Com seus poucos mais de 500 anos de invasão ou "descoberta", o Brasil é bonito de todas as formas e como tal cobiçado por mundo e meio.
Os indígenas foram os primeiros habitantes racionais a dar cor ao nosso País, com seus cantos, danças e credos.
Os milhões e milhões de indígenas originários estão reduzidos hoje a algo em torno de 1,7 milhão, de acordo com dados recentemente divulgados pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística, IBGE.
Crenças é um item que se acha em destaque no vasto campo do folclore.
Folclore é uma palavra de origem anglo-saxônica e se escreve assim: "Folk lore".
Quem estuda a crença lendas e coisas do arco da velha é chamado ou chamada de folclorista. Diz-se: Fulano é folclorista ou Fulana é folclorista.
A palavra "folclorista" atende ao feminino e ao masculino.
O potiguar Luís da Câmara Cascudo (1898-1986) não gostava dessa palavra, da palavra folclorista e tampouco do original "folk-lore".
No português bom e fluente folk-lore virou "folclore", que quer dizer: Povo, Ciência. Ou ainda de modo claro e rasteiro, "Ciência do povo".
Cascudo, que falava várias línguas, preferia ser chamado de estudioso das coisas do povo. Mais ou menos isso. Pelo menos foi o que apreendi das nossas conversas na sua casa em Natal, RN.
Certa vez, a meu pedido, mestre Cascudo discorreu longamente sobre cultura popular, sua matéria. Resumiu:
Cultura popular é a que vivemos. É a cultura tradicional e milenar que nós aprendemos na convivência doméstica. A outra é a que estudamos nas escolas, na universidade e nas culturas convencionais pragmáticas da vida. Cultura popular é aquela que até certo ponto nós nascemos sabendo. Qualquer um de nós é um mestre, que sabe contos, mitos, lendas, versos, superstições, que sabe fazer caretas, apertar mão, bater palmas e tudo quanto caracteriza a cultura anônima e coletiva.
Alguém, e muita gente mais, já disse que somos um povo esquecido, sem memóri.
Chegamos a nos esquecer de nós mesmos. Pode ser incrível, mas é a pura verdade. Muita gente bonita, de tamanhos enormes, chega e desaparece num piscar de olhos. Muita gente some como chega: do nada, de repente, sem deixar rastros ou notícias. São muitos os exemplos do passado e do presente que se encaixam perfeitamente nessa dezena de linhas até aqui ditadas. Meu amigo, minha amiga, você já ouviu falar de Guiomarino Rubens Duarte?
Bom, acho difícil você já ter ouvido falar nesse Guiomarino... E Guio de Morais, hein? É muito provável que vocês, meus amigos e amigas, também não tenham ouvido falar sobre esse Guio. E se eu disser que esse Guio de Morais era um pernambucano de Recife e excepcional compositor de música popular, pianista, maestro, arranjador, criador de grupos musicais e orquestras o que você diria? Sei, sei, você diria que não sabe. O recifense Guio de Morais é um nome que deveria estar estampado em letras garrafais em todo canto, principalmente nas escolas de música. Mas não. O nome desse artista não se acha em canto nenhum e quando, aqui e acolá, descobre-se algo com o seu nome, ou simplesmente o seu nome, o que se lê é a história truncada de um brasileiro. A rigor, até as datas de nascimento e morte são conflitantes.
Guio de Morais nasceu em 1920 ou 1921. Morreu em 1993 ou 1999.
O que se sabe desse Guio é que começou a gostar de música ainda quando era menino, na sua terra. E que foi autor de um clássico composto em parceria com Luiz Gonzaga e pelo próprio Gonzaga imortalizado: Pau de Arara, maracatu levado à gravação em julho de 1952. O disco, um 78rpm, foi à praça com a chancela da extinta gravadora RCA Victor. O maracatu Pau de Arara representa uma espécie de chave para abrir e possibilitar a compreensão da obra gonzaguiana. Na letra dessa música se acha a história do velho "rei":
Quando eu vim do sertão Seu moço, do meu Bodocó A malota era um saco E o cadeado era um nó
Só trazia a coragem e a cara Viajando num pau de arara Eu penei, mas aqui cheguei Eu penei, mas aqui cheguei
Trouxe um triângulo, no matolão Trouxe um gonguê, no matolão Trouxe um zabumba dentro do matolão Xote, maracatu e baião Tudo isso eu trouxe no meu matolão...
Pau de Arara alcançou grande sucesso e eternizou-se como clássico da nossa música gravado até pelo gringo norte-americano Dizzy Gillespie (1917-1993), em 1962. Ouça:
Curiosidade: Se Guio de Morais morreu em 1993, pelas contas, faz 30 anos que isso
ocorreu. E seguindo essas contas, chegamos também a conclusão de que
Dizzy Gillespie também se acha ausente deste mundo há 30 anos.
A rigor vira-lata é um cachorro de rua, sem dono, sem eira nem beira. Não tem passado nem futuro, vive ao deus-dará. Leva pancada e grito de todo mundo. Não é à toa que há o ditado: "Sofre que nem um cão sem dono", direcionado a alguém que "está na pior", sem comer, sem beber, sem dinheiro, devendo a Deus e ao mundo; sem pai, sem mãe, sem mulher, sem nada. Lascado.
Essa descrição é o que é um cão sem dono ou um vira-lata com letra minúscula. Vira Lata com letra maiúscula é um anti-herói com pinta de herói admirado, principalmente, pelas mulheres. O Vira Lata a que me refiro com maiúscula é aqui representado por um homem jovem, forte, bom papo, boa pinta, que vence todas as paradas. Bandido bandido não tem vez com ele. É a favor da justiça, sempre. Esse personagem é uma criação de um músico e mestre em roteiros para quadrinhos, cinema e TV Paulo Garfunkel, o Magrão. "Eu criei esse personagem em 1988. Um ano depois chegou o parceiro quadrinista Líbero. Um craque!", conta Magrão acrescentando: "... um amigo meu pianista me contou que na adolescência, uma moça transou com alguns rapazes do bairro e engravidou sem saber quem era o pai. Quando nasceu, o menino era a cara desse meu amigo...".
Paulo Garfunkel, um paulistano da cepa, é um devorador de quadrinhos. Conhece tudo sobre roteiristas e desenhistas de HQs, do Brasil e do mundo todo. Entre seus favoritos se acham os quadrinistas Guido Crepax, Alex Varenne, Manara, Georges Lévis, os cineastas Francis Leroi e Jodorowsky e outros mais.O italiano Crepax marcou época com a personagem que criou, Valentina. Isso a partir de 1965. Sensualíssima, a personagem representa a realidade e a ficção e preenche com facilidade as fantasias da mente masculina. Na sua vida “real”, Valentina é uma profissional da fotografia.
Crepax nasceu e morreu em Milão. O Vira Lata de Magrão se movimenta que nem um gato nas páginas da revista que leva seu nome. Fácil, fácil conquista leitor. O autor explica : “O Vira Lata tem muita influência do “Lobo Solitário” do Gozeki Kojima e do Kazuo Koike e do “Corto Maltese” do mestre Hugo Pratt”. A estreia do Vira Lata ocorreu na Bienal dos quadrinhos no Rio de Janeiro, em 1991. Logo depois o médico Drauzio Varella o descobriu numa banca. E foi assim, que "O Vira Lata entrou na Casa de Detenção de São Paulo, onde o Dr. Drauzio atendia os detentos como voluntário. Fez o maior sucesso", recorda Magrão. Quando o Vira Lata chegou na Casa de Detenção a AIDS corria solta. Dos 7.700 detentos, 17% estavam contaminados.
