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quarta-feira, 17 de agosto de 2022

DIOGO PACHECO, DO ERUDITO AO POPULAR. ADEUS

Eu quase ia me esquecendo, mas a minha querida Anninha da Hora lembrou-me que hoje é o Dia do Pão de Queijo. E disse-me ela, ainda em tom de lembrança, que hoje é também o Dia do Patrimônio Histórico.
Anninha meus amigos, minhas amigas, é asa que me faz voar na vida depois que os meus olhos fecharam-se para as cores.
Hoje 17 pra mim seria um dia como outro qualquer. E noite. 
Anninha me faz vivo, essa minha querida moleca empresta-me os olhos dela para que eu veja vida...
Hoje 17 faz 35 anos que o poeta mineiro Carlos Drummond de Andrade foi pra além de nós. Está no céu.
Eu conheci Drummond. Eu o entrevistei para o Folhetim.
O Folhetim era um suplemento dominical do diário paulistano Folha de S.Paulo.
Ai, ai, ai, por que estou dizendo isso tudo?
A Anninha é uma danada, ela me tira do prumo. Ela diz coisas que esqueço, que esqueci. E hoje 17 eu queria falar da morte, do passamento, de um cara chamado Diogo de Assis Pacheco. Paulistano.
Diogo Pacheco foi um dos caras mais incríveis que tive a oportunidade e a alegria de conhecer. Frequentei a casa dele.
Pacheco era incrível em todos os sentidos. Brincalhão, cheio de graça. Gostava de whisky, destilados, que nem eu. Levou-me a sua casa várias vezes. E numa dessas idas, ocorreu uma desgraça.
O maestro Diogo Pacheco morava bem, e muito bem, num apartamento ali na zona Oeste de Sampa.
Naquele tempo eu fumava. E muito. Pobre de mim.
Na casa do Diogo, um dia estávamos eu e ele ouvindo música na sua sala especial. De música. Coisas incríveis, musicalmente falando. Clássicos de todos os tamanhos, desde Chopin a Mozart.
Aí fumando, fumando, aceso um cigarro caiu num tapete especialíssimo do maestro. Queimou. O maestro ficou doido. Esculhambou-me e fiquei do tamanhinho de nada. E foi ali, a partir dali, que decidi parar de fumar. E parei! De vez!
Diogo Pacheco foi assistente do meu querido amigo cearense Eleazar de Carvalho. E foi Eleazar quem a me apresentou Pacheco, seu assistente na Orquestra do Estado de São Paulo, OSESP (abaixo).
Meu Deus, quanta coisa mais eu poderia dizer sobre Diogo Pacheco!?
Atenção: foi Diogo Pacheco, ali em 1966, que resolveu a polêmica musical do suposto plágio de Disparada, de Vandré. História. E não custa lembrar que o erudito Diogo Pacheco passou a vida tentando popularizar o erudito.
Quando Anninha lembrou-me o pão de queijo, fiquei naturalmente com a boca cheia d'água.
Quando Anninha lembrou-me que hoje é o dia do Patrimônio Histórico, pensei: Será que o Brasil questiona este dia? Não, não... O dia morreu, a noite está chegando ao fim e ninguém em mídia nenhuma falou desse dia tão importante no nosso calendário.
O corpo do maestro Diogo de Assis Pacheco foi sepultado hoje no final da tarde, no Cemitério da Consolação, onde se acham outros corpos da vida brasileira bastante conhecidos como Monteiro Lobato e a Marquesa de Santos.

DEUS E O DIABO NO PALCO POLÍTICO

Na literatura policial é comum o criminoso voltar ao local do crime. Ficção. Mas isso também acontece na vida real. O incomum, no caso, é a vítima voltar ao lugar em que foi vitimada. Bolsonaro, espécie de Cramunhão da cena política brasileira, voltou aonde recebeu uma mal dada facada no bucho: Juiz de Fora, MG.
Ontem 16, oficialmente 1º dia da campanha política de 2022, Bulsa e sua mulher Michelle disseram mais um monte de mentiras nas ruas. Tudo que diziam, os malucos que o seguem batiam palmas e gritavam o tempo todo o nome de ambos. Circo do horror, né não?
A Michelle, esquisitíssima, lá pras tantas hipoteticamente pediu: "Que Deus dê sabedoria e discernimento ao nosso povo brasileiro para que não entregue o nosso país, a nossa nação tão amada por Deus, na mão dos nossos inimigos". E acrescentou: "Essa campanha, mais uma vez, é um milagre de Deus. Começou em 2019, quando Deus fez um milagre na vida do meu marido, porque aqueles que pregam o amor e a pacificação atentaram contra a vida dele. Mas Deus é maior, e a justiça será feita".
O maridão Coiso da Michelle, que sempre clama por Deus, disse: "É preciso estar atento. A partir de hoje, mais do que nunca, os que amam o vermelho passarão a usar verde e amarelo, os que perseguiram e defenderam fechar igrejas se julgarão grandes cristãos, os que apoiam e louvam ditaduras socialistas se dirão defensores da democracia".
Claro que Bolsonaro, o Bulsa, estava se referindo a seu adversário Lula. Que, por sua vez, disse mandando recado pessoal e direto: "Não acreditou na Ciência, não acreditou na Medicina, não acreditou nos governadores. Bolsonaro, você acreditou na sua mentira porque se tem alguém que é possuído pelo demônio, é esse Bolsonaro, que é um mentiroso".
E todas as bobagens que Bolsonaro disse durante o dia, à noite calou. Calou-se.
Na posse do novo presidente do Tribunal Superior Eleitoral, TSE, Bolsonaro parecia um poste. Apagado. Entrou pequeno no ambiente e de lá saiu menor. Menorsíssimo, quase nada. Nada.
Dos 27 governadores, 22 compareceram à posse do novo Ministro do TSE, Alexandre de Morais.
Além dos governadores, prefeitos de várias capitais também compareceram ao evento. Além disso, e desses figurões, estiveram no local quatro ex-presidentes da República e 45 embaixadores representando seus países.
O paulista Alexandre de Morais discursou com muita firmeza enaltecendo a lisura das urnas eletrônicas e a democracia brasileira. Disse: "Somos uma das maiores democracias do mundo em termos de voto popular, estando entre as quatro maiores democracias do mundo. Mas somos a única democracia do mundo que apura e divulga os resultados eleitorais no mesmo dia. Com agilidade, segurança, competência e transparência. Isso é motivo de orgulho nacional".
É certo que Moraes fazia referência à democracia ora vigente nos EUA, França e Inglaterra. 
Ao dizer o que disse, o novo presidente do TSE foi aplaudido de pé. Apenas dois bobalhões não deram bolas ao que estava sendo dito. Importantíssimo.
Esses dois bobalhões eram o presidente da República e o seu filho 02.
Alexandre de Morais disse mais: "A Constituição Federal consagra o binômio 'liberdade e responsabilidade', não permitindo de maneira irresponsável a efetivação do abuso no exercício de um direito constitucionalmente consagrado. Não permitindo a utilização da liberdade de expressão como escudo protetivo para a prática de discursos de ódio antidemocráticos, ameaças, agressões, violência, infrações penais e toda a sorte de atividades ilícitas. Eu não canso de repetir, e obviamente não poderia deixar de fazê-lo nesse importante momento: liberdade de expressão não é liberdade de agressão, de destruição da democracia, de destruição das instituições, da dignidade e da honra alheias".
Além de Bulsa e seu filho inexpressivo, estiveram na posse do novo presidente do TSE Sarney, Temer, Dilma e Lula-lá. Curiosidade: Bulsa e Lula ficaram cara a cara. E Dilma bem perto do seu algoz, Temer, tipo assim cara a cara. Nenhum desses se falaram. Ai, ai, ai... Pareciam moleques intrigados. Mas, enfim, isso é coisa de política. De políticos.
Preparemo-nos para os absurdos  dos absurdos que virão  desde os fins de agora até os fins de setembro.
Digo isso pensando no Cramunhão, que é um dos nomes do Satanás. A propósito, escrevi outro dia o folheto Repórter Entrevista/Piolho do Cramunhão. Um trecho:

... Perguntado se tem pai
Se tem mãe, se tem parente
O Piolho invocado
Respondeu indiferente:
Isso não interessa
O meu caso é papá gente

Pego homem, pego mulher
Pego preto, pego branco
Eu não faço distinção
Sou desse jeito: franco!
Mas de mim poucos escapam
Sou pior do que um cranco

No inferno tem lugar
Pra todo tipo de gente
Alto, baixo, gordo, magro
Feio, burro e crente
Não tenho preconceito
Sequer contra parente

Sou vírus democrático
Mato macaco, leão
Tigre, burro e pato
Fácil, fácil gavião
Pra pegar um cabra besta
Basta ir na contra mão

Dizem que só pego velhos
Mas jovens pego também
São esses os mais fáceis
Pela burrice que têm
Não aceitam ordenamento
E só fazem o que convém

Pego gente sabida
Doutor, intelectual
Pintor, cantor, jogador
Nessa onda mundial
Jamais vão me esquecer
Não é sensacional?...

