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quarta-feira, 30 de agosto de 2023
O PAÍS DOS ESQUECIDOS
terça-feira, 29 de agosto de 2023
O DESCARTÁVEL COMO VALOR
Já faz tempo, muito tempo, que a sociedade vive consigo terrível conflito. Esse conflito, que podemos pluralizar data de tempos imemoriais. Deve ter começado quando o bicho macaco desceu das árvores e virou o tal "Homo Sapiens".
No começo de tudo, há coisa de 300 mil anos, o tal sapiens teve um relampejo de saber e passou a fazer troca-troca com seus pares. Não havia dinheiro. Trocava-se isso por aquilo, enchia-se do que comia e partia para o descanso. Pois, pois.
E aí inventaram-se problemas para uns afunhenharem outros. A isso deu-se o nome de capitalismo.
Marx tentou pôr as coisas nos trilhos, mas o que conseguiu foi piorar a situação. O mesmo fez Freud.
Pois é, a sociedade vive momentos periclitantes.
Construímos e vivemos uma sociedade sem futuro, pelo menos no tocante à alegria de viver espontaneamente para o bem de todos.
Tudo anda no caminho do descartável.
Os valores sociais estão completamente invertidos.
As artes cada vez mais perdem adeptos e admiradores reais.
A cultura popular, por exemplo, perde terreno para a banalidade.
Não à toa que o criminoso de guerra Goebbels dizia que quanto mais uma mentira fosse repetida, mais se tornaria verdadeira. E aí danou-se a perseguir escritores e artistas e a queimar em praça pública quadros e livros aos montes.
O passado se repete, com a ignorância ganhando contornos inimagináveis.
Celebridades se criam da noite para o dia.
Os ditos rítmos musicais se repetem à exaustão, emburrecendo quem nessa onda se mete.
Pergunto ao amigo leitor se ainda saberia distinguir uma bela voz de uma péssima voz. Mais: se ainda saberia distinguir um poema ou letra musical de boa qualidade ou de má qualidade.
Esse arrodeio todo faço para lembrar que grandes artistas se fazem com muito trabalho, muito estudo, perseverança e talento. Exemplo?
Enquanto eu dava ponto final ao texto sobre o sepultamento do cantor Carlos Gonzaga, no final da tarde de ontem 28 morria de uma parada cardíaca a cantora carioca Lana Bittencourt. Nos jornais de hoje 29, aqui e ali uma notinha dizia que ela havia morrido.
Dizer mais o quê, hein?
segunda-feira, 28 de agosto de 2023
CARLOS GONZAGA DÁ ADEUS NA ITÁLIA
Foi sepultado hoje 28 de manhã num cemitério da Itália o corpo do cantor mineiro Carlos Gonzaga, um dos poinoneiros do rock no Brasil.
Carlos Gonzaga, de batismo José Gonzaga Ferreira, tinha 99 anos de idade e ia completar 100 em janeiro de 2024. As causas de sua morte não foram reveladas pela família.
Carlos Gonzaga muito cedo trocou a cidade onde nasceu, Paraisópolis, pelo Rio de Janeiro e depois por São Paulo. Começou a carreira cantando sambas, calipsos, guaranias e outros gêneros musicais. Sua primeira gravação foi feita em 1955, num estúdio da extinta RCA Victor, no Rio. As músicas foram Anahí, de Osvaldo Sosa Cordero e José Fortuna; e Perdão de Nossa Senhora, de Teddy Vieira e Palmeira.
José Fortuna foi um dos bons compositores de São Paulo, invencionista muito respeitado.
Teddy Vieira e Palmeira compuseram muitas músicas em parcerias. Ambos foram executivos da extinta Continental.
Eu conheci Carlos Gonzaga no programa Jô Soares, em 1990. Na ocasião eu estava lançando o livro Eu Vou Contar Pra Vocês, sobre Luiz Gonzaga (prefácio de Dominguinhos). Na ocasião eu estava acompanhado da cantora Anastácia.
O sucesso pra valer bateu à porta de Carlos Gonzaga somente em 1958, quando gravou a versão de Diana (Paul Anka) feita por Fredy Jorge, que também conheci de perto ali pelo começo dos anos de 1980. Era poeta e diretor por longo tempo da extinta gravadora CBS, em São Paulo.
domingo, 27 de agosto de 2023
O FAMOSO... QUEM?
A velha frase de autoria desconhecida "quanto pior melhor" continua valendo. A constatação disso é fácil: basta um clique numa plataforma qualquer. E pronto!
É comum, mais do que comum, ouvir de outrem a pergunta sobre a morte de alguém que provoca celeuma: quem foi o famoso que morreu?
Isso me lembra dos falados 15 minutos de glória aludidos pelo mago da comunicação Andy Warhol.
Não era pra tanto, mas confesso que mais uma vez fui pego de calças curtas pela repercussão tsunâmica da morte de um cara famoso na periferia carioca pelas letras que punha numa coisa ritmada chamada de "funk". Esse cara, MC Marcinho, ocupou não sei quanto tempo as emissoras de rádio do Rio. Suas letras, ricas em baixarias, fizeram a cabeça de cantoras como não sei lá Popozuda. Há até quem o chamasse de "Príncipe do Funk" ou "Poeta do Funk".
Gilberto Gil, cantor, compositor e ocupante de uma das cadeiras dos "imortais" da ABL, abriu a boca pra dizer com todas as letras Marcinho "marcou várias gerações".
O governador do Rio de Janeiro disse que o funkeiro foi o "cara" que mais contribuíu para o sucesso do rítmo nas plagas cariocas. Chegou a apontar que o funk nasceu no Rio.
O funk tem suas origens num ano qualquer da década de 1960, no Sul dos EUA.
Um dos principais artífices do funk foi James Brown.
Pois é, depois de ouvir o vice-presidente da República tecer loas sobre o funk chego à conclusão de que tudo é normal nessa vida de anormalidades.