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ASSIS: Como surgiu a ideia de criar o Vira Lata? MAGRÃO: O Vira Lata nasceu da minha crença de que a nossa força como povo vem justamente da mistura, do amálgama como já dizia o José Bonifácio de Andrada e Silva em mil oitocentos e pouco. Ele nasceu também da indignação diante da desigualdade absurda com a qual a gente convive diariamente. Aí veio o Vira, defendendo as putas, as travestis, os moradores de rua, os párias, os desvalidos. Ele solta os cachorros em cima de quem é mau caráter e trata muitíssimo bem as mulheres. ASSIS: Você se inspirou em quem? MAGRÃO: Eu sempre fui rato de quadrinhos, gostos mais das HQs européias e japonesas do que das americanas. O Vira Lata tem muita influência do “Lobo Solitário” do Gozeki Kojima e do Kazuo Koike
e do “Corto Maltese” do mestre Hugo Pratt. Mas eu sentia falta de enredo nos gibis eróticos, porque uma boa bronha tem que ter um bom roteiro, ( solidão é não dar na veneta nem musa pra punheta); e nos gibis de ação, geralmente, faltava uma bela sacanagem, então resolvi juntar tudo no mesmo imbróglio, com destaque pras belas mulheres e pras artes marciais japonesas (o Líbero é faixa preta de Aikido e eu pratico Kenjutsu há bastante tempo).
ASSIS: Tem a ver com o famigerado Esquadrão da Morte, criado no Rio de Janeiro? MAGRÃO: Tem tudo a ver, porque infelizmente sempre existiram grupos de extermínio no Brasil. Dos Capitães do Mato do período colonial, passando pelo CCC (Comando de Caça aos Comunistas), OBAN (Operação Bandeirantes), Scuderie Le Cocq e as nefastas Milícias. Esses canalhas só mudam de nome. Nas páginas do Vira Lata, os exterminadores assinam com cruel ironia Saneamento Básico.
A Polícia Federal apreende celulares do advogado Frederick Wassef.
A Polícia Federal e o FBI estão nas pegadas de Bolsonaro nos EUA. O hacker Walter Delgatti abre a bocarra no Senado e dela expele bombas de todos os tamanhos. Enquanto o cerco se fecha entorno de Bolsonaro e de seus asseclas fardados, a vida continua nos seus altos e baixos. A mais nova: o ministro Alexandre de Moraes, do STF, determinou a quebra do sigilo bancário e fiscal de Bolsonaro e da mulher Michele. Isso ontem 17. Hoje 18 o hacker Delgatti prestou novo depoimento à PF. No decorrer das horas, reafirmou tudo o que disse no Senado e apresentou indícios claríssimos de tudo que dizia. Mais trabalho para a PF. O fardado de patente Mauro Cid, deve afrouxar a boca e dizer o que a Polícia e a Justiça ainda não sabem. A dica é de seu novo advogado, o terceiro, Cezar Bittencourt. E não custa lembrar que o pai desse Mauro, o também Mauro Cesar Lourena Cid, está mais enrolado do que rabo de porco, especialmente no caso das joias e relógios das Arábias. E tem mais: Bolsonaro acaba de ser condenado em 2ª instância por 175 agressões a jornalistas. O processo foi promovido pelo Sindicato dos Jornalistas no Estado de São Paulo.
Bolsonaro responde a dezenas de processos na Justiça, inclusive no TSE e STF.
Pois é, o Brasil não é pra principiantes.E nem era disso que eu estava querendo falar. Queria não, quero: amanhã 19 será inaugurado no Beco do Batman, na Vila Madalena, a amostra Graffiti #PraCegoVer. Quem me falou sobre isso foi a coleguinha jornalista Cilene Soares. Ela disse que lembrou de mim pelo fato do papai aqui não enxergar porra nenhuma pelos olhos, mas sim pela memória. E, claro, através dos olhos dos amigos e das amigas. Lê pra mim o seguinte: "Muito além das legendas em braile disponibilizadas para esse público em exposições de arte, o primeiro Graffiti #PraCegoVer será em um muro do Beco do Batman, na Vila Madalena, em São Paulo, todo coberto por uma obra inteiramente tátil, impressa em 3D com texturas e contornos para que, ao ser tocado por um deficiente visual, traga detalhes da arte com texturas, dimensões espaciais e principalmente emoção". O evento será aberto na manhã de amanhã. É de graça e tudo quanto é cego está convidado para ir nesse negócio aí. Se me levarem, eu vou.
Agosto é, de fato, um mês danado de conturbado e triste por ser recheado de agouros e levar muita gente para o outro lado da vida.
Não à toda agosto é chamado de "o mês do desgosto".
Agosto levou muita gente famosa em tudo quanto é área. Política, inclusive:
Foi num dia 2 de agosto que o Rei do Baião Luiz Gonzaga nos deixou.
Foi num dia 4 de agosto que o humorista Oscarito nos deixou.
Foi num dia 5 de agosto que o cantador repentista Otacílio Batista nos deixou.
Foi num dia 19 de agosto que o cantor "El Broto" Francisco Carlos nos deixou.
Foi num dia 21 de agosto que o compositor e cantor Raul Seixas nos deixou.
Foi num dia 27 de agosto que o gaúcho Lupcínio Rodrigues nos deixou.
Foi num dia 31 de agosto que a cantora Dalva de Oliveira nos deixou...
Elba e Assis
Pois é, o céu está cheio de cantador, sanfoneiro, e tal. Mas tem coisa e gente bonita nascida e nascendo neste alvoroçado mês "agostiano":
Foi num dia 2 de agosto que o compositor Aldir Blanc nasceu.
Foi num dia 6 de agosto que o compositor Adoniran Barbosa nasceu.
Foi num dia 10 de agosto que o cantor e compositor Gordurinha nasceu.
Foi num dia 12 de agosto que a cantora Clara Nunes nasceu.
Foi num dia 20 de agosto que o rei da voz Chico Alves nasceu.
Foi num dia 30 de agosto que o compositor Edu Lobo nasceu.
Foi num dia 31 de agosto que a cantora Emilinha Borba nasceu...
E foi num dia como hoje, 17 de agosto, que nasceu na Paraíba a querida cantora Elba Ramalho, prima do Zé.
Elba é da safra de 1951 e antes de tornar-se cantora atuou com categoria nos teatros da vida. E mesmo como cantora de sucesso Elba topou desafio de participar da peça Vida e Morte Severina, de autoria do pernambucano João Cabral de Melo Neto.
Nunca é demais enaltecer o canto personalíssimo de Elba.
Num ano que já não me lembro direito, dos anos 90, tive a alegria de ter Elba declamando comigo no CD Assis Angelo Interpreta Poetas Brasileiros. Confiram:
NEM MISSA, NEM VAQUEIRO PRA GONZAGÃO
Recebo do amigo Onaldo Queiroga a notícia de que já não há mais a Missa do Vaqueiro, que desde 1970 era celebrada pelo Padre João Câncio em Serrita, PE. Dessa Missa participavam Luiz Gonzaga e centenas de vaqueiros da região. Isso ocorria todo segundo domingo de agosto.
A Missa do Vaqueiro, que rendeu um álbum duplo lançado pela extinta Copacabana, foi criada por Gonzaga, Padre João e Pedro Bandeira, dos mais aplaudidos poetas repentistas do Brasil.