Quer ler o texto completo desse folheto de cordel? Clique: https://institutomemoriabrasil.com.br/pagina/1471804/reporter-entrevista-piolho-do-cramunhao
 
A Democracia pode não ser o melhor sistema do mundo, mas é o que melhor atende a uma nação.
LEIA:

terça-feira, 16 de agosto de 2022

CIRO, VÍTIMA OU AGRESSOR?

Hoje 16 começa oficialmente, digamos assim, a campanha eleitoral de campo.
A campanha de rádio e TV, eletrônica, começa no próximo dia 26. 
Na verdade, a "campanha" começou desde que Bolsonaro virou presidente em 2018. E não parou de lá pra cá, sempre desrespeitando as regras do Tribunal Superior Eleitoral, TSE.
O desrespeito de Bolsonaro ao TSE é seguido de desdém. Mais: de agressão e de tentativa de descrédito às urnas eletrônicas que - vejam só! - o elegeram presidente e várias vezes deputado federal. 
A mais nova pesquisa do Ipec, ex-Ibope, divulgada ontem 15 pôs Lula na frente da corrida eleitoral à presidência da República com 44 pontos, 12 a mais do que Bolsonaro. Nessa mesma pesquisa, Ciro Gomes aparece com 6 pontos.
A propósito, Ciro Gomes foi o entrevistado de ontem do Roda Viva.
Na Internet o que se lê hoje 16 é que Ciro quebrou o pau com jornalistas que o entrevistavam. Não foi bem assim. Eu assisti o programa da Cultura do começo ao fim. O que ouvi foi o raciocínio do entrevistado sendo quebrado o tempo todo pelo meio, enquanto ele pedia apenas que o deixassem concluir seu raciocínio. Assim, simples.
Claro que o estilo vapt, vupt é marca do Ciro. Marca essa que o tem prejudicado politicamente. É seu jeito, o que fazer?
Na entrevista ao Roda Viva Ciro botou numa mesma cumbuca Bolsonaro e Lula, chamando-os de "corruptos, corruptores e ladrões". 
O detalhe é que na entrevista ao programa da Cultura Ciro não deixou nenhuma pergunta solta ou sem resposta. Respondeu tudo. Repetiu que essa será sua quarta e última tentativa de chegar à presidência da República. Confiram:


segunda-feira, 15 de agosto de 2022

10 ANOS SEM ALTAMIRO CARRILHO

Altamiro Carrilho, por Fausto
 
Altamiro Carrilho foi um dos maiores flautistas do Brasil e hoje, 15/8, faz exatos 10 anos que ele trocou a terra pelo céu. E desde lá continua nos enchendo de saudade.
A carreira artística de Altamiro foi iniciada em 1938, quando integrou a Banda Lira de Arion. Sua primeira gravação ocorreria cinco anos depois, num disco de Moreira da Silva.
Moreira marcou profundamente a música brasileira, como Altamiro.
A carreira artística de Altamiro ganhou impulso quando foi convidado pelo exímio violonista Américo Jacomino, o Canhoto, com a responsabilidade de substituir o flautista Benedito Lacerda.
Benedito foi um dos grandes parceiros de Pixinguinha.
Altamiro Carrilho apresentou-se em cerca de 50 países. Na Rússia, ele me disse um dia, que chegou a gravar disco. Lá. Um disco que jamais foi relançado no Brasil.
A primeira entrevista que fiz com Altamiro foi para a rádio Jovem Pan e a última, quando eu abri ao público a "ocupação" musical na unidade Sesc de Santana, na Capital paulista, intitulada Roteiro Musical da Cidade de São Paulo. Isso em janeiro de 2012. E foi nesse ano, num dia 15 de agosto, que complicações respiratórias o tiraram do nosso convívio.
Altamiro Carrilho chegou a ser comparado ao craque Pattápio Silva.
Viva Altamiro!

sexta-feira, 12 de agosto de 2022

CARTA DE SUCESSO


O inverno finalmente chegou ontem 11 na Capital paulista. Sem chuva, mas com um frio de rachar qualquer resistência: 9,5ºC, com sensação térmica de 3ºC.
O frio que chegou à Capital paulista não impediu que milhares de cidadãos e cidadãs de todas as idades e profissões fossem bater palmas e lutar pela preservação da democracia em ato cívico realizado no salão nobre da Faculdade de Direito da Universidade de São Paulo, USP, ali no Largo São Francisco.
O ato foi transmitido por emissoras de rádio e televisão em várias partes do País. E até no Exterior, Londres, por exemplo. Tudo via Internet. 
A Carta às Brasileiras e aos Brasileiros em Defesa do Estado Democrático de Direito foi lida em pelo menos 22 dos 26 Estados, mais o Distrito Federal.
O ato pela democracia  foi apartidário. 
Entre os brasileiros que subscreveram a carta, se acham 727 porteiros, 8.973 desempregados, 5.045 enfermeiros, 4.217 motoristas, 6.619 policiais, 519 delegados de polícia, 28.868 engenheiros, 15 mil médicos e 4.231 magistrados, além de candidatos a diversos cargos políticos. Para presidente, inclusive.
Já passa de 1 milhão o número de pessoas que subscreveram a famosa Carta da USP. Sucesso. Com isso quero dizer o óbvio: o dia 11 de agosto de 2022 já é uma data histórica.

ROSA MORENA HOMENAGEIA CLARA NUNES


Assis e Clara Nunes
Admirada por Dorival Caymmi, Batatinha, Riachão, Roberto Mendes, Capinam, Ivete Sangalo e Fatel a cantora paulistana Rosa Morena subirá ao palco da casa de espetáculos Traço de União logo mais às 20h, para desfilar um rosário de músicas do riquíssimo repertório da cantora mineira Clara Nunes.
Hoje 12 Clara faria 80 anos de idade, mas uma má cirurgia para extrair-lhe inconvenientes varizes a tirou do nosso convívio. Isso no dia 2 de abril de 1983, no Rio de Janeiro.
A história de Clara Nunes é uma história bonita, brilhante, daí o título do show de Rosa Morena: Resplandecer. "Resplandecer, significa brilhar intensamente. Frase que perfeitamente se encaixa na trajetória brilhante de Clara Nunes, cujo legado é marcante e inesquecível", diz a cantora paulistana.
Além de cantora, Rosa Morena é compositora e atriz que durante longo tempo brilhou nos palcos sob o comando do diretor José Celso Martinez Corrêa. "Estou vivendo meu melhor momento e o samba de São Paulo é um gênero de que gosto muito, identifico-me com ele", diz Morena.
Eu conheci Clara Nunes num ano qualquer de 1970. Clique: CLARA NUNES, VOZ QUE ENCANTOU O BRASIL
O Traço de União, onde Rosa Morena se apresentará ainda hoje, localiza-se na rua Fradique Coutinho, 1013 - Pinheiros.

quinta-feira, 11 de agosto de 2022

PRISÃO E TORTURA NUNCA MAIS

Brasileiros e brasileiras mobilizam-se a favor da liberdade, da democracia, tão duramente conquistadas por todos nós.
São intoleráveis os ataques contra o Estado de Direito praticados diuturnamente pelo presidente Bolsonaro.
No decorrer do dia de hoje 11, a partir desta manhã, pipocarão manifestos a favor do bem-estar comum. A principal manifestação ocorrerá no salão nobre da Faculdade de Direito do Largo São Francisco, no miolo do Centro Histórico da Capital Paulista. Por volta das 11 horas será lida a carta cívica escrita por professores e alunos da Universidade de São Paulo, USP.
A carta já recebeu mais de 900 mil assinaturas de porteiros, médicos, advogados, jornalistas, artistas atletas e escritores,. Eu mesmo a assinei.
O terror tomou conta do Brasil entre 1964 e 1985, período em que muitos brasileiros foram perseguidos, presos, torturados e mortos.
O presidente Bolsonaro, eleito democraticamente pela população, insiste o tempo todo em desacreditar as urnas eletrônicas e tirar sarro das manifestações populares a favor de todos nós. O Brasil não aguenta mais isso. 
Até agora, hackers cometeram mais de 20 mil ataques na tentativa de derrubar o site com a Carta às brasileiras e aos brasileiros em defesa do Estado Democrático de Direito. Em vão. 
A carta feita por professores e estudantes da USP já foi traduzida para o inglês, espanhol, francês, italiano e alemão.
Viva a liberdade! Tudo pela Democracia!

