça como a menina sanfoneira Francine Maria. “Ela faz um forró arretado! É encantadora”, diz Carlos Silvio que saiu da Bienal levando leitura para o filho Murilo.
Klévisson Viana, autor de muitos livros e centenas de folhetos de cordel, está lançando A Mala do
Francine Maria
Folheteiro (Editora Tupynanquim). “Esse livro reúne alguns trabalhos que publiquei originalmente em folhetos e também poemas inéditos. Foi apresentado pelo brasilianista norte-americano Mark Curran”, é Klévisson falando.
A Bienal Internacional do Livro de São Paulo teve origem em 1951, com o título: Feira Popular do Livro. Essa Feira começou na Praça da República, no centro da Capital paulista e em 1956 teve sua última edição no Viaduto do Chá.
Naquele mesmo ano, o mineiro João Guimarães Rosa (1908-1967) lançava o seu livro mais famoso, Grande Sertão: Veredas.
Em 1961, com apoio do Museu de Arte de São Paulo (Masp), a Feira virou Bienal Internacional do Livro e das Artes Gráficas. A ideia era divulgar livros, editores e autores, naturalmente. Em 1970, sem o apoio do Masp, a Bienal ganhou o nome que tem hoje: Bienal Internacional do Livro de São Paulo.
A Bienal deste ano é dedicada a Portugal.
O presidente de Portugal, Marcelo Rebelo de Sousa, esteve pessoalmente prestigiando o evento. Enquanto isso, o presidente do Brasil achava-se sabe-se lá onde!
Curiosidade: Pesquisas indicam que um brasileiro lê dois ou três livros por ano. Ai, ai, ai.
No repertório da nossa música popular há vários títulos que tratam de literatura. Exemplo: O Livro, de Tereza de Fátima Rodrigues de Carvalho e Eduardo Pacheco de Carvalho. Ouça: https://youtu.be/hyxlaVnfUH4
Tom Zé está lançando um novo álbum, contendo 11 faixas. Dentre essas: A Língua Brasileira. Ouça também: https://youtu.be/MtnyOboxCYk E por não ter lá muito o que fazer, fiz:


quarta-feira, 6 de julho de 2022

CONGRESSO DE MALANDROS

No momento, e já faz tempo, o Brasil e os brasileiros estão no mato sem cachorro. Penando. E os políticos, grosso modo, estão fazendo tudo para que tal situação permaneça.
Os caras do Centrão estão, que nem irmão siameses, juntinhos e inseparáveis em torno do orçamento secreto. Comportam-se como "Maria-vai-com-as-outras". Fazem o que desejam seus chefes. Basta ver o que ocorre na Câmara e no Senado.
É muita malandragem. Fazem tudo pra não perder a boquinha.
O presidente da Câmara, Arthur Lira, executa com minúcias os desejos políticos do aloprado Bolsonaro. Está ora em andamento para aprovação a tal PEC "kamikaze" ou "vale-tudo". Essa PEC passa por cima de tudo quanto é lei violando a Constituição.
PEC significa Proposta de Emenda à Constituição. Segundo a proposta:
O plano do governo Bolsonaro, a três meses das eleições, prevê aumentar o valor do chamado Auxílio Brasil de R$ 400,00 para R$ 600,00; dobrar o valor do Auxílio Gás recebido bimestralmente, para R$ 120,00, e ampliar os recursos para o programa Alimenta Brasil (que financia a aquisição de alimentos para doação a famílias de baixa renda)... Quem pode ser contra isso?
O problema é que isso só valerá até o final deste ano, isto é, até o final das eleições. 
A PEC ainda prevê beneficiar caminhoneiros e taxistas. Hmmm... 
Ao fim e ao cabo serão mais de 40 bilhões de reais acrescidos aos gastos públicos federais. 
Os brasileiros estão sofrendo sim. E no final tudo recairá sobre nós mesmos.
À propósito a PEC Kamikaze já passou com facilidade pelo Senado.
O presidente do Senado, Rodrigo Pacheco, está se preparando para matar no peito a proposta de instalação de uma CPI para apurar as irregularidades ocorridas no Ministério da Educação e Cultura, MEC. Corrupção e tal. Pacheco vai ler a proposta de abertura da CPI hoje ou amanhã, mas só será instalada, se for, após as eleições de outubro. E aí já viu, né? Vai ter CPI do MEC coisa nenhuma. E nós que nos lixemos!
Isso pode dar judicialização. Há precedentes no STF.
Em 2005 o ministro Celso de Melo, hoje aposentado, determinou  ao então presidente da Casa dos Senadores, Renan Calheiros, que abrisse uma CPI para apurar as safadezas que rolavam em torno dos bingos. E assim foi feito.
Bom, o Coringão ganhou ontem na Argentina às 23:51, nos pênaltis, do Boca Junior e passou às quartas de final da Libertadores da América. 
Acho que foi Nelson Rodrigues quem disse um dia que futebol é, além da "alegria" do povo, o "ópio" do povo.
Então, tá.

segunda-feira, 4 de julho de 2022

SEM BALÃO NO CÉU

 Em vários pontos do País, o São João ainda não terminou. Caso de São Paulo, Paraíba, Pernambuco, Bahia e não sei mais aonde.
Em São Paulo criminosos costumam soltar balões, ameaçando a Natureza e a natureza das coisas.
Ontem 3 foram vistos vários balões nos arredores do aeroporto de Guarulhos. Um perigo dos infernos!
Ontem 3 também foram vistos balões soltos no Jaguaré, Butantã e Ipiranga.
No bairro do Ipiranga, zona Sul da Capital paulista, balões foram postos a passeio sobre o museu que tem reinauguração prevista pra setembro, quando o Brasil comemorará 200 anos de independência de Portugal.
Soltar balão dá cadeia, independentemente da época em que criminosos o soltam. A propósito Téo Azevedo e eu compusemos há uns 15 anos a marchinha junina Sem Balão no Céu, que o cantor Emídio Santana gravou em disco. Ouçam:

domingo, 3 de julho de 2022

JOSÉ NÊUMANNE, UM CRAQUE DAS LETRAS (2, FINAL)

Assis e Nêumanne no lançamento do livro
Lua Estrela Baião − A História de Um Rei
Durante muito tempo eu e Nêumanne frequentamos ambientes, como a Livraria Cultura, onde se achavam grandes figuras da vida cultural brasileira como Arnaldo Xavier, Fernando Coelho, Roniwalter Jatobá, Mário Chamie (1933-2011), Marcos Rey (1925-1999) e Lygia Fagundes Telles (1918-2022).
Circulei por vários jornais, TVs e emissoras de rádio.
Deixei a TV Globo para assumir a chefia da assessoria de imprensa da Secretaria de Agricultura do Estado de São Paulo. Por lá fiquei pouco tempo, pois Nêumanne queria-me na sua equipe de política do Estadão. E lá fui eu chefiar a editoria de Política do famoso jornal criado em 1875 por um grupo de liberais republicanos.
Tempos agitados e Nêumanne firme, fazendo história.
Em breve depoimento, narra Nêumanne:
A vida de jornalista profissional me encaminhou para a política quando assumi a editoria dos assuntos no Estadão a convite do editor Miguel Jorge em 1986. Antes fui repórter de polícia no Diário da Borborema de Campina Grande e da Geral na Folha de S.Paulo, tendo me mudado para a sucursal de São Paulo do Jornal do Brasil. Fui para a sede do jornal no Rio para assumir a secretaria e depois a chefia da redação. Voltei para a Sucursal, quando recebi o convite para o Estadão, onde, depois, seria editorialista daquele diário e depois chefe dos editorialistas do Jornal da Tarde. Quando este fechou, tornei-me editorialista do Estadão, até sair da empresa em 2 de fevereiro de 2021. Como editor de Política, cobri a Assembleia Nacional Constituinte, ocasião em que a atividade política no País deixou de ser um serviço público e passou a ser um negócio sórdido. A consciência disso e a virada para comentarista na rádio Jovem Pan e na Eldorado e também nas emissoras de TV das Redes Manchete e SBT e da TV Gazet me tornou uma figura solitária no jornalismo brasileiro. Não me considero um jornalista imparcial, porque tenho lado, o do cidadão e contribuinte. Mas, sim, independente, livre de amarras com governo, partido político ou ideologias. É nessa condição que exerço o jornalismo hoje em vídeos diários no canal José Nêumanne Pinto no YouTube.