A notícia trazida por Onaldo é esta:
MISSA, SEM VAQUEIROS
Assis, Gonzaga e o padre João Câncio
A obra de Luiz Gonzaga do Nascimento, o Rei do Baião, possui um traço importante que é a seara de protesto, ou seja, existem muitas músicas criadas como forma de protestar contra determinadas situações injustas, na visão desse ícone maior da canção nordestina. Dentre tantas canções há uma de muito significado – A morte do Vaqueiro, que fora construída como protesto e para homenagear o vaqueiro Raimundo Jacó, tido como o mais afamado do sertão nordestino, morto covardemente e por interesses políticos, além de que a justiça do homem deu pro mundo, como bem diz a canção. Raimundo Jacó tornou-se símbolo dos vaqueiros e, em decorrência dessa canção, Gonzaga e o Padre João Câncio dos Santos, resolveram também criar a Missa do Vaqueiro, celebrada em Serrita, Pernambuco pela primeira vez em 1971. Celebrada sempre ao terceiro domingo do mês de julho, ao ar livre, num local onde fora construído um altar de pedra rústica em forma de ferradura, a missa do vaqueiro, todos os anos reúne vaqueiros de todos os recantos do Nordeste, que assistem a missa, onde a celebração é conduzida por um padre, com chapéu de coro na cabeça, tendo o canto inicial entoado por um cantor nordestino, com trajes de vaqueiro, destacando em seu canto de aboio a identificação do vaqueiro, a fé e as dificuldades enfrentadas nas ressequidas terras do sertão. Neste ano de 2023, a missa completou 53 anos de celebração. Contudo, o terceiro domingo de julho deste ano foi de muita tristeza. A missa foi completamente descaracterizada pelo gestor municipal de Serrita – PE, que de forma desconstrutiva agrediu um dos maiores símbolos da cultura gonzagueana, do próprio Estado de Pernambuco e do Brasil – A MISSA DO VAQUEIRO. Quebrando toda ritualística da Missa, o prefeito integrou ao evento um festival musical que em nada tem ligação com contexto da Missa. Inacreditavelmente, parecem que desejam a todo custo aniquilarem a cultura nordestina. Este ano, a missa, sem vaqueiros foi regada ao som de Gustavo Lima, Xande Avião, Nattan, Tarcísio do Acordeom, Simone Mendes e outras atrações que não possuem conexão alguma com esse evento. Mas, o que significa Missa do Vaqueiro? A Missa do Vaqueiro é um evento religioso, tradicional na cultura popular do sertão pernambucano, então, indago, qual o motivo de se agredir tão violentamente essa cultura. Há tempos que existe um articulo movimento para a desconstrução da nossa cultura e, não podemos assistir tudo isso calados. É preciso reagir. Não se pode permitir que esse evento possa ser transformado numa missa, sem vaqueiros e sem a essência para a qual fora idealizada, criada e que já se perpetua por 53 anos. Quer fazer um festival musical, seu prefeito? Faça, mas de outra forma, sem aniquilar a cultura de um povo chamado Nordeste. É preciso respeito. É preciso que as autoridades competentes tenham responsabilidades e que o Estado de Pernambuco, por seu Ministério Público, possa adotar medidas que visem freiar essa conduta destrutiva. Esperamos que em 2024, a Missa volte a ter o seu formato original, até porque, missa não combina com esse tipo música, que muitas vezes troca o “P” da poesia pelo “p” da pornografia. Como escritor e amante da cultura nordestina não podia, nem posso ficar silente diante de tão grave situação. Viva Luiz Gonzaga, Viva Padre João Câncio, Viva a Missa do Vaqueiro! ONALDO QUEIROGA
É certo que a população de um país que ri, vive melhor. E já não rimos como outrora, pois são muitas as desgraças e tragédias que ocorrem no nosso dia a dia. Pena. Muita gente boa, de bom traço e graça hilários, já nos deu adeuzinho e foi para um lugar que só Deus sabe.
Assim pensando, de repente, lembro de figuras incríveis que amenizaram momentaneamente nossas dores e mágoas com seus remédios de nos fazer rir.
Lembro-me de José Vasconcelos, Zé Fidélis, Chico Anysio, Arnaud Rodrigues e Jô Soares. Mas houve outros, muitos outros: Paulo Silvino, Bussunda, Juca Chaves, Rony Cócegas e Paulo Gustavo.
E Millôr Fernandes, hein?
Millôr Fernandes foi um dos mais completos intelectuais do Brasil. Fez tudo de bom no tocante ao intelecto, entre 16 de agosto de 1923 e 27 de março de 2012. Era carioca de Ipanema. Começou a carreira ainda meio moleque na extinta revista A Cigarra, em 1939; e daí sentou seu talento na famosa O Cruzeiro, do conglomerado do imperador da imprensa Francisco de Assis Chateaubriand Bandeira de Mello. Seu primeiro pseudônimo artístico foi Vão Gôgo (ao lado).
Não custa lembrar, e é sempre bom lembrar, que Millôr desenhava e fazia graça de tudo, hora pelo caminho filosófico e coisa e tal. Escreveu belas peças e traduziu vários livros. Deixou uma obra bonita e gigantesca. Nessa obra, impossível esquecer suas milhares e milhares de frases definitivas sobre tudo. Aqui, uma dúzia delas:
Em agosto, nas noites de frio, a pobreza entra pelos buracos da roupa.
A diferença entre a galinha e o político é que o político cacareja e não bota o ovo.
Em política nada se perde e nada se transforma - tudo se corrompe.
Além de ir pro inferno só tenho medo de uma coisa: juros.
Brasil: um filme pornô com trilha de Bossa Nova.
Ainda está pra nascer o erudito que se contenha em saber só o que sabe.
Quando começou a comprar almas, o diabo inventou a sociedade de consumo.
Imprensa é oposição. O resto é armazém de secos e molhados.
Está bem. Deus é brasileiro. Mas pra defender o Brasil de tanta corrupção só colocando Deus no gol.
Aviso aos navegantes: Em Brasília ainda tem dois deputados do baixo clero sem patrocinador.
Além de transformarem o Brasil num cassino, viciaram a roleta.
Canalhas melhoram com o passar do tempo (ficam mais canalhas).
O cartunista Fausto e a torcida do Corinthians concordam comigo.
O cartunista lembra a vez que assistiu embevecido a um debate entre Millôr e o publicitário Carlito Maia, no Salão de Humor de Piracicaba. "Foi incrível! Lá pras tantas, lembro que Carlito caiu na besteira de dizer que era da Globo. Todo mundo caiu na risada e o chamou de bozó".
Bozó foi o personagem inventado por Chico Anysio, que fez muito sucesso na TV Globo.
O debate aqui referido foi mediado pelo mestre maranhense Fortuna. Aliás, foi Fortuna quem me levou uma vez à Piracicaba para uma tarde de autógrafos do livro O Coronel e a Borboleta e Outras Histórias Nordestinas. Capa e edição dele. Foi no Salão e lá reencontrei o craque Jaguar, do velho Pasquim de saudosa memória. Publiquei muitas coisas nesse heroico hebdomadário carioca.
E por falar nesse povo todo aí, bonito de traço e ação, não dá pra esquecer do querido Paulo Caruso.
Um dia pedi ao Paulo que me mandasse alguma foto em que se achasse ao lado do Millôr. Fez isso no dia 1º de março de 2019. Ele, por e-mail:
Assis amigo véio,
aqui uma legenda de quem está na foto, de cima pra baixo, da esquerda pra direita:
Chico, Jaguar e Claudius; abaixo: Cláudio Paiva, Eu, Reinaldo, Ziraldo e Millôr; em pé encostado na parede o Amorim;
em baixo, à frente rabiscando, o velho Nássara, logo atrás o Hubert, Nani ajoelhado e Mariano o bigodudo...
Não tem jeito, sem nenhum constrangimento tiro o chapéu pra Lula. Faço isso não à toa.
Ouvi no rádio mais uma boa aula de Lula sobre política, como fazer política. Não se faz política pra si próprio, olhando e alisando o próprio umbigo. Política se faz com vistas à melhoria das pessoas. É isso o que ele diz, e disse assim:
O dado concreto é que o PT tem 70 votos. A esquerda tem 136 votos. Para
aprovar alguma coisa precisa ter 257 votos. Significa que você precisa
conversar. Tem gente que fala: 'vai para a rua!, vai para rua!'. Vai
para a rua fazer o quê? Tem que conversar com quem tem voto. Quem é que
vai votar? Quem são os partidos políticos que vão digitar o número lá.
São os partidos políticos que ganharam.
Depois disso, Lula disse mais:
Conversar com Lira é uma obrigação minha, ele é presidente da Câmara.
