Seguir o blog

sábado, 31 de agosto de 2024

LICENCIOSIDADE NA CULTURA POPULAR (125)

Otto Maria Carpeaux

Safado, gozador, brincalhão e um tanto puto Limeira raramente titubeava pra pôr sua viola no peito e dela tirar som com versos assim:


O véio Thomé de Souza, 

Governador da Bahia, 

Casou-se e no mesmo dia 

Passou a pica na esposa... 

Ele fez que nem raposa: 

Cumeu na frente e atrás, 

Chegou na beira do cais, 

Onde o navio trefega, 

Cumeu o Padre Nobréga,

Os tempos não voltam mais.


Absurdo é o irreal, o que não se vê, coisa ou algo que não se vê.

Na literatura é comum classificar tal gênero como “realismo fantástico” ou “mágico”.

Nessa classificação entra claramente o tcheco Franz Kafka (1883-1924).

Kafka, segundo o austríaco Otto Maria Carpeaux (1900-1978), era “um rapaz franzino, magro, pálido, taciturno. Eu não podia saber que a tuberculose da laringe, que o mataria três anos mais tarde, já lhe tinha embargado a voz”.

Assim trouxe Carpeaux suas reminiscências com Kafka.

E o mesmo Otto Carpeaux lembra como conheceu o autor de Metamorfose (1915):


“Kauka.”

“Como é o nome?”

“KAUKA!”

“Muito prazer.”

Esse diálogo, que certamente não é dos mais espirituosos, foi meu primeiro encontro com Franz Kafka. Ao ser apresentado a ele, não entendi o nome. Entendi Kauka em vez de Kafka. Foi um equívoco.

Hoje, o “Kauka” daquele distante ano de 1921 é um dos escritores mais lidos, mais estudados e – infelizmente – mais imitados do mundo.


Era do caralho!

sexta-feira, 30 de agosto de 2024

LICENCIOSIDADE NA CULTURA POPULAR (124)

Em agosto de 1983 a Escola de Comunicação e Artes da USP promoveu um seminário intitulado Jornadas Impertinentes. Desse seminário participaram intelectuais de destaque na vida acadêmica de São Paulo. Os professores Jerusa Pires Ferreira e Luís Milanesi estiveram à frente de tudo. O tema gerou polêmica e acabou no livro Jornadas Impertinentes: O Obsceno.
Na apresentação do livro a professora Jerusa diz que por muito tempo passou a acompanhar o que se produzia sobre o assunto na área da Cultura Popular, incluindo folhetos de cordel. Pra ela foi tudo surpresa, lembra: “Pensando na Cultura Popular tradicional nordestina e na literatura de folhetos populares, hoje conhecida como de Cordel passei a observar que os pesquisadores, no caso de ‘indecências’ ou ‘indecentes’ costumavam assumir duas posturas. Ou um silêncio comprometedor e um véu idealizante ou a revelação sensacionalista do tipo: Nordeste ataca de Pornô Cordel”.

Leu muitos folhetos e inteirou-se da vida e da obra do poeta repentista Zé Limeira (1896-1954).

Zé Limeira é uma lenda da cantoria nordestina desenvolvida ao som de viola. Sobre ele o jornalista e também poeta Orlando Tejo (1935-2018) escreveu O Poeta do Absurdo. Esse livro virou clássico do gênero por razões óbvias: Limeira era um destabocado cantador e cantava misérias da vida e do sexo. Exemplo:


Frei Henrique de Coimbra

Sacerdote sem preguiça

Rezou a primeira missa

Perto de uma cacimba

Um índio passou-lhe a pimba

Ele não quis aceitar

E hoje vive a chorar

Embaixo de um pé de jurema

O bom pescador não teme

As profundezas do mar


Pimba, pra quem não sabe, no Nordeste é pênis.

Zé Limeira era absurdamente troncho no verso de metrificação certa e rima torta. Ele:


Pedro Álvares Cabral

inventor do telefone

começou tocar trombone

na Volta de Zé Leal

Mas como tocava mal

arranjou dois instrumento

daí chegou um sargento

querendo enrabar os três

Quem tem razão é o freguês

diz o Novo Testamento


O Zé Leal aqui citado é referência ao famoso jornalista paraibano que assinava coluna no extinto jornal O Norte, PB.

Zé Limeira tinha admiradores em todo canto.

Em São Paulo, um de seus grandes admiradores foi o cientista Paulo Vanzolini (1924-2013), PhD em Harvard e compositor musical, nas horas vagas. É dele o belo samba Ronda, gravado pela cantora Inezita Barroso, em 1953.

Vanzolini também gostava de putaria. É dele:


Eu sou Paulo Vanzolini, 

animal de muita fama. 

Eu tanto corro no seco. 

Como na vargem da lama. 

Mas quando o marido chega, 

me escondo embaixo da cama.