Uiraúna é uma pequena e bela cidade do Alto Sertão paraibano. Fica a cerca de 470 km da capital, João Pessoa. É conhecida por suas bandas de música. José Nêumanne Pinto, pai de quatro filhos, é o cara mais famoso de lá.
Vocês já ouviram Nêumanne declamar? Se sim ou se não, ouçam-no: 

LEIA MAIS: PINTO NOVO QUER BRIGARO NOBEL E O JOSÉ NÊUMANNE PINTOA PENA ANTENADA DE JOSÉ NÊUMANNEJOSÉ NÊUMANNE, LUIZ GONZAGA E VIRADA CULTURAL

sábado, 2 de julho de 2022

JOSÉ NÊUMANNE, UM CRAQUE DAS LETRAS (1)

Assis e Nêumanne, por Fausto Bergocce


É poeta esse Pinto
Como o Pinto de Monteiro
Com viola ou sem viola
Com rabeca ou sem pandeiro
Esse Pinto quando pinta
Faz bagunça no terreiro

É metido esse Pinto
Em todo canto quer estar
Mexe daqui, mexe dali
Já marcando o seu lugar
Esse Pinto não é mole
Nem cresceu, já quer brigar

Esse Pinto já tem pinta
Pra com ele vadear
Vadeando ele vai
Todo ancho a rebolar
Ai, ai, ai, que Pinto besta!
A onde ele quer chegar?

(PINTO NOVO QUER BRIGAR, letra de Assis Ângelo e música de Jarbas Mariz)

Antes de mais nada é bom que se diga que o paraibano de Uiraúna José Nêumanne Pinto é um gigante do jornalismo brasileiro. Sabe de tudo e um pouco mais, especialmente de política.
Admirado e premiado o tempo todo, Nêumanne é simples, gente da gente. Olho no olho, com ele nos identificamos em quaisquer cenas da vida. Facilmente.
Quando pedi ao cartunista Fausto que fizesse uma ilustração para o texto que estava escrevendo, este, foi rápido: “Ótimo, ótimo, deixa comigo!”.
Fausto conheceu Nêumanne em 2006, quando estava lançando o livro de cartoons Traço Extra. Foi no Estadão, lembra, “apresentei-me dizendo que era seu fã”.
José Nêumanne, como todos nós, foi menino. Sonhador. Perguntei-lhe outro dia de suas lembranças juninas. E ele: “Na infância, eu adorava os arraiais de São João porque a quadrilha era o único estilo que eu sabia dançar. Depois de adulto, o forró tornou-se ritmo por excelência em Campina Grande e pude, então, lançá-lo, como fazia quando criança. Também fui adepto da culinária e dos folguedos juninos em torno das fogueiras”.
Jornalista com carreira iniciada no Diário da Borborema, de Campina Grande, PB, Nêumanne muito cedo foi atraído pela cultura de sua terra, incluindo as grandes datas de São João, Natal e Carnaval. E muito cedo também decidiu trocar Uiraúna e Campina Grande pelo mundo desconhecido chamado São Paulo, espécie de El Dorado. Um puta desafio!
Na Capital paulista, pintou e bordou. Trabalhou nos principais jornais da cidade: Folha e Estadão.
Paraibano que sou também, de João Pessoa, eu o reencontrei ali pelos meados dos anos de 1970, em Sampa. À época, ele era o bambambam da sucursal do Jornal do Brasil, que funcionava ali na avenida São Luís. Não lembro o andar, mas lembro da boa conversa que tivemos e até saímos para um

cafezinho na esquina. Na ocasião me perguntou se eu topava fazer uma ponta como repórter de um filme que estava sendo rodado por cá. Agradeci e pulei fora. Lembro-me ainda daquela primeira conversa, entre ele e eu: nesse reencontro eu carregava comigo um exemplar do romance Angústia, do alagoano Graciliano Ramos. Livro de teor existencialista. Uma pancada na cabeça de quem sofre, mas lindo.
Eu sempre andei com livros e revistas, para ler nos ônibus, táxi, metrô. Sempre foi assim.
E ele: “Eu não sabia que você gostava do Graciliano”. Gosto, eu disse. E adoro o Vidas Secas, dos anos 30.
Eu sempre gostei dos romances regionalistas, de autores como Zé Lins e Zé Américo. A Bagaceira é uma jóia, um marco do romance regionalista.
Eu comecei a minha carreira profissional no jornal O Norte. Fui editor de Local do jornal Correio da Paraíba e colunista do terceiro mais antigo jornal do país, A União. Mas essa é outra história.
Sempre ousado, José Nêumanne Pinto desbravou veredas na dita “terra da garoa”.
Jornalista famoso, Nêumanne achou de burilar palavras e transformar a vida em versos. Já escreveu vários livros com poemas incríveis. Entre esses Barcelona, Borborema; As Tábuas do Sol e Solos do Silêncio (acima).
E como se ainda não bastasse, inventou de fazer parcerias musicais com nomes como Gereba, Théo Azevedo, Capenga, Mirabô e Zé Ramalho.
Em 1999, Zé Ramalho e eu interpretamos juntos o poema de Zé Nêumanne intitulado Desafio de Viola Repentina e Guitarra Cética. Uma jóia. A produção dessa faixa coube a Robertinho de Recife e os demais poemas do repertório à Téo Azevedo.

Perguntei-lhe porquê tanta diversidade. E a resposta foi uma risada.
São muitas as histórias em que se acha Nêumanne. Histórias bonitas, muitas delas cheias de graça.Lembro, por exemplo, da história de um bode. Eu, Nêumanne e Ronaldo Cunha Lima (1936-2012), ex-governador da Paraíba.