Pois é, é ou não é para aplaudir uma fala dessa? À propósito, devo também tirar o chapéu para o ministro da Fazenda, Fernando Haddad.
Numa bela e consistente entrevista que Haddad deu ao jornalista Reinaldo Azevedo, titular do programa O É das Coisas (Rádio Bandeirantes) e do podcast Reconversa, ouvem-se loas e suaves críticas ao todo poderoso rei de papel Arthur Lira (foto ao lado), presidente "universal" da Câmara dos Deputados tupiniquim. O reizinho ficou irado, bufando. Disse:
É equivocado pressupor que a formação de consensos em temáticas sensíveis revela a concentração de poder na figura de quem quer que seja.
E amuado, prosseguiu dando popa:
A formação de maioria política é feita com credibilidade e diálogo permanente com os líderes partidários e os integrantes da Casa.
O ministro disse nada demais que pudesse irritar uma freira, quanto mais um puta velho feito Lira acostumado a receber e a dar porrada até em mulher. Mas essa é outra história. Disse Haddad:
A Câmara está com um poder muito grande, e ela não pode usar esse poder para humilhar o Senado e o Executivo.
Estão vendo? Não tem nada demais. É fato.
Sabem o que eu acho?
Eu acho que o Lira se acha muito mais do que é, na realidade.
Baixa a bola, Lira!
Bom, tenho que tirar o chapéu também para o coleguinha Reinaldo Azevedo. O cabra é bom de papo político e filosófico. E cheio de graça. É uma delícia ouví-lo na Band.
A morte ontem 13 do historiador e sociólogo mineiro José Murilo de Carvalho, aos 83 anos de idade, me fez lembrar a importância da Cidadania, do ser cidadão, por estas e outras plagas mundo afora.
A direita brucutu está pondo suas garras fascistas de fora até mesmo na vizinha Argentina, onde grande parte dos jovens estão tomando partido a favor de Javier Milei nas primárias que escolherão os candidatos à presidência no próximo ano.
Além da Argentina, os brucutus estão em ascensão na Alemanha de Hitler, na Itália de Mussolini, no Chile de Franco e nos Países Baixos assim hoje chamada a velha Holanda.
Na França a Marie Le Pen pode substituir Macron.
Na Turquia, Erdogan foi reeleito.
Na Grécia, o partido Nova Democracia fatura as eleições legislativas e fica no topo do poder, representado pelo primeiro ministro Kyriakos Mitsotakis.
Pois bem, os brasileiros de bom senso acabam de chutar para o esgoto político Bolsonaro e sua tchurma de lambe botas mais próxima. À propósito, parte do grupelho que vê em Bolsonaro um "deus", aos poucos está ajustando contas com a polícia e daí com a Justiça.
São inúmeros os processos que apuram as safadezas de Bolsonaro e sua gangue de desocupados verde-oliva, nos últimos quatro anos. No balaio há processos sobre desvio de grana em várias instâncias do governo, entre as quais o Ministério da Saúde. E agora tem o caso das joias das Arábias.
Será essa uma versão nova, às avessas, das Mil e uma Noites?
José Murilo de Carvalho, vítima de Covid, foi um dos grandes intelectuais brasileiros. Era membro da Academia Brasileira de Letras, ABL, onde ocupou a cadeira nº5. Deixou uma obra significativa em duas dezenas de livros. Entre esses livros Forças Armadas e Política no Brasil e o pequeno, mas significativo, Cidadania no Brasil: O Longo Caminho.
O livro sobre as Forças Armadas trata do ciclo militar no Brasil, entre 64 e 85, e suas consequências políticas refletidas ainda na atualidade.
Cidadania no Brasil tem poucas páginas e quatro capítulos cuja leitura nos prende como a um ímã. São todos ótimos, mas destaco A Cidadania Após a Redemocratização. Esse título me remeteu a um pequeno poema que fiz e que diz assim:
Diógenes foi um craque Do escracho e do Saber Viveu antes de Cristo Tentando só entender Por que se rouba tanto E se rouba até morrer
Procurar um ser honesto Em plena luz do dia Com uma lanterna acesa Como Diógenes fazia É coisa para quem sabe O que é cidadania
Cidadania se faz É com Democracia Muita força de vontade E muita teimosia Sem essas três "coisinhas" Não se faz Cidadania
Olá pessoal, boa noite! Eu fui dizendo enquanto me desculpava pelo horário. E o pessoal, meus queridos botões: "Boa noite, chefe!", disseram ao mesmo tempo como se tivessem ensaiado. Agradeci. Aproveitei pra dizer que fora vítima de uma tentativa de assalto enquanto dirigia meu carro. Barrica: "É, a coisa não está fácil! É assalto e tentativa de assalto em todo canto, nas esquinas, faróis e igrejas. Já tem até assaltante assaltando assaltante ".
Sentado num tamborete, ali pelos fundos da sala, Lampa cutucava as unhas com seu inseparável punhalzinho e vez por outra levantava os olhos de modo desconfiado. A cena não passou desapercebida pelo poeta de plantão Zilidoro, que discretamente manuseava seu celular.
Antes que eu voltasse a falar, Zoião abriu o bocão pra chamar Bolsonaro de tudo quanto é coisa que não presta. Barrica tentou acalmá-lo: "Deixe disso, Zoião! Você tá metendo o dedo em buraco de tatu e dentro tem cobras das mais peçonhentas".
O irmão de Barrica, Bil, pediu a palavra: "Eu acho que Zoião tá certo e não tá. Tá certo quando diz que Bolsonaro é feladaputa, ladrão e tal. Está errado quando diz isso sem apresentar provas".
A interrupção de Bil provocou burburinho. Zé, Mané e até Zilidoro disseram atropelando palavras que Zoião não precisava apresentar prova nenhuma, pois as provas da bandalheira bolsonarista estão sendo apresentadas dia a dia pela PF. Do seu canto, numa rabiada de olho, Lampa murmurou entredentes: "Eu ainda vou pegar esses cabras e seus cupinchas. Vou pegar e sangrar. Do meu punhazim esses felas não escapam.".
Zilidoro, vejam só! Puxou palmas pra fala de Lampa.
Vocês endoidaram? Fazer justiça com as próprias mãos é crime, como crime é incentivar pessoas a praticarem crimes.
Zoião, olhava fixamente em mim. Mané fazia o mesmo, enquanto Zé pedia licença pra mostrar jornal no qual se lia notícia de bala perdida matando criança de 13 anos numa favela do Rio. Novamente um zum zum zum toma conta do ambiente dificultando o entendimento entre todos. Falei: de fato, um crime absurdo esse que levou à morte mais um inocente no Rio. É preciso, e concordo com todos aqui, que os responsáveis por isso sejam identificados, presos e punidos. A violência está tomando rumos inaceitáveis, inacreditáveis, no nosso País.
"Seu Assis, sugiro mudar o rumo dessa conversa e batermos palmas para a vida", disse levantando-se da cadeira o bom poeta Zilidoro, acrescentando: "Hoje tem uma pessoa muito importante fazendo aniversário. Essa pessoa tem por nome Lindalva, dona Lindalva, professora de grandes conhecimentos".
Surpreendi-me. Perguntei a Zilidoro se conhecia dona Lindalva. E ele respondeu com a maior tranquilidade: "Dona Lindalva é mãe de uma menina chamada Cecília, Ceci, amiga de uma filha minha".
Esse mundo é mesmo pequeno, eu disse. Ceci é irmã de Anna, Anninha. E essa é a história. Aliás, Ceci fez 19 anos no último dia 10.
Enquanto Zilidoro falava e eu concluía, Bil e Barrica arrumaram como num passe de mágica uns comes e bebes pra deglutirmos em homenagem à aniversariante. Tim tim!