No correr do tempo foi inventado um mote pra lembrar o destabocado cantador:

 

Eu querendo também faço

Igualzinho a Zé Limeira


Muitos cantadores já cantaram e ainda cantarão versos com base nesse mote. Ivanildo Vila Nova e Severino Feitosa, por exemplo:


Vila Nova:

Rei Davi foi deputado

Na Assembléia do Acre

Kruschev fez um massacre

Nas traíras de Condado

Jesus Cristo era cunhado

De Romano de Teixeira

Escreveu A bagaceira

Mas se esqueceu do bagaço

Eu querendo também faço

Igualzinho a Zé Limeira


Feitosa:

Confusão foi na Bahia

Pai-de-santo e curandeiro

Anchieta era pedreiro

No farol de Alexandria

Hitler nasceu na Turquia

Vendia manga na feira

A Revolução Praieira

Degolou Torquato Tasso

Eu querendo também faço

Igualzinho a Zé Limeira…


O estudante Pedro Araujo de Oliveira escreveu um estudo científico, para a Universidade Federal do Rio de Janeiro, intitulado O Poeta Zé Limeira No Imaginário do Cancioneiro Brasileiro – Relações Entre Cultura Letrada e Oral (2022). Lá pras tantas, ele diz: “Zé Limeira, conhecido como o Poeta do Absurdo, a cujas incertas autorias foram atribuídos versos de fantástica imaginação e delírio, sendo por vezes comparados à literatura surrealista”.

A expressão “poeta do absurdo” faz parte do título de um livro sobre Limeira, publicado em 1971 pela gráfica do jornal O Norte, de João Pessoa, PB.

Nas primeiras páginas desse livro escrito por Orlando Tejo, o ex-governador da Paraíba José Américo de Almeida, define Limeira como:


…Alto, forte, sorridente, impressionava pelo físico e maneiras destabocadas.

Andarilho de sete fôlegos, trazia o matulão a tiracolo e não largava a bengala de aroeira, feita um bordão.

Meio carnavalesco, usava roupa de mescla com um lenço encarnado no pescoço. Seus dedos eram grossos de anéis.

Cantando, com uma bonita voz, erguia, desdenhoso o rosto guarnecido de grandes óculos escuros…


Sobre  Zé Américo, o cantador Zé Limeira teceu loas. Exemplo:


Eu me chamo Zé Limeira,

Cabra macho do Sertão,

Serrote que serra cedra

No tupete do baião…

Se Zé Américo quisé,

Os home vira muié,

Jurema vira aigodão…


Foto e reproduções de Flor Maria e Anna da Hora


quinta-feira, 29 de agosto de 2024

O FOLCLORE NA OBRA DE TARSILA


O mês de agosto, muitos dizem, é o mês do cachorro louco. Mas nesse agosto, não custa lembrar, é comemorado internacionalmente como o mês do Folclore. E isso, sim, é coisa boa.
São muitos os personagens que habitam o enorme e imaginário campo do folclore. Tem Curupira, Saci-Pererê, Caipora, Boitatá, Mãe d'Água, Boto, Negrinho do Pastoreio, Lobisomem, Mula Sem Cabeça, Homem do Saco, Corpo-Seco, Cuca...
As origens da Cuca remonta há muito tempo. Vem das bandas europeias. Ali dos lados da Espanha, Portugal. Quando chegou ao Brasil? Não sei.
Ainda menino eu ouvia muito sobre a Cuca.
A Cuca é bruxa, uma velha bruxa. Horrorosa. Com cabeça de jacaré, pés de pato e unhas de vampiro. Não houve, no meu tempo, criança que não se assustasse ao falar da Cuca.
O folclore é riquíssimo de causos, cousas, lendas e tal.
Isso tudo me faz lembrar das artes. Plásticas, inclusive.
Em 1924 a pintora paulista Tarsila do Amaral criou um quadro bem bonito a que intitulou A Cuca. Vejam só!
Faz 100 anos que Tarsila legou ao Brasil o quadro que retrata a imaginária Cuca.
Faz 100 anos também que a mesma artista legou ao Brasil a obra Morro da Favela.
Tarsila do Amaral é a autora da obra-prima Abaporu, criada em 1928.
Dessa mesma Tarsila é o quadro mais caro de um artista plástico brasileiro: A Caipirinha, pintado em 1923 e vendido num leilão, em 2020, pela bagatela de 57,5 milhões de reais. 
Tarsila do Amaral morou alguns anos na França. Voltou ao Brasil em 1922, mesmo ano da Semana de Arte Moderna. Dessa Semana ela participou. Em 26 casou-se com Oswald de Andrade (1890-1954) e, três anos depois, separou-se.
Tarsila do Amaral nasceu no dia 1º de setembro de 1886 e morreu no dia 17 de janeiro de 1976.
Pois é, em 1924 Tarsila do Amaral pintou dois belos quadros. A Cuca e Morro da Favela.
A propósito de Morro e de Favela lembro de um cara conhecido como MC Daleste. Seu nome verdadeiro era Daniel Pedreira Sena Pellegrini, que foi morto a tiros no interior de São Paulo quando apresentava um show. Isso foi em 2013. A polícia não achou o autor dos disparos que acabou com a vida do artista. No ano seguinte, em 2014, o processo praticamente parou. E é assim que a coisa está. Ouça Daleste cantando o tema pintado por Tarsila:



quarta-feira, 28 de agosto de 2024

ANISTIA TEM DATA: AGOSTO, 1979



Hoje 28 de agosto marca o dia da sanção da lei n° 6.683. Essa lei, que ficou conhecida como Lei da Anistia, foi sancionada pelo general-presidente de plantão, à época, João Figueiredo (1918-1999). Sim, aquele mesmo que não gostava do cheiro do povo. "O cheirinho do cavalo é melhor", dizia.
O tal general foi o último ditador do ciclo militar, no Brasil.
O golpe militar, que teve o apoio de poderosos civis, foi deflagrado em 1964. Durou 21 anos.
Muita gente boa teve de deixar o País. Milhares, incluindo artistas da nossa música, escritores e tal.
O último presidente que antecedeu o atual, Lula, tentou fazer o que fizeram os militares de 64. Não conseguiu e está solto, por incrível que pareça.
Precisamos nos cuidar, pois o Capeta e filhotes continuam a rondar esta nossa terra brasileira.
Foi o mesmo Figueiredo quem deu ao finado Silvio Santos o SBT. Isso no dia 19 de agosto de 1981. Há 43 anos, pois.
Foram dois cearenses os principais intermediários de S.S. com o general. Estou falando da dupla Dom e Ravel. Dom morreu em 2000 e Ravel, em 2011.
Uma vez entrevistei o Ravel. Foi numa biblioteca pública da zona Leste de Sampa. Não me recordo qual exatamente. Lembro que levei o amigo Paulo Vanzolini para este papo. Ravel não permitiu que a nossa conversa fosse gravada, mas deve ter foto por aí. Ele contou da sua amizade ruidosa com Silvio e defendeu-se dizendo que a marchinha Brasil Ame-o ou Deixe-o foi feita em homenagem aos campeões do tricampeonato de futebol. "Não fizemos essa música para agradar o regime militar".
Além de Brasil Ame-o ou Deixe-o, gravado originalmente pelo grupo Os Incríveis, Dom e Ravel geraram outras "pérolas" ufanistas como Você Também é Responsável, Obrigado ao Homem do Campo e Só o Amor Constrói.
É bom que se diga que a Lei da Anistia não veio de graça. Foi resultado de enorme mobilização do povo brasileiro. E isso há exatos 45 anos.
Entre os artistas obrigados a deixar o Brasil naquela época, estavam Chico, Caetano, Gil, Vandré.
Ditadura nunca mais, não é mesmo?
João Bosco e Aldir Blanc compuseram para Elis Regina gravar a música O Bêbado e a Equilibrista. Ouça:



terça-feira, 27 de agosto de 2024

NAVEGANDO COM CAMÕES E JÚLIO MEDAGLIA

O livro que acabo de pôr nas ruas, nas prateleiras, A Fabulosa Viagem de Vasco da Gama, continua chamando a atenção por aí afora.
Ontem 26 abri a boca pra dizer um monte de coisas maravilhosas a respeito da língua portuguesa e de um de seus artífices: Luís Vaz de Camões.
Pra escrever A Fabulosa Viagem de Vasco eu me inspirei no clássico Os Lusíadas, originalmente publicado no ano de 1572.
Usei os principais personagens criados e usados por Camões na sua fabulosa obra.
Eu disse isso e disse mais à jornalista Tania Morales, titular do programa Noite Total, transmito ao vivo pela Rádio CBN.
Esse meu novo livro tem versão em braile e fonte ampliada para quem tem baixa visão. Foi apresentado pelo maestro Júlio Medaglia e pelo poeta repentista Oliveira de Panelas.
A respeito desse livro, escreveu Medaglia: 

CAMÕES NA PONTA DOS DEDOS
Júlio Medaglia

No período imediatamente posterior à Idade Média, às vezes chamado de “Noite de dez séculos”, ocorreu uma grande revolução na cultura ocidental com o nascimento dos três maiores gênios da literatura latina de todos os tempos: Dante, Cervantes e Camões. 
Curiosamente, nesse mesmo período, chamado de “Renascentista” e já entrando no estilo “Barroco”, ocorreu também a maior revolução histórica na área música. Se até então fazia-se primordialmente música vocal, a partir desse momento o ser humano resolveu fazer música fora do corpo. Começou a inventar instrumentos de cordas, sopros e teclados que inauguraram gigantescos recursos sonoros, presentes na música universal até os dias de hoje. Mas como era possível fazer essas novas “máquinas” artificiais produzirem a beleza artística? Tangendo-se as cordas do violino com a ponta dos dedos, as teclas dos cravos e logo em seguida do piano, com a ponta dos dedos e abrindo e fechando os furinhos dos tubos dos instrumentos de sopro, com a ponta dos dedos. 
Levaria, porém, 500 anos para que os seres humanos desprovidos da faculdade da visão, pudessem ler a mais importante obra de Camões, Os Lusíadas. E foi neste século XXI que um dos maiores jornalistas, pesquisadores, escritores e compositores deste país, o paraibano Assis Ângelo, encontrou a solução para esse drama. Depois de desenvolver uma das mais brilhantes e multifacetadas carreiras de intelectual, por um grave problema de saúde, ele ficou cego. Como profundo conhecedor da obra de Camões, e mais inquieto que nunca, Assis Ângelo resolveu permitir que outros seres humanos que sofreram do mesmo infortúnio, o da perda da visão, pudessem ler a obra do grande escritor português. E como? Com a ponta dos dedos. 
Foi assim que, para celebrar neste ano de 2024 os 500 anos do nascimento do grande escritor português, Assis Ângelo “traduziu” para o idioma Braile sua obra imortal numa criativa adaptação livre para canto e cordel. Se os olhos dos cegos se situam na ponta dos dedos, Os Lusíadas, em sua nova transcodificação realizada pelo brilhante paraibano, ganha novo impulso de vida – a obra em si e o prazer do cultivo da literatura daqueles que perderam a visão.