sexta-feira, 1 de julho de 2022

DIA DE ALBERTINHO FORTUNA

Cá no Brasil, o campo político está minado. Minadíssimo. Qualquer passo em falso, explode.
Bolsonaro é o sujeito que está levando o nosso país ao buraco mais profundo.Sem fundo. Ai de nós.
Mas não é exatamente sobre isso que eu quero agora falar. Pois, pois, vamos de leve com o andor. É de barro.
À propósito, Barro é o "sobrenome" que o compositor carioca Carlos Alberto Ferreira Braga, Braguinha (1907-2006), deu ao seu alter ego João.
Com a assinatura João de Barro, Braguinha deixou muitas e muitas composições lindíssimas.
Mas ainda não é de Braguinha que também quero falar.
Você já ouviu falar em Albertinho Fortuna?
Esse Fortuna era um português nascido na região do Porto e muito cedo chegou ao Brasil no colo dos pais. Tinha menos de um ano de idade. Cresceu em Niterói, RJ, e ainda jovem enveredou no campo musical. Virou cantor. Gravou a primeira música pela extinta Victor, no ano de 1944. Título: Ai que saudades da Amélia, de Ataulfo Alves e Mário Lago.
Muita gente pensa, até hoje, que a música de Ataulfo e Mário foi baseada em personagem real: "Não foi!", disse-me um dia Mário. Uma mulher chamada Amélia apareceu numa reportagem da revista O
Cruzeiro dizendo que era a Amélia da nossa música.
Albertino Fortuna, de batismo Alberto Fortuna Vieira de Azevedo, trilhou uma longa carreira e legou à posteridade um extenso repertório musical. Não compôs nada, mas cantou muito. E cantou em todo canto, principalmente nas boates de seu tempo.
Em 1952 Fortuna lançou um disco bonito reunindo, em pot-pourri as músicas Copacabana, Feitiço da Vila e A Saudade Mata a Gente, assinadas por João de Barro, Alberto Ribeiro, Noel Rosa e Antonio Almeida.
Entre as tantas gravações que deixou, acha-se uma curiosidade: Esperança, assinada pelo "Velho Guerreiro" Chacrinha e Nestor de Holanda, que era jornalista.
Não sei bem por que, mas essa música faz-me lembrar a minha querida e sábia avó Alcina. Ela costumava dizer, com a serenidade dos santos , que "Quem corre cansa, quem anda alcança".
A música de Chacrinha e Nestor fala de um par de jovens estudantes que vivem, ele principalmente, de esperança. Lá pras tantas ele diz: "Vamos viver de esperança/Quem espera sempre alcança...". Ouça: ESPERANÇA
Albertinho Fortuna nasceu num dia como hoje, 1º de julho.

quinta-feira, 30 de junho de 2022

HÁ 20 ANOS O BRASIL GANHAVA O PENTA


Hoje 30 faz exatos 20 anos que a seleção brasileira ganhou o Pentacampeonato de futebol, no Japão. Foi um delírio. Naquela noite nem dormi. Na verdade, madrugada. Foi uma festa e tanto, lembro como se fosse hoje: muita cerveja, gritaria e tal. Inesquecível.
Após Ronaldo enfiar dois golaços contra a Alemanha, o Brasil ficou de cabeça pra baixo de tanta alegria. Naquela madrugada e manhã afora ninguém dormiu e se trabalhou, não sei.
O Brasil ganhou da seleção alemã com os craques Marcos, Lúcio, Edmílson, Roque Júnior, Cafu, Gilberto Silva, Kléberson, Roberto Carlos, Ronaldinho, Ronaldo e Rivaldo.
No mesmo dia das comemorações pelo Penta, escrevi um texto logo musicado pelo bom baiano Gereba.
Depois do 30 de junho de 2002, o Brasil entrou em campo outras vezes em busca do Hexacampeonato. Mas até agora, não deu. Insistente, porém, o Brasil continua correndo em busca do almejado troféu. Agora com Tite na cabeça. A nova tentativa já está em jogo e será definida em novembro, no Qatar.
A respeito do Hexa, que tomara que venha agora, escrevi novo texto dessa vez musicado pelo craque paraibano Jarbas Mariz. Título: Brasil, País do Futebol.
Ainda em 2002 escrevi um opúsculo intitulado A Presença do Futebol na Música Popoular Brasileira. Esse opúsculo, que teve uma tiragem inicial de 10 mil exemplares, anos depois ganhou o formato de livro editado em cuchê e coisa e tal (acima). Esgotado.
Com Gereba, ouça:

quarta-feira, 29 de junho de 2022

SÃO PEDRO ENCERRA SÃO JOÃO


Em 1956, Inezita Barroso tinha 5 anos de carreira em disco. Suas duas primeiras gravações, pelo extinto selo Sinter, foram feitas em 1951. Títulos: Curupira e Funeral D'um Rei Nagô. Dois anos depois, gravou seu primeiro grande sucesso: Ronda, de Paulo Vanzolini.
No começo do ano de 1956, Inezita se achava em curta temporada musical no Rio de Janeiro.
A edição de 26 de maio de 1956 da revista Radiolândia trazia uma reportagem em página dupla com a cantora vestida de caipira de festa junina (acima). Nessa reportagem é exaltada o talento da artista paulistana.
O repertório de Inezita é extenso. Todas as músicas que gravou eram de autores de diversas partes do país.
Certa vez perguntei a Inezita se ela nunca se aventurara a compor, além de cantar. Ela riu e disse que fez uma ou duas besteiras. Entre estas besteiras Noites de Junho, em parceria com o seu amigo pianista Túllio Tavares. Até uma cópia da letra ela me deu (ao lado). E perguntei mais: por que nunca gravara essa música. De novo ela riu. O tempo passou, e para minha surpresa, Inezita findou por gravar Noites de Junho. Foi o que me disse. Acho que no último ou penúltimo disco dela. Não lembro bem.
Bom, o ciclo junino termina hoje 29.
O dia é de São Pedro e também de São Paulo.
A existência da marcha junina, musicalmente falando, tem a ver com o baiano Assis Valente e o pernambucano Luiz Gonzaga.
É difícil achar um cantor brasileiro que não tenha no seu repertório uma música junina.
clássicos no repertório junino como Jackson do Pandeiro e tantos e tantos.
E a sanfona, hein?
A sanfona é um instrumento musical surgido na China, antes de Cristo.
A história da sanfona é incrível.
Foram os europeus que deram forma à sanfona como tal a conhecemos hoje. E rapidamente ela firmou-se no Brasil. São muitos os grandes sanfoneiros a partir de Giuseppe Rielli.
Gilberto Gil começou a carreira tocando sanfona, como João Donato e Jorge Mello.
Jorge Mello, piauiense, começou a tocar sanfona ali pelos 10 anos de idade (ao lado direito). Depois abandonou o instrumento e seguiu vida à fora tocando violão. É um dos nossos grandes compositores.
Luiz Gonzaga, o rei do baião, deixou alguns clássicos enriquecendo o cancioneiro junino. Ouça:

terça-feira, 28 de junho de 2022

ARTISTAS CANTAM NA DESPEDIDA DE LUNA

Jarbas Mariz e Roberto Luna
Cerca de 70 pessoas compareceram ao velório de Roberto Luna, segundo as cantoras Célia e Celma. E cerca de 150 pessoas, segundo o cantor Raimundo José.
Além de Célia e Celma, compareceram ao velório Roberto Seresteiro e outros artistas. Cantaram, em uníssono, Mulambo e Se Todos Fossem Iguais a Você. "Foi emocionante, tocante, mas tudo num clima de alto astral. Se é que posso dizer isso", disse Raimundo José.
Não houve chororô, coisa comum nesses momentos. "Luna era uma pessoa extremamente alegre e, certamente, não iria gostar de ver seus amigos chorando", disse Celma enquanto a irmã,Célia, concordava.
O cantor, compositor e instrumentista Jarbas Mariz, não esteve no velório d
Raimundo José e Célia e Celma, com Roberto Luna
e Roberto Luna. Mas lembrou das grandes qualidades do amigo:
"Roberto Luna era um dos últimos cantores vivo da época de Caubi Peixoto, Nelson Gonçalves, Ângela Maria entre outros.
Paraibano e generoso.
Simples e verdadeiro.
Tive na festa dos 90 anos dele numa casa na Aclimação, juntos com amigos.
Esteve presente na homenagem que fizemos pra Lula Côrtes aqui em São Paulo, cantou com a gente. Sempre estava presente nos nossos shows.
Pertencia ao nosso grupo que temos aqui em São Paulo chamado 'Caros Amigos': Lulu, Simone, Erica, Rogerinho, Egberto, Marlene, Sérgio Lara, Aninha, Cris entre outros".
O corpo de Roberto Luna foi sepultado ontem 27 no cemitério de Vila Mariana.

segunda-feira, 27 de junho de 2022

QUE NEM CANTOR DE TANGO...