Esse Marcinho, de batismo Márcio André Nepomuceno Garcia, morreu ontem sábado 26 aos 45 anos de idade. Era de Duque de Caxias, RJ.
O Jornal Nacional encerrou sua edição de sábado com a redação em silêncio.
O Jornal da TV Cultura encerrou sua edição de sábado com o MC cantando um de seus sucessos. E por aí seguiu a repercussão da morte do artista.
A morte faz parte da vida e vice-versa. Claro, como tal os mortos carecem da nossa atenção e respeito independentemente do sexo, cor, religião, posição política ou social. A questão aqui é: funk é arte?
sábado, 26 de agosto de 2023
LICENCIOSIDADE NA CULTURA POPULAR (40)
ASSIS: Conte um pouco da história do Vira Lata. Ele surgiu exatamente quando e por que se encontra hoje fora do mercado?
MAGRÃO: Um dia lá pelo final da década de 1980, um amigo meu pianista me contou que na adolescência, uma moça transou com alguns rapazes do bairro e engravidou sem saber quem era o pai. Quando nasceu, o menino era a cara desse meu amigo. Eu pensei, e se o moleque fosse filho de todos? Se nascesse híbrido, como um vira-lata ou, em linguagem de veterinário, SRD - sem raça definida? Eu comecei a escrever o roteiro em 1988 e o Líbero aderiu mais ou menos um ano depois. A primeira revista foi lançada em 1991 pela editora VHD Diffusion na Bienal internacional de Quadrinhos no Rio de Janeiro e foi pras bancas.
O Doutor Drauzio Varella, a quem eu conhecia por ter trabalhado com sua esposa, Regina Braga, atriz talentosíssima, cruzou com o Vira Lata numa banca e me ligou contando sobre o projeto de redução de danos na Casa de Detenção de São Paulo, o implodido Carandiru. Lá ele notou que os caras liam muito gibi. Era dezembro de 1992, o clima estava pesado só dois meses depois do massacre que completou 30 anos em outubro do ano passado. Naquela época, a Aids era praticamente uma sentença de morte e mais de 17 por cento dos 7.700 detentos era HIV positivo, muito por conta do baque, a cocaína injetada. No calor da luta, tomando nos canos, os caras compartilhavam as seringas improvisadas com canetas bic e o vírus nadava de braçada. Nas edições da cadeia, o Vira já tinha puxado cana e estava sempre pronto a ajudar os amigos presos. O herói destruía seringas e corações femininos (sempre com camisinha). Quanto ao fato de estar recolhido, fora do mercado, temos planos e uma boa parte do roteiro escrito pra lançar uma aventura inédita. O Vira anda sumido, mas tá de butuca, sempre à espreita pronto pra dar o bote. O Brecht disse: Infeliz o povo que precisa de heróis.
ASSIS: O Vira Lata é um anti-herói, mas tem pinta de herói aqui e acolá. Você já
pensou em levá-lo à TV ou à telona? No mínimo pode dar mini série, não?
MAGRÃO: Eu já recebi algumas propostas pra longa metragem e série. Escrevi roteiros pros dois formatos. Tenho fé de que quando chegar a hora vai rolar.
ASSIS: Corajoso, destemido, o Vira Lata respeita as leis e ama tudo quanto é mulher. Será que algum dia vai se apaixonar, casar e ter filhos?
MAGRÃO: O herói não sabe, mas tem uma filha Yumi (flecha), fruto do seu primeiro amor com Tieko. O Vira se apaixona todos os dias mas casar, acho que não convém a um cão de rua.
ASSIS: Por que tanto sangue e sexo nas aventuras do Vira Lata?
MAGRÃO: Sexo porque é o bom da vida, violência porque tem muito filho da puta à solta que merece uma bela surra.
ASSIS: Aqui e ali você insere referências a nossa música popular: Tom Jobim, Luiz Gonzaga, Noel Rosa, Cartola, Zé Gonçalves, Marino Pinto... e até ponto de umbanda…
MAGRÃO: Ninguém melhor do que você, meu amigo Assis ngelo, sabe que o Brasil tem um legado imenso, um patrimônio imaterial que são as suas canções. A canção é uma crônica alada. Nas asas da melodia uma história atravessa o tempo e tem o poder de acender o pavio de uma revolução. "Vem vamos embora/ Que esperar não é saber…" (Vandré). A faísca do Vira Lata já estava expressa na estrofe de uma canção que eu fiz em
parceria com meu mano velho Jean Garfunkel quase dez anos antes de pensar em escrever o primeiro roteiro.
O coração saindo pela boca
Meio triste, meio rindo
Da desgraça pouca
Sou parceiro do destino nesta vida torta
Passageiro clandestino pra qualquer lugar
Eu tenho o sangue grosso, misturado
Meio preto, meio índio
Meio degredado
Na cabeça um sonho lindo sempre engatilhado
Sou da terra das palmeiras onde um sabiá
Tem que saber se virar
Feito vira lata, camelô
Cantador, cangaceiro
Feito brasileiro
LEIA O VIRA LATA COMPLETO:
sexta-feira, 25 de agosto de 2023
FAUSTO LEVA HUMOR À PIRACICABA
Fausto Bergocce com seu mais novo livro |
Amanhã sábado 26 será inaugurada a 50ª Edição do Salão de Humor de Piracicaba. Humoristas de todos os seguimentos, do traço ao palco, estarão presentes.
Em clima de festa de abertura do belo Salão estará lançando novo livro o craque da graça e tudo mais Fausto Bergocce. Seu novo livro, Histórias de Esquina, está fazendo o maior sucesso entre as pessoas sensíveis e inteligentes deste meu Brasil varonil.
Eu, da minha parte, só tenho a dizer que sinto-me inserido nessa festa de bom traço e humor. Enfim, assino o livro Esquinas junto com Fausto.