JÚLIO MEDAGLIA

O maestro Júlio Medaglia não é brinquedo não, é nome importante para a vida cultural do nosso país.
Não é de hoje que Júlio faz história e nos encanta com sua batuta e com seu falar bem claro.
O mais novo livro do ex-todo poderoso da TV Globo, José Bonifácio Oliveira Sobrinho, O Lado B de Boni, lê-se:


FORÇA BOULOS!

Política bem feita é boa política e fazer isso é salutar para uma população, para o povo.
A política é o meio de ligação e diálogo entre as pessoas.
A má política leva a caminhos perigosos em prol de quem não presta.
Perdi meus olhos, mas continuo ouvindo com clareza tudo que ocorre a minha volta.
O que ouvi ontem 26 no Roda Viva me deixou pasmado, estupefato.
Nordestino que sou, desde cedo puseram-me na cabeça a máxima segundo a qual "Homem não chora".
Eu era menino ainda quando ouvi isso.
O tempo passou, ou eu pelo tempo continuo passando, chorei.
A primeira vez que chorei eu tinha ali uns 20 e poucos anos.
A primeira vez que chorei senti um alívio danado. Alívio idêntico voltei a sentir quando um dia eu disse no programa que a querida jornalista Maju tinha na Rádio Globo que depois dos olhos meus perdidos, só pensava em acabar comigo jogando-me do alto e tal... Eu estava muito aperreado, depressivo, lá embaixo, que nem um cão sem dono.
Ouvi no programa da TV Cultura Guilherme Boulos chorar. Choro profundo. Tocante. E esse choro foi provocado pela pura maldade de um cara chamado Pablo não-sei-o-quê, candidato a prefeito de São Paulo por um partido da direita escrota, irresponsável, maligna, canalha, destruidora, que não prima em instante algum pela honestidade e pelo bem comum. Esse cara, o cara que disse o que disse e fez Boulos chorar, merece cana. Não de beber, mas cana de cadeia, sem cobertor pra se esquentar.
Guilherme Boulos é um cara que merece respeito.
O vício de Boulos é o vício de quem ama verdadeiramente a vida e quer o bem de todos.
Boulos faz a boa política e tem plenas condições de ser o próximo prefeito da cidade de São Paulo.
Um trecho aí do programa Roda Viva. Clique:

segunda-feira, 26 de agosto de 2024

O BRASIL PEGANDO FOGO

Mais uma vez o fogo está se estendendo Brasil afora. Terrível. Milhares de animais mortos e a flora se acabando.
No momento, do jeito que o fogo corre, todos os recordes podem ser batidos no que diz respeito à destruição do meio ambiente. É fogo em todo canto.
Em 1963, o Brasil registrou a maior fogueira florestal. Foi no Paraná, que agora está de novo sendo consumido.
Aquele ano de 63 rendeu uma música de Luiz Gonzaga. Título: Fogo no Paraná. Ouça:




domingo, 25 de agosto de 2024

VIVA ZÉ LIMEIRA!

Neste glorioso ano de 2024 há nascimentos e mortes a serem lembrados.
O poeta repentista paraibano de Teixeira Zé Limeira, por exemplo, nasceu nos finais do século 19. Foi uma figura e tanto.
Pouca gente, certamente, ouviu falar desse Zé somente após pesquisa comprida feita pelo jornalista e improvisador de versos Orlando Tejo.
Zé Limeira foi um dos violeiros mais importantes do reino da cantoria. Não deixou nada gravado e no seu tempo era considerado pelos seus colegas como um doido. Sim, simplesmente, um doido.
Orlando conheceu pessoalmente Zé Limeira. Ele disse isso a mim e a meio mundo.
Tão difícil quanto fazer a exaustiva pesquisa foi a publicação dessa pesquisa em livro.
Nenhuma editora convencional topou lançar a obra feita por Orlando. 
Em 1971, a direção do extinto jornal O Norte, PB, topou levar avante a empreitada. 
E foi assim que o Brasil todo tomou conhecimento da existência fabulosa de Zé Limeira. O livro sobre sua história ganhou o título de O Poeta do Absurdo. 
Zé Limeira morreu no dia 24 de dezembro de 1954. Há 70 anos, pois.
No dia 24 de dezembro, só que no ano de 1524, morria vítima de malária o navegador português Vasco da Gama. Sim, aquele mesmo que heroicamente chegou à Índia.
Camões nasceu no mesmo ano em que morreu o grande navegador. 
Curiosidade: Gama chegou à Índia 70 anos depois de muitas tentativas feitas por outros navegadores.
Grosso modo, o poeta Luiz Vaz de Camões contou essa história no seu clássico Os Lusíadas que foi publicado em 1578.
Vasco da Gama morreu com 55 anos de idade.
Camões morreu com 55 anos de idade.
Quando o jornalista e poeta Orlando Tejo morreu  em 2018, o Brasil lembrava o centenário da morte de Olavo Bilac. 
Bilac nasceu em 1865, mesmo amo do nascimento do nosso primeiro grande cordelista: Leandro Gomes de Barros. 
Leandro e Bilac morreram vítimas da gripe espanhola, lá no distante ano de 18.
Amanhã 26, por volta das 21h, estarei conversando com a Tânia Morales sobre as proezas de Vasco da Gama e sobre a adaptação poética que fiz sobre Os Lusíadas em braille. O papo ao vivo será transmitido pela rádio CBN.

sábado, 24 de agosto de 2024

HÁ 70 ANOS MORRIA GETÚLIO VARGAS

O grande dia está chegando. É amanhã 25, no mesmo lugar em que foi apresentado aos paulistanos: rua Nestor Pestana, 196, em março de 1954, bem ali no centro onde outrora proliferaram todo tipo de boate, safadeza e tudo mais. 