O encantamento do cantor paraibano Roberto Luna já era previsto, segundo a viúva Magali Fernandes (ao lado).
Magali conheceu Luna quando tinha 23 anos de idade e com ele viveu durante 44 anos. Foi uma relação de amor profunda, conta. "Separávamos, periodicamente. Ele saía, tinha suas relações com outras pessoas, mas sempre voltava. Nos amávamos como pessoas comuns. Nos entendíamos e nos desentendíamos, também. Normal", acrescenta.
Com a naturalidade de quem está de bem com a vida, Magali diz que tinha certeza de que ela e ele viveriam para sempre. Um cuidando do outro. E assim foi. Ela: "Só notei que ele havia partido quando a mão se desprendeu da minha".
Contou Magali a este Blog que Roberto Luna ficou bonito vestido como cantor de tango, de roupa preta. "E assim nos deixou, pondo ponto final a sua vida", acrescentou.
Roberto Luna e Magali Fernandes, ela de Curitiba, PR, tiveram duas filhas: Tatiane e Taciara.
Muitos amigos e fãs lamentaram o passamento de Luna.
Roberto Luna com
o cartunista Fausto Bergocce
O cantor e compositor piauiense Jorge Mello lembrou que "Roberto Luna foi um mestre do canto, uma inspiração para todos nós, um ícone. Sentiremos a sua falta".
Nessa mesma linha de pensamento expressou-se o poeta romancista José Nêumanne: "Foi meuconterrâneo e um dos grandes artistas da nossa música. A sua falta será sentida".
"Eu conheci Luna há uns três anos. Por aí. encantei-me com ele. Luna era uma pessoa muito querida, afetiva. O que aconteceu com ele, acontecerá com todos nós um dia", disse o cartunista paulista Fausto Bergocce.
O corpo do artista foi cuidadosamente preparado para o velório que ocorrerá hoje 27, entre às 11h e 15h. Depois será sepultado no cemitério de Vila Mariana, Av. Lacerda Franco, 2012, Cambuci, São Paulo.
 


domingo, 26 de junho de 2022

ADEUS, ROBERTO LUNA!

Vítima das sequelas deixadas pela COVID-19 morreu hoje 26, por volta dás 5 horas da manhã,
o cantor paraibano de Serraria, Roberto Luna.
Roberto Luna era o nome artístico de Valdemar Farias."Luna já havia tomado 3 doses da vacina contra o novo Coronavírus. Perdeu 16 kgs, 10 de massa muscular. Ficou muito debilitado e praticamente cego", contou o amigo Raimundo José que mora no mesmo prédio onde morava Luna.
Habitante da Capital paulista desde o começo dos anos 1950, Roberto primeiramente trocou a Paraíba pelo Rio de Janeiro. E começou como ator, fazendo um monte de coisas.
Gravou o primeiro disco em 1952.
Eu o o chamava de Voz de Pluma ou o Rei do Bolero. Ele achava graça.
Falávamos muito, ora por telefone ou pessoalmente. Veio muitas vezes a minha casa.
Numa dessas vindas, talvez a última, disse-me ter tido a alegria de encontrar cá em casa o artista Téo Azevedo e seus amigos José de Arimathéia, Ibys Maceioh, Carlos Sílvio, Tone Agreste e Rômulo Nóbrega (foto acima).
No dia 7 de abril de 2019, o radialista Carlos Sílvio levou Luna para uma entrevista no programa Paiaiá na Conectados. Nessa entrevista Luna fala da alegria de ter ajudado a divulgar a música popular brasileira. Mas hoje, segundo ele, os tempos são outros. Sílvio aproveitou, no programa, para ressaltar a voz do artista.
A voz de Roberto Luna era abaritonada, como a voz de Luiz Gonzaga. No programa Paiaiá na Conectados, Luna revela fatos pouco conhecidos da sua carreira. Falou da amizade que nutria por Nélson Gonçalves, Tim Maia, etc.
Confira, na íntegra, a entrevista com Carlos Sílvio: Paiaiá na Conectados com Roberto Luna
Roberto Luna morreu ao lado de sua mulher, Magali. "Ela cochilava e quando despertou, Luna havia partido", conta Raimundo José.
Raimundo José e Roberto Luna eram amigos desde os fins de 1950. 
No começo da noite de 22 de março de 2019 Roberto Luna estava na minha casa e aproveitamos para trocar um dedo de prosa. Foi tudo de improviso e fantástico! Confira:

JORGE MELLO COMEMORA 50 ANOS DE GRAVAÇÃO (2, FINAL)

Assis, com discos de Jorge Mello

Depois do primeiro compacto, com a sua voz, Jorge Mello entrou em estúdio para gravar o primeiro LP da carreira, Besta Fera. Esse LP teve boa repercussão, merecendo do então crítico J.R. Tinhorão (1928-2021) rasgados elogios, publicados na edição de 2 de dezembro de 1976, no Jornal do Brasil. Um trecho:
Menos comercial que Alceu Valença, não tão preocupado em alcançar uma forma erudita quanto ao Quinteto Violado, o piauiense de Piripiri, Jorge Mello, acaba de lançar em seu LP “Jorge Mello… Sou do Tempo do Baião que a Besta Fera não Comeu” (Crazy, CGE-121.018) uma das mais interessantes propostas de aproveitamento de sons nordestinos ao nível de uma cultura urbana interessada numa saída para a música popular brasileira mais sofisticada.

Tal como o pernambucano Marcus Vinicius, Jorge Mello demonstra em suas experiências musicais um seguro conhecimento teórico e uma preocupação muito grande na pesquisa de fórmulas próprias, como ele mesmo afirma, ao escrever referindo-se a seu trabalho: “Usando os valores populares, as formas poéticas do cordel e da cantoria, os modos e a instrumentação nordestina, não é um trabalho folclórico. É uma recriação da informação espontânea do povo. Minha música retrata um Nordeste mágico, trágico, rico, rústico e místico, e revela toda a informação moura/ibérica que está presente na nossa cultura, no fano e nos melismas do canto do aboio, por exemplo”.

De fato, passando da palavra aos exemplos concretos, Jorge Mello fecha o Lado A de seu disco com uma pequena peça em que pela primeira vez, a técnica do canto em aboio é usada em termo de música urbana com uma inteligência, um talento e uma propriedade que chegam a surpreender…
José Ramos Tinhorão publicou crítica elogiosa a Jorge Mello

Jorge Mello é cordelista, repentista, romancista e advogado especializado em Direitos Autorais.
Até aqui, Jorge teve os seguintes parceiros: Belchior, Vicente Barreto, Evaldo Gouveia, Cesar do Acordeon, Reginaldo Rossi, Graco, Clôdo Ferreira, Tom Zé, Carlos Pitta, Jairo Mozart, Gereba, Capenga, Pekin, Lumumba, Paulo Soledade, Yeda Estergilda, Ricardo Bezerra, Emanuel Carvalho, Nando Correia, Malcom Roberts e os poetas clássicos, pós morte, Olavo Bilac (1865-1918) e Mário de Andrade (1893-1945).