O que separa a licenciosidade da pornografia e sexo explícito? Em 2005, o diretor de teatro José Celso Martinez Corrêa (1937-2023) esteve em Berlim, Alemanha, apresentando a peça Guerra no Sertão. Baseada no livro Os Sertões, de Euclides da Cunha, na história adaptada por Corrêa aparecem personagens vivenciando o dia a dia da região de Canudos. E aí tem putaria, sexo e tal. Boa parte da imprensa alemã não gostou do que viu. O diário Bild, em matéria de página inteira, pergunta o que os problemas dos brasileiros têm a ver com orgias. O diretor da peça respondeu:
“O desejo da orgia vive em cada cultura e em cada pessoa. O teatro pode contribuir para libertar esse desejo”.
Disse mais:
“Trata-se do ímpeto de liberdade das sociedades isoladas. Mas eu vejo isso só do ponto de vista político, econômico ou militar. Trata-se da libertação das origens humanas que isolamos em nós”.
As tragédias marcam, comumente, os roteiros operísticos. Sempre foi assim, mas também foi assim no campo do erotismo, da safadeza. Wagner (1813-1883) usou e abusou de personagens eróticos na ópera Parsifal (1882).
Mozart (1756-1791), em Don Giovanni (1787), não mede palavras pra pôr na boca de seus personagens. É um depravado, sexualmente incansável, o personagem título da obra. Seu fiel criado, Leporello, a certa altura diz:
— Senhora, este é o catálogo das mulheres que o meu patrão amou... Na Itália, seiscentas e quarenta, na Alemanha, duzentas e trinta e uma, cem na França, noventa e uma na Turquia, mas na Espanha já são mil e três. Entre elas, camponesas, criadas, citadinas, condessas, baronesas, marquesas e princesas. Há mulheres de todas as classes, de todos os tipos e idades [...] Da loura costuma elogiar a gentileza, da morena a constância, da grisalha a doçura. No inverno prefere a gordinha, no verão a mais magrinha. A alta é majestosa, a pequena é encantadora. As velhas, conquista só pelo prazer de pôr na lista. A sua paixão predominante é pela jovem principiante. Não lhe interessa que seja rica, feia ou bela, pois desde que use saias, já se sabe o que ele faz…
Verdi (1813-1901), o grande Verdi, também ocupou espaço no mundo operístico com a temática em pauta. Em Rigoletto, tem uma hora em que o personagem Duque de Mântua diz: “esta ou aquela, para mim são todas iguais [...] as mulheres são volúveis como plumas ao vento, mudam de ideia e de pensamento”. E a Carmen, hein? Georges Bizet, o autor, optou por uma tragédia. Muitas revistas em quadrinhos abordam narrativas operísticas e não operísticas no Brasil e mundo afora.
Fotos e reproduções por Flor Maria e Anna da Hora.
Gostei da fala do Lula ontem 9 em entrevista coletiva, em Belém, PA, quando cobrou grana dos países ricos prometida para o Fundo Amazônico. Disse:
"A Amazônia não é só a copa das árvores, não é só os rios. Lá moram milhões de amazônidas que querem viver bem, trabalhar, comer, ter aquilo que produz, além de querer preservar, não como santuário, mas preservar como uma fonte de aprendizado da ciência do mundo inteiro para que a gente possa encontrar um jeito de preservar ganhando dinheiro, para o povo possa viver dignamente".
A fala de Lula foi feita após o encerramento da reunião da Cúpula da Amazônia, que resultou praticamente em nada. Nem a pauta sobre possível exploração de petróleo na margem equatorial brasileira foi posta à discussão. Frustração geral. O que acho disso? Acho que quanto mais petróleo for encontrado nos domínios da nossa terra, melhor. Não basta uma grana daqui e dali vir pra manter de pé a floresta Amazônica. Como diz o Lula, "A Amazônia não é só a copa das árvores, não é só os rios". É muito mais. A pobreza grassa na região, incluindo a fome. E como uma coisa puxa outra, lembrei de um livro de extrema importância publicado em 1937 pelo escritor paulista Monteiro Lobato. A história contada por Lobato no livro O Poço do Visconde começa com Pedrinho, Narizinho, Emília, Dona Benta e Tia Anastácia assistindo aula de Geologia dada pelo "professor" Visconde de Sabugosa. Depois de falar sobre matérias orgânicas, o Visconde discorre a respeito da erosão que corrói tudo que pode corroer. Ele:
"... A erosão desagrega as rochas e por meio dos rios as conduz para o mar. Por isso os continentes estão sempre a diminuir de volume e o fundo do mar está sempre a crescer de altura. Os sábios calculam, por exemplo, que cada mil toneladas de material pulverizado extraído do continente, de modo que em cada dez mil anos o tal golfo fica mais raso um metro. No fim de 7 milhões de anos estará completamente aterrado. Aqui no Brasil temos o Amazonas que, segundo os cálculos de Euclides da Cunha, leva para o mar 3 milhões de metros cúbicos de detritos por dia, ou seja quase dois quilômetros cúbicos por ano. Mas esses detritos não se acumulam logo adiante do despejo do Amazonas, por causa da velocidade da correnteza na foz. São levados mar adentro até alcançarem a célebre corrente do Golfo do México".
Euclides da Cunha, não custa lembrar, foi jornalista, engenheiro, poeta e geógrafo. Como jornalista cobriu a Guerra de Canudos para o jornal O Estado de S.Paulo. É dele o livro Os Sertões, cuja primeira parte é uma verdadeira aula de geologia. Bom, voltemos ao Visconde e suas aulas aos viventes do Sítio do Pica-pau Amarelo. Aqui e ali interrompido por Pedrinho, Narizinho e Emília, sobre se havia petróleo no Brasil ao tempo em que o livro foi publicado, o Visconde responde:
"Não existem perfurações, isso sim. Petróleo o
Brasil tem para abastecer o mundo inteiro durante séculos.
Há sinais de petróleo por toda parte — em Alagoas, no
Maranhão, em toda a costa nordestina, no Amazonas, no
Pará, em São Paulo, no Paraná, em Santa Catarina, no Rio
Grande, em Mato Grosso, em Goiás. A superfície de todos
esses Estados está cheia dos mesmos indícios de petróleo
que levaram as repúblicas vizinhas a perfurar e a tirá-lo
aos milhões de barris. Os mesmíssimos sinais".
O que é melhor: morrer com o corpo e a mente cheios de doença, de fome, ou puro e simplesmente respirando o ar puro?
Monteiro Lobato foi o primeiro brasileiro a lutar pela localização e extração de petróleo nos nossos domínios. É dele a frase: "O petróleo é nosso". Por colocar em pauta essa questão, foi preso por Getúlio. Curiosidade: no dia 3 de outubro de 1953, Getúlio Vargas criou a Petrobrás (música abaixo).
É claro que não é importante para os grandes países produtores de petróleo e derivados ter o Brasil lado a lado. É natural que temam a concorrência e, de tabela, não queiram que o petróleo localizado na margem equatorial brasileira seja explorado.
E o poço do visconde, deu resultado?
Ao fim do livro, Pedrinho exibe uma placa com a data 9 de agosto de 1938. O que significa isso?
Ah! Sim: Lula arrancou do baú a expressão "amazônidas". Você sabe o que é isso? E você sabe também o que é manauara? E soteropolitano?
A reunião denominada Cúpula da Amazônia, iniciada ontem 8, deverá terminar hoje com muitas indefinições.
Os governantes dos oito países da Amazônia Legal, reunidos no Pará, chegaram até aqui sem nenhuma conclusão unânime. Nem mesmo as pretensões de Lula de desmatamento zero na região. Essa meta, segundo o presidente brasileiro, deverá ou deveria ser alcançada até 2030.
As leis dos países participantes da Cúpula são diferentes entre si, daí as indefinições observadas na Carta de Belém, que já foi divulgada.
Grilagem e latifúndios são problemas antigos do Brasil.
A região Norte, onde se acha a Amazônia é no rigor a mais pobre do País. Seus habitantes, incluindo os indígenas, sofrem de todos os males provocados pela ganância do homem branco. Mas, claro, a pobreza que paira no Brasil é grande.