O pintor carioca Emiliano Di Cavalcanti (1897-1976) teve influência efetiva na criação desse teatro. É dele um belíssimo mural posto já à entrada. 

Amanhã o concerto de reinauguração será transmitido ao vivo pela TV Cultura, ali por volta das 17h.

A reinauguração do Cultura Artística coincide com seus 70 anos de fundação. 

Foi também há 70 anos, mais precisamente no dia 24 de agosto de 1954, que o gaúcho presidente da República Getúlio Vargas enfiou um tiro certeiro na caixa do peito. Foi pá pufo! E fim de uma era.


sexta-feira, 23 de agosto de 2024

PAULISTANOS GANHAM DE VOLTA UM GRANDE TEATRO


Após 16 anos de expectativas e agruras, o Teatro Cultura Artística, localizado ali na Nestor Pestana, Centro SP, será reinaugurado depois de amanhã: domingo, 25.
O Cultura Artística eu o frequentei bastante. Várias vezes lá estive assistindo concertos ao lado de João Carlos Martins e Geraldo Vandré. 
Várias vezes assisti e bati palmas para o querido maestro Eleazar de Carvalho (1912-1996).
Eleazar foi uma figura incrível!
Muitas vezes andei pelas calçadas de São Paulo ao lado dele dizendo coisas, trocando ideias; ele lá da altura de um gigante e eu ali, pequeno que nem um anjo, sem asas, bebendo saber.
Bons tempos!
Lembro de momentos que andei andando em ônibus com Vandré. Foi Vandré quem me apresentou a Eleazar. 
Lembro também de momentos em que andei de táxi com Zé Ramalho cá em Sampa, dirigindo-nos a um encontro num boteco com Zuza Homem de Melo (1933-2020), no famoso bairro boêmio de Vila Madalena. 
Éramos eu e Eleazar...
Éramos eu e Vandré..
Éramos eu e Zé Ramalho...
A memória a mim tem substituído os meus olhos. Inda bem, né?
Bom, o Cultura Artística volta aos braços e corações dos paulistanos como presente sem comparação. 
O Cultura Artística foi inaugurado em março de 1950.
Em 1954, ano do 4° centenário de fundação da cidade de São Paulo, estreou no Cultura Artística a Orquestra Sinfônica de SP (Oesp), sob a regência do maestro Sousa Lima (1898-1982).
Eleazar de Carvalho foi um dos diretores da Orquestra Sinfônica do Estado de São Paulo. 
Eleazar foi também o criador do Festival de Inverno de Campos do Jordão, SP.
Há muita história pra ser contada sobre o Cultura Artística e seus maestros, incluindo, Diogo Pacheco.
Pacheco adorava whisky e na casa dele molhei meu bico às pampas. Eu ainda fumava... Mas essa é outra história. 
Ah! Sim: o fogo tomou conta do Cultura Artística na escuridão de 17 de agosto de 2008.



quinta-feira, 22 de agosto de 2024

ESSE 22 DE AGOSTO É HISTÓRICO!


O dia 22 de agosto é um dia muito importante na minha vida. 
Esse dia é importante por muitas razões. A primeira delas diz respeito a minha chegada em Sampa.
Hoje faz exatamente 48 anos que pisei o solo paulistano, vindo diretamente da capital paraibana.
Vim a passeio, depois de receber alta de um hospital em João Pessoa. Na ocasião eu estava aparentemente livre dos bacilos de Koch.
Depois disso devo lembrar que o dia 22 de agosto foi o dia, em 1942, que o Brasil declarou guerra contra a Alemanha nazista e contra a Itália fascista, cuja pronúncia é "fachista".
O Brasil declarou guerra depois de ter cinco navios mercantes afundados por forças submarinas alemãs. Foi aí que o governo Vargas tomou providências mandando pracinha botar pra quebrar na terra de Caruso. 
O dia 22 de agosto foi também, pra mim, dia importante porque foi o dia que a história registrou a morte do ex-presidente JK.
JK morreu carbonizado após seu carro perder a direção e chocar-se frontalmente contra uma carreta carregada de gesso. Foi na Dutra, Km 165. Eu vi o estrago resultante desse choque, pois estava eu no ônibus que me trouxe à capital paulista.
Notícia leve: o dia 22 de agosto marca o Dia Internacional do Folclore. 
Eu já falei muito sobre folclore cá nesse Blog e em livros. 
No dia 22 de agosto de 1998, por iniciativa da Câmara Municipal de São Paulo, fui agraciado com o título de Cidadão Paulistano. O meu já encantado amigo José Ramos Tinhorão estava lá formando à mesa de ilustres convidados no nobre salão da Câmara.  Falou de improviso enaltecendo valores que duvido ter até hoje. Isso tudo dito após a apresentação da Banda da Polícia Militar, tocando o Hino Nacional. 
Nesses anos todos de vida (nasci em 52) poderia eu dizer que já posso morrer em paz, certo? Errado!
Se depender de mim jamais morrerei até porque julgo ter ainda muito o que dizer. E se não bastasse, ainda tenho uma bela flor para cuidar... No meu jardim, esse flor recebeu o nome de Maria.
Bom, à Sampa eu cheguei para ficar. 