A sua discografia é a seguinte: 

1972 - FELICIDADE GERAL (Compacto Duplo, Poligran)
1976 - BESTA FERA (LP, Crazy/Copacabana)
1977 - JORGE MELLO, INTEGRAL (LP, WEA)
1977 - MARINHEIRO e SASSARUÊ (Compacto simples, WEA)
1979 - CORAÇÃO ROCHEDO (LP, Continental)
1980 - NASCENDO DE NOVO e É DIA, É NOITE A MINHA COR (Compacto Simples, Continental)
1981 - CONSTELAÇÕES e CORAÇÃO ROCHEDO (Compacto Simples, Continental)
1981 - DENGO DENGUE (LP, Continental)
1981 - DENGO DENGUE e Rosto Marcado interpretado por Gerson Conrad (Compacto Simples)
1984 - NA ASA DO AVIÃO e DESAFIO VARIG/CRUZEIRO (Compacto Simples, Terramarear)
1985 - NA ASA DO AVIÃO e FERROADA (Compacto Simples, Paraíso/Odeon)
1986 - UM TROVADOR ELETRÔNICO (LP, Paraíso/Continental)
1990 - UM TROVADOR ELETRÔNICO - Vol. 2 (LP, J.M.T.)
1997 - MAIS QUE DE REPENTE (CD, Brasidisc)
1999 - RIMA (CD, J. M. T. /Camerati)
2001 - CLARAMENTE (CD, CPC/UMES/ELDORADO)
2015 - CLARAMENTE, relançamento com capa nova (CD, JMT).

sábado, 25 de junho de 2022

JORGE MELLO COMEMORA 50 ANOS DE GRAVAÇÃO (1)

Assis Angelo e Jorge Mello, em 2013
As festas juninas são lembranças guardadas com carinho por muita gente boa, desde a infância. Não é diferente com o piauiense de Piripiri Jorge Mello:
“Todo ano era aquela maravilha, ensaio da quadrilha, ao som das mais lindas músicas para se dançar. E eu dançava todas. Fui vários de seus personagens: o noivo, o prefeito, o padre e tantos outros. E o resultado disso na minha obra como compositor e cantor é visível. Escrevi grandes canções como Que de Quadrilha (WEA, 1977) e muitas outras, que foram gravadas por intérpretes clássicos na área, como Zé Calixto, Robertinho do Acordeon e Anastácia. Sou muito feliz por guardar essas boas memórias”.
Jorge não tinha nem dez anos de idade quando o pai o “escalou” pra tocar sanfona à frente da bodega que tinha. A ideia era chamar a atenção dos fregueses e futuros fregueses. Deu certo.
Acima: Sônia Regina foi a
primeira cantora a
gravar Jorge Mello

Em 1968, Jorge Mello tinha 20 anos de idade e aos 22 teve gravada as duas primeiras músicas da sua longa carreira. Títulos: Garoto Lindo e Loucura de Você.
“Essas duas primeiras músicas que fiz foram gravadas pela cantora Sônia Regina”, informa num fio de saudade.
Além de compositor Jorge se firmaria no mercado musical como cantor, instrumentista e produtor. Um dos belos discos que produziu foi o LP Glória Rios, de 1981 (Continental).
Neste ano de 2022 Jorge tem muito o que comemorar, inclusive o fato de ter gravado sua voz pela primeira vez num disco. Foi em 1972. Título: Felicidade Geral.
“É uma grande alegria poder comemorar esse fato. É um Compacto Duplo (ao lado), contendo as canções: 1ª) FELICIDADE GERAL, que me deu o prêmio de melhor intérprete e Comunicação no 5º FESTIVAL UNIVERSITÁRIO da TV TUPY de 1972. Me apresentei no Festival e em muitos eventos e shows, com a Banda O GRÃO, grupo que depois foi trabalhar com o Tim Maia e que uns 6 anos depois foi rebatizada pelo Tim, como VITÓRIA RÉGIA. 2ª) VERA LÚCIDA. 3ª) SE FOR PRECISO VOCÊ CHORA, que fiz com Antonio José Brandão. Essa foi a primeira obra de Brandão gravada. E 4ª) GALOPE À BEIRA MAR. Esse disco teve arranjos meus e de Laércio Freitas, com acompanhamento da Banda O GRÃO”, conta Jorge.

sexta-feira, 24 de junho de 2022

JOGANDO CONVERSA FORA

Fausto Bergocce e Assis Angelo no IMB
Eu já disse e repito: receber amigos é uma coisa muito boa. 
Ontem 23 tive a alegria de abrir a porta, abrir um sorriso e apertar a mão para receber o amigo do peito Fausto Bergocce. 
Dois dias antes fiz isso com o colega jornalista Wilson Baroncelli, editor do Newsletter Jornalistas&Cia.
Baroncelli trouxe um negocinho para o bico e levou-me a um boteco na esquina. Até então, e desde que perdi a visão dos olhos, ninguém tinha feito isso comigo. E conversamos e conversamos à mesa do boteco. Senti-me importante.
Fausto é um menino às vésperas de completar setentinha. Ele fará isso, essa joia, em novembro próximo. E eu, em setembro.
Ando contando os dias dos 70 que ele e eu faremos neste ano da graça de 2022.
E conversamos e conversamos sobre tudo e mais um pouco. Claro que a política foi assunto forte. 
Falamos dos potenciais candidatos à presidência Lula e Bolsonaro.
Bolsonaro, uma besta quadrada, está com toda força que a máquina dá a quem se acha num cargo de presidente.
Lula, sem máquina, se acha acima de Deus e do mundo. Pena. É o que apontam as pesquisas de opinião.
Lula está se movimentando em saltos altíssimos. Como diz o povo: está se achando. Quando abre a boca, e Fausto concorda, diz um monte de asneiras. É a favor, por exemplo, do aborto. E tal e tal e tal.
Simone Tebet, ai, ai, ai, diz coisas repetidas o tempo todo. É candidata à cadeira de presidenta pelo conjunto de partidos identificado como União Brasil. De direita.
O União Brasil está se colocando como terceira via. Hmmm...
Há muitos partidos políticos doidos para ocupar a cadeira hoje ocupada pelo malandro Bolsonaro.
Bolsonaro representa tudo o que não presta na vida pública. Sabemos disso, mas pelo menos 25 milhões de loucos, tapados, imbecis, não veem o que um cego vê. Ai, ai, ai. Eu.
E Ciro Gomes, hein?
Ciro, paulista de Pindamonhangaba, que conheci na mesa de um bar ao lado do colega jornalista José Nêumanne, anda esquecido até pela Imprensa. Pena. Não entendo.
Ciro, que tem um currículo político invejável, é pouco lembrado. Mas é interessante ouvi-lo. Sua fala é boa, tem a ver com as necessidades que o povo pede e precisa.
As entrevistas do Ciro são claras e nelas ele diz do que o Brasil e brasileiros precisam.
Fausto e eu falamos e falamos e falamos. De artes, inclusive. De teatro. Lembramos da importância e sonhos da menina Anna da Hora. Anna concluiu há pouco a faculdade de Artes Visuais. Adora jornalismo, mas quer por na rua e na vida seu talento de atriz. "Anna é linda e não sei como é que ela aguenta figurinhas como você, Assis", disse Fausto molhando o beiço com um experimento de cana mineira. Aliás, pra dizer essa besteira, Fausto tinha que estar com o beiço molhado de caiana. Pois, pois.
Fausto, um dos mais importantes cartunistas do Brasil, ama desesperadamente o berço onde nasceu: Reginópolis, SP, que fica perto de Pirajuí, Novo Horizonte e Ibitinga.
O principal sonho de Fausto é doar a sua arte à cidade onde nasceu. E isso ele tem explicitado o tempo todo aos prefeitos. E eles nem, nem.
Pois é, Fausto é mais um brasileiro incompreendido pelos poderosos de plantão da terra em que nasceu.
Politizadíssimo, o artista do traço Fausto Bergocce conta que nunca deixou de votar. E ensina: "Votar, escolher nossos representantes, é importantíssimo. É importante votar em quem a gente acredita, a quem se apresenta com um projeto político para o povo".
Concordo, temos de votar em quem a gente acredita. No projeto que melhor atende às necessidades do povo.
É isso.