VISITA DAS BOAS

Moreira, Sebastião, Solenne e Assis, no IMB
Ontem à noite 10 tive a alegria de receber a visita dos amigos Moreira de Acopiara, Sebastião Marinho e da professora universitária Solenne Derigond. 
Moreira de Acopiara é um dos mais inspirados cordelistas do Nordeste. Já escreveu centenas de folhetos e já publicou, até agora, 32 livros. Ele tem 61 anos de idade e é natural do Ceará. Só sobre o Cangaço, Moreira escreveu 42 folhetos.
Sebastião Marinho, presidente da União dos Cantadores Cordelistas e Apologistas do Nordeste, UCRAN, é dos mais inspirados poetas repentistas do nosso País. Tem discos e folhetos lançados. Tem 74 anos de idade e ontem 10 fez uma festa maravilhosa aqui em casa, com a sua viola mágica.
Solenne é professora da Universidade CAEN, na Baixa Normandia, ao norte da França.
Foi, o nosso, um encontro inesquecível.

quarta-feira, 10 de agosto de 2022

ÍNDIO, VIDA E PÁSSARO. TUDO É NATUREZA

Nestes tempos loucos, de tristeza, solidão e desespero; de carestia de respeito ao próximo e violência; de devastação da natureza, do meio ambiente e tudo mais, não custa lembrar que o dia 10 de agosto marca o nascimento do primeiro e mais importante poeta romântico do Brasil: Antonio Gonçalves Dias, maranhense de Caxias.
Gonçalves Dias (1823-1864) era filho de um português e de uma mestiça brasileira, de poucos recursos. Mesmo assim, os pais se esforçaram e conseguiram enviá-lo à Coimbra. Corriam os anos de 1840. Em 44, por alí, Dias retornou ao Brasil com um diploma de Direito debaixo do braço. Não parou em sua terra, foi direto tentar a vida como advogado na capital do Império.
No Rio, atuando como jornalista no Diário do Comércio, logo ganhou fama que cresceu ao publicar o livro Primeiros Poemas.
Meu amigo, minha amiga, você conhece a Canção do Exílio? É assim:

Minha terra tem palmeiras,
Onde canta o sabiá;
As aves, que aqui gorjeiam,
Não gorjeiam como lá.

Nosso céu tem mais estrelas,
Nossas várzeas têm mais flores,
Nossos bosques têm mais vida,
Nossa vida mais amores.

Em cismar, sozinho, à noite,
Mais prazer eu encontro lá;
Minha terra tem palmeiras,
Onde canta o Sabiá.

Minha terra tem primores,
Que tais não encontro eu cá;
Em cismar sozinho, à noite
Mais prazer eu encontro lá;

Minha terra tem palmeiras,
Onde canta o sabiá.
Não permita Deus que eu morra,
Sem que eu volte para lá;

Sem que desfrute os primores
Que não encontro por cá;
Sem qu’inda aviste as palmeiras,
Onde canta o Sabiá.


A Canção do Exílio é o poema mais plagiado da nossa história.
A obra de Gonçalves Dias enaltece o índio, o amor, a vida e os pássaros. Pequena, mas densa. De altíssimo nível e toda distribuída nos livros Primeiros Cantos, Segundos Cantos e Últimos Cantos.
É no Primeiros Cantos que se acha Canção de Exílio.
Pois é, Gonçalves Dias falou muito dos índios brasileiros.
Pouca gente, mesmo quem frequentou ou frequenta os bancos escolares, lembra ou diz de bate-pronto o belo poema Juca Pirama.
Juca Pirama é um poema desenvolvido em dez Cantos. No enredo um jovem tupi aparece passeando nas matas com o pai cego. Um dia, sem o pai, o jovem é capturado por índios inimigos. Antropófagos. Esses índios costumavam comer os inimigos valentes, guerreiros, para deles ganharem força. Era o que pensavam. Os covardes eram humilhados e soltos. O jovem tupi capturado foi enquadrado como covarde. O pai não gostou e entregou o filho aos inimigos, que o devoraram.
Hoje é politicamente incorreto chamar índio de índio.
Gonçalves Dias e José de Alencar estariam fritos e simbolicamente engolidos pelos patrulheiros de plantão.
Téo Azevedo e eu, e também Caetano Veloso, podemos ser considerados politicamente incorretos. Téo e eu compusemos, há uns 20 anos, a música O Índio. Um Índio é a música de Caetano.
José de Alencar, indianista de primeira hora, deixou três livros falando desse assunto. Todos belos. Destaco O Guarani, que em 1870 ganharia uma belíssima versão operística levada à cena no teatro Ala Scalla de Milão, pelo paulista de Campinas Antonio Carlos Gomes.
Dia 9 de agosto é o Dia Internacional dos Indígenas. A data foi criada pela Organização das Nações Unidas, ONU, em 1995.
A população indígena, no Brasil, não chega hoje nem a um milhão. Pena.
Como Gonçalves Dias, Alencar falou na sua obra de índio, amor, vida e pássaros.
No Brasil existem hoje cerca de 1900 espécies de aves, 240 das quais se acham em processo galopante de extinção.
Desde 2002, o Brasil tem como símbolo o sabiá.
Há vários tipos de sabiás. O que virou símbolo, tem por "sobrenome" laranjeira.
O Sabiá laranjeira é lindo.
Eu gosto de tudo quanto é pássaro. Nunca matei, nem prendi um pássaro em gaiola.
No meu tempo de moleque safado em terras paraibanas, eu fingia caçar com meus pares igualmente safados, moleques. Saíamos armados de baladeira ou bodoque, mas nenhum bichinho da natureza era vítima das nossas eventuais más intenções.
Fui crescendo, fui crescendo e cada vez mais gostando de passarinhos. O beija-flor me encanta.
Catalogados, existem mundo afora cerca de 320 espécies de beija-flor. Só no Brasil, 84. E por não ter o que fazer, fiz:

Voa voa passarinho
Passarinho beija-flor
Leva leva no teu bico
Um beijo pra meu amor

Meu amor está dormindo
Um sono reparador
Voa voa passarinho
E diz a ela por favor
Que sem ela sou jardim
Despetalado, sem cor

O meu sonho, passarinho
Passarinho beija-flor
É viver agarradinho
Nos braços do meu amor



Ilustração por Fausto Bergocce
Na literatura e na música brasileira, os pássaros são personagens frequentes. Os mais visíveis são o Sabiá, a Bem-te-vi, a Asa Branca, Assum Preto, a Acauã.
O baião Sabiá, de Luiz Gonzaga e Zé Dantas, é uma obra-prima.
Em 1995, John Dalgas Frisch e seu filho Christian publicaram uma jóia: Jardim dos Beija-flores, todo em papel couchê.
Dalgas Frisch foi o cara que aventurou-se na Amazônia e gravou centenas de cantos de passarinhos, incluindo o Uirapurú. Essas gravações renderam cinco LPs, compactos e viraram CDs, depois. À época, 1962, o presidente norte-americano John Kennedy (1917-1968) chegou a expressar, por escrito, suas impressões sobre a fabulosa façanha empreendida por Dalgas.
Eu cheguei a levar Dalgas Frisch para entrevista no programa São Paulo Capital Nordeste, que durante anos apresentei na rádio Capital AM 1040. À época, ele estava lançando um bonito relógio de parede com pássaros marcando hora.
Em 1991, o capixaba Augusto Ruschi publicou Aves do Brasil em pranchas ilustradas por Etienne Demonte e Yvonne Demonte. Pérola.
Ruschi (1915-1986) formou-se em engenharia agronômica em 1940. Depois, especializou-se em Botânica. No correr da vida acumulou muitos cursos, chegando a integrar a Academia Brasileira de Ciências.
Antonio Gonçalves Dias morreu afogado aos 41 anos de idade, quando o navio em que viajava naufragou na costa do Maranhão.
Ouça Canção do Exílio, com Paulo Autran:

 
Foto e Reproduções Flor Maria e Anna da Hora

EU E MEUS BOTÕES (31)

Seu Assis, seu Assis, começou quase gritando o Zoião: "O sinhô acompanhou a entrevista do maldito Bolsonaro no canal Flow Podcast, conduzido por Igor Coelho?".
Antes que eu abrisse a boca, Mané pegou a deixa de Zoião bradando: "Um horror! Um horror! Como é que pode um presidente da República dizer tanta mentira na Internet?".
Zé, nervosíssimo, falou: "Meu Deus, meu Deus! O Brasil está afunhenhado, quebrado, lascado!".
Quando eu tentei dizer alguma coisa, em resposta a Zoião, Barrica do canto onde se achava não se controlou e falou quase berrando: "Esse Bolsonaro é um feladaputa!".
Calma, calma, pessoal...
"Calma coisa nenhuma, seu Assis! O que esse sujeito está fazendo de mal ao Brasil, e aos brasileiros, está fora de contexto. Fora de tudo!", falou Biu.
Biu, como se sabe, é um cabra tranquilo, de pouco falar. E lá vem ele de novo: "Seu Assis, eu nunca ouvi tanta mentira saída de um sujeito só. Esse Bolsonaro aí é um horror. É cabra que não presta. E quem gosta dele também não presta. É um feladaputa, como disse o mano Barrica".
Rabiei os olhos e dei de cara com Lampa, que me olhava enquanto cutucava as unhas com seu punhal de estimação. 
Pela primeira vez, aqui na casa do meu experiente poeta Zilidoro, notei Jão assim meio encafifado. Ele olhou pra mim e falou: "Seu Assis, é tanto absurdo que meu ouvido guardou que fico até sem jeito de dizer o que quero dizer. A minha finada vó, dona Zilda, ensinava que ninguém deve mentir. Que mentira só faz mal a quem diz e a quem ouve. O nosso presidente é um sujeito desqualificado. Completamente desqualificado, sem noção. Ele é perigoso. As suas maluquices são por ele elaboradas...".
"É isso mesmo, Jão. Você tem razão. Você é muito observador. Você está analisando perfeitamente o comportamento desse cara. Você tem razão quando diz que ele é perigoso. A entrevista que ele deu a Igor Coelho, do canal Flow Podcast, foi toda recheada de absurdos, de mentiras. Mas ainda bem que os jornalistas das grandes empresas preocupadas com o destino de nosso País estão fazendo o que deviam fazer. Ou seja: identificar ponto a ponto as mentiras, ou Fake News, ditas no vídeo que durou mais de 5 horas. É incrível o poder que tem Bolsonaro de mentir. Ele mente o tempo todo! Ele mistura tudo. Com o perdão da palavra, ele é um escroto!", desabafou o sempre calmo e sensato Zilidoro.
O Lampa, lá do seu canto, meteu a colher na conversa: "Sei não, sei não, mas acho que vou ter trabalho este mês. Se não neste mês, em setembro...".
Eu quis saber por que em setembro o Lampa teria ou terá trabalho: Que tipo de trabalho, Lampa?
Barrica se antecipou e quase ao mesmo tempo o seguiram Zoião, Biu, Zé e Jão: "Lampa quer matar!".
Levantei a mão e pedi calma, dizendo que não é esse o caminho. O caminho é a verdade e as urnas. Ninguém deve matar ninguém, o que deve morrer é a mentira. Ninguém tem o direito de mentir para ganhar adeptos e votos nas urnas. As urnas do TSE são invioláveis. E é nas urnas que deveremos matar a mentira, votando corretamente e trazendo à luz as verdades históricas. Chega de Fake News! O Brasil precisa de presidente que governe. E que resolva os nossos problemas, incluindo os problemas provocados pela fome.
"Chefe, o sinhô é muito direitin. Gente que não presta, não presta. Eu, na verdade, nunca matei ninguém. Quem mata é Deus, eu só dou uns furinho na barriga de quem não presta!", falou amuado o desengonçado Lampa.
Pessoal, eu disse, o Brasil é um país fantástico. Eu amo o meu País...
Antes que eu concluísse meu pensamento, os meus botões disseram em uníssono: "Eu amo o Brasil! Eu amo o Brasil!".
Calmo, Zilidoro falou pausadamente: "Nós a-ma-mos o nosso País. E por amar nosso País, por ele lutamos. Mas quero deixar no ar a pergunta que me incomoda: Por que as pessoas não leem mais, não leem livros? E não se informam corretamente? Na leitura, na educação, se acha muita coisa importante. Precisamos ler, ler e ler! Nunca é tarde para ler. A leitura é o caminho da verdade, como é a educação de modo geral".
De repente os meus botões, todos, bateram palmas endossando a compreensão de Zilidoro.
"É, Zilidoro tem razão. E o sinhô, também. Ninguém deve matar ninguém. O que deve morrer é a mentira. Gente que não presta por si só se destrói", diz com a voz clara, pela primeira vez, o cabra Lampa. E eu o aplaudi porisso.
Zoião, que abriu essa conversa, disse que acompanhou minuto a minuto a entrevista de Bolsonaro ao Flow Podcast. E concluindo, disse: "Sugiro que leiam o que os jornalistas escreveram sobre as falas mentirosas de Bolsonaro".
"Correto, correto!", apoiou Mané.
Só uma coisa a mais, interrompeu Jão: "Os jornalistas são fantásticos. Fazem um trabalho extraordinário, separando a mentira da verdade". Concordei. Só tinha a concordar com meus botões nesta manhã de 10 de agosto de 2022.
Quando eu falei 10 de agosto, Zilidoro pediu licença pra dizer o seguinte: "Foi no dia 10 de agosto de 1823 que nasceu, no Maranhão, o poeta Antônio Gonçalves Dias. É desse poeta a famosa Canção do Exílio. Gonçalves Dias, na sua obra, falou do índio, da vida, dos pássaros. Ele falou de amor, falou da natureza. Sugiro que leiam Gonçalves Dias".
Boa, boa, Zilidoro! Você acaba de me dar a ideia de escrever ainda hoje um texto especial sobre esse grande poeta romântico que foi Gonçalves Dias. É isso, pessoal. Nossa roda de conversa está encerrada e até outro dia.

terça-feira, 9 de agosto de 2022

CORDELISTAS HOMENAGEIAM JÔ SOARES

 
Não faz ainda nem uma semana que o ator, autor, apresentador de TV e humorista Jô Soares morreu e já se acha na praça um belo folheto de cordel contando o mal sucedido, no último dia 5, à Nação brasileira. Trata-se de Jô Soares Entrevistado em um Talk Show no Céu (acima), de autoria dos cearenses incríveis Rouxinol do Rinaré e Klévisson Viana. Os dois craques são dos melhores que há no cordelismo. Ambos já publicaram dezenas de livros e centenas de folhetos.
Sobre Rinaré já escrevi um monte de coisas. Leia: ROUXINOL DO RINARÉ, POETA NOTA MIL!
Sobre Klévisson Viana, meu parceiro em duas ou três músicas junto com Gereba, também já escrevi
bastante. Ouça e confira: QUIXOTEANDOKLÉVISSON VIANA, UM MESTRE DOS NOSSOS TEMPOS
Em novembro de 2001, Klévisson Viana foi entrevistado por Jô. Ele lembra: "Por indicação do jornalista Audálio Dantas, eu fui entrevistado no Programa do Jô Soares na sede na Rede Globo SP. Apresentei o cordel 'O atentado terrorista que abalou os EUA' e 'Carta de um Jumento a Jô Soares' (capa ao lado) ambos meus e de Arievaldo Vianna".
Leia, em primeira mão neste Blog, a íntegra do folheto Jô Soares Entrevistado em um Talk Show no Céu:

Mais uma estrela do riso
Neste plano se apagou
Nesta sexta-feira cinco
A mídia noticiou
Que no Sírio-Libanês
Jô Soares nos deixou!