Né, não?
Contracapa de Histórias de Esquina |
LEIA MAIS: FAUSTO SETENTÃO! • POR QUE NÃO COMPRAR UM FAUSTO BERGOCCE? • JOGANDO CONVERSA FORA • FAUSTO: O TURISTA APRENDIZ
quinta-feira, 24 de agosto de 2023
MAIS UM 24 SEM GETÚLIO
A notícia do suicídio do presidente Getúlio Vargas provocou uma onda de profunda tristeza em todo País. Essa onda começou bem cedo, ali pelas 5h da manhã.
O dia era 24 de agosto e o ano, 1954.
Em poucas horas poetas repentistas levaram ao público folhetos de momento, enquanto nas rádios ouviam-se o tempo todo depoimentos de pessoas comuns e autoridades sobre o presidente que resolvera tirar a própria vida.
Aquele 24 de agosto ficou marcado definitivamente na história do Brasil.
Getúlio Vargas foi o primeiro e até aqui o único presidente a se suicidar.
Compositores fizeram músicas enaltecendo as qualidades do morto. Ouça Teixeirinha:
LEIA MAIS: EU E MEUS BOTÕES (8) • ESTADO NOVO NUNCA MAIS! • GETÚLIO VARGAS E BELCHIOR • HUMOR, POLÍTICA E PROTESTO (1) • FILOSOFIA E SUICÍDIO
quarta-feira, 23 de agosto de 2023
O QUE É ESPERANÇA?
O que difere a fé da esperança?
A esperança é uma fênix que não morre nunca, no máximo se esconde diante dos nossos olhos. E cegos, nem sempre a vimos, mas a sentimos quando nos achamos à beira de um abismo e prestes a sucumbir.
Fora isso, também posso dizer que a esperança fantasia-se sempre de vida quando nos encontramos à beira da morte.
E se eu disser com a firmeza dos astros que a esperança quase sempre nos chega como uma descarga elétrica, hein? Melhor: a esperança é um bichinho pixototinho do tamanho da vontade maior de viver.
Sem esperança não há vida, sem vida não há esperança.
E se eu disser que a esperança é uma mola, uma catapulta, um dínamo que nos leva ao lugar que desejamos, hein?
A esperança é a soma de todos os nossos desejos, até o momento que não os realizamos.
A esperança é menina
É menina a esperança
Sem ela não há vida
Não há nada, nem lembrança...
terça-feira, 22 de agosto de 2023
HOJE É O DIA DO SABER DO POVO
Cultura popular é a que vivemos. É a cultura tradicional e milenar que nós aprendemos na convivência doméstica. A outra é a que estudamos nas escolas, na universidade e nas culturas convencionais pragmáticas da vida. Cultura popular é aquela que até certo ponto nós nascemos sabendo. Qualquer um de nós é um mestre, que sabe contos, mitos, lendas, versos, superstições, que sabe fazer caretas, apertar mão, bater palmas e tudo quanto caracteriza a cultura anônima e coletiva.
Pra lembrar, clique:
segunda-feira, 21 de agosto de 2023
O BRASIL E SEUS FILHOS ESQUECIDOS
Guio de Morais |
Alguém, e muita gente mais, já disse que somos um povo esquecido, sem memóri.
Chegamos a nos esquecer de nós mesmos. Pode ser incrível, mas é a pura verdade.
Muita gente bonita, de tamanhos enormes, chega e desaparece num piscar de olhos.
Muita gente some como chega: do nada, de repente, sem deixar rastros ou notícias.
São muitos os exemplos do passado e do presente que se encaixam perfeitamente nessa dezena de linhas até aqui ditadas.
Meu amigo, minha amiga, você já ouviu falar de Guiomarino Rubens Duarte?
Bom, acho difícil você já ter ouvido falar nesse Guiomarino... E Guio de Morais, hein?
É muito provável que vocês, meus amigos e amigas, também não tenham ouvido falar sobre esse Guio. E se eu disser que esse Guio de Morais era um pernambucano de Recife e excepcional compositor de música popular, pianista, maestro, arranjador, criador de grupos musicais e orquestras o que você diria? Sei, sei, você diria que não sabe.
O recifense Guio de Morais é um nome que deveria estar estampado em letras garrafais em todo canto, principalmente nas escolas de música. Mas não. O nome desse artista não se acha em canto nenhum e quando, aqui e acolá, descobre-se algo com o seu nome, ou simplesmente o seu nome, o que se lê é a história truncada de um brasileiro. A rigor, até as datas de nascimento e morte são conflitantes.
Guio de Morais nasceu em 1920 ou 1921. Morreu em 1993 ou 1999.
O que se sabe desse Guio é que começou a gostar de música ainda quando era menino, na sua terra. E que foi autor de um clássico composto em parceria com Luiz Gonzaga e pelo próprio Gonzaga imortalizado: Pau de Arara, maracatu levado à gravação em julho de 1952. O disco, um 78rpm, foi à praça com a chancela da extinta gravadora RCA Victor.
O maracatu Pau de Arara representa uma espécie de chave para abrir e possibilitar a compreensão da obra gonzaguiana. Na letra dessa música se acha a história do velho "rei":
Quando eu vim do sertão
Seu moço, do meu Bodocó
A malota era um saco
E o cadeado era um nó
Só trazia a coragem e a cara
Viajando num pau de arara
Eu penei, mas aqui cheguei
Eu penei, mas aqui cheguei
Trouxe um triângulo, no matolão
Trouxe um gonguê, no matolão
Trouxe um zabumba dentro do matolão
Xote, maracatu e baião
Tudo isso eu trouxe no meu matolão...