PARA LEMBRAR

Hoje é dia de São João.
Hoje também marca o dia da morte do cantor Ivon Curi. Ivon deixou uma obra magnífica, recheada de clássicos como Farinhada, de autoria do pernambucano Zé Dantas.
Hoje é dia de lembrar o nascimento do paulistano Vadico, que nasceu no mesmo ano em que veio ao mundo o poeta sambista Noel Rosa (1910-1937). Vadico foi o mais importante parceiro de Noel. É possível que sem Vadico, Noel não existisse.
Hoje também é o dia do nascimento do paulista de Guaratinguetá Gastão Formenti (1895-1974), um dos mais importantes cantores da nossa música popular. Morreu no Rio.

quinta-feira, 23 de junho de 2022

ADEUS PAULO DINIZ!

Paulo Diniz, Marcelo Melo (Quinteto Violado) Jarbas Mariz e Cátia de França

Paulo Diniz e Jarbas Mariz, em 1982
O Brasil está de luto. E se não está, deveria. Motivo é o desaparecimento do cantor e compositor pernambucano Paulo Diniz.
Paulo Diniz, de batismo Paulo Lira de Oliveira, era também instrumentista. Tocava violão que só. Nasceu em Pesqueira.
Pesqueira é uma cidade distante 215km da Capital recifense.
A primeira gravação de Paulo Diniz, em disco, ocorreu em 1966. Nesse ano, Vandré e Chico Buarque tinham as músicas Disparada e A Banda empatadas, no II Festival de Música Popular Brasileira, promovido pela TV Record. Mas essa é outra história.
A carreira profissional de artista Paulo iniciou no Rio de Janeiro, onde passou a morar em 1964. Lá seus primeiros amigos foram Paulinho da Viola e Caetano Veloso.
Não recordo bem o ano, mas Paulo Diniz participou umas duas vezes do programa São Paulo Capital Nordeste. Nesse programa, que apresentei na Rádio Capital durante mais de 6 anos, ele cantou e tocou coisas lindas. Entre essas coisas lindas Canção do Exílio.
Canção do Exílio é, originalmente, um poema do maranhense Gonçalves Dias feito em Coimbra, Portugal, musicado por Paulo.
Paulo também musicou um belíssimo poema de Carlos Drummond de Andrade: E Agora José?
Do meu programa, ele participou numa cadeira de rodas. Motivo: Esquistossomose que pegou num banho de rio, em Minas. 
Paulo Diniz morreu ontem 22 nos primeiros minutos da madrugada.
Dono de uma voz rasgada, meio anasalada e possante, deixou marca profunda na nossa música popular e amigos, como Jarbas Mariz.
A propósito, Jarbas chegou excursionar com Paulo Diniz no começo dos anos de 1980 (foto acima).
Jarbas lembra:
"Sempre fui fã de Paulinho, no começo da minha trajetória nos conjuntos de baile eu cantava as músicas de Paulo Diniz. De repente eu to com ele tocando junto no Projeto Pixinguinha ao lado de Cátia de França e do Quinteto Violado. Em 1982, fizemos shows do Rio até Belém do Pará passando por todas as capitais do nordeste. Em Belém que era a última cidade do Projeto, Paulo Diniz me chamou pra fazer 14 shows em Manaus, e assim foi feito. Depois ele me chamou pra ir tocar com ele na festa do caju em Fortaleza, ficamos uma semana por lá, fizemos Recife, voltamos pra Fortaleza até que o tempo passou e aqui em São Paulo eu e Luís Wagner falamos com Luís Carlos Bahia pra trazê-lo pro projeto da UMES, tocamos juntos mais uma vez. Gravei Severina Cooper (Acioli Neto) e José  (Paulo Diniz e Drummond) inspirado na sua performance. Saudades, descanse em paz Paulinho".
 

quarta-feira, 22 de junho de 2022

FOME NO BRASIL. ATÉ QUANDO?

O Brasil alimenta boa parte do mundo, mas não alimenta boa parte do povo do próprio Brasil. Pena.
Ontem 21, uma entrevista chocou os brasileiros. Saiu no RJ1, da Globo.
Na entrevista uma mulher, Janete Evaristo de 57 anos, disse à repórter Lívia Torres que ela e quatro netos estão passando fome. Come alguma coisa um dia, no outro nada. Há seis meses perdeu o marido e dois anos antes, uma filha. 
No correr da entrevista, Janete disse que a situação dela está muito difícil. Nem sabe direito o que fazer. Conta:
"Muito difícil mesmo. No domingo não tinha nada. Sabe nada? E eu entrei em desespero. Porque no sábado [os netos] já não tinham comido. Aí, no domingo, não tinha nada pra dar. Aí, eu fiquei desesperada, sem saber o que fazer".
Diante dessa fala, a repórter Lívia não aguentou e chorou (ver, abaixo).
Agora há pouco a candidata do MDB à presidência da República, Simone Tebet, disse que se ganhar sua primeira providência será resolver o problema da fome que atinge milhões de brasileiros.
A entrevista de Tebet foi dada à rádio CBN. E dela participaram o âncora Milton Jung, Cássia Godoy, Miriam Leitão, Vera Magalhães e o comentarista político da CBN Bernardo de Mello Franco.
Miriam perguntou sobre a Petrobras e a tentativa de Bolsonaro em rasgar a Lei das Estatais para enfiar na empresa asseclas políticos.
Vera quis saber, entre outras coisas se a candidata MDBista votou no segundo turno em Bolsonaro. E por aí mais.
Nem Lula nem Bolsonaro toparam, até agora, participar das entrevistas especiais que a CBN está promovendo desde ontem 21.
Dona Janete e seus netos moram no Morro dos Macacos, zona norte do Rio de Janeiro.


 

CORRUPÇÃO

Agentes da Polícia Federal prenderam nesta manhã o ex-ministro da Educação Milton Ribeiro e os pastores Gilmar Santos e Arilton Moura, acusados de corrupção. Com essa prisão fica clara a existência de um gabinete paralelo. A curiosidade é que Bolsonaro insiste ainda a bater na tecla de que em seu governo não há corrupção. Essa é mais uma historinha para boi dormir. Aguardemos os próximos capítulos.