Com oitenta e quatro anos
Faleceu o humorista.
Foi escritor, dramaturgo,
Ator, músico e jornalista
Que merece este registro
Da pena do cordelista.

À família e aos amigos
Nossos sinceros pesares,
Sua legião de fãs,
Que ele fez rir aos milhares,
Numa só voz diz: Adeus,
José Eugênio Soares!

Hoje “O Planeta dos Homens”
Fica sem graça e carente
A ausência de Jô Soares
O Brasil inteiro sente,
Mas fica imortalizado
Seu humor inteligente!

Com sua mente brilhante
Por seu humor refinado
Nosso grande Jô Soares
Pra sempre será lembrado
Todo o Brasil reconhece
Seu valoroso legado.

Jô Soares foi um mestre
Que das musas foi eleito
No humor tinha talento
Gozou de grande conceito
E em tudo que atuou
Procurou fazer bem feito.

Na galeria dos gênios
Nos mais altos patamares
O nosso gordo desponta
Se destaca entre os milhares
Viva o Gordo! Viva o mestre!
Nosso eterno Jô Soares.

Seu programa Viva o Gordo
Marcou sua trajetória
Foi na TV brasileira
Que alcançou fama e glória
Dirigiu, foi roteirista
Fez rir e contou história.

Lembro Coronel Pantoja,
Torcedor Zé da Galera,
Genial era O Reizinho,
Pois nosso Jô era um fera.
Capitão Gay que era fresco
Quais flores na primavera.

Era uma voz contundente
Em defesa do Brasil
Seu humor inteligente
Cheio de graça, sutil,
E como entrevistador
Era engraçado e gentil.

Por tudo que fez nos palcos
Cinema e televisão
Interpretando seus tipos
Com alegria e diversão
Figura entre os mais brilhantes
Artistas desta Nação.

N“O Homem do Sputnik”
Brilhou jovem no cinema
Foi músico, também cantor,
A arte era seu esquema
Seu nome se elevará
Onde o humor for o tema.

Foi ele o gordo mais leve
Que já viveu neste mundo
Era um artista completo
Com seu domínio profundo
Tinha o dom de fazer rir
Todo minuto e segundo.

Com “O Xangô de Baker Street”
Jô traçou um novo esquema
Brilhou como romancista
Sherlock Holmes foi tema
E seu livro foi direto
Para as telas do cinema.

Jô Soares fez história
Foi humano, foi decente
Na condição de amigo
Jô era sempre presente
Não tolerava injustiça,
Sentia o que a gente sente.

Jô Soares num poema
Deixou uma despedida
Recitando como alguém
Que antevê a partida
Disse: "Não chorem em meu túmulo",
Pois há vida além da vida!

Não estou lá em meu túmulo,
Não adianta chorar...
Estou nas águas do rio,
Estou no vento a soprar,
Estou também nas estrelas
Pelas noites a brilhar!

Mas Jô ao desencarnar
No quarto do hospital
Teve rápida letargia
E despertou afinal
Num programa de entrevistas
Na corte celestial

Jesus muito sorridente
Consultou na sua lista
E viu o nome de Jô
O nosso estimado artista
E no talk show do céu
Marcou a sua entrevista.

O “JC Onze e Meia”
Que chega a muitos lugares
Tem gigantesca audiência
É um dos mais populares
Jesus disse para o gordo:
— Venha pra cá, Jô Soares!

Nisso o Sexteto Celeste
Tocou de forma singela
Jô deu graças a Jesus
Por sua existência bela
E ficou emocionado
Vendo seu rosto na tela.

Olhando para o Sexteto
Nosso Jô se admira
Um dos músicos que tocava
Numa harpa ou numa lira
Era um velho conhecido,
Seu querido amigo Bira.

Enquanto Bira tocava
Se exibia no telão
Entre efeitos multicores
O cosmos em expansão
Belezas da Via Láctea:
Saturno, Urano e Plutão.

E da Terra, o Taj Mahal,
Um belo símbolo de amor,
Entre outras maravilhas
Nosso Cristo Redentor,
Monumento a “JC”,
O ilustre apresentador.

Inicia a entrevista
Jesus segura-lhe a mão
E recordou a estreia
De Jô na televisão
Lá na Praça da Alegria
Com o personagem Alemão.

Lembram cada atuação
Que seu humor fino encerra
Como o programa global
“Faça humor, não faça guerra”,
Uma sátira à guerra fria
Que envergonhava a Terra.

A certa altura Jesus
Perguntou: — Jô, afinal,
Como a Terra está? Vai bem?
Jô respondeu: — Vai bem mal!
E se ouviu no auditório
A gargalhada geral.

Jesus retruca: — E o Brasil?
Agora é uma nação mítica?
Você que é inteligente
E tem uma visão crítica,
Me diga, o que é que achas
Da situação política?

Jô Soares respondeu:
— Nossa “Pátria do Cruzeiro”
Sofre com a pandemia
Que assola o mundo inteiro
E com um governo tirano
Que massacra o brasileiro!

Jesus fazia perguntas
A fim de descontrair
E Jô, espirituoso,
Deixava o verbo fluir
No talk show a plateia
Bolava de tanto rir!

Jô Soares demonstrava
QI acima da média.
Jesus diz: — No humorismo
Tu és uma enciclopédia!
Jô responde: — É “falha nossa”
Se a vida é uma comédia!

Dos 300 personagens
Que Jô Soares criou
A pedido de Jesus
Alguns ele interpretou:
Tavares, Vovó Naná
Brilharam no talk show...

O professor Gengir Khan,
Irmão Thomas, Manchetão,
Norminha hippie, Zezinho,
Mordomo Gordon, Bocão...
Jô, com versatilidade,
Deu show de interpretação!

De pé a plateia aplaude.
Nesse talk show divino
Vieram abraçar o Jô
Tutuca, Paulo Silvino,
Lúcio Mauro, Chico Anysio,
Mestres do humor genuíno!

Grande Otelo também veio,
Zilda Cardoso, Oscarito,
Jorge Loredo, Golias,
Roni Rios... como um rito
Jô e o elenco do riso
Que vive no infinito.

Todos saudaram felizes
O grande comediante.
Jesus parabenizou
Esse humorista gigante,
Jô com “um beijo do gordo”
Despediu-se cativante!

Jô ficou junto de Deus,
A Suprema Inteligência.
No mundo espiritual
Prossegue sua existência,
Tornando o céu mais alegre
Com graça e irreverência!

Fim 

VOCÊ JÁ ASSINOU A CARTA DA USP?

O mês de agosto, de desgosto, é o mês do cachorro louco. E o bicho que se acha aboletado na cadeira de presidente é bicho sem limite para o mal. Símbolo deste trágico mês de agosto, pois foi nesse mês que Getúlio enfiou um tiro no peito e deixou uma nação em luto. Foi nesse mês também que o Homem da Vassourinha, Jânio Quadros, renunciou à presidência da República.
Muita coisa ruim aconteceu no mês de agosto. 
Bolsonaro tá de garras afiadas pra pegar a pulso a liberdade que a Democracia nos dá. Mas os brasileiros e brasileiras estão se juntando para o Brasil não sucumbir à escuridão.
Meu amigo, minha amiga, você já assinou a Carta às brasileiras e aos brasileiros em defesa do Estado Democrático de Direito elaborada por professores e estudantes da Universidade de São Paulo, USP? Se não assinou, assine. O caminho é este: www.estadodedireitosempre.com
Ah! Mais de 800 mil pessoas com vergonha na cara e desejo de liberdade já a assinaram. Inclusive, eu.

segunda-feira, 8 de agosto de 2022

VIVA PEDRO BANDEIRA, 80 ANOS!