Pau de Arara alcançou grande sucesso e eternizou-se como clássico da nossa música gravado até pelo gringo norte-americano Dizzy Gillespie (1917-1993), em 1962. Ouça:
Curiosidade: Se Guio de Morais morreu em 1993, pelas contas, faz 30 anos que isso ocorreu. E seguindo essas contas, chegamos também a conclusão de que Dizzy Gillespie também se acha ausente deste mundo há 30 anos.
sábado, 19 de agosto de 2023
LICENCIOSIDADE NA CULTURA POPULAR (39)
Paulo Garfunkel e Libero Malavoglia |
Vira Lata com letra maiúscula é um anti-herói com pinta de herói admirado, principalmente, pelas mulheres.
O Vira Lata a que me refiro com maiúscula é aqui representado por um homem jovem, forte, bom papo, boa pinta, que vence todas as paradas. Bandido bandido não tem vez com ele. É a favor da justiça, sempre.
Esse personagem é uma criação de um músico e mestre em roteiros para quadrinhos, cinema e TV Paulo Garfunkel, o Magrão.
"Eu criei esse personagem em 1988. Um ano depois chegou o parceiro quadrinista Líbero. Um craque!", conta Magrão acrescentando: "... um amigo meu pianista me contou que na adolescência, uma moça transou com alguns rapazes do bairro e engravidou sem saber quem era o pai. Quando nasceu, o menino era a cara desse meu amigo...".
O Vira Lata de Magrão se movimenta que nem um gato nas páginas da revista que leva seu nome. Fácil, fácil conquista leitor. O autor explica : “O Vira Lata tem muita influência do “Lobo Solitário” do Gozeki Kojima e do Kazuo Koike e do “Corto Maltese” do mestre Hugo Pratt”.
A estreia do Vira Lata ocorreu na Bienal dos quadrinhos no Rio de Janeiro, em 1991. Logo depois o médico Drauzio Varella o descobriu numa banca. E foi assim, que "O Vira Lata entrou na Casa de Detenção de São Paulo, onde o Dr. Drauzio atendia os detentos como voluntário. Fez o maior sucesso", recorda Magrão.
Quando o Vira Lata chegou na Casa de Detenção a AIDS corria solta. Dos 7.700 detentos, 17% estavam contaminados.
ASSIS: Como surgiu a ideia de criar o Vira Lata?
MAGRÃO: O Vira Lata nasceu da minha crença de que a nossa força como povo vem justamente da mistura, do amálgama como já dizia o José Bonifácio de Andrada e Silva em mil oitocentos e pouco. Ele nasceu também da indignação diante da desigualdade absurda
com a qual a gente convive diariamente. Aí veio o Vira, defendendo as putas, as travestis, os moradores de rua, os párias, os desvalidos. Ele solta os cachorros em cima de quem é mau caráter e trata muitíssimo bem as mulheres.
ASSIS: Você se inspirou em quem?
MAGRÃO: Eu sempre fui rato de quadrinhos, gostos mais das HQs européias e japonesas do que das americanas. O Vira Lata tem muita influência do “Lobo Solitário” do Gozeki Kojima e do Kazuo Koike e do “Corto Maltese” do mestre Hugo Pratt. Mas eu sentia falta de enredo nos gibis eróticos, porque uma boa bronha tem que ter um bom roteiro, ( solidão é não dar na veneta nem musa pra punheta); e nos gibis de ação, geralmente, faltava uma bela sacanagem, então resolvi juntar tudo no mesmo imbróglio, com destaque pras belas mulheres e pras artes marciais japonesas (o Líbero é faixa preta de Aikido e eu pratico Kenjutsu há bastante tempo).
MAGRÃO: Tem tudo a ver, porque infelizmente sempre existiram grupos de extermínio no Brasil. Dos Capitães do Mato do período colonial, passando pelo CCC (Comando de Caça aos Comunistas), OBAN (Operação Bandeirantes), Scuderie Le Cocq e as nefastas Milícias.
Esses canalhas só mudam de nome. Nas páginas do Vira Lata, os exterminadores assinam com cruel ironia Saneamento Básico.
sexta-feira, 18 de agosto de 2023
GRAFITE PRA CEGO NO BECO DO BATMAN
O hacker Walter Delgatti abre a bocarra no Senado e dela expele bombas de todos os tamanhos.
Enquanto o cerco se fecha entorno de Bolsonaro e de seus asseclas fardados, a vida continua nos seus altos e baixos. A mais nova: o ministro Alexandre de Moraes, do STF, determinou a quebra do sigilo bancário e fiscal de Bolsonaro e da mulher Michele. Isso ontem 17.
Hoje 18 o hacker Delgatti prestou novo depoimento à PF. No decorrer das horas, reafirmou tudo o que disse no Senado e apresentou indícios claríssimos de tudo que dizia. Mais trabalho para a PF.
O fardado de patente Mauro Cid, deve afrouxar a boca e dizer o que a Polícia e a Justiça ainda não sabem. A dica é de seu novo advogado, o terceiro, Cezar Bittencourt. E não custa lembrar que o pai desse Mauro, o também Mauro Cesar Lourena Cid, está mais enrolado do que rabo de porco, especialmente no caso das joias e relógios das Arábias. E tem mais: Bolsonaro acaba de ser condenado em 2ª instância por 175 agressões a jornalistas. O processo foi promovido pelo Sindicato dos Jornalistas no Estado de São Paulo.
Quem me falou sobre isso foi a coleguinha jornalista Cilene Soares. Ela disse que lembrou de mim pelo fato do papai aqui não enxergar porra nenhuma pelos olhos, mas sim pela memória. E, claro, através dos olhos dos amigos e das amigas.
Lê pra mim o seguinte:
"Muito além das legendas em braile disponibilizadas para esse público em exposições de arte, o primeiro Graffiti #PraCegoVer será em um muro do Beco do Batman, na Vila Madalena, em São Paulo, todo coberto por uma obra inteiramente tátil, impressa em 3D com texturas e contornos para que, ao ser tocado por um deficiente visual, traga detalhes da arte com texturas, dimensões espaciais e principalmente emoção".