terça-feira, 21 de junho de 2022

ENFIM, UM CANDIDATO CONTRA O SISTEMA

Na manhã de hoje 21 ouvi na rádio CBN uma entrevista lúcida do candidato à presidência da República Ciro Gomes. Nessa entrevista ocorrida entre às 8 e 9 horas Ciro falou de tudo e dela participaram, além do âncora Milton Jung, Cássia Godoy, Miriam Leitão, Vera Magalhães e Bernardo Mello Franco. Boas perguntas sobre temas atuais foram feitas e o entrevistado a todas respondeu com firmeza e objetividade.
A uma pergunta feita por Miriam sobre os riscos que corre a nossa democracia, Ciro respondeu: "Na cabeça de Bolsonaro está o delírio de um golpe, mas não vejo a menor possibilidade desse delírio prosperar".
Depois de Miriam, o âncora convocou Vera Magalhães que perguntou a Ciro o que faria para desarmar o mecanismo do orçamento secreto. Resposta: "Não quero ser presidente do Brasil para repetir a tragédia que está aí. Só quero ser presidente se for para mudar o modelo de governança política".
E por aí seguiu o candidato, que se posiciona como opção nas urnas.
No decorrer da entrevista, Ciro posicionou-se a favor de uma política de preços diferente da que é praticada hoje pela Petrobras. A uma pergunta do comentarista Bernardo Mello Franco, afirmou: "A Petrobras é um monopólio. O governo tem que administrar o preço porque não existe concorrência". E acrescentou: "A Petrobras está entregue a uma baderna absoluta".
A fala de Ciro Gomes sobre a política de destruição do meio ambiente, notadamente da Amazônia, foi salutar: "O narcotráfico é claramente protegido por autoridades brasileiras, inclusive as Forças Armadas".
Ao fim da entrevista, e respondendo a uma pergunta de Cássia Godoy, Ciro disse que não cabe ao presidente da República mudar a lei do aborto. Ou seja, não cabe ao presidente ser contra ou a favor desta questão. E disse mais: que é um "candidato contra o sistema" e se ganhar vai mudar tudo, para o bem do Brasil.
Confira o que disse Ciro à CBN, clicando:
 

Se continuar falando no ritmo em que falou hoje à CBN Ciro, certamente, vai tirar muitos pontos ora favoráveis a Lula. Pode ter racha. E pode também, quem sabe, levá-lo a cadeira de Presidente. E pelo andar da carruagem, Lula e Bolsonaro não participarão de debates de rádio e TV e aí será para Ciro uma festa. Aguardemos os próximos capítulos.

domingo, 19 de junho de 2022

VIVA CHICO!

O Brasil é um país de muitas histórias, de muita gente boa.
O dia 19 de junho marca o nascimento do carioca Francisco Buarque de Hollanda. Ano: 1944. Esse Francisco é Chico, autor musical de uma obra fantásticas. E também escritor! Autor de Calabar, Budapeste e Estorvo. 
Estorvo eu comprei em Portugal. Vale a pena lê-lo.
A obra de Chico é enorme e muito bonita. 
No comecinho dos anos de 1980 entrevistei Chico para a revista Homem, acho, da Editora Três. Duas páginas, falamos de tudo e mais um pouco, inclusive sobre licenciosidade na cultura popular. Não tenho o número em que saiu essa entrevista. Quem tiver, peço uma cópia.
Chico Buarque teve sua primeira música gravada, em disco, pelo paraibano Geraldo Vandré. A propósito em 1966, Vandré e Chico saíram empatados do festival de música popular. O empate ocorreu com A Banda X Disparada.
É muita história que o Chico tem pra contar.
Por não ter o que fazer, sobre Chico escrevi:

O mundo tá cheio de Chico
É Chico que vai e Chico que vem
Todo mundo quer ser Chico
Você quer ser Chico também?

Todo Chico é Francisco
Todo Francisco é Chico
Neste mundo de mentiras
E de muito fuxico

Mas é muito bom ser Chico
Tem Chico papa, Chico santo
Tem Chico aqui e acolá
Tem Chico em todo canto

Tem Chico no Pará, Piauí
Em Nova York e Belém
E até na Conchinchina
Se brincar tem Chico também

Ah!, toda mulher quer um Chico
Pra fazer judiação
Um Chico logo disse: Eu, hein? Mulher com Chico não.

sábado, 18 de junho de 2022

A MELHOR FESTA DE SÃO JOÃO É AINDA NO BRASIL

Meu amigo, minha amiga: você sabe quais são as origens da fogueira e da consequente festa de São João?
Isabel era prima de Maria.
Isabel e Maria nasceram nas bandas de Israel, Jerusalém e tal.
Isabel tinha uns 60 anos ou mais. Era estéril.
Maria foi a escolhida para ser a mãe do filho de Deus, Jesus. Era casada e já tinha filhos, mas um belo dia, o anjo Gabriel bateu a sua porta dizendo que por obra e graça do Espírito Santo ela seria a mãe daquele que morreria crucificado por nós.
Isabel era prima de Maria, que foi a mãe de Jesus.
Antes de ser mãe de Jesus, Maria recebeu de Isabel a dica de que ao nascer o filho João Batista ascenderia uma fogueira para avisá-la do sucedido. E assim foi feito. De um dia para o outro, João nasceu e com ele, por obra da mãe Isabel, a fogueira.
João era filho de Isabel e Zacarias, um sacerdote.
O tempo passou e a fogueira virou símbolo dos festejos joaninos, de João. Ou juninos, de junho.
E são três os santos que ornam a festa junina: Antônio, João e Pedro. Esquecido, há São Paulo. Pouca gente sabe, mas o dia de São Pedro é também o dia de São Paulo, 29 de junho.
Antônio nasceu em Lisboa, mas é conhecido como Santo Antônio de Pádua.
João nasceu ali pela terra prometida. Morreu decapitado, para satisfazer o desejo de Salomé. Quer dizer, perdeu a cabeça à toa.
Pedro foi o primeiro Papa da Igreja e tal. Antes, negou conhecer Jesus. Arrependeu-se. Preso pela soldadesca romana, pediu para ser crucificado de cabeça pra baixo.
Pois é, e Paulo?
Paulo foi um famoso perseguidor de judeus. Era militar. Um dia, a caminho de Damasco, ficou cego. Um clarão fortíssimo o cegou. Desde então, converteu-se ao Cristianismo. Morreu decapitado.
A tradição junina tem origens pagãs e chegou ao Brasil no século 19, por iniciativa dos colonizadores portugueses. Mas era sem graça.


A festa junina ganhou forma, mesmo, com a introdução da quadrilha.
A quadrilha tem origens da França, de Bonaparte.
Dizem que Bonaparte não gostava da dança da quadrilha.
Em lugar nenhum do mundo a festa junina ganhou tanto brilho e beleza como no Brasil. A ver com Assis Valente, Luiz Gonzaga e tantos e tantos mais: Bidu Saião, Chico Alves, Pedro Raymundo, Jackson do Pandeiro, Manezinho Araújo… Mas agora estão acabando com essa bela festa. E por não ter o que fazer, por não ter muito o que fazer, escrevi essa coisinha:

O céu fica enfeitado
Nas noites de São João
E alegre o povo dança
Nos forrós lá do Sertão
Embalado pelo som
De Luiz, rei do Baião

É uma festa bonita
A festa de São João
Tem pipoca e pau de sebo
Arrasta-pé e rojão
E a dança da quadrilha
No terreiro ou no salão

Tem de tudo nessa festa
Tem fogueira e tem quentão
Tem comadre e tem compadre
Arrastando os pés no chão
E todo mundo gritando:
Viva o Senhor São João!