quarta-feira, 21 de agosto de 2024

BOM PAPO COM BOULOS


É sempre bom fazer e reencontrar amigos.
Há pouco, ali pelas 9h, eu, minha filha Clarissa e a querida Anninha, com dois "N", fomos ao restaurante Baião pra tomar um cafezinho ao lado do nosso futuro prefeito Guilherme Boulos. Cabra bom, com moradia garantida cá no meu peito. 
Lá estavam pessoas maravilhosas, como são todas aquelas que andam ao lado de Boulos: a cantora Fatel, o cantor, compositor e radialista Luiz Wilson.
E mais muita gente boa no Baião eu reencontrei: o cordelista arretado Marco Haurélio, a xilografa Lucélia, o jornalista escritor sem papas na língua Xico Sá, o cordelista e rabequeiro Pedro Monteiro e o deputado federal Alfredinho. E mais e mais e mais... Muita gente!
Foi um reencontro marcante com todo esse pessoal bonito e sabido.
Várias pessoas pegaram o microfone pra falar sobre o Brasil e, especialmente, sobre o Nordeste. 
Boulos falou, falou e falou muito bem sobre a Paraíba. Ele tem parentes nascidos em Campina Grande, a segunda cidade mais importante paraibana. A primeira é João Pessoa, a Capital.
A Capital paulista acolhe nordestinos e nordestinas desde os anos 30 do século passado. Foram esses pioneiros a ajudarem a construir a São Paulo que é hoje.
Bom, aproveitei a ocasião para presentear Boulos com os livros A Presença dos Cordelistas e Cantadores Repentistas em São Paulo e A Fabulosa Viagem de Vasco da Gama, que acaba de ser lançado em braille e distribuído gratuitamente às entidades que acolhem pessoas com todo tipo de deficiência visual.
A Fabulosa Viagem... está sendo publicado em papel, por demanda. É só clicar e pedir!


domingo, 18 de agosto de 2024

O LADO "B" DE SILVIO SANTOS

Bom, vocês sabem muito bem o que eu acho do Sílvio Santos. 
O que eu acho dele, está estampado no título do texto publicado ontem 17 neste Blog.
O Silvio agora ao morrer conseguiu juntar unanimidades. Positivamente. Todo mundo, de canto a canto continua a bater palmas. Ele foi isso, foi aquilo...
Mas, sabemos nós, que nem todo mundo é santo, nasce santo ou morre santo. Embora Silvio carregue no próprio nome "Santos".
Cá no nosso acervo sobre cultura brasileira há alguns LPs e compactos nos quais se ouve o Silvio cantando marchinhas de  carnaval com letras em duplo sentido. Putaria pura. Nesses discos há também músicas que falam do Corinthians, time pelo qual torcia. Não ardorosamente, mas com fé em Deus pela grana.
Silvio Santos não era bobo não. De tudo fez um pouco na rua, no rádio e na TV. 
Dom & Ravel foi uma dupla que marcou presença na música nacionalista. 
Quem não se lembra daquela coisa Brasil Ame-o ou Deixe-o?
Uma vez o Ravel (1947-2011) me contou histórias loucas sobre como o Silvio fez para ganhar a concessão do Governo para o seu SBT. A propósito, amanhã 19 completam-se 43 anos de existência do SBT.
Silvio, segundo Ravel, pra se sair bem fazia parceria com todos os demônios. 
Uma vez o jornalista e publicitário Archimedes Messina (1932-2017) me disse que estava processando o dono do SBT por não pagar devidamente os direitos autorais do jingle Silvio Santos Vem Aí. Isso ele me disse no programa que eu apresentava nas noites de sábado na all TV, a primeira televisão feita e levada ao ar pela Internet. Nesse processo, Messina levou algo em torno de 1,5 milhão. 
Outro processo perdido por Silvio foi o da jornalista paraibana Rachel Sheherazade. Ela levou 500 paus, por injúria, calúnia e tal.
Bom, Silvio Santos partiu deixando mais de 600 processos nos quais é acusado disso e daquilo.
Além de marchinhas sacanas de Carnaval, Silvio gravou outros gêneros musicais do tipo junino. Fora isso, também gravou discos narrando histórias infantis.
Amanhã 19 marca os 110 anos de nascimento da cantora Aracy de Almeida, a principal intérprete de Noel Rosa. Aliás, Aracy começou a carreira ali com seus 20 anos gravando riso de criança, samba do Noel.
É isso, minha gente!

sábado, 17 de agosto de 2024

SILVIO SANTOS ERA DO CARALHO!



Silvio Santos morreu. 
O nome de batismo de Silvio era Senor Abravanel. 
Silvio Santos e Senor Abravanel eram a mesma pessoa.
Eu conheci Silvio Santos.
Pra mim, Silvio Santos era uma pessoa excepcional. Profissional e tanto!
Lembro até onde a memória me leva que era eu em 89, ou um tempo pouquíssimo antes, chefe de reportagem da Editoria de Política do Estadão quando fui entrevistar o Silvio. 
À época, Silvio era candidato a presidente da República. Seu vice era o paraibano Marcondes Gadelha, meu conterrâneo. 
Lembro-me ainda que Gadelha me telefonou perguntando, profissionalmente, se eu poderia ajudar a chapa: Silvio/Gadelha. 
Tanta história...!
O que eu acho do Silvio Santos?
Sílvio transformava barro em ouro que nem Midas. 
Pois é e uma coisa, a minha filha Ana Maria, brincando brincalhona como sempre diz que "no céu  anjos, arcanjos e querubins cantam: Silvio Santos vem aí...".
O que eu acho do Silvio?
Naturalmente, do caralho!