O evento será aberto na manhã de amanhã. É de graça e tudo quanto é cego está convidado para ir nesse negócio aí. Se me levarem, eu vou.
LEIA MAIS: NÃO SE VÊ SÓ COM OS OLHOS... • J&CIA ABORDA O TEMA "DEFICIENTES" • OS CEGOS, ESSES INVISÍVEIS SERES • CEGO TAMBÉM VÊ • Assis Ângelo, cego há sete anos, lança cordéis sobre a pandemia • A cegueira não é o fim
quinta-feira, 17 de agosto de 2023
VIVA ELBA RAMALHO!
NEM MISSA, NEM VAQUEIRO PRA GONZAGÃO
MISSA, SEM VAQUEIROSLEIA MAIS: ESTOU TRISTE: MORREU PEDRO BANDEIRA CARMÉLIA ALVES: 100 ANOS DE VIDA E CARNAVAL (1) VAQUEJADA, PEGA DE BOI E FORRÓ
Assis, Gonzaga e o padre João Câncio
A obra de Luiz Gonzaga do Nascimento, o Rei do Baião, possui um traço importante que é a seara de protesto, ou seja, existem muitas músicas criadas como forma de protestar contra determinadas situações injustas, na visão desse ícone maior da canção nordestina.
Dentre tantas canções há uma de muito significado – A morte do Vaqueiro, que fora construída como protesto e para homenagear o vaqueiro Raimundo Jacó, tido como o mais afamado do sertão nordestino, morto covardemente e por interesses políticos, além de que a justiça do homem deu pro mundo, como bem diz a canção.
Raimundo Jacó tornou-se símbolo dos vaqueiros e, em decorrência dessa canção, Gonzaga e o Padre João Câncio dos Santos, resolveram também criar a Missa do Vaqueiro, celebrada em Serrita, Pernambuco pela primeira vez em 1971.
Celebrada sempre ao terceiro domingo do mês de julho, ao ar livre, num local onde fora construído um altar de pedra rústica em forma de ferradura, a missa do vaqueiro, todos os anos reúne vaqueiros de todos os recantos do Nordeste, que assistem a missa, onde a celebração é conduzida por um padre, com chapéu de coro na cabeça, tendo o canto inicial entoado por um cantor nordestino, com trajes de vaqueiro, destacando em seu canto de aboio a identificação do vaqueiro, a fé e as dificuldades enfrentadas nas ressequidas terras do sertão.
Neste ano de 2023, a missa completou 53 anos de celebração. Contudo, o terceiro domingo de julho deste ano foi de muita tristeza. A missa foi completamente descaracterizada pelo gestor municipal de Serrita – PE, que de forma desconstrutiva agrediu um dos maiores símbolos da cultura gonzagueana, do próprio Estado de Pernambuco e do Brasil – A MISSA DO VAQUEIRO.
Quebrando toda ritualística da Missa, o prefeito integrou ao evento um festival musical que em nada tem ligação com contexto da Missa. Inacreditavelmente, parecem que desejam a todo custo aniquilarem a cultura nordestina. Este ano, a missa, sem vaqueiros foi regada ao som de Gustavo Lima, Xande Avião, Nattan, Tarcísio do Acordeom, Simone Mendes e outras atrações que não possuem conexão alguma com esse evento.
Mas, o que significa Missa do Vaqueiro? A Missa do Vaqueiro é um evento religioso, tradicional na cultura popular do sertão pernambucano, então, indago, qual o motivo de se agredir tão violentamente essa cultura.
Há tempos que existe um articulo movimento para a desconstrução da nossa cultura e, não podemos assistir tudo isso calados. É preciso reagir. Não se pode permitir que esse evento possa ser transformado numa missa, sem vaqueiros e sem a essência para a qual fora idealizada, criada e que já se perpetua por 53 anos.
Quer fazer um festival musical, seu prefeito? Faça, mas de outra forma, sem aniquilar a cultura de um povo chamado Nordeste. É preciso respeito. É preciso que as autoridades competentes tenham responsabilidades e que o Estado de Pernambuco, por seu Ministério Público, possa adotar medidas que visem freiar essa conduta destrutiva.
Esperamos que em 2024, a Missa volte a ter o seu formato original, até porque, missa não combina com esse tipo música, que muitas vezes troca o “P” da poesia pelo “p” da pornografia.
Como escritor e amante da cultura nordestina não podia, nem posso ficar silente diante de tão grave situação.
Viva Luiz Gonzaga, Viva Padre João Câncio, Viva a Missa do Vaqueiro!
ONALDO QUEIROGA
quarta-feira, 16 de agosto de 2023
MILLÔR, 100 ANOS
Millôr no traço de Fausto Bergocce |
- Em agosto, nas noites de frio, a pobreza entra pelos buracos da roupa.
- A diferença entre a galinha e o político é que o político cacareja e não bota o ovo.
- Em política nada se perde e nada se transforma - tudo se corrompe.
- Além de ir pro inferno só tenho medo de uma coisa: juros.
- Brasil: um filme pornô com trilha de Bossa Nova.
- Ainda está pra nascer o erudito que se contenha em saber só o que sabe.
- Quando começou a comprar almas, o diabo inventou a sociedade de consumo.
- Imprensa é oposição. O resto é armazém de secos e molhados.
- Está bem. Deus é brasileiro. Mas pra defender o Brasil de tanta corrupção só colocando Deus no gol.
- Aviso aos navegantes: Em Brasília ainda tem dois deputados do baixo clero sem patrocinador.
- Além de transformarem o Brasil num cassino, viciaram a roleta.
- Canalhas melhoram com o passar do tempo (ficam mais canalhas).