É isso. Clique: 

LEIA MAIS: O FIM DAS TRADIÇÕES JUNINASESTÃO ACABANDO COM SÃO JOÃO

Foto e reproduções por Flor Maria e Anna da Hora

sexta-feira, 17 de junho de 2022

É BOM ABRIR A PORTA PARA AMIGOS

Atílio, Assis e Tiné
 
É bom, de fato, receber queridos amigos em casa. Foi o que aconteceu, quarta 15.
No começo da tarde abri a porta para o colega Atilio Bari, jornalista, autor de livros infantis e apresentador do belo programa Persona.
Persona, da TV Cultura canal 2, vai ao ar todos os domingos a partir das 10 da noite.
Grandes personagens da cena artística brasileira têm passado por lá. Entre esses personagens, o ator Lima Duarte e o cantor e compositor baiano Tom Zé.
Atilio, que conheço há pelo menos duas décadas, veio bater papo e gravar uma participação minha no seu programa.
Conheci Atilio num papo que tivemos no programa Em Cartaz, que apresentava numa TV chamada canal Aberto, ou algo parecido. Eu tinha também um programa lá.
Logo após abrir a porta para Atilio, chegou outro amigo: o jornalista pernambucano, e também autor de livros, Flávio Tiné.
Tiné é um desses grandes amigos que a vida nos oferece de mão beijada.
Tiné foi durante anos, mais de 20, assessor do Hospital das Clínicas.
No HC passei maus bocados. Foi lá que me submeti a sete cirurgias, na tentativa infrutífera de recuperar o brilho dos olhos. Pois é, não deu.
Atilio, Tiné e eu conversamos sobre tudo ou quase tudo. Tiné, por exemplo, falou de Marcos Maciel e até de Fidel Castro e Che Guevara, que conheceu pessoalmente em Cuba. Ano: 1962. Brincando, perguntei se ele tinha passado a mão na bunda dos dois famosos guerrilheiros. Ele riu e disse que não fez isso, não. Só apertou as mãos de ambos.
Falamos também do desclassificado presidente Bolsonaro. Mais: jornalismo de rádio e TV, de jornal e seu futuro e tal e tal. De meio ambiente, inclusive do duplo assassinato recentemente ocorrido na Amazônia. 
No Amazonas o indigenista Bruno Pereira e o jornalistas inglês Dom Philips tombaram mortos pela língua assassina do presidente da República.
Os irmãos que acionaram o gatilho contra Bruno e Dom estão presos, mas até quando ninguém sabe.
O presidente Bolsonaro continua livre para matar.
Ai, Brasil!

quarta-feira, 15 de junho de 2022

SEMPRE É TEMPO DE LEMBRAR TAIGUARA

Poucos artistas foram tão necessários à cena musical brasileira como Taiguara Chalar da Silva, nascido no dia 9 de outubro de 1945, em Montevidéu, Uruguai, mesmo mês em que os aloprados Hitler e Mussolini ainda insistiam em fazer deste mundinho de Deus uma simples bola de chutar.
Taiguara era uma figura e tanto!
Se alguém quisesse vê-lo irritado, que o chamasse de estrangeiro; e se o chamasse, que se preparasse para correr ou ficar e ouvir umas boas, já que não era de levar desaforo para casa. Parecia ter fogo nas ventas, o danado.
Deixou um legado musical comparável a pérolas do mais alto quilate.
E não quero aqui falar das canções clássicas como Hoje, Viagem, Universo no Teu Corpo, Que as Crianças Cantem Livres e nem dos nossos encontros no bar da esquina tomando jurubeba Leão do Norte; e chimarrão na minha casa. Tampouco, quero lembrar a vez que me pediu para levá-lo ao apartamento do cantor e compositor paraibano Geraldo Vandré, para um dedo de prosa.
E por que deveria lembrar o dia que duvidou que eu, trabalhando na TV Globo, mandasse registrar uma de suas passagens de som no Anhembi, em São Paulo, para o jornal da noite? E por que também deveria lembrar que foi gravado pelos franceses Françoise Hardy e Maurice Monthier? Que importância tem? E pelo sueco Jay Jay Johanson? Ah! Contar que ele próprio se aventurou a cantar na língua sábia de Shakespeare? Não, nada disso. Pra quê?
Também não quero lembrar o óbvio: que foi o artista que mais teve composições classificadas nos festivais de música popular no País. Era um craque, mestre na interpretação musical.
Há como esquecer a interpretação que deu à Modinha, de Sérgio Bittencourt, e à Helena, Helena, Helena, de Alberto Land? Voz suavíssima, encantadora por dizer o mínimo.
Em compensação, eu poderia aqui lembrar que este ano há pelo menos duas boas razões para se falar dele, Taiguara. Uma triste: o seu desaparecimento do mundo dos vivos. A outra alegre: a sua estréia em disco, ocorrida em 1965.
O que quero lembrar, mesmo, é que no baú das suas obras se acha o elepê Imyra, Tayra, Ipy, de 1976, recolhido das lojas 72 horas depois de lançado, por força e estreiteza mental do governo militar. É hoje uma relíquia nunca ouvida no formato cedê. Nunca aspas, pois essa relíquia acaba de ser relançada no Japão. No Japão! Em cedê, e eu disse: no Japão, repito. Uma de suas filhas, Imyra, se indignou ao saber da notícia:
— Não é justo que os brasileiros paguem em dólares para ouvir o meu pai cantar.
Aproveito para gritar: cartolas da Odeon, relancem logo os discos de Taiguara, pois as novas gerações não podem ficar alheias a eles. Precisam conhecê-los para saber que no Brasil já houve quem fizesse bonito na arte musical: o operístico e ao mesmo tempo popular Carlos Gomes; o chorão Callado, a chorona genial Chiquinha Gonzaga, o frevista Capiba, o bandolinista Jacob, o violonista Dilermando, o sambista Noel, o sanfoneiro Gonzaga, o mineiro Ary Barroso... Sem falar de Pixinguinha, Elomar, Vandré, Vital, Gereba, Sivuca, Osvaldinho, Dominguinhos e tantos mais.
As palavras que dão título ao disco censurado de Taiguara são mantras tupis, no esclarecer do próprio artista: imyra, uma volta à infância no bairro carioca de Santa Tereza; tayra, o sêmen do tempo; e ipy, o encontro ou mistura do velho com o novo.
Mais ou menos isso.
Nesse disco, ele se atira às raízes brasileiras a partir de Kuarup, de Darcy Ribeiro, mostrando que não se deixou levar pelo fácil canto falso das sereias transnacionais; e que soube, como poucos, usar as armas do inimigo para se fortalecer, não deixando de registrar sua obra no vinil por serem estrangeiras as gravadoras instaladas no Brasil. Assim, com esperteza, talento e determinação ele legou para a posteridade um punhado de sambas e canções, no meio alguns experimentos dodecafônicos, como Sete Cenas de Imyra.
No Imyra há letras e melodias absolutamente fantásticas.
Para começar, abre com pianice, uma “pecinha sinfônica” em que o autor usa o seu piano amestrado e segue lírico em Delírio Transatlântico e Chegada no Rio, passando pela saudade que morria do Brasil no exterior contida no lamento Terra das Palmeiras, inspirado no poema Canção do Exílio, de Gonçalves Dias; e fecha com a pequena peça de pouco mais de um minuto Outra Cena, em que usa a voz e o piano para falar de sol, sêca, sertão, povo, ladrão. Antes, na faixa penúltima (Primeira Bateria), clama por liberdade com a conivência do bandoneon ensinado do pai, Ubirajara.
E por aí ele vai que nem um mago trocando o condão pela batuta, enquanto se investe de maestro ao lado do bruxo Hermeto Pascoal, na flauta; de Toninho Horta, no violão; de Novelli, no baixo acústico; de Nivaldo Ornellas, no sax; de Lúcia Morelembaun, na harpa... De músicos, enfim, de primeiríssima linha.
Se por cá estivesse, certamente sorriria ao ler este texto e levantaria o braço direito com o punho cerrado, dizendo:
— Viva o Brasil, companheiro!
Era o seu jeito. 
 

POSTAGENS MAIS VISTAS