No campo da pobreza, pobreza de faltar tudo na mesa, se estende aos nove Estados nordestinos.
Doenças e fome atacam o Brasil em todos os flancos.
De um lado a seca, de outro enchentes.
São históricas as secas no Brasil, principalmente no Norte e no Nordeste.
Em 1982, o Brasil se uniu para ajudar as vítimas das enchentes na Capital pernambucana. A ajuda veio de todo canto, até dos artistas da nossa música. Chico Buarque e Fagner lideraram esse movimento, que resultou num disco com duas faixas vendido em benefício das vítimas das chuvas daquele ano. Uma das faixas daquele disco, Seca d'Água, levou a assinatura do poeta Patativa do Assaré.
Patativa, de batismo Antônio Gonçalves da Silva, foi um dos poetas mais importantes do País. Deixou uma obra muito bonita, recheada de clássicos como A Triste Partida, A Morte de Nanã, Vaca Estrela e Boi Fubá e Eu Quero, que diz:
Quero um chefe brasileiro Fiel, firme e justiceiro Capaz de nos proteger Que do campo até à rua O povo todo possua O direito de viver
Quero paz e liberdade Sossego e fraternidade Na nossa pátria natal Desde a cidade ao deserto Quero o operário liberto Da exploração patronal...
Patativa do Assaré, sobre quem escrevi um livro biográfico (O Poeta do Povo), viveu longa vida num pedaço de chão no qual plantava para sobreviver em Assaré, CE. Perdeu a visão ainda criança, em 1913. Dez anos depois, em 1923, escreveu seus primeiros versos tendo como tema as festas juninas. Em 1956 publicou seu primeiro livro, Inspiração Nordestina. Em 1973, com 64 anos de idade, foi atropelado por um automóvel e quase morreu. O resto é história.
Os países que fazem parte da Amazônia Legal são, além do Brasil, Guiana, Guiana Francesa, Suriname, Venezuela, Colômbia, Equador, Peru e Bolívia. O presidente ditador da Venezuela fugiu da reunião de Belém.
Com a presença de representantes de vários países signatários do Tratado de Cooperação Amazônica foi oficialmente aberta pelo presidente Lula a Cúpula da Amazônia. Os países são Brasil, Bolívia, Colômbia, Guiana, Equador, Peru, Suriname e Venezuela.
Essa reunião iniciada hoje e prevista para terminar amanhã 9, no Pará, deverá ter efeito benéfico aos moradores de toda a região.
Ontem 7 o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística, IBGE, anunciou uma boa nova: a população brasileira de indígenas quase dobrou em 2022, em relação à pesquisa de 2010. Isso quer dizer que foi de 896.917 para 1.693.535 habitantes.
E como a coisa puxa outra, acabo de lembrar uma ou outra coisinha referente ao mês de agosto.
Os primeiros alimentos que ingerimos desde tempos de antanho vieram do cardápio indígena, como macaxeira, mandioca, inhame e cará.
Macaxeira é uma raiz deliciosíssima conhecida também em algumas partes do País como aipim e mandioca; mas mandioca é a raiz própria para a fabricação de farinha. Cascudo:
"Na geografia da alimentação brasileira o 'complexo' da mandioca,
farinha, gomas, tapioca, polvilhos, constitui uma permanente para 95%
dos oitenta milhões nacionais, em todas as direções demográficas.
Acompanha o churrasco gaúcho como a caça no Brasil Central e no mundo
amazônico. Para o brasileiro do povo 'comer sem farinha não é comer!'"
As pesquisas iniciadas por Cascudo ficaram praticamente suspensas por alguns anos, até que num dia de agosto de 1963 Cascudo recebeu em sua casa na Mathias Aires, Natal, a visita do poderoso Francisco de Assis Chateaubriand Bandeira de Mello. Conversa vai, conversa vem, Chatô botou fogo em Cascudo fazendo-o dar prosseguimento às pesquisas que iniciara 20 anos antes. Em 1967, enfim, saiu pela Editora Nacional, de São Paulo, o livro História da Alimentação no Brasil, dividido em dois volumes.
Na pauta da Cúpula da Amazônia se acham assuntos de extrema importância, como o fim do desmatamento na região e a possível exploração de petróleo pela Petrobrás na Bacia da Foz do Amazonas.
Esse último tema está deixando os defensores do Meio Ambiente, como a ministra Marina Silva, de cabelo em pé.
Mais das vezes o acaso nos proporciona surpresas agradáveis, seja a que distância for: perto ou longe.
Eu não estive no voo da Latam que levou passageiros de São Paulo ao Rio de Janeiro domingo 6, ali pelas 18h, e por não ter estado nesse voo, lamento. E lamento por uma razão: Alcione, a Marrom, cantora de quem todos nos orgulhamos, estava nele. O voo atrasou e esse foi o acaso que propiciou aos felizardos passageiros a alegria não anotada em suas agendas. A pedido e sem se fazer de rogada, levantou-se da poltrona sorrindo e soltando a voz bela que Deus lhe deu e ainda firme, cantou.
A cantiga cantada por Alcione foi Não Deixe O Samba Morrer, uma pérola de autoria dos craques Edson Conceição e Aloísio Silva, lançada em 1975 pela própria Alcione no LP A Voz do Samba.
Confira a festa improvisada por Alcione no voo da Latam.
E o palavrão, hein? Esse tem em todo canto também, como todas as questões relacionadas a sexo. No começo dos anos de 1970, o pernambucano Mário Souto Maior teve censurado pelo governo militar (1964-1985) o livro Dicionário do Palavrão e Termos Afins. Além do Brasil, outros países têm livros similares ao que escreveu e publicou Souto Maior. O da Alemanha tem por título Sex im Volksmund. Der obszöne Wortschatz der Deutschen, de Ernest Borneman. Em tradução livre, para o português: Sexo no vernáculo, o vocabulário obsceno dos alemães. Curiosidade: a maior palavra em português não é palavrão, mas tem 20 sílabas e 46 letras. PNEUMOULTRAMICROSCOPICOSSILICOVULCANOCONIÓTICO, PORRA! O menor palavrão na língua portuguesa é cu, que curiosamente na tabela periódica corresponde ao elemento Cobre. Pois, pois. Pelo menos por estas plagas ocidentais, latinas e tal, passou batida a informação de que a “operação” mortífera acionada por Putin contra a Ucrânia começou com um palavrão, seguido de uma bela estirada de dedo: “Vai se foder!”. O palavrão saiu da boca de um soldado ucraniano depois que os russos ordenaram a rendição, no dia 24 de fevereiro de 2022. O palavrão, “vai se fuder”, virou um desabafo do povo ucraniano estampado em camisetas, bandeirolas, souvenirs e outdoors. Não custa lembrar que o verbo “foder” é conjugado em todo canto, em todas as línguas. Até o escritor colombiano Gabriel García Márquez (1927-2014), num dos seus livros, Cem Anos de Solidão, põe um personagem, acho que Alfonso, pra dizer: “O mundo terá acabado de se foder no dia em que os homens viajarem de primeira classe e a literatura no vagão de carga”. No famoso livro de Gabo há guerras, brigas, violências de todo tipo; muito sexo, muita puta, bordéis a dar com pau, muitas palavrinhas como “merda” e palavrões aqui e acolá. E até broxa. É um livro e tanto Cem Anos de Solidão.
A obra reunida do poeta maldito Gregório de Matos e Guerra começou a ser publicada em livro no Brasil somente a partir de 1923. Parecido com Gregório, na temática e explicitação nos textos, foi o italiano renascentista Pietro Aretino (1492-1556). Era protegido por papas, reis e príncipes do seu tempo. Aretino, segundo dizem, tinha de aluguel sua caneta. Era rápido, que nem um pistoleiro. Era a favor de quem pagasse mais e aí, soltava a língua. Exemplo:
Estes nossos sonetos do caralho, Que falam só de cu, caralho, cona, e feitos a caralho, a cu, a cona, Semelham vossas caras de caralho..