Assis amigo véio,aqui uma legenda de quem está na foto,
de cima pra baixo, da esquerda pra direita:Chico, Jaguar e Claudius; abaixo: Cláudio Paiva, Eu, Reinaldo, Ziraldo e Millôr; em pé encostado na parede o Amorim;em baixo, à frente rabiscando, o velho Nássara, logo atrás o Hubert, Nani ajoelhado e Mariano o bigodudo...baitabraçoPaulo Caruso
terça-feira, 15 de agosto de 2023
O AMUADO REIZIM DE PAPEL
O dado concreto é que o PT tem 70 votos. A esquerda tem 136 votos. Para aprovar alguma coisa precisa ter 257 votos. Significa que você precisa conversar. Tem gente que fala: 'vai para a rua!, vai para rua!'. Vai para a rua fazer o quê? Tem que conversar com quem tem voto. Quem é que vai votar? Quem são os partidos políticos que vão digitar o número lá. São os partidos políticos que ganharam.
Conversar com Lira é uma obrigação minha, ele é presidente da Câmara.
À propósito, devo também tirar o chapéu para o ministro da Fazenda, Fernando Haddad.
É equivocado pressupor que a formação de consensos em temáticas sensíveis revela a concentração de poder na figura de quem quer que seja.
A formação de maioria política é feita com credibilidade e diálogo permanente com os líderes partidários e os integrantes da Casa.
A Câmara está com um poder muito grande, e ela não pode usar esse poder para humilhar o Senado e o Executivo.
segunda-feira, 14 de agosto de 2023
HISTÓRIA: CIDADANIA E BRUCUTUS
Diógenes foi um craque
Do escracho e do Saber
Viveu antes de Cristo
Tentando só entender
Por que se rouba tanto
E se rouba até morrer
Procurar um ser honesto
Em plena luz do dia
Com uma lanterna acesa
Como Diógenes fazia
É coisa para quem sabe
O que é cidadania
Cidadania se faz
É com Democracia
Muita força de vontade
E muita teimosia
Sem essas três "coisinhas"
Não se faz Cidadania
domingo, 13 de agosto de 2023
EU E MEUS BOTÕES (66)
Olá pessoal, boa noite! Eu fui dizendo enquanto me desculpava pelo horário. E o pessoal, meus queridos botões: "Boa noite, chefe!", disseram ao mesmo tempo como se tivessem ensaiado. Agradeci. Aproveitei pra dizer que fora vítima de uma tentativa de assalto enquanto dirigia meu carro. Barrica: "É, a coisa não está fácil! É assalto e tentativa de assalto em todo canto, nas esquinas, faróis e igrejas. Já tem até assaltante assaltando assaltante ".
Sentado num tamborete, ali pelos fundos da sala, Lampa cutucava as unhas com seu inseparável punhalzinho e vez por outra levantava os olhos de modo desconfiado. A cena não passou desapercebida pelo poeta de plantão Zilidoro, que discretamente manuseava seu celular.
Antes que eu voltasse a falar, Zoião abriu o bocão pra chamar Bolsonaro de tudo quanto é coisa que não presta. Barrica tentou acalmá-lo: "Deixe disso, Zoião! Você tá metendo o dedo em buraco de tatu e dentro tem cobras das mais peçonhentas".
O irmão de Barrica, Bil, pediu a palavra: "Eu acho que Zoião tá certo e não tá. Tá certo quando diz que Bolsonaro é feladaputa, ladrão e tal. Está errado quando diz isso sem apresentar provas".
A interrupção de Bil provocou burburinho. Zé, Mané e até Zilidoro disseram atropelando palavras que Zoião não precisava apresentar prova nenhuma, pois as provas da bandalheira bolsonarista estão sendo apresentadas dia a dia pela PF. Do seu canto, numa rabiada de olho, Lampa murmurou entredentes: "Eu ainda vou pegar esses cabras e seus cupinchas. Vou pegar e sangrar. Do meu punhazim esses felas não escapam.".
Zilidoro, vejam só! Puxou palmas pra fala de Lampa.
Vocês endoidaram? Fazer justiça com as próprias mãos é crime, como crime é incentivar pessoas a praticarem crimes.
Zoião, olhava fixamente em mim. Mané fazia o mesmo, enquanto Zé pedia licença pra mostrar jornal no qual se lia notícia de bala perdida matando criança de 13 anos numa favela do Rio. Novamente um zum zum zum toma conta do ambiente dificultando o entendimento entre todos. Falei: de fato, um crime absurdo esse que levou à morte mais um inocente no Rio. É preciso, e concordo com todos aqui, que os responsáveis por isso sejam identificados, presos e punidos. A violência está tomando rumos inaceitáveis, inacreditáveis, no nosso País.
"Seu Assis, sugiro mudar o rumo dessa conversa e batermos palmas para a vida", disse levantando-se da cadeira o bom poeta Zilidoro, acrescentando: "Hoje tem uma pessoa muito importante fazendo aniversário. Essa pessoa tem por nome Lindalva, dona Lindalva, professora de grandes conhecimentos".
Surpreendi-me. Perguntei a Zilidoro se conhecia dona Lindalva. E ele respondeu com a maior tranquilidade: "Dona Lindalva é mãe de uma menina chamada Cecília, Ceci, amiga de uma filha minha".
Esse mundo é mesmo pequeno, eu disse. Ceci é irmã de Anna, Anninha. E essa é a história. Aliás, Ceci fez 19 anos no último dia 10.
Enquanto Zilidoro falava e eu concluía, Bil e Barrica arrumaram como num passe de mágica uns comes e bebes pra deglutirmos em homenagem à aniversariante. Tim tim!
sábado, 12 de agosto de 2023
LICENCIOSIDADE NA CULTURA POPULAR (38)
O que separa a licenciosidade da pornografia e sexo explícito?
Em 2005, o diretor de teatro José Celso Martinez Corrêa (1937-2023) esteve em Berlim, Alemanha, apresentando a peça Guerra no Sertão. Baseada no livro Os Sertões, de Euclides da Cunha, na história adaptada por Corrêa aparecem personagens vivenciando o dia a dia da região de Canudos. E aí tem putaria, sexo e tal.