 
Cinquenta anos de carreira profissional é uma boa data para ser lembrada. Como 80 e 100.
O paulista de Santos Pedro Bandeira, começou a carreira como ator, cenógrafo e diretor na metade dos anos de 1970.
Pedro Bandeira, de batismo Pedro Bandeira de Luna Filho, deixou as coisas do teatro e meteu-se com tudo na seara literária do infanto-juvenil. Seu primeiro livro resultante dessa investida foi O Dinossauro Que Fazia Au-Au (Moderna, 1983).
O segundo livro de Bandeira, A Droga da Obediência (Moderna, 1984) vendeu que nem banana em feira livre.
Os cinquenta anos de carreira literária de Bandeira não renderam loas na Imprensa, como loas à Bandeira não renderam os seus 80 anos de vida, completados este ano.
Por que falo isso?
Todos os jornais, revistas e emissoras de rádio e TV continuam noticiando os 80 anos de vida do baiano Caetano Veloso. Acho bom. Isso é louvável, mas louvável também seria se outros grandes nomes da música, literatura e de outras atividades do campo artístico brasileiro, como o já referido Bandeira, fosse igualmente lembrados.
São muitos os brasileiros que nos legaram obras de formação e referência. E por que não reverenciá-los?
Poucos grandes nomes do viver literário e artístico sobrevivem à memória.
O cearense José de Alencar, o fluminense Machado de Assis, o pernambucano Manuel Bandeira, o mineiro Carlos Drummond ainda sobrevivem de modo, digamos, inconsciente na nossa memória.
No campo da música erudita sobrevivem Carlos Gomes e, especialmente, Heitor Villa-Lobos. Mas há mais.
O compositor e maestro cearense Eleazar de Carvalho é um nome que está se apagando. E não custa lembrar que foi ele, Eleazar, o criador do Festival de Campos de Jordão. Isso, em 1970. À propósito, a 52ª edição desse Festival findou no último 31 de julho.
Eleazar de Carvalho foi, durante anos, o maestro titular da Orquestra Sinfônica da Cidade de São Paulo.
Atenção, galera: O poeta Carlos Drummond de Andrade nasceu no dia 31 de outubro de 1902. O caso se deu em Itabira, MG. Merece lembrança?
A data não é redonda, mas se aproxima dos 90. Refiro-me ao cantor e compositor paraibano Geraldo Vandré. No próximo dia 12 de setembro, o autor de Pra não Dizer que Não Falei de Flores fará 87 aninhos. E aí? Antes, daqui a 2 anos, Chico Buarque fará oitentinha. Pois é.
Eu da minha parte, menino que sou, chegarei aos 70 daqui a um mês e 19 dias. Ui!
Caetano Veloso nasceu em Santo Amaro da Purificação, na Bahia.
A cidade do Caê é a mesma cidade/berço do pioneiro da nossa música Manuel Pedro dos Santos. Manuel, o Bahiano, nasceu em 1870 e morreu em 1944. 
Bahiano foi o primeiro cantor profissional do Brasil.  E nem o Caê fala dele, por quê?
Pois é, a vida é mesmo assim: pra uns tudo, pra outros nada.
Caetano Emanoel Viana Teles Veloso compôs, até hoje, 631 músicas que já foram gravadas ou regravadas 1.953 vezes por artistas diversos, incluindo o próprio.
Viva Caê!

sexta-feira, 5 de agosto de 2022

TUDO PELA DEMOCRACIA

Cada dia mais se faz necessário que fiquemos atentos aos movimentos do presidente da República, que comanda seu timão a favor do caos contra o Brasil.
Diante dos riscos que a democracia corre, no Brasil, a sociedade tida civil está se mobilizando.
Já beira à casa dos 800 mil os subscritos da Carta às Brasileiras e aos Brasileiros em Defesa do Estado Democrático de Direito, elaborada por alunos e professores da Universidade de São Paulo, USP, que será lida no próximo dia 11 na Faculdade de Direito do Largo de São Francisco.
Hoje 5 os principais jornais do Brasil trazem, por sua vez, uma carta aberta à população intitulada Em Defesa da Democracia e da Justiça. A carta, escrita pela Fiesp, traz a marca de associações empresariais, ONGs, centrais sindicais e universidades. 
Eis a íntegra, leia:

No ano do bicentenário da Independência, reiteramos nosso compromisso inarredável com a soberania do povo brasileiro expressa pelo voto e exercida em conformidade com a Constituição.
Quando do transcurso do centenário, os modernistas lançaram, com a Semana de 22, um movimento cultural que, apontando caminhos para uma arte com características brasileiras, ajudou a moldar uma identidade genuinamente nacional.
Hoje, mais uma vez, somos instigados a identificar caminhos que consolidem nossa jornada em direção à vontade de nossa gente, que é a independência suprema que uma nação pode alcançar. A estabilidade
democrática, o respeito ao Estado de Direito e o desenvolvimento são condições indispensáveis para o Brasil superar os seus principais desafios. Esse é o sentido maior do 7 de Setembro neste ano.
Nossa democracia tem dado provas seguidas de robustez. Em menos de quatro décadas, enfrentou crises profundas, tanto econômicas, com períodos de recessão e hiperinflação, quanto políticas, superando essas mazelas pela força de nossas instituições.
Elas foram sólidas o suficiente para garantir a execução de governos de diferentes espectros políticos. Sem se abalarem com as litanias dos que ultrapassam os limites razoáveis das críticas construtivas, são as nossas instituições que continuam garantindo o avanço civilizatório da sociedade brasileira.
É importante que os Poderes da República – Executivo, Legislativo e Judiciário – promovam, de forma
independente e harmônica, as mudanças essenciais para o desenvolvimento do Brasil.
As entidades da sociedade civil e os cidadãos que subscrevem este ato destacam o papel do Judiciário
brasileiro, em especial do Supremo Tribunal Federal, guardião último da Constituição, e do Tribunal Superior Eleitoral, que tem conduzido com plena segurança, eficiência e integridade nossas eleições respeitadas internacionalmente, e de todos os magistrados, reconhecendo o seu inestimável papel, ao longo de nossa história, como poder pacificador de desacordos e instância de proteção dos direitos fundamentais.
A todos que exercem a nobre função jurisdicional no país, prestamos nossas homenagens neste momento em que o destino nos cobra equilíbrio, tolerância, civilidade e visão de futuro.
Queremos um país próspero, justo e solidário, guiado pelos princípios republicanos expressos na Constituição, à qual todos nos curvamos, confiantes na vontade superior da democracia. Ela se fortalece com união, reformando o que exige reparos, não destruindo; somando as esperanças por um Brasil altivo e pacífico, não subtraindo-as com slogans e divisionismos que ameaçam a paz e o desenvolvimento almejados.
Todos os que subscrevem este ato reiteram seu compromisso inabalável com as instituições e as regras
basilares do Estado Democrático de Direito, constitutivas da própria soberania do povo brasileiro que, na data simbólica da fundação dos cursos jurídicos no Brasil, em 11 de agosto, estamos a celebrar.

A GENTE CHEGA, PASSEIA E PARTE. É DA VIDA

 

A impressão que eu tenho é que o dia amanheceu, hoje 5, mais triste. E não à toa, pois acabo de ouvir no rádio que o multitudo Jô Soares, 84 anos, partiu para a Eternidade. Foi às 2h20 no Sírio Libanês, em São Paulo.
Jô fez tudo, ou quase tudo, no campo das artes. Foi ator, autor, diretor de teatro, escritor, pintor, e tudo mais. Destacou-se em todas as áreas que entrou, inclusive na televisão.
Deixou muitos e muitos personagens e uma legião sem fim de admiradores, entre os quais eu.
No final dos anos de 1980, a contragosto, trocou a TV Globo pelo SBT. Motivo: queria virar apresentador, mas a direção da Globo não o quis para isso.
Fez um sucesso estrondoso no SBT e aí, Plim! Plim!, a Globo o chamou de volta pagando o que não lhe pagava antes. E é assim a história.
Eu participei de um dos seus programas. Foi no SBT, ao tempo em que eu lançava o livro Eu Vou Contar Pra Vocês (Ícone, 1990). Comigo participou do programa Onze e Meia a cantora e compositora pernambucana Anastácia.
O pai de Jô Soares, Osvaldo Heitor Soares, era paraibano. E Jô, carioca.
A vida é assim: a gente chega, passeia e parte.