LICENCIOSIDADE NA CULTURA POPULAR (123)

Castro Alves
Pelo caminho da devassidão e pornografia andou também o aparentemente bem comportado cronista e poeta Olavo Bilac.
O livro Contos Para Velhos é de babar.
Houve um tempo que era até comum padres se apaixonarem por mulheres. O livro Xógum, de James Clavell, tem muito disso.
E no nosso Folclore também. Caso da Mula Sem Cabeça, que deixa a molecada de cabelo em pé. 
Santos da crença africana se fazem presentes em livros do baiano Jorge Amado, como Dona Flor e Seus Dois Maridos. 
Não é de conhecimento geral, mas é bom dizer que o famoso escritor baiano gostava de fazer poemas eróticos. 
Em Capitães da Areia, livro de 1937, Amado cria personagens delinquentes que sobrevivem a duras penas na orla de Salvador, BA. São crianças, adolescentes; meninos e meninas. Grosso modo chamados de capitães da areia. Alguns personagens são marcantes como Volta Seca, João Grande, Sem Pernas, Gato e o líder Pedro Bala. Termina em tragédia. 
Nessa e noutras tramas de Jorge Amado, facilmente são encontrados personagens traídos e apaixonados e padres zanzando aqui e acolá atrás de um rabo de saia.
Em outubro de 1941, Dorival Caymmi musicou palavras do escritor constantes no romance Mar Morto (1936). Título: É Doce Morrer no Mar.
Mas o autor de Tieta do Agreste também trilhou caminhos com personagens reais. Exemplos disso são os livros O Cavaleiro da Esperança (1942), sobre Luís Carlos Prestes; e ABC de Castro Alves (1941).
No ABC Amado conta a trajetória do seu conterrâneo Antônio Frederico de Castro Alves. É um livraço! Nele, o romancista conta sobre o envolvimento do poeta com mulheres em Recife e Rio.
O grande amor de Castro Alves, a atriz portuguesa Eugénia Câmara (1837-1874), não é esquecido.
Do fundo do baú, Jorge Amado conta detalhes da relação entre Eugénia e Castro Alves, inclusive o modo como ele enamorou-se dela, tirando-a dos braços do ator Furtado Coelho (1831-1900). Com Furtado, Eugénia teve uma filha. Para a amada, o poeta dedicou vários poemas. Num deles, compara-se a Romeu de Shakespeare e a Don Juan de Tirso de Molina (1579-1648):

Minh’alma é como a fronte sonhadora

Do louco bardo, que Ferrara chora...

Sou Tasso!... a primavera de teus risos

De minha vida as solidões enflora...

Longe de ti eu bebo os teus perfumes,

Sigo na terra de teu passo os lumes...

— Tu és Eleonora...


Meu coração desmaia pensativo,

Cismando em tua rosa predileta.

Sou teu pálido amante vaporoso,

Sou teu Romeu... teu lânguido poeta!...

Sonho-te às vezes virgem... seminua...

Roubo-te um casto beijo à luz da lua...

— E tu és Julieta...


Na volúpia das noites andaluzas

O sangue ardente em minhas veias rola...

Sou D. Juan!... Donzelas amorosas,

Vós conheceis-me os trenos na viola!

Sobre o leito do amor teu seio brilha

Eu morro, se desfaço-te a mantilha

Tu és — Júlia, a Espanhola!...


Castro Alves morreu quando tinha 24 anos de idade. No correr da sua vida fez muitos e muitos poemas. O primeiro deles foi publicado no jornal A Primavera, PE. Título: A Canção do Africano, de 1863, mesmo ano em que conheceu Eugênia.

Além de poemas, o autor de Navio Negreiro escreveu uma peça para teatro em quatro atos: Gonzaga ou a Revolução de Minas.

Nessa peça movimentam-se nominalmente pelo menos 12 personagens históricos, incluindo o Visconde de Barbacena, o bam-bam-bam de Minas à época. O cargo que exercia era o equivalente a governador, que apaixona-se pela amada de Tomás Antonio Gonzaga, Maria Doroteia. Curiosidade: o machismo já se fazia presente naquele tempo. O próprio protagonista Gonzaga chegou a duvidar da castidade de Maria. Um trecho:


Gonzaga : — Ella não traria no seio aquelle papel... Oh! quando uma pasta de lama como aquella apega-se á brancura de um seio de virgem, não ha lagrimas que a lavem... senhora, eu não a odeio... eu a esqueci... Não foi a senhora que amei... A mulher de minh'alma era uma virgem que não se perderia para salvar-me, porque sabia que minha cabeça cahiria mais alto quando me rolasse aos pés com a sua coroa de martyrio, do que se levanta agora sobre os meus hombros com o seu diadema de escarneo... senhora ! coroas destas não se fizeram para minha cabeça, mas já que amarraram ahi toda esta infâmia, eu entregal-a-hei ao carrasco.


Maria : — Meu Deus I meu Deus I tudo está perdido... Eu posso emfim fallar!... (a Gonzaga ) Senhor I... (lento) Aquella carta não tocou em meu seio. .. havia entre meu corpo e ella a largura de um punhal (mostra-lhe um punhal) a extensão de ura tumulo!...