Boa parte da imprensa alemã não gostou do que viu. O diário Bild, em matéria de página inteira, pergunta o que os problemas dos brasileiros têm a ver com orgias. O diretor da peça respondeu:
“O desejo da orgia vive em cada cultura e em cada pessoa. O teatro pode contribuir para libertar esse desejo”.Disse mais:
“Trata-se do ímpeto de liberdade das sociedades isoladas. Mas eu vejo isso só do ponto de vista político, econômico ou militar. Trata-se da libertação das origens humanas que isolamos em nós”.
As tragédias marcam, comumente, os roteiros operísticos. Sempre foi assim, mas também foi assim no campo do erotismo, da safadeza. Wagner (1813-1883) usou e abusou de personagens eróticos na ópera Parsifal (1882).
Mozart (1756-1791), em Don Giovanni (1787), não mede palavras pra pôr na boca de seus personagens. É um depravado, sexualmente incansável, o personagem título da obra. Seu fiel criado, Leporello, a certa altura diz:— Senhora, este é o catálogo das mulheres que o meu patrão amou... Na Itália, seiscentas e quarenta, na Alemanha, duzentas e trinta e uma, cem na França, noventa e uma na Turquia, mas na Espanha já são mil e três. Entre elas, camponesas, criadas, citadinas, condessas, baronesas, marquesas e princesas. Há mulheres de todas as classes, de todos os tipos e idades [...] Da loura costuma elogiar a gentileza, da morena a constância, da grisalha a doçura. No inverno prefere a gordinha, no verão a mais magrinha. A alta é majestosa, a pequena é encantadora. As velhas, conquista só pelo prazer de pôr na lista. A sua paixão predominante é pela jovem principiante. Não lhe interessa que seja rica, feia ou bela, pois desde que use saias, já se sabe o que ele faz…Verdi (1813-1901), o grande Verdi, também ocupou espaço no mundo operístico com a temática em pauta. Em Rigoletto, tem uma hora em que o personagem Duque de Mântua diz: “esta ou aquela, para mim são todas iguais [...] as mulheres são volúveis como plumas ao vento, mudam de ideia e de pensamento”.
E a Carmen, hein?
Georges Bizet, o autor, optou por uma tragédia.
Muitas revistas em quadrinhos abordam narrativas operísticas e não operísticas no Brasil e mundo afora.
Fotos e reproduções por Flor Maria e Anna da Hora.
quinta-feira, 10 de agosto de 2023
E O PETRÓLEO DA AMAZÔNIA, HEIN?
"A Amazônia não é só a copa das árvores, não é só os rios. Lá moram milhões de amazônidas que querem viver bem, trabalhar, comer, ter aquilo que produz, além de querer preservar, não como santuário, mas preservar como uma fonte de aprendizado da ciência do mundo inteiro para que a gente possa encontrar um jeito de preservar ganhando dinheiro, para o povo possa viver dignamente".
A fala de Lula foi feita após o encerramento da reunião da Cúpula da Amazônia, que resultou praticamente em nada. Nem a pauta sobre possível exploração de petróleo na margem equatorial brasileira foi posta à discussão. Frustração geral. O que acho disso?
Acho que quanto mais petróleo for encontrado nos domínios da nossa terra, melhor. Não basta uma grana daqui e dali vir pra manter de pé a floresta Amazônica. Como diz o Lula, "A Amazônia não é só a copa das árvores, não é só os rios". É muito mais. A pobreza grassa na região, incluindo a fome. E como uma coisa puxa outra, lembrei de um livro de extrema importância publicado em 1937 pelo escritor paulista Monteiro Lobato.
A história contada por Lobato no livro O Poço do Visconde começa com Pedrinho, Narizinho, Emília, Dona Benta e Tia Anastácia assistindo aula de Geologia dada pelo "professor" Visconde de Sabugosa.
Depois de falar sobre matérias orgânicas, o Visconde discorre a respeito da erosão que corrói tudo que pode corroer. Ele:
"... A erosão desagrega as rochas e por meio dos rios as conduz para o mar. Por isso os continentes estão sempre a diminuir de volume e o fundo do mar está sempre a crescer de altura. Os sábios calculam, por exemplo, que cada mil toneladas de material pulverizado extraído do continente, de modo que em cada dez mil anos o tal golfo fica mais raso um metro. No fim de 7 milhões de anos estará completamente aterrado. Aqui no Brasil temos o Amazonas que, segundo os cálculos de Euclides da Cunha, leva para o mar 3 milhões de metros cúbicos de detritos por dia, ou seja quase dois quilômetros cúbicos por ano. Mas esses detritos não se acumulam logo adiante do despejo do Amazonas, por causa da velocidade da correnteza na foz. São levados mar adentro até alcançarem a célebre corrente do Golfo do México".
Euclides da Cunha, não custa lembrar, foi jornalista, engenheiro, poeta e geógrafo. Como jornalista cobriu a Guerra de Canudos para o jornal O Estado de S.Paulo. É dele o livro Os Sertões, cuja primeira parte é uma verdadeira aula de geologia.
Bom, voltemos ao Visconde e suas aulas aos viventes do Sítio do Pica-pau Amarelo.