Trouxestes cá, poetas do caralho, As armas para pôr em cu e cona. Sois feitos a caralho, a cu, a cona, Produtos de grã cona e gra caralho.
E se furor, oh gente do caralho, Vos falta, ficareis no pica-cona, Como acontece amiúde co'o caralho.
Aqui termino esta questão da cona P'ra não entrar no bando do caralho, E, caralho, vos deixo em cu e cona.
Quem perversões tenciona Aqui nestas asneiras logo as lê. Que mau ano e mau tempo Deus lhe dê. Muitas das coisas que Aretino escrevia eram no formato de soneto, no caso criado por Giacomo da Lentini (1210-1260). O soneto criado por Lentini era formado por dois quartetos e três tercetos. Esse tipo de soneto foi revisto e transformado por Francesco Petrarca (1304-1374), que é o que conhecemos hoje: formado por dois quartetos e dois tercetos, num total de 14 versos decassílabos. Aretino e Gregório de Matos morreram praticamente com a mesma idade, 58 anos. Detalhe: Gregório foi censurado em vida e Aretino, depois que morreu.Aretino morreu rico, riquíssimo, e Gregório morreu pobrezinho de marré marré numa casa praticamente abandonado, em Recife, PE, acreditando piamente na existência de Deus. William Shakespeare (1564-1616) também deixou uma versão própria de soneto. No caso formado por 3 quartetos e um dístico de dois versos, decassílabos (abab bcbc cdcd efef gg). Com finesse e sutileza, o bem comportado Shakespeare abordou a homosexualidade pelo menos uma vez em uma de suas peças: Os Dois Nobres Parentes. Os personagens dessa peça, Palamon e Arcite, encontram na cadeia onde foram atirados, tempo para passar bons momentos entre si. Carícia aqui, carícia ali e tal. A propósito, não custa lembrar, toda a obra shakespeariana tem por base a cultura popular da terra em que o autor nasceu.
Estou ouvindo sem parar, num gosto danado, a história inventada pelo paraibano Ariano Suassuna intitulada O Romance d'A Pedra do Reino e o Príncipe do Sangue do Vai-e-Volta. É uma história arretada, narrada em primeira pessoa por um certo Dom Pedro Dinis Quaderna.
A história de Suassuna é fantástica em todos os sentidos, embora entremeada por fatos e personagens reais da história do Brasil. Vultos históricos da cidade do Sertão são aqui e ali lembrados como Jesuíno Brilhante, Lampião e Maria Bonita; o escritor José de Alencar e poetas do naipe de Gonçalvez Dias. Políticos também entram na história: João Pessoa e Getúlio Vargas, entre outros.
Lá pras tantas, ali pela metade do livro que tem umas 800 páginas, o narrador faz lembrança de príncipes e reis como Dom Sebastião, O Desejável.
Dom Sebastião tombou, segundo a lenda, na batalha de Alcácer Quibir. Foi batalha terrível, travada entre cristãos e mouros no norte de Marrocos. Os poucos cristãos que sobraram foram presos, tornados troféus e como tais devolvidos a Portugal a peso de ouro.
O sebastianismo, que aportou no Brasil num ano qualquer escondido pela história, foi gerado com o sumiço do rei Dom Sebastião. Há quem o espere até hoje.
A Batalha de Alcácer Quibir foi travada no dia 4 de agosto de 1578.
Nessa nossa terra tem Xote, xamego e canção Frevo e maracatu Samba, batuque e baião E poeta popular Tirando verso do chão.
É uma terra bonita Que dá vida, dá lição Ensinando a sua gente A ter mais educação A ler para entender O Brasil de Tinhorão
Esse mestre logo pôs A cultura em discussão Pra depressa entender Sua origem e formação Ora juntos aplaudamos J.R.Tinhorão
(O Brasil de Tinhorão, Assis Angelo)
O Brasil é uma casa enorme, cheia de gente e coisas bonitas. Aqui e ali tem o que não presta, claro. Mas eu quero falar é do que presta, de gente sabida e contributiva para o engrandecimento dessa casa Brasil.
Um dos grandes nomes que, de certo modo, descobriram o Brasil nos seus detalhes e belezas foi o paulista de Santos José Ramos Tinhorão.
Tinhorão marcou profundamente a história do Brasil, a partir do momento que decidiu enveredar pelo Jornalismo e pelos pedregosos caminhos da história e da nossa cultura popular. Foi o maior de todos os historiadores dessa matéria. Deixou uma obra rica constituída por uma trintena de livros, o primeiro publicado de modo independente em fevereiro de 1966, cujo título dado foi Música Popular: Um Tema em Debate.
J.R. Tinhorão, como costumava assinar, era um cara que estava sempre antenado com o passado e com o presente. O passado ele remexeu e de lá tirou o quanto pôde para o esclarecimento da nossa história. Fazia o mesmo com o presente, sempre a observar tudo. Nunca deixou de pôr o bedelho onde devia, esclarecendo, opinando.
Eu me dava muito com Tinhorão. Tornou-se meu amigo. Nos frequentávamos. Ele mais a minha casa do que eu a dele. Sempre me tirou dúvidas que eu tinha a respeito da história, especialmente referente à cultura musical brasileira. Opinou sobre discos que gravei e livros que escrevi. Um dia o convidei para participar do programa São Paulo Capital Nordeste, que durante anos produzi e apresentei, sempre ao vivo, na Rádio Capital AM 1040. Ele foi e foi uma festa. Dias depois, no jornal carioca A Nova Democracia, ele escreveu artigo dizendo o que achara do programa. Leia: Ainda não está tudo dominado
Bom, foi num dia como hoje 3 de agosto que José Ramos Tinhorão fechou os olhos e partiu para a Eternidade.
Finalmente aconteceu: o STF jogou na lata do lixo argumento que possibilitava a absolvição de acusados por espancar e até matar mulheres com quem se casavam. Ao se casar, homens podiam fazer com mulheres o que bem desejassem. Isso desde 1605, ainda nos tempos de Brasil Colônia. Essa loucura durou até 1830. Mas não findou de vez. A tese de "legítima defesa" levava o criminoso a sair sorrindo dos julgamentos a que eventualmente eram levados. Muitos espancamentos e assassinatos foram praticados por machões de Norte a Sul do País. São milhares os casos. Mas isso agora acabou, definitivamente. O STF levou ontem à lata de lixo, por unanimidade, a vergonhosa tese de legítima defesa à honra. Cresci ouvindo notícia dando conta de que poderosos batiam e matavam suas mulheres para "lavar a honra com sangue". Sangue das vítimas, claro. O cantor Lindomar Castilho, preso em flagrante por matar a mulher, foi defendido por seus advogados que usaram a tese de que o acusado "matou por amor". No seu voto, a ministra Rosa Weber disse: "Pela legislação civil, as mulheres perdiam a capacidade civil plena ao casarem, cabendo ao marido administrar tanto os bens do casal como os particulares da esposa. Somente mediante autorização do marido, as mulheres poderiam exercer a atividade profissional". Os feminicídios continuam ocorrendo a cada quatro horas no Brasil.
Luiz Gonzaga se acha na eternidade desde o dia 2 de agosto de 1989. Quer dizer: faz hoje 34 anos que Gonzaga partiu para nunca mais voltar ao convívio terreno. Enquanto conosco esteve, o Rei do Baião nos deu todo tipo de alegria, principalmente no campo musical.