Antes de ser apresentada ao público, essa peça foi lida pelo autor aos romancistas Machado de Assis e José de Alencar. Isso em fevereiro de 1867. Os dois escreveram a respeito desse encontro, cujos textos se acham nas primeiras páginas do livro que traz a peça.


Foto e reproduções de Flor Maria e Anna da Hora



sexta-feira, 16 de agosto de 2024

VIVA O GRANDE HENRICÃO!

Rubens Campos e Carmen Costa
Meu amigo, minha amiga: você sabe quem foi Henricão, cantor, compositor...?
Minha amiga, meu amigo: você sabe quem foi Rubens Campos, cantor compositor...?
Bom, Henricão e Rubens Campos foram uma só pessoa, um só artista.
Eu conheci de perto Henricão. Eu conheci de perto Rubens Campos.
Essas duas pessoas numa só foram de grande importância para a música brasileira. Nasceram no dia 16 de agosto de 1912, no Rio. Mas Henricão, que ganhou mais notoriedade do que Rubens Campos, chegou a ser Rei Momo de São Paulo.
Henricão, pseudônimo profissional de Rubens Campos, compôs e gravou belas músicas. E fez também versão de Cielito Lindo, uma música de origem mexicana, que marcou a história do Carnaval brasileiro a partir do começo da década de 40, 1940. Título: Está Chegando a Hora.
Henricão foi casado com a cantora Carmen Costa (1920-2007). Pessoa que também conheci de perto e a quem entrevistei, ao vivo, no programa São Paulo Capital Nordeste, programa que eu apresentava na Rádio Capital 1.040 AM.
Uma vez, lembro, Henricão levou-me à casa onde morava. No Bom Retiro, cá em Sampa. Era uma quartinho estreito, modesto demais. Teve uma hora que ele mexeu num amontoado de coisas dizendo que ali havia originais de Noel Rosa. "Coisas que nunca ninguém gravou", disse. Perguntei: Por quê, "Faltou oportunidade...".
Pois é, quanta história!
Porque a nossa memória é tão curta, hein?
Nascemos, vivemos, morremos.
Certamente é bom morrer de bem com a vida.
Ah! Sim: Henricão/Rubens Campos morreu no dia 3 de novembro de 1985. Na extinta revista paulistana Visão, há uma entrevista que fiz com ele num ano qualquer. Ali pelos finais dos 70...

quarta-feira, 14 de agosto de 2024

E FREUD, HEIN?

Eu não tenho certeza, mas quando eu era moleque nas terras da minha Paraí-bê-a bá ouvia dizer aqui e acolá de casos de amores fantásticos, de alguém apaixonado por alguém. Geralmente, esse alguém era um rapaz ou homem feito. Pelos 15 ou 30 anos.

A essa história dizia-se: fulano roubou fulana.

Luiz Gonzaga, rei do baião, chegou a gravar música falando disso. Aliás, ele não foi o primeiro. 

Essa história de um homem raptar uma mulher com a finalidade de com ela se casar, vem do tempo antigo.

Dentro dessa história de amor há coisas absurdas. Coisas essas que perduram desde todos os tempos antigos. Além do homo sapiens e da mulher...

Mas tem uma coisa que não consigo entender: por que um homem casado e com uma amante, numa "oportunidade" se atira pra cima de outra  mulher...?

Tara, safadeza, loucura, doença...

De certo modo, contando isso a uma amiga querida, rindo ela disse: "O cara aí não tem nada de doença. É simplesmente um escroto e perigoso. É gente que não é gente e faz mal à gente".

Com um sorriso irônico e demolidor, a minha amiga pergunta: "Você já leu Freud, sabe quem foi Freud?".

Pois é amigos e amigas, se ainda insisto em viver é porque ainda acredito que viver e aprender  a viver é preciso. 

Não é mesmo, Flor Maria?


domingo, 11 de agosto de 2024

LICENCIOSIDADE NA CULTURA POPULAR (122)

Thérèse Raquin, de Émile Zola, é considerado o primeiro livro “naturalista”. Foi lançado em 1867.

Em 1890, Zola publicou o romance A Besta Humana. É um livro que faz doer página após página. O protagonista, o maquinista de trem Jacques Lantier, parece psicologicamente torturado por um passado inexplicável. Seus ímpetos são fora do comum. Ele está sempre pronto pra matar. Resiste. Desconfia da mulher e sobra pra ela.

Naturalista também foi o jornalista Figueiredo Pimentel (1859-1914), atuante no jornal Gazeta de Notícias, RJ. Nesse jornal assinava uma coluna intitulada Binóculo, que tratava da vida mundana da cidade. Certamente foi o primeiro colunista social do Brasil.

No jornal Província do Rio, sob o pseudônimo Albino Peixoto, Pimentel publicou na forma de folhetim o romance O Aborto com outro título: O Artigo 200 (referência à lei que já proibia o aborto, no Império). Provocou muita polêmica.

Corria o ano de 1889.

O Aborto no formato de livro foi publicado em 1893. Na história a personagem Maroca vive sem amarras, sem dar satisfação a macho nenhum. Tinha 17 anos de idade quando se apaixonou pelo primo Mário que a engravida. No fundo, no fundo, ela diz que gostaria de ser uma “prostituta de luxo”. E aqui, calo-me.

Pimentel é também autor dos romances Um Canalha e O Terror dos Maridos, publicados respectivamente em 1895 e 1896. O tempo passou e Pimentel caiu no esquecimento.


Foto e reproduções de Flor Maria e Anna da Hora

POSTAGENS MAIS VISTAS