Aqui e ali interrompido por Pedrinho, Narizinho e Emília, sobre se havia petróleo no Brasil ao tempo em que o livro foi publicado, o Visconde responde:
"Não existem perfurações, isso sim. Petróleo o Brasil tem para abastecer o mundo inteiro durante séculos. Há sinais de petróleo por toda parte — em Alagoas, no Maranhão, em toda a costa nordestina, no Amazonas, no Pará, em São Paulo, no Paraná, em Santa Catarina, no Rio Grande, em Mato Grosso, em Goiás. A superfície de todos esses Estados está cheia dos mesmos indícios de petróleo que levaram as repúblicas vizinhas a perfurar e a tirá-lo aos milhões de barris. Os mesmíssimos sinais".
quarta-feira, 9 de agosto de 2023
CÚPULA IMPOSITIVA
Fiel, firme e justiceiro
Capaz de nos proteger
Que do campo até à rua
O povo todo possua
O direito de viver
Quero paz e liberdade
Sossego e fraternidade
Na nossa pátria natal
Desde a cidade ao deserto
Quero o operário liberto
Da exploração patronal...
terça-feira, 8 de agosto de 2023
QUESTÕES INDÍGENAS EM PAUTA
"Na geografia da alimentação brasileira o 'complexo' da mandioca, farinha, gomas, tapioca, polvilhos, constitui uma permanente para 95% dos oitenta milhões nacionais, em todas as direções demográficas. Acompanha o churrasco gaúcho como a caça no Brasil Central e no mundo amazônico. Para o brasileiro do povo 'comer sem farinha não é comer!'"
segunda-feira, 7 de agosto de 2023
SIM, NÃO DEIXEMOS O SAMBA MORRER!
domingo, 6 de agosto de 2023
LICENCIOSIDADE NA CULTURA POPULAR (37)
Esse tem em todo canto também, como todas as questões relacionadas a sexo.
No começo dos anos de 1970, o pernambucano Mário Souto Maior teve censurado pelo governo militar (1964-1985) o livro Dicionário do Palavrão e Termos Afins.
Além do Brasil, outros países têm livros similares ao que escreveu e publicou Souto Maior. O da Alemanha tem por título Sex im Volksmund. Der obszöne Wortschatz der Deutschen, de Ernest Borneman. Em tradução livre, para o português: Sexo no vernáculo, o vocabulário obsceno dos alemães.
Curiosidade: a maior palavra em português não é palavrão, mas tem 20 sílabas e 46 letras. PNEUMOULTRAMICROSCOPICOSSILICOVULCANOCONIÓTICO, PORRA!
O menor palavrão na língua portuguesa é cu, que curiosamente na tabela periódica corresponde ao elemento Cobre. Pois, pois.
Pelo menos por estas plagas ocidentais, latinas e tal, passou batida a informação de que a “operação” mortífera acionada por Putin contra a Ucrânia começou com um palavrão, seguido de uma bela estirada de dedo: “Vai se foder!”.
O palavrão saiu da boca de um soldado ucraniano depois que os russos ordenaram a rendição, no dia 24 de fevereiro de 2022.
O palavrão, “vai se fuder”, virou um desabafo do povo ucraniano estampado em camisetas, bandeirolas, souvenirs e outdoors.
Não custa lembrar que o verbo “foder” é conjugado em todo canto, em todas as línguas. Até o escritor colombiano Gabriel García Márquez (1927-2014), num dos seus livros, Cem Anos de Solidão, põe um personagem, acho que Alfonso, pra dizer: “O mundo terá acabado de se foder no dia em que os homens viajarem de primeira classe e a literatura no vagão de carga”.
No famoso livro de Gabo há guerras, brigas, violências de todo tipo; muito sexo, muita puta, bordéis a dar com pau, muitas palavrinhas como “merda” e palavrões aqui e acolá. E até broxa.
É um livro e tanto Cem Anos de Solidão.
sábado, 5 de agosto de 2023
LICENCIOSIDADE NA CULTURA POPULAR (36)
Pietro Aretino |
Parecido com Gregório, na temática e explicitação nos textos, foi o italiano renascentista Pietro Aretino (1492-1556). Era protegido por papas, reis e príncipes do seu tempo. Aretino, segundo dizem, tinha de aluguel sua caneta. Era rápido, que nem um pistoleiro. Era a favor de quem pagasse mais e aí, soltava a língua. Exemplo:
Estes nossos sonetos do caralho,
Que falam só de cu, caralho, cona,
e feitos a caralho, a cu, a cona,
Semelham vossas caras de caralho..
Trouxestes cá, poetas do caralho,
As armas para pôr em cu e cona.
Sois feitos a caralho, a cu, a cona,
Produtos de grã cona e gra caralho.
E se furor, oh gente do caralho,
Vos falta, ficareis no pica-cona,
Como acontece amiúde co'o caralho.
Aqui termino esta questão da cona
P'ra não entrar no bando do caralho,
E, caralho, vos deixo em cu e cona.
Quem perversões tenciona
Aqui nestas asneiras logo as lê.
Que mau ano e mau tempo Deus lhe dê.
Muitas das coisas que Aretino escrevia eram no formato de soneto, no caso criado por Giacomo da Lentini (1210-1260). O soneto criado por Lentini era formado por dois quartetos e três tercetos. Esse tipo de soneto foi revisto e transformado por Francesco Petrarca (1304-1374), que é o que conhecemos hoje: formado por dois quartetos e dois tercetos, num total de 14 versos decassílabos.
Aretino e Gregório de Matos morreram praticamente com a mesma idade, 58 anos. Detalhe: Gregório foi censurado em vida e Aretino, depois que morreu.Aretino morreu rico, riquíssimo, e Gregório morreu pobrezinho de marré marré numa casa praticamente abandonado, em Recife, PE, acreditando piamente na existência de Deus.
William Shakespeare (1564-1616) também deixou uma versão própria de soneto. No caso formado por 3 quartetos e um dístico de dois versos, decassílabos (abab bcbc cdcd efef gg).
Com finesse e sutileza, o bem comportado Shakespeare abordou a homosexualidade pelo menos uma vez em uma de suas peças: Os Dois Nobres Parentes. Os personagens dessa peça, Palamon e Arcite, encontram na cadeia onde foram atirados, tempo para passar bons momentos entre si. Carícia aqui, carícia ali e tal.
A propósito, não custa lembrar, toda a obra shakespeariana tem por base a cultura popular da terra em que o autor nasceu.
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