quinta-feira, 4 de agosto de 2022

HÁ 92 ANOS MORRIA SINHÔ

Do velório e sepultamento do corpo do compositor e instrumentista carioca José Barbosa da Silva, o Sinhô, participaram boêmios, atores, músicos, poetas, malandros e prostitutas. O ponto de "encontro" da plebe rude ocorreu na capela do cemitério São Francisco Xavier, no Rio. Isso no dia 4 de agosto de 1930. Poucos meses antes do gaúcho Getúlio Vargas assumir o poder depois de um golpe que vitimou conhecidos políticos da época. 
O poeta Manuel Bandeira (1886-1968), que também compareceu ao velório, escreveria depois num dos seus livros, Crônicas da província do Brasil, o seguinte: "…o que há de mais povo e de mais carioca tinha em Sinhô a sua personificação mais típica, mais genuína e mais profunda".
O poeta pernambucano tinha toda razão no que disse, pois Sinhô era um grande personagem da vida cultural e boêmia do Rio daquele começo de século.
Há muitos causos e curiosidades em torno de Sinhô.
É atribuída a Sinhô, por exemplo, a frase famosa que diz: "Música é que nem passarinho: é do primeiro que pegar".
Frequentador assíduo da casa da quituteira baiana Hilária Batista de Almeida, a Tia Ciata (1854-1924), Sinhô reivindicava para si, como outros compositores, a autoria do samba amaxixado Pelo Telefone, registrado na Biblioteca Nacional em 1916 por Ernesto dos Santos, o Donga (1889-1974) e Mauro de Almeida (1882-1956), repórter da crônica policial à época trabalhando no JB, jornal onde o paulista José Ramos Tinhorão iniciou sua carreira com artigos sobre o samba e sambistas, como Sinhô e Donga.
 Sinhô deixou dezenas e dezenas de composições, muitas delas transcritas em partitura. 
A primeira composição de Sinhô, Quem são eles?, foi gravada para o Carnaval de 1918, pelo cantor Manuel Pedro dos Santos, o Bahiano. Ouça:

quarta-feira, 3 de agosto de 2022

UM ANO SEM JOSÉ RAMOS TINHORÃO

Em 1966, o cantor, compositor e instrumentista uruguaio, naturalizado, Taiguara Chalar da Silva tinha 21 anos de idade e um LP na praça.
Em 1966 o jornalista e crítico musical de Santos, SP, José Ramos Tinhorão tinha 38 anos de idade e um livro na praça.
Naquele já distante 66, Taiguara e a cantora Claudette Soares estavam lotando um teatro de gente em São Paulo com o show 1° Tempo: 5×0.
O show de Taiguara e Claudete, que viraria LP pela Philips, começava com Taiguara soltando os cachorros pra riba do Tinhorão. Claudete pedia pra que ele se acalmasse.
O papo era o livro que Tinhorão acabara de lançar: Música Popular, Um Tema em Debate (Editora Saga).
Dramaticamente, no show, Taiguara atira o livro do Tinhorão numa lata de lixo. Simbolicamente.
Nesse livro, Tinhorão já punha suas unhinhas pra fora detonando compositores brasileiros por suas obras musicalmente impuras, quer dizer: obras mescladas com tons estrangeiros. Entre esses, Vinícius e Tom Jobim. Papas da Bossa Nova, assim reconhecidos.
E foi aí que Claudete "pediu" ao parceiro que maneirasse na fala, pois "o livro de Tinhorão dura cinco minutos e a Bossa Nova já está fazendo dez anos". E até citava a página 18 do livro que, a certa altura, podia-se e pode-se ler:

JOHNNY ALF, pianista (mulato brasileiro de nome americano);
ANTÔNIO JOBIM, maestro (compositor repetidamente acusado de apropriar-se de músicas norte-americanas, esconde o nome Antônio sob o apelido americanizado de Tom);
VINÍCIUS DE MORAIS, poeta (velho compositor desconhecido até o advento da bossa nova, já em 1933 conseguia gravar o fox-canção Dor de Uma Saudade, imitando o ritmo norte-americano)
JOÃO GILBERTO, violonista (cidadão baiano, conhecido na intimidade por Gibi, de quem chegou a anunciar-se que ia requerer a cidadania norte-americana);
BADEN POWELL, violonista (contratado para tocar nos Estados Unidos, veio ao Brasil apenas para casar, regressando em seguida. Seu nome vem da admiração alienada do pai pelo general imperialista inglês criador do escotismo);
LAURINDO ALMEIDA, violonista (foi para os Estados Unidos há 18 anos na esteira do sucesso de Carmem Miranda e hoje é considerado mais norte-americano que brasileiro);
RONALDO BÔSCOLI, jornalista (responsável pela publicidade inicial da bossa nova, foi preterido pelo colega Sílvio Túlio Cardoso na viagem aos Estados Unidos paga pelo Itamarati, e que redundou no fracasso do espetáculo do Carnegie Hall);
CARLOS LIRA, violonista (autor da música do samba Mr. Golden, de parceria com Daniel Caetano, pretende a liderança da ala nacionalista da bossa nova com samba Influência do Jazz).

Pois é, Tinhorão era do tipo de chutar o pau da barraca e soltar um sorrisinho sacana de lado. Mais: do tipo mata a cobra e mostra o pau, assim dito no meu Nordeste. E com isso ganhou a ira de muita gente famosa, como ele próprio exemplifica no texto aí recuado.
José Ramos Tinhorão foi um brasileiro que respeitou e amou profundamente o Brasil. Antes dele, não havia uma história da nossa música popular. Não havia porque não houve quem a fizesse com o detalhamento necessário que o tema exigia.
Eu já disse e torno a dizer que a obra de Tinhorão há muito deveria estar sendo estudada na rede escolar, pública e particular.
Tinhorão, esse grande personagem da vida brasileira, nasceu na cidade paulista de Santos e aos nove anos de idade foi com os pais, Luiz e Amélia, crescer no Rio de Janeiro. Fez Jornalismo e Direito. Como jornalista, marcou.
Antes de virar o nome que virou,Tinhorão vivia de "free" fazendo reportagens e artigos pra revistas e jornais do Rio.
Em 1952, o nosso personagem foi levado por Armando Nogueira (1927-2010) para trabalhar como revisor do Diário Carioca. E foi crescendo, crescendo até chegar às páginas do Jornal do Brasil, já com o pseudônimo Tinhorão, acrescentado ao nome de batismo José Ramos. E foi no JB que Reynaldo Jardim o incumbiu de fazer reportagens e entrevistas com os bam-bam-bans do samba da época: João da Baiana, Donga, Heitor dos Prazeres, Bide e outros mais. Até Pixinguinha ele entrevistou. E contou-me um dia "cheguei no apartamento dele, do tipo kitchenette feito pelo Governo e ele se espantou quando viu os discos que gravou nas minhas mãos. De 78 RPM. Emocionou-se".
A história de José Ramos Tinhorão é incrível. Ele chegou, como chegamos, passeou e partiu. No
decorrer desse passeio, ele erigiu uma obra fantástica constituída de uma trintena de livros fundamentais para a compreensão musical do nosso País.
Tudo começa, a rigor, com o primeiro dos 34 textos da série intitulada Primeiras Lições de Samba, publicado no dia 22 de dezembro de 1961 no Caderno B do JB sob o título Da Serra da Favela ao Morro da Favela: em matéria de samba a primeira umbigada é o baiano quem dá.
Essa série, que findou no dia 8 de novembro de 1962, incluiu 23 textos sobre Samba, sete sobre Bossa Nova e quatro sobre Choro. Deu o que falar. A propósito, Tinhorão foi um dos introdutores do choro no Japão.
Explico reproduzindo o seguinte:

Estimado Senhor J.R. Tinhorão,
Esta gravação é boa colheita da semente que eu plantei no Japão desde década de 1950 por sua orientação.
Muito obrigado
15 de dezembro de 2014
Hidenori Sakao
Capitão-de-Fragata
Ex-assessor Cultural do Consulado do Japão em São Paulo

A semente plantada por José Ramos Tinhorão floresceu e ainda há de florescer, aqui e alhures.
Quem não conheceu Tinhorão de perto é até natural que o ache ou o achasse um chato de galocha. Bobagem. Não era.
Tinhorão foi um ser agradabilíssimo, afável, solidário.
Muitas vezes Tinhorão chegava a minha casa e divertia-se com os gatinhos da minha filha Clarissa, que pulavam no seu colo.
No primeiro texto que escreveu na série Primeiras Lições de Samba, Tinhorão inseriu como parceiro seu amigo Sérgio Cabral. Mas essa é outra história, até porque Cabral não participou da elaboração do referido texto.
Os discos de Taiguara estão fora do mercado, infelizmente.
Os livros de Tinhorão, todos, estão à disposição no mercado.
José Ramos Tinhorão, figura ímpar da historiografia musical do Brasil, partiu para a Eternidade no dia 3 de agosto de 2021.
E sobre ele, por não ter o que fazer, escrevi:

Nessa nossa terra tem
Xote, xamego e canção
Frevo e maracatu
Samba, batuque e baião
E poeta popular
Tirando verso do chão.