A discografia de Luiz Gonzaga ultrapassa 600 músicas gravadas por ele, pouco mais de 50 dessas de sua autoria, outras em parcerias e mais de 300 de autores diversos. Quer saber mais sobre o pernambucano Luiz Gonzaga? Clique:
AINDA LUIZ GONZAGA
Eu conheci Luiz Gonzaga em 1978, quando o entrevistei para o suplemento dominical da Folha de S.Paulo, o Folhetim. Fiz outras entrevistas com ele e até uma música em parceria com o craque Oswaldinho do Acordeon. Ouça: LUA DO SERTÃO
O tempo passou, e o cantador mineiro Téo Azevedo me convidou a participar do CD Salve Gonzagão, que acabaria por ganhar o prêmio Grammy de Música Regional. Peguei a letra que fiz pra Oswaldinho musicar e Daiane gravar e cá estou a declamar: UM BAIÃOZINHO PARA O REI DO BAIÃO
Hoje é dia de Superlua, Lua Cheia. São muitos os mitos e lendas que envolvem a Lua. Há quem jure que a Lua na sua fase Minguante é boa pra fazer regime de emagrecimento e encerrar namoro sem futuro.
A Lua Nova, segundo a crença popular, é boa pra plantar seja lá o que for.
A Lua Crescente, dizem os quase carecas: é boa pra fazer o cabelo crescer.
E a Lua Cheia?
Na Lua Cheia, ali pela meia noite, dá as caras o feioso lobisomem surgido na antiga Grécia. Eita! E ainda tem o caso do Boto e da Vitória-Régia. O
Boto, como o lobisomem, deixa as águas da Amazônia pontualmente à
meia-noite da Lua Cheia para caçar mulheres e engravidá-las. O caso da Vitória-Régia, é também curioso: na origem, trata-se de uma mulher que apaixonada pela Lua dá nome à planta. E se a Lua Cheia caísse do céu, hein? Não precisa ser besta, basta ser sensível. Hoje 1º quem levantar os olhos em direção ao céu, ali pelas 5h40 da tarde, é bem capaz de ver uma luazona bem grandona, enorme, do tamanho do céu, ou maior ainda, chamada pelos terráqueos cabeçudos de Superlua ou Lua do Esturjão. Lua do Esturjão é como chamam os admiradores do céu que vivem lá pras bandas do hemisfério norte. Nos tempos de calças curtas, eu não sabia que existia tal Lua. Ou seja: Superlua, Lua do Esturjão e tal e coisa. Depois que passei a usar calças compridas e a andar orgulhoso tal e qual todos os jovens dos 60, foi que passei a tomar conhecimento de ocorrências fenomenais que iam até além da minha própria imaginação. Refiro-me às coisas do céu como planeta às centenas, cometas de todo tipo, grandões e luminosos, luas disso e daquilo e tal. Essa coisa de Lua Cheia caindo pelas tabelas, redondonas e alaranjadas, chamadas de Superlua só tomei conhecimento poucas décadas atrás. Quando já estava preparado para admirar esse tipo de Lua, perdi o brilho dos olhos e fiquei cego. Pois é, o que fazer? Bom, sem conseguir enxergar nada pelos olhos resolvi, há uns dez anos, desenvolver por mim próprio capacidade de enxergar o céu e a lua, pessoas e tudo o mais através da memória e dos sentidos de que somos portadores. No meu caso, sem a visão. Meu amigo, minha amiga: o fenômeno da Superlua hoje 1º poderá ser visto com mais facilidades em Campinas (SP), Goiás (GO), Rio Grande do Sul (RS). Se não der, volva os olhos ao céu amanhã ou depois de amanhã 3. O dia 2 é o dia que o rei do baião, Luiz Gonzaga, deixou o plano terreno e partiu para o céu. Mas essa é outra história...
O livro é uma pérola permeada de poucos personagens. O melhor e o principal deles, Tertuliano Máximo Afonso, é separado e namora sem muito gosto uma jovem bancária chamada Maria da Paz.
Com a primeira mulher, Tertuliano não teve filhos.
A história de O Homem Duplicado, do português José Saramago, começa quando um professor de Matemática sugere que seu amigo, Tertuliano, assista o filme Quem Porfia Perde a Caça. É dos anos 80, por ali. Tempos ainda de filme em VHS. Tertuliano aceita a sugestão e vai à locadora alugar o tal filme. É quando a vida dele dá uma guinada de 180°.
Tertuliano mora sozinho num apartamento, visitado exporadicamente por Maria da Paz. Essa Maria é apaixonadíssima por Tertuliano, que é professor de História de uma escola particular.
Ao assistir Quem Porfia Perde a Caça, o professor Tertuliano se depara com um personagem secundário de nome Daniel Santaclara. E é aí que a porca torce o rabo.
Após descobrir que o ator é cara cuspida e escarrada dele próprio, Tertuliano entra em parafuso e passa a ter um comportamento diferente do que tinha até então.
Além de Tertuliano, Maria da Paz e Daniel, Saramago enfia no livro a mulher de Daniel, Helena; e a própria mãe do protagonista, Carolina. Dona Carolina, que tem uma presença curta mas significativa no enredo.
E a história segue com Daniel marcando encontro com Tertuliano. Após conhecer Tertuliano, Daniel conta como tudo sucedeu à mulher Helena. Ela pira e toma remédio pra dormir. Chega a um ponto que Daniel procura vingança, passando-se por Tertuliano para ter um encontro íntimo com Maria da Paz. Depois disso, e da noite de amor, os dois morrem num terrível acidente na estrada. Tertuliano fica com Helena e o final não conto, não. Apenas acrescento: é surpreendente, como surpreendente é o diálogo entre Tertuliano e o Senso Comum, "personagem" impagável pelas características como o autor o apresenta.
O Homem Duplicado foi publicado em 2002.
O Homem Duplicado virou filme dirigido por Denis Villeneuve, lançado em 2014. É classificado como suspense psicológico. É por aí. Existencialismo na parada. A vontade é devorá-lo sem intervalos. Veja o trailer:
Com vistas às comemorações do seu centenário de fundação, a Rádio MEC soltou edital em âmbito nacional e internacional para escolher autores e intérpretes de músicas nos gêneros Erudito e Popular. Serão premiadas músicas instrumentais, infantis e canções. No item canção, o craque Jorge Ribbas e eu compusemos Xote Erudito, que versa sobre uma festa de forró com convidados como
Simone de Beauvoir, Platão, Aristótes, Tinhorão, dentre outros. O ritmo
escolhido foi o Xote, característico do nosso Nordeste. Veja a letra:
ARISTÓFANES E ARISTÓTELES, CONVIDARAM SÓCRATES E PLATÃO PARA IREM A UM FORRÓ, DANÇAR XOTE, XAXADO E BAIÃO QUANDO LÁ ELES CHEGARAM, ENCONTRARAM SIMONE DE BEAUVOIR TODA ARRUMADINHA E JÁ PRONTA PRA DANÇAR
O CANTOR ERA BEETHOVEN, O SANFONEIRO, DEBUSSY NA ZABUMBA O BAMBA BACH E JACKSON, NO PANDEIRO O CANTOR ERA BEETHOVEN, O SANFONEIRO, DEBUSSY NA ZABUMBA O BAMBA BACH E JACKSON A PANDEIREAR
ZÉ LIMEIRA E SHOPENHAUER NUM CANTINHO FILOSOFAVAM ENQUANTO MARX E TINHORÃO UMA CABROCHA CORTEJAVAM
A FESTA FOI ANIMADA COM ERUDITOS NO SALÃO CANTANDO, SE DIVERTINDO AO SOM DE LUAR DO SERTÃO A FESTA FOI ANIMADA COM ERUDITOS NO SALÃO CANTANDO, SE DIVERTINDO AO SOM DE LUAR DO SERTÃO
Os organizadores desse concurso O Festival Musical já fizeram a primeira seleção. É uma oportunidade, agora, para os internautas escolherem eles próprios a melhor obra. Se valer uma sugestão, lá vai: votem no Xote Erudito.
CONTENDA
O músico Jorge Ribbas ganhou o 1º lugar do concurso musical da Rádio MEC, em 2021, com Pentagonia. Este ano concorre com outra música de características eruditas. Vote: CONTENDA