É uma terra bonita
Que dá vida, dá lição
Ensinando a sua gente
A ter mais educação
A ler para entender
O Brasil de Tinhorão

Esse mestre logo pôs
A cultura em discussão
Pra depressa entender
Sua origem e formação
Ora juntos aplaudamos
J.R.Tinhorão


A notícia do encantamento de José Ramos Tinhorão ocupou 59 segundos do Jornal Nacional, edição de 3 de agosto de 2021: 
 

E TAMBÉM LEIA: VIVA JOSÉ RAMOS TINHORÃO?TINHORÃO, UMA LEITURA NECESSÁRIAADEUS, TINHORÃO
E OUÇA TINHORÃO PALESTRANDO: O SAMBA - DAS ORIGENS AO PELO TELEFONE
QUER SABER MAIS? Então leia o livro Tinhorão - O Legendário, de Elizabeth Lorenzotti (Imprensa Oficial de São Paulo, págs 280).

Foto e reproduções de Flor Maria e Anna da Hora
Charge: Fausto

HOJE É DIA DE VASSOURINHA

Meu amigo, minha amiga, você sabe quem foi Vassourinha?
Vassourinha foi um negro paulistano, de voz poderosa, que começou a trabalhar na vida como um "faz-tudo" (contínuo) na rádio Record de São Paulo. Brincalhão, foi descoberto pelo jornalista e radialista Raul Duarte (1912-2002), como cantor.
Vassourinha, de batismo Mário Ramos de Oliveira, nasceu no dia 16 de maio de 1923 e morreu no dia 3 de agosto de 1942. Hoje 3, portanto, faz 80 anos do encantamento de Vassourinha.
Não custa lembrar que o ano de 1923 marcou a fundação da primeira emissora de rádio de São Paulo: Rádio Educadora Paulista. Essa rádio teve como primeiro cantor e compositor contratado o paulistano Roque Ricciardi, mais conhecido como Paraguaçu (1894-1976).
A carreira e a vida de Vassourinha foram curtas.
Vassourinha deixou, exatamente, seis discos gravados entre 1941 e 1942. O primeiro com as músicas Juracy, de Antônio Almeida e Ciro de Souza e Seu Libório, de João de Barro e Alberto Ribeiro. E o último com as músicas Amanhã tem Baile, de Haroldo Lobo e Milton de Oliveira e Volta pra casa Emília, de Antônio Almeida e J.Batista. Gravadora: Columbia.
Mário Ramos de Oliveira morreu vítima de tuberculose, doença que pega muita gente boa até hoje.
Os seis discos, de 78 RPM, de Vassourinha viraram um LP que foi lançado em 1969.

terça-feira, 2 de agosto de 2022

LUIZ GONZAGA, MUITO ALÉM DE NÓS

 
Hoje 2 faz 33 anos que o pernambucano Rei do Baião trocou a terra pelo céu. Deixou saudade e um legado musical constituído por 627 títulos.
Luiz Gonzaga foi o artista da música popular brasileira mais biografado. Mais de uma centena de títulos e textos avulsos contam a sua história. Eu mesmo escrevi e publiquei três livros sobre ele: Eu Vou Contar pra Vocês (1989), Dicionário Gonzagueano (2006) e Lua Estrela Baião - A História de Um Rei (2012). Também escrevi um texto poético musicado pelo querido Oswaldinho do Acordeon e, depois, por mim declamado e gravado no CD Salve 100 anos Gonzagão. Faixa 15, ouça: 
 
 
LEIA MAIS:  

FATEL

A cantora e produtora musical mineira Fatel está fazendo aniversário de vida, hoje 2, mesmo dia do encantamento do cantor e sanfoneiro Luiz Gonzaga do Nascimento. Parabéns, Fatel! Que a vida continue graciosa com você! Um abraço do paraibano, Assis. 

segunda-feira, 1 de agosto de 2022

TODO DIA É DIA DE CORDEL

 
No nosso calendário festivo há data para tudo, inclusive para o cordel.
Hoje, 1º de agosto, é o Dia do Cordel, do Poeta Cordelista. Nacional do Cordel.
É fato que não se sabe, com firmeza, quem e quando lançou o primeiro folheto. Coisa antiga.
O jornalista e historiador José Ramos Tinhorão já fazia citação de folhetos em livros seus. Em Rei do Congo - A Mentira Histórica que Virou Folclore, Tinhorão cita três cordéis do século 16, publicados em Portugal: Almocreve de Petas, ou moral disfarçada para correção das miudezas da vida, por José Daniel Rodrigues da Costa; Anatômico Jocoso, que em diversas operações manifesta a ruindade do corpo humano, para emenda ao vicioso, de Frei Lucas de Santa Catarina e Folheto de Ambas Lisboas, sem indicação de autoria.
É pensamento comum que a Donzela Teodora e a imperatriz Porcina foram dois dos folhetos poéticos publicados ali pelo tempo da Idade Média. Século 13, por aí.
A Donzela é personagem que encanta a todos que tomam conhecimento da sua história: é uma jovem linda de origem espanhola escravizada e como tal vendida por um mouro em Tunes, Tunísia, cidade localizada ao norte de África.
Eu já andei escrevendo sobre a Donzela Teodora.
A história contida no folheto A Imperatriz Porcina é fabulosa, como fabulosa é a história da Donzela. Fabulosa e trágica. Conta que o irmão de um rei violenta a intimidade da cunhada. Por aí.
No princípio, lá bem atrás, os folhetos não tinham ilustração na capa. Isso só veio a acontecer na virada do século 19, no Brasil.
Ilustravam as capas dos folhetos xilogravuras.
É interessantíssima a história da xilogravura.
Quem não conhece, já é tempo de conhecer a história de Jeová Franklin, autor do livro Xilogravura Popular na Literatura de Cordel.
A primeira vez que a palavra Cordel aparece num livro é no dicionário contemporâneo Aulete.
Houve e ainda há grandes cordelistas, no nosso país. Os pioneiros foram Silvino Pirauá de Lima e Leandro Gomes de Barros, autores respectivamente de História do capitão do Navio e A Donzela Teodora.
Leandro foi o poeta brasileiro que adaptou a Donzela para a nossa língua em folheto publicado, provavelmente, em 1905.
Entre os cordelistas contemporâneos, de grande qualidade, podemos citar Klévisson Viana, Marco Haurélio e João Gomes de Sá.
E há mulheres escrevendo folhetos de cordel com inegável talento.
O cordelismo e o repentismo se misturam de certo modo. Afirmo sem medo de errar que um cantador repentista é também cordelista. Oliveira de Panelas, Ivanildo Vila Nova, Geraldo Amancio e Sebastião Marinho são exemplos do que digo. E há curiosos, como eu. Não sou cordelista nem repentista, mas aqui e acolá cometo investidas no campo poético em sextilhas e septilhas. E quadras. 
No correr da pandemia provocada pelo Novo Coronavírus, escrevi e publiquei quatro folhetos: Jornalismo e Liberdade Nos Tempos de Pandemia, Serpente Quer Por Ovo No  Coração do Brasil, Coronavírus: Piolho do Cramunhão faz o mundo todo tremer e Repórter Entrevista Piolho Do Cramunhão. 
Também escrevi, publiquei e declamei o folheto A Vida como Tragédia e um Cego por Testemunha.
Na linha de sextilha acabo de escrever umas estrofes em homenagem ao apresentador de TV e contador de causos Rolando Boldrin. Esses versos, que intitulo Sr. Boldrin, ganharam as cordas da viola e a voz do cantador Sebastião Marinho. Confira:
 

A professora Yvone Dias Avelino, da PUC-SP, acaba de publicar um trabalho sobre o tema Literatura de Cordel. O texto foi apresentado  no III Congresso Internacional e Interdiciplinar em Patrimônio Cultural, em Lisboa. Cordel é coisa séria. Leia: LITERATURA DE CORDEL: ASSIS ÂNGELO E O INSTITUTO MEMÓRIA BRASIL

VISITA

 Há pouco estiveram comigo um bando de talentos, à frente o xilogravador e cordelista cearense Klévisson Viana. Confira: https://www.facebook.com/paulodetarso.bezerragomes/videos/5407856159